Um almoço, o aniversário.
O ator barbudo de olhos verdes diz:
- Muito preocupante a situação dos direitos humanos no Brasil. O deputado que fez oposição está sendo indiciado. Expurgo.
A professora negra escuta:
- Minha neta, que faz arquitetura, apanhou da polícia. Ela desceu de um ônibus por causa da manifestação e foi ajudar uma senhora caída na rua. Eu nasci numa época em que a polícia te parava na rua para saber o que você estava fazendo. Eu tinha doze, treze anos.
Uma produtora cultural bebe seu drink e comenta:
- Faz cinco dias que eu apanho direto. A manifestação nem saiu e já voam as bombas! Parece os estudantes! Eles fecharam a rua pra protestar contra os cortes na educação. Doze anos e apanhando.
A professora diz:
- Minha aluna foi morta. Ela saía de casa com o filho, foi subir na moto, o policial mandou ela abrir as pernas pra ser revistada. Ela sabia que eles abusam. Pediu uma policial feminina. Foi executada ali mesmo.
- Nojo! - a produtora fala.
- Essa menina tinha ido parar na instituição por causa de assalto. Com dez anos, pai preso, mãe doente, um tio deu uma arma na sua mão e disse: vai se virar. Ela passou a roubar.
A música sobe, é hora do bolo.
Afonso Lima
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