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terça-feira, dezembro 26, 2017

O que vocês querem de mim

eu sou da noite
eu canto no círculo de pedras
uma música de lua
nada é meu 
e eu sou a natureza 

O que vocês querem de mim é que todas as coisas essenciais sejam apagadas
O que vocês querem de mim é que eu caminhe sem cessar em busca de coisas fúteis
O que vocês querem de mim é que que ame minha família e encha meu carrinho de supermercado
O que vocês querem de mim é que eu seja um homem bem-sucedido na praça de alimentação

eu sou da noite
minha chama evoca a memória do heroísmo
nas ruínas eu vejo fantasmas
estendo a mão ao mundo, meu irmão

caminho no círculo de pedras
secreto e repugnante para os homens da luz
falando com animais e voando sob a lua
a verdade vencerá, o falso desmorona
eu sou a natureza 

Afonso Jr. Lima 

domingo, dezembro 17, 2017

Crônica do crepúsculo da nação

Aos poucos percebemos que o Brasil nunca viveu uma democracia... Democracia prevê que as pessoas tenham educação e informação para escolher com independência. O contato do "cidadão" com o poder é a TV.

A vitória de Doria em São Paulo deixou claro que uma campanha publicitária (e dinheiro) pode superar uma boa gestão (o antecessor). O Estado sendo destruído por dentro por milionários que não pensam em ampliar a dignidade através de investimentos... No Executivo, o que o povo pensa não faz diferença; o abismo é tão grande que "a questão social é caso de polícia", como na República Velha. 

Um amigo, que votou no Doria comenta: "Só falavam em ciclovia", ou seja, a mídia deu um foco tão desproporcional em um debate (o conservadorismo na aliança de uma indústria e um modo de ser que vê status no carro) que os investimentos foram esquecidos. E não se consegue fazer essa crítica. 

A periferia não recebeu nunca a tradição cultural, instrumentos de pensar, mas cultura pop norte-americana. Não que não haja movimentos culturais e grupos que tentam lutar contra a maré, mas o trabalho intenso, a falta de informação, heranças conservadoras e o ódio ao rebelde bem construídos no passado atrapalham qualquer efeito em larga escala. Sem informação, o modelo se torna uma celebridade que simbolize poder, liberdade e conquistas. Mas a vida real continua sendo trabalhar no shoppping, tomar ônibus insalubre e conviver com a violência. 

No Congresso, deputados falam como se estivessem em 1970. Falar sobre gênero é "ideologia". Matar criminosos é bom. Homossexualidade é perversão. Assim como para a maioria da população, as lutas das minorias são comunismo, invenção, bagunça, imoralidade. Dentro da bolha com ensino universitário, artistas e classe média leitora, são assuntos superados. Mas o fundamentalismo evangélico tem voz e a caneta na mão no legislativo. 

A massa acha mesmo que o sangue vai resolver o problema da violência.
Mas me surpreende mais a confusão de quem têm acesso à educação. Para uma certa classe a desigualdade não existe. Depois de ataques a tudo que eu postava num grupo de professores, descubro que um estudante de Direito rico vai votar na extrema-direita. Existe essa máquina da oligarquia espalhando bem a revolta contra a igualdade. Assim, se muda o foco e se ataca o Lula. 

Outro amigo, muito leitor e que tem acompanhado os jornais a vida toda, fala em defesa da reforma da previdência. Ele não teve acesso a nenhum dado crítico. 

Numa rede social, uma moça que vive fora do país diz: "Tudo é culpa da Dilma". Um atendente numa loja diz estar revoltado com a "reforma" trabalhista. "Mas não vou votar no Lula". Depois de um ano de ataque aos direitos fundamentais, isso é uma prova de como o mito televisivo entrou pele adentro e se tornou bio-poder. Nada pode mudar uma fantasia. 

Pela falta de expansão do conhecimento sobre direitos humanos, nosso povo tem a cabeça dos anos 1970. E o fundamentalismo evangélico reforçou esses preconceitos, transformando-se em máquina econômica. Essa disputa chega a cada conselho de hospital e parque e ao tratamento de dependentes químicos, para o que os missionários têm uma verba do Ministério da Saúde. 

