O navio, com grande parte dos judeus de Londres, chegara nessa ilha que sequer podia ser encontrada no mapa.
O rei os acolheu com generosidade e, depois de receber presentes, ofereceu-lhes um banquete.
O rabino maior contava sua aventura:
- Rei, nossas casas foram incendiadas. Um conselheiro da rainha resolveu dizer que o médico judeu dela era um espião espanhol. Foi esquartejado e todos nós tivemos de fugir. Os cristãos não podem emprestar dinheiro por motivos religiosos, mas já nos obrigaram a ir para a prisão da Torre e a usar uma estrela como sinal de vergonha. Estamos procurando as terras do sultão.
- Eu recebi aqui um judeu muito importante há alguns anos. Ele era médico e tratava com os quatro humores. Tinha um dom especial para, analisando as pupilas e as unhas, descobrir o tipo do homem e recomendar-lhe essências que ativavam seu elemento deficiente. Ele me contou uma história interessante. Chegou uma vez numa ilha na qual o rei escolhia uma moça da comunidade por ano para deixar dentro de um labirinto no qual morava um monstro que ele vencera para dominar o reino. Esse ano o rei estava triste e pediu-lhe uma saída. Ele deu à moça um filtro que fazia com que soltasse um odor que afastava qualquer ser vivo. Também lhe deu uma flecha envenenada com uma essência que podia alterar o espírito. Ela feriu o monstro enquanto este dormia. Ele purgou demônios e seu corpo ferveu deixando à mostra os ossos. Imediatamente nasceu nova carne. Descobriu-se que ele podia conversar com os animais, tocar harpa e sabia sobre os astros. O monstro passou ser a o astrólogo e o contador de histórias no palácio. O rei casou com a moça e transformou o labirinto num jardim e o médico cultivou lá ervas, flores e árvores. Um dia, porém, ele sonhou que a ilha seria devastada por uma tempestade e fugiu.
- Muito interessante o que nos conta - disse o rabino maior - levaremos para as terras do sultão a maravilha. Diz um antigo provérbio que é pelo fio da imaginação que se escapa do mundo chão.
O navio partiu carregado de presentes e víveres.
Afonso Lima
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