Ser e não ser. Onde tudo funciona. Como a cidade era difícil, qualquer complexidade extra era mal vista. Era preciso saber onde, quando, como. O rio sempre sujo. Haviam os realistas complexos, os realistas políticos, os realistas televisivos. A conspiração realista sequestrava e prendia sujeitos esquisitos. Por reação, surgiram os esquizo-antirrealistas, uma seita capaz de não dizer nada. (Seus inimigos, claro, achavam antirrealistas lógicas novas, unidades A e não-A e objetos sem fronteira).
A cidade era marcada por guetos antigos, máfias locais, o poder envelhecera em famílias nobres que se alternavam no governo do castelo. Os revolucionários tinham sua própria cidade-fortaleza, pobre, e suas ideias podiam pairar contra (valor de uso) ou à favor sem pisar no chão, sem atingir a máquina. O rio sempre o mesmo. Ser e não ser. Onde tudo é elegante.
O rio sempre parado. Os realistas limitaram o novo dentro do círculo, não se viam como realistas, mas pensavam que não semelhantes eram ignorantes. Os realistas debochavam da burguesia, eram o senso comum sempre crítico. Os inquietos que não vinham nem do alto clero, nem do campesinato, da contagem do ouro ou da bibliografia oficial, eram um insulto, um erro, uma dúvida. Os realistas tinham gênio forte, estouravam fácil, denunciavam, ironizavam a falha, o desconhecido, a ironia. Ser e não ser. Onde tudo tem norma. Ratos, pólvora, astrologia inserida sem green card. Porque o realismo era também um conjunto de doutrinas. Eles temem o fracasso, o risco, a frustração lhes dá pânico, eles não têm paciência para entender como se ligam os pontos de cada cérebro, eles não gostam de ficar sozinhos, precisam fugir de si mesmos. Os realistas acham que o mundo tem resposta, usam gel para um cabelo rebelde na TV, eles acreditam que falta de ponto no texto é vaidade, vestem coleções ousadas do passado, eles correm sem sair do lugar com garrafas de água mineral. Os realistas não se importam com a violência, a injustiça, o desencontro da alma, o mundo real.
Existe um surto realista. Os intelectuais realistas, nutridos de inovações, contradições e faro fino, diziam que não se podia perder tempo, que não se podia fugir da sua função, que exigir demais era imoral. Os realistas achavam que os degraus de uma busca eram dispensáveis. Os realistas se consideravam além da vanguarda, cheia de dúvidas. Mas o segredo, o silêncio, aquilo que pode e não pode dizer alguém, isso lhes fugia completamente.
A cidade era marcada por guetos antigos, máfias locais, o poder envelhecera em famílias nobres que se alternavam no governo do castelo. Os revolucionários tinham sua própria cidade-fortaleza, pobre, e suas ideias podiam pairar contra (valor de uso) ou à favor sem pisar no chão, sem atingir a máquina. O rio sempre o mesmo. Ser e não ser. Onde tudo é elegante.
O rio sempre parado. Os realistas limitaram o novo dentro do círculo, não se viam como realistas, mas pensavam que não semelhantes eram ignorantes. Os realistas debochavam da burguesia, eram o senso comum sempre crítico. Os inquietos que não vinham nem do alto clero, nem do campesinato, da contagem do ouro ou da bibliografia oficial, eram um insulto, um erro, uma dúvida. Os realistas tinham gênio forte, estouravam fácil, denunciavam, ironizavam a falha, o desconhecido, a ironia. Ser e não ser. Onde tudo tem norma. Ratos, pólvora, astrologia inserida sem green card. Porque o realismo era também um conjunto de doutrinas. Eles temem o fracasso, o risco, a frustração lhes dá pânico, eles não têm paciência para entender como se ligam os pontos de cada cérebro, eles não gostam de ficar sozinhos, precisam fugir de si mesmos. Os realistas acham que o mundo tem resposta, usam gel para um cabelo rebelde na TV, eles acreditam que falta de ponto no texto é vaidade, vestem coleções ousadas do passado, eles correm sem sair do lugar com garrafas de água mineral. Os realistas não se importam com a violência, a injustiça, o desencontro da alma, o mundo real.
Existe um surto realista. Os intelectuais realistas, nutridos de inovações, contradições e faro fino, diziam que não se podia perder tempo, que não se podia fugir da sua função, que exigir demais era imoral. Os realistas achavam que os degraus de uma busca eram dispensáveis. Os realistas se consideravam além da vanguarda, cheia de dúvidas. Mas o segredo, o silêncio, aquilo que pode e não pode dizer alguém, isso lhes fugia completamente.
Afonso Lima
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