anoto o que passa
os seres no palco escuro
novos modos de ser das flores
deixo as palavras construírem seu mundo
eu pós-produzo, eu coloco sobre a mesa
o que me contaram, o que não me contaram
eu sento na casa de chá e observo o jardim
águas agora no mar comum da língua
o amar a areia e folhas e a casa assim erguida
eu não sou uma boa pessoa viajante no barco
apenas recolho e apresento
do livro antigo e do tempo de luta
rosto que sofre e rosto que repensa
uso vozes e invento máscaras
chegando a Jiao Jiao, a mesa com gigantes e anões
as ruínas arrastadas, mas também os sorrisos
os seres imortais que cantam Sol e Lua
vejo as ilhas nas costas das gigantescas tartarugas
eu sei do outro eu, ambição, espalha-se como fogo
no reino da névoa, vigias por todos os lados
escalo a Via Láctea
produzo máquinas de dúvida novidade
eu sei da sombra, animal recolhido
aos poucos acordo e entendo
ver no mundo da ilusão
eu absorvo o que me contam os fantasmas
faço gestos loucos
a música em que tudo vibra
andaimes aqui, ilusão amiga
terra aberta, semente úmida, madeira e pedra
sei da verdade frágil, da mentira fixa
o povo de Jiao Jiao, ouvindo gigantes e anõessão sons para Sol e Lua
as gigantescas tartarugas alimentam-se de ar
não sou tão imaturo a ponto de ser alguém
romper o silêncio, dar nomes ao ilimitado
sei que o mundo aplaudirá o que já morreu
nada permanece, parar o tempo
o tempo de um novo som nunca será o agora
a luz na escuridão, a noite do dia
deixo que cada ser apresente seu testemunho
apenas recolho e ofereço
eu sigo em frente
Afonso Jr. ferreira de Lima
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