Ele me contou que desceu em direção ao comércio de Pinto Souza, mas teve de parar perto do rio, que estava pra lá de cheio. Um cidadão o hospedou. Disse ter medo do tal Baiano Cândido, de quem tinha ouvido dizer ser bandido feito.
- Esse foi um dos baianos que desertaram na Guerra do Paraguai e gostaram dos campos do sul - disse o dono da casa. Ficou nessas bandas, no morro da caveira. Era um homem que foi degolado e preso pelos braços e morreu jurando que não era maragato. Os coronéis desciam 500 cabeças da serra e voltavam 200. Essa gente pobre matava pra comer. O coronel se enfureceu e mandou um espião que disse ter matado gente dele para se infiltrar. Ele mesmo matava gente pra ficar com as terras. Não se enganaram com o peão trapeiro, isso é cobracriada diziam, um dia ele ficou sozinho na casa e matou a tiro um dos baianos. O outro chegou e ele disse: disparou sem querer, Eu também sei disparar sem querer, lá se foi o cobracriada. Depois o coronel chamou soldados da capital, que fizeram uma tropa com bombacha velha, chapéu e carretão, fingindo buscar aguardente, mandioca e rapadura lá em cima. Mas o espião do baiano sabia e mandou avisar. Quando chegaram por começo desse rio, recebeu o capitão bilhete escrito no couro (o baiano era o único que sabia ler) Estou ciente da sua missão, volte que garanto sua vida, Baiano Cândido. E voltou sem meias palavras, e a fama se fez pelo mundão dos pampas. Agora ninguém sabe onde vive e virou herói das bandas da caveira.
No outro dia, pela tarde, o rio dando passo, seguiu marcha até o comércio de Pinto Souza, que lhe disse:- Fugiste na toca do bicho e o bicho não era tão feio.
Afonso Lima
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