Preservar a vida. Preservar toda a vida. Cuidar do pequeno, do detalhe, do tijolo e do tecido.
Celebrar. Eu celebro o labirinto da regra, o instante da rosa, o pássaro negro, a paz e o verde inseto. O primeiro amor de um átomo.
Incerteza. A nuvem pesada. O não esperado. Mutações do azul.
Um futuro para a vida. Um rio que corre, uma saída possível, uma luz na noite para doces amantes.
Preservar a dança, o beijo lento, preservar a erva e o erro. Celebrar o caminho de volta.
Perguntar. Descansar. Deixar entrar o ar. Correr pelo gramado verde até o lago.
Evitar que o bem seja imposto, não esquecer da necessidade de suprimentos.
Preservar a cor da vermelha lanterna, o chá, a temperança quando a brisa é suave.
Ler um livro e controlar o fogo, gato adormecido.
Financiar a vida. Planejar o espaço para a vida. Vê-la crescer. Controlar o medo. Amar o lodo, um querer de outro, o corpo que não habitamos. Nutrir, rever o caminho, aceitar a voz não pensada, o não ensinado, ir ao estranho. Não reagir pelas leis canônicas, não aceitar a tradição. Mar aberto.
O menino africano que vai para a escola, a mulher do deserto, a moça japonesa na janela.
Não esquecer o tempo de cada coisa, não sucumbir à hierarquia. O que é urgente para que tudo corra bem.
Não sucumbir às explicações fáceis, não deixar que o ouvido adormeça.
Preservar o translúcido, dar a mão, achar espaço para o que sufoca, pensar sobre o pensar em bloco. A raiva cega. A certeza medonha. Guardar no corpo o prazer da corrente, uma fábula sem força, uma fábula com o que não entendo. Preservar a mudança.
Com vulcões, com leões, com todos os tremores e raios.
Evitar as palavras de ódio. Preservar os sonhos mais loucos, as teorias mais profundas, o mais complexo sistema, fórmula ou painel, o inverno sem limite, o que é disso tudo, e tudo é caminho, matéria, tudo é celebrável. Achar um tempo para a célula, um passo com os pés no chão, uma noite de paz.
Preservar o frágil evento.
Afonso Lima
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