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quinta-feira, janeiro 28, 2016

Baiano Cândido

Ele me contou que desceu em direção ao comércio de Pinto Souza, mas teve de parar perto do rio, que estava pra lá de cheio. Um cidadão o hospedou. Disse ter medo do tal Baiano Cândido, de quem tinha ouvido dizer ser bandido feito.
- Esse foi um dos baianos que desertaram na Guerra do Paraguai e gostaram dos campos do sul - disse o dono da casa. Ficou nessas bandas, no morro da caveira. Era um homem que foi degolado e preso pelos braços e morreu jurando que não era maragato. Os coronéis desciam 500 cabeças da serra e voltavam 200. Essa gente pobre matava pra comer. O coronel se enfureceu e mandou um espião que disse ter matado gente dele para se infiltrar. Ele mesmo matava gente pra ficar com as terras. Não se enganaram com o peão trapeiro, isso é cobracriada diziam, um dia ele ficou sozinho na casa e matou a tiro um dos baianos. O outro chegou e ele disse: disparou sem querer, Eu também sei disparar sem querer, lá se foi o cobracriada. Depois o coronel chamou soldados da capital, que fizeram uma tropa com bombacha velha, chapéu e carretão, fingindo buscar aguardente, mandioca e rapadura lá em cima. Mas o espião do baiano sabia e mandou avisar. Quando chegaram por começo desse rio, recebeu o capitão bilhete escrito no couro (o baiano era o único que sabia ler) Estou ciente da sua missão, volte que garanto sua vida, Baiano Cândido. E voltou sem meias palavras, e a fama se fez pelo mundão dos pampas. Agora ninguém sabe onde vive e virou herói das bandas da caveira. 
No outro dia, pela tarde, o rio dando passo, seguiu marcha até o comércio de Pinto Souza, que lhe disse:
- Fugiste na toca do bicho e o bicho não era tão feio.

Afonso Lima

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