Esse lambedor de bota, esse torturador vir aqui dar palestra na terra de Jango, na terra de Brizola, na terra de Getúlio, que deus o tenha, eu estava no Palácio nas 11 noites em que o governador Brizola lutou com a arma que tinha, o rádio, para defender a pátria da gang da UDN e dos militares, quando veio o golpe, o comandante do terceiro exército era o marechal Machado Lopes, um carioca sério e culto, estava indeciso, queria apear, disse na reunião sou um homem de cabelos brancos e 63 anos, não posso começar uma guerra, o general Peri Constante, de Santa Maria, disse, o senhor vai ficar aqui e manter a ordem, faz 40 anos que defendemos o Brasil e não é agora que vamos fugir, o Lopes chorou, e de Brasília vieram o chefe do Gabinete da Guerra, e os comparsas, para bombardear o Palácio Piratini, mas os soldados da base aérea se negaram a voar, desligaram os motores, e Brizola no microfone no porão do Palácio, venham, vou resistir nem que seja só eu com minha família, só o povo me tira ou a lei, e os homens diziam, só por cima do nosso cadáver, um voluntário armado e de bombacha disse para um tenente que queria ir em casa ver a família, o senhor é pago para brigar, eu sou um patriota, o senhor fique aqui apoiado nesse saco de areia e pronto para atirar, e veio uma tropa da Serraria com tanques velhos e se pensou se era para prender o governador, e o coronal Machado parou com um carro na frente dos tanques na Catedral e disse, Qual a missão?, Viemos defender a legalidade, disse o comandante, o povo em frente ao Palácio, Tancredo resolveu o caso tirando o poder do presidente, o Jango veio da China, tinham dito que se pisasse no Brasil seria preso, veio pela França e pelos Estados Unidos ao Uruguai, Vamos lutar, o general Osório já está em Ourinhos com 200 caminhões e 11 trens, disse o governador, mas ele era um homem pacífico, e a frota americana já estava ancorada, Não quero derramamento de sangue, o mesmo que disse três anos depois, e foi nisso que veio uma escuridão de 20 anos e tantos jovens, lembro do homem das mãos amarradas, soldado Manuel Raimundo Soares, pai de família, mergulhavam os caras com as mãos amarradas de cima da ponte e alguns morriam afogados, esse foi o primeiro a aparecer o corpo com as mãos amarradas, o presidente da Assembleia abriu audiência pública, foi destituído, mas tiveram que ir na audiência pessoal do DOI-CODI de Porto Alegre e exército, ninguém viu nada, foi a viúva com quatro filhos pequenos, ela disse que sabia que o marido foi torturado 111 dias, e foi o primeiro caso que ficou na garganta do Rio Grande, agora vem um safado desse desonrar nossa Assembleia.
Afonso Lima
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