A festa estava se arrastando e eu esperava carona. Comecei a conversar com uma senhora loira, muito bem vestida, mas que parecia tímida e distante.
Falamos sobre o buffet e alimentação. Ela disse ser funcionária de um banco. Estava afastada.
Comentei: "Comentei esses dias com um amigo: agora sou eu que faço o trabalho. Agora, eu trabalho para meu banco".
Ela acabou contando sua história:
- Eu era apaixonada pela minha empresa. Eu amava minha empresa. Mas quando batia uma meta, surgia outra. Por um tempo, eu resisti e venci. Eu comecei a desistir, a adoecer. Vieram as demissões. Trabalho por três. Chorava sem motivo. Não queria me alimentar. Tinha medo de ser demitida. Pensava em pedir demissão. Esquecia coisas, quase bati o carro. Tinha ideias suicidas. Psicólogo, psiquiatra, analgésicos e relaxantes musculares. Antidepressivos, Ansiolíticos, moduladores de humor. Tentei o suicídio. Síndrome de esgotamento.
Quando alguém nos chamou para cortar o bolo, ela me deu seu cartão.
- A verdade é que vivemos numa sociedade autoritária.
Cantamos parabéns, enquanto eu pensava que também me sentia humilhado no meu trabalho.
Afonso Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário