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sábado, março 07, 2015

A morte

Ele foi perseguido desde que começou a política externa agressiva. Sua perseguição era seu sufocamento. O ditador era um industrial: arrivista, materialista, hedonista. Uma classe inculta reduz a realidade. Os artistas, os filósofos alegram a festa com teatrinhos, novidades, discursos. Ele já estivera na aventura, na loucura, num tempo sem nome, no ilimitado. Ele conhecera o crime, o mercado, a máquina burocrática, a lei. Ele tivera devaneios na província, depois devaneios em cada hora do dia. Agora era sufocado pelo deserto cinzento do medo. Agora, a censura, pobreza de liberdade. Ninguém veria a letra livre no papel. Mas seu medo era permanecer. Percebia que estava secando, sua pele se acizentava, seus olhos sem brilho. O progresso o tornaria um morto que vive. E o que respira seria explicado. 

Afonso Lima

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