Onde está essa criança?
Ela não está mais lá.
Ela caminha com fome por alguma rua na qual, em um café elegante, ouve-se um piano?
Ela é obrigada a trabalhar e dorme sobre papelão no fundo de uma fábrica suja?
Ela foi levada por um homem de casaca preta para um bordel e é dada a homens perversos?
Ela foi acolhida por um casal bom e recebida por parentes?
O policial tentava convencer o secretário da gravidade da situação.
Ela foi registrada, ela entrou num abrigo.
Não sabem falar sua língua. Durante o dia, têm de ficar fora do abrigo por lei.
Ela enfrentou o frio. Eles têm febre, seu tio morreu caminhando na neve.
Quando tinha febre, seus pais cuidaram dela.
Eles não podiam ficar no hospital, eles tinham medo de que a fronteira fosse fechada.
Eles não morreram afogados.
Mas algo aconteceu.
Eles não estavam mais lá.
O pessoal do abrigo nunca. Se houve alguma violência, eles não estão preparados.
O secretário disse que chegaram mais de um milhão de barco esse ano, se não sabemos onde estão, nem por isso estão sendo explorados sexualmente.
O policial observava a foto de seu tio, vestido em uniforme azul, pronto para defender a pátria na Primeira Guerra. Morrera na fronteira.
Afonso Lima
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