A primeira parte do conto está datilografada em folha branca, retocada à mão e acaba na página 20. Uma curta anotação prevê o final em que "o homem casado, de linhagem nobre, apaixonado pela jovem funcionária da cinzenta burocracia austríaca, desesperado, mata a si mesmo".
Com certeza foi escrita em 1933, pois em uma carta para o amigo Erich Ermer afirma estar "paralisado quanto ao final da novela sobre a jovem paralisada pela guerra e pela miséria, amada por um homem casado, que observa os ricos sentados à mesa do chá, dançando e namorando, enquanto as pobres almas sofrem".
Nessa época os cristãos no poder, com as tropas governamentais, haviam tentado eliminar as ligas social-democratas, e uma breve guerra civil teve curso na Áustria.
Ele teve sua casa revistada. Chocado e prevendo um futuro demoníaco, guarda seus papéis e pensa em viver no exterior.
Em Londres, com sua jovem esposa, continuou o conto.
Nesta versão, o homem, que fora herói em 1918 e sofria as angústias do trauma, sentindo-se parte de uma geração traída em seus ideais, odiava o Estado e todas as suaves despreocupações de sua casta e acaba propondo um pacto de morte a sua jovem amante, que tampouco se sente parte da prosperidade e progresso do pós-guerra.
Dez anos depois, em 1942, frente ao avanço nazista em todos os fronts, prevendo o ostracismo de um escritor judeu, após sofrer ameaças antissemitas e tendo esfriado a relação em fria apatia, deixou o mundo com sua esposa. Sua versão do romantismo, niilista, melancólica e preocupada com a desigualdade e o sofrimento do mundo, foi celebrada crescentemente no mundo todo.
Afonso Lima
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