pela estrada, folhas molhadas, o céu pesado
quero deixar aparecer o que existe
catálogo de nós cálculos primeiros a escada
listar botão de rosa lírio azul e carvalho
caveiras mexicanas barcos em Portugal uma manifestação em Paris
mensageira de simpatias mutabilidade canto o existente
a ti, poeta, tudo que não vistes, e cabe a quem duvida
desempregados britânicos, soldados russos de 1917, cidade destruída pelo fogo
Paris e Londres com palavras ameaçam
operações inexistentes corvos
dois impérios destruídos ossos
queimam as bibliotecas cada pensamento encontra seu nome
livre empresa num mundo em ruínas, povos famintos
cidade grande, arranha-céus, bondes elétricos, coelhos em Helsinki
e favelas onde brincam crianças, paz, caminhando nus perto do rio
o neon, o perfume, subclasse, imigrantes
o fogo adormece o velho da montanha ensina doutrinas cinzentas
que os homens medíocres são juízes e prosperam
não somos todos iguais não o mito da pedra
sonho de afirmação pura flor amarga
esperando serem transformados em homens de novo
enquanto acumula as coisas transcendência e por ser algo de belona madeira a escrita organiza a cidade
algo irrompe a sabedoria os homens santos unem palavra e força
à noite o rio atravessa tantas vezes o rio
o peso dessa alma eu deixe seja olhos
esqueça os signos que uma geração perdida observa
não julgo assisto à novidade e tudo de primeiro se torna grande e essencial
de meu tempo mergulhando nos sonhos sombrios
mas no sonho chapéu e guarda-chuva ouro e prata são Natureza
árvore dos céus, cada ramo um deus
silêncio esqueço o mundo que rola
mergulho e busco um mundo na infância
rumo à mitologia ao texto das eras
eu que amo o corpo das coisas que Eros une
a força de pensar busco reorganizar amor
quero fazer as primeiras perguntas, esquecer tudo
O lago cercado de árvores que nele mergulham
a névoa no parque que esconde o caminho
chove, a velha casa cai sob o fogo, e alguma música distante
ciganos, botas marcam o tempo
cavalo branco brancas dunas
que o vento move
Afonso Lima
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