A sociedade se movimentou depois das cotas e da expansão do ensino universitário (as universidades sendo gravemente atingidas por cortes e pelo sistema policial). Mas apenas 14% dos brasileiros teve acesso à universidade, assim como 60% nunca foi ao teatro. Nossa democracia controlada pelos milionários não pode dar muitas informações, com medo de ter de dividir o poder, mas sabe que o fascismo surgiu da miséria e da revolta baseada em preconceitos. Assim, vivemos "a democracia" em que abrimos mão do poder político, da decisão, enquanto ficamos sabendo do que será feito nos jornais e compramos produtos para cabelo. 

Num restaurante, assisto a programação da TV. Como fazer peru de Natal. Como cortar sua franja. A mesma TV que defende as mudanças mais absurdas do governo. Uma fábula que reescreve o mundo como paraíso do consumo no país mais desigual do mundo. Anos de falta de informação, da visão dos empresários passada diariamente, somados às formas digitais de manipulação, criaram uma massa amorfa pré-disposta aos slogans dos milionários e fascistas. 

Aliado a isso, vemos uma parceria entre nosso sistema jurídico e o de outros países, sem passar pelo executivo. A maioria dos juízes ganha acima do que permite a lei (cerca de 33 mil Reais). Num programa de TV vejo um juiz dizer que "temos de dizer não às modas, como o politicamente correto". Pensei que fosse necessário, num país onde todo homem livre estabelecido era traficante de escravos há 100 anos.

Nenhuma novidade nessa crônica do crepúsculo da nação, apenas a percepção mais aguda de que deixamos o homem medíocre tomar o poder e a população não tem meios de se defender, pois não sabe quem é e o que a atinge. Existe uma revolta, um campo elétrico vibrando, principalmente entre os estudantes ainda meio chocados por verem desaparecer qualquer perspectiva, assim como entre trabalhadores mais politizados. Ao mesmo tempo, a manipulação da votação e o bombardeio de propaganda pelas telas parecem ser mais poderosos.

A história não é estática, entretanto. A contradição, quando toca a pele, gera reflexão - Doria já tem 55% de rejeição na população negra em um ano. Agora, provavelmente caberá à repressão policial domar a crítica. Mas essa é a realidade. Nossa liberdade e representatividade podem muito bem evaporar entre os dedos do poder banqueiro e da massa auto-destrutiva. 

Afonso Junior Ferreira de Lima


quarta-feira, dezembro 13, 2017

K, o flâneur

K é um fantasma. Ele deveria ter uma meta, já que é personagem. Ele deveria ter obstáculos. 

K. circula pela avenida do cemitério. Os ossos foram enterrados sob a nova loja. Um acordo com a prefeitura. São fantasmas que ficam nas escadas rolantes. 

Presos na colônia penal. Sempre achava cômico a justiça como engrenagem de tortura. "O condenado era o mais animado, tudo na máquina o interessava". Condenado sem saber por que. 

K fica parado numa avenida, luzes, a pedra da margem, aguardando o fluxo de carros que não vai parar só porque tem uma faixa de pedestre. Os fantasmas são educados. 

Ele nasceu no gueto, a língua é outra lá fora. O herdeiro se mata, a imperatriz assassinada, o herdeiro assassinado. Ele conhecia o tempo morno e perigoso da espera. Ele quer jogar e viver a mesma vida de modo diferente todo dia. 

K foi ver a promoção do supermercado, euforia. A moça do caixa conversa sobre a nova lei do trabalho, diz que vai enlouquecer se contar dinheiro das dez da manhã às dez da noite. 

Ele gostava de pensar sobre o que se vê, mas não se entende. Ele pensa que é preciso não entender. Todos já pensaram em tudo pra você. A lei é apenas um horror a mais. 

O terceiro ato acaba sem conclusões. Ninguém melhorou. Ele também não aprendeu. Ele não sabe se, no fundo, eles não estão certos, a lógica implacável, a doutrina impecável, crescer e avançar, ele só sabe que o que pode é seguir sendo o que é. 

K vê o vidro subindo até o céu, as luzes na fachada, palmeiras, o jardim japonês, uma escultura decorada com luzes. K senta no teatro e observa as cadeiras vazias, o show vai começar. O protagonista é ruim, mas bonito. O rapaz atrás dele diz para a namorada que quer ir embora.

O maior dos pensadores, à golpes de martelo, como o burguês vitoriano comum, despreza o homem comum. Os "bem-nascidos", orgulhosos de si mesmos, desprezando a moral da compaixão, o desprezo e ironia do poderoso. 

O advogado K. Ele já era um fantasma antes de morrer. Lembra do enterro do avô, o castelo no monte. Ele sentia que Madame Bovary era ele, numa vida cinzenta. Ele pediu demissão por não poder escrever. 

K conta os famintos miseráveis pelo trajeto: na escada do metrô, sem sapatos na frente do supermercado, enrolado com um pano branco como uma lagarta, só de calção e com as costas curvadas por uma deficiência, com calças em farramos e cabelo desgrenhado e branco, etc. etc.

A cidade é feia, a cidade é a estrutura monstro, a cidade é construída pelo absurdo. "O que são os perigos da floresta e da savana comparados com os choques diários do mundo civilizado?” Ele já viu isso tudo antes. Está muito cansado. Ele sonha caminhando. 

Afonso Jr. Ferreira de Lima


segunda-feira, dezembro 11, 2017

Sobre "Assassinato no Expresso Oriente", o filme

Quando soube da nova versão do filme, imaginei logo que haveria um grupo de fãs daqueles que não querem um Poirot diferente, que não aceitam uma certa aceleração do ritmo típica dos tempos atuais, que acham que o livro tem de se repetir no filme, etc...

Mas jamais pensei que eu mesmo ficaria incomodado. O filme é alto astral, o diretor-protagonista carismático, a direção de arte sedutora, tudo funciona... E... Quando no texto se lê "um bigode enrolado para cima" e "um homenzinho de enormes bigodes", na tela se vê um monte de pelos grisalhos até a orelha, algo que não podia parar de me lembrar um cachorro.

O que sonhamos com esse tipo de filme não tem nada a ver com "quem fez isso?" (Whodunnit?) - tem a ver com um clima de nostalgia, a observação atenta de psicologias fugidias, a elegância irônica do detetive, a permissão da crença - aceitar o jogo, sabendo que é fantasia (e não a suspensão da descrença) - e a catarse com o fato de que as aparências podem ocultar uma estrutura invisível.

Quero esse trem e esse oriente porque quero outro modo de ver. O surto atual por coisas "de época" talvez seja porque queremos "quem fez isso" na sociedade atomizada, a história nos ajuda a duvidar - existe algo que nos foi ocultado.

Isso não casa bem com filme de ação. A aceleração do início é tamanha que eu fiquei sonolento... Um monte de coisas é coisa nenhuma. Pode ser que o caleidoscópio seja porque "as pessoas não vão aguentar duas horas em dois vagões", mas Lumet filmou 12 homens numa mesa... (Entretanto a maioria das pessoas com quem falei achou tudo justificável e aceito que vai sair satisfeita).

Infelizmente, o visual e o ritmo que deveriam modernizar geraram ruído: Poirot tem uns momentos Indiana Jones, corre atrás de suspeitos, tem pensamentos românticos e sua "esquisitice" é um problema Monk com simetria (só para ter um final engraçadinho). Lá se foi aquela lenta insinuação e apresentação que cria um clima. 

A fotografia incrível de Istambul e de Israel justificariam alguma mudança, mas nada explica uma cena inteira na padaria para mostrar os pães; o personagem do dono da companhia de trem (ou seu sobrinho!), que tem de ser agora um jovem galã; a extensão dispersiva de uma cena com um americano suspeito por que ele afinal é Johnny Deep, e não se vai convidar Johnny Deep para falar apenas o necessário. Ele não pode sequer mostrar uma arma (que está usando por medo, no livro) sem parecer um gangster ameaçador...

O resultado é que a introdução, que no filme de 1974 de Sidney Lumet, com roteiro de Paul Dehn, acontece em 30 minutos (até o assassinato), uma perfeita "apresentação de primeiro ato", nessa versão é um show de luzes longuíssimo. A narrativa ágil da escritora (onde cada palavra tem uma função na estrutura) ao mesmo tempo se estende e se picota numa edição nervosa...

Acho que as histórias de Agatha Christie são muito mais do que entretenimento ligeiro, são como Dickens domesticado, primeiro porque ela sabe exatamente o que quer e cria um cenário claro de modo absolutamente sintético (enquanto o próprio nos mostra mil texturas emocionais, ideias em oposição, cenários de ópera, nos mergulha em tantos universos nas mil páginas de seus fantásticos universos...). A força da concretude nos passa a mensagem de que é um ambiente autônomo, ela vai nos conduzir a algo que não sabemos.

A precisão das palavras e a clareza do universo nos lembra que a linguagem também oferece essas sínteses de mundo para compreendê-lo. É um alívio uma fotografia clara, porque outras sínteses coerentes com nossa experiência podem ser feitas e o mundo se torna menos confuso.

Essa certeza nos desperta o desejo de conhecimento, instinto de sobrevivência de saber mais sobre o mundo, porque pode ser que desconfiemos que, no fundo, conceitos são ferramentas de criação. Como diz Orham Pamuk, no seu ensaio, em nós vive o leitor ingênuo (que mergulha) e o sentimental (que sabe da ilusão). Ainda vale pensar se não desejamos entrar num outro nível da existência, menos ligado à respostas aos obstáculos, o relaxamento proporcionado por esse ser e não ser, que sabemos ser artifício, intriga, distância dos jogos de poder e da necessidade de linguagem funcional objetiva.

Por outro lado, usa um dos métodos humanos para conhecer - analisar percepções confusas e propor teorias. ("Poirot, interpretando corretamente o espírito inglês, sabia o que o outro pensara: 'Outro estrangeiro detestável"). Algumas vezes o caos de fatos visível e o paradoxo podem ser rearrumados com uma hipótese que os coloque em perspectiva: "O assassino era um homem de grande força, era fraco, era uma mulher, era destro, era canhoto..."

O sub-texto é algo fundamental nesse processo. As psicologias nunca são dadas senão por gestos, ironias, modulações de voz. Depois de um café da manhã silencioso como estranhos pouco simpáticos, um casal é visto murmurando segredos no corredor; a moça diz: - Quieto! Por favor, quieto! Poirot ouviu e "recordaria esse pensamento mais tarde". Não são dadas pistas para que você descubra junto (o método de Agatha é o "deus ex machina", ela sabe algo que você não sabe), mas ela pisca o tempo todo para o leitor e ele exercita continuamente sua capacidade de ler sinais ("as sobrancelhas de Poirot se levantaram"). É a diferença entre ambíguos olhares e cômicas caricaturas...

"É a psicologia que estou buscando", diz o detetive. De fato, a análise do caráter nos envolve. O personagem tem de manter o "possível assassino" e o inocente colocado sob suspeita. No filme de Lumet, Anthony Perkins faz o perfeito secretário "com algo a esconder", agitado e olhando furtivamente, mesmo que não seja exatamente o rapaz "direto e honesto" visto pelo belga no livro. 

"Não dá pra reclamar de falta de pistas nessa caso" - reclama Poirot. "Tal como acontece nos livros e nos filmes". Ele tem, na cabine onde o cadáver jaz, tudo aquilo que se oferece como "óbvio" - são lenços, um relógio quebrado, o limpador de cachimbo - e terá de negar a aparência para afirmar a realidade, um pouco como um físico moderno. Ele se apega a fósforos que podem ter queimado um "papel incriminador".

Mas nossa experiência da vida é assim, cheia de ambiguidades, tentamos entender o que ocorre e nos enganamos frequentemente. Poderíamos dizer que esses livros nos levam a uma acomodação quando a ordem é restaurada e a lei oculta é desvendada, mas a angústia de tantas personalidades sob suspeita, ambíguas, escorregadias, não é aplacada. Se esse homenzinho "de aspecto ridículo", que "ninguém jamais levaria à sério" não nos desse a esperança artificial e frágil da inteligência prevendo e regulando o caos, seriam livros de terror. 

O humor do livro também aparece pouco no filme, ou seja, as frases cortantes e rápidas (por exemplo, o secretário do misterioso americano confunde Poirot com o costureiro francês Poiret); ou eu deveria dizer o contrário, que o filme vende desde o início um clima de disneylândia anos 1930, que nos faz rir com um conde ninja, perdendo o realismo mais profundo. O ceticismo e a crítica fina da pretensão, da selvageria, mergulham na névoa dessa elegância. O show não pode parar... 

Em 1974 temos pelo menos duas piadas muito engraçadas. Aqui tudo está meio ofuscado pelo brilho. Judi Dench, um fantasma de bastidor, merecia mais se seu personagem é uma princesa que fala num "tom claro, cortês, mas completamente autocrático".

Branagh acerta muito ao dar ao olhar o presente sugerido como neve, mar, catedral e orientalismo. Mas ele também foi quem colocou Hamlet num castelo branco do século XVIII só para ter o prazer de dizer "não ser" em frente a espelhos.

Nabokov, analisando Madame Bovary, vai nos dizer que colocarmo-nos no lugar de um e outro personagem é algo infantil, um modo emocional de ler mal; talvez a realidade mais crua seja que desvendar as pistas do jogo social (ou cósmico) seja a nossa experiência como espécie desde a luta contra os mamutes até o ler do mapa da cidade de Balzac.

Talvez Nabokov explique mal a personagem por sua leitura errada e Flaubert explique mal a mulher que se matou depois do adultério; a própria teia romântica que "explica" a morte de Bovary por sua alma de donzela medieval venha do fato de que os homens precisam atribuir a liberdade das mulheres a alguma influência hipnótica externa irresistível: aos livros. Talvez não seja a identificação, mas o ódio que tenham levado ao suicídio da verdadeira Bovary. 

Claro que o filme é agradável e a maioria das pessoas vai sair contente. Agora, não custa perguntar o que faz um romance policial entre o crime e o "foi ele". E a resposta é: nos fala de história, nos apresenta as sombras, investiga um mundo. Do capítulo 1 ao 13 da segunda parte do livro, temos depoimentos. Não seria possível aqui "apenas entrevistas"; não estamos tão focados nesse crime, a direção de arte parece nos atrair mais. Por sorte, o ritmo melhora depois da apresentação frenética e, se esquecermos o bigode Shih Tzu de Kenneth Branagh, podemos mergulhar nesse sonho. E o filme começa a andar quando o ritmo serena. Por fim podemos nos deliciar com essas personalidades (mesmo que sem as sutilezas e sem conseguirmos definir tanto cada um).  

É evidente que um filme não vai chegar nos detalhes como um livro, ainda mais um desses que analisa motivo, álibi, circunstâncias suspeitas para cada personagem. Mas talvez a tensão dos anos 1930 tenha se diluído na mítica BritâniaTur. Mesmo sendo competente, parece que uma trama que encobre uma visão sobre a vida pode ser uma visão de mundo em que a trama bem feita quase desvenda tudo, a começar pela Michelle Pfeiffer fazendo Michelle Pfeiffer. 

Apesar disso, no fim o filme é muito bom e agrada. Talvez eu esteja apenas um nostálgico das análises detalhadas em trens parados no tempo, um crente na complexidade humana...

Afonso Junior Ferreira de Lima

terça-feira, dezembro 05, 2017

Prêmio Biblioteca Nacional - Ensaio literário


domingo, dezembro 03, 2017

Uma aquisição

O governo havia decidido liberar partículas de sulfato no ar para imitar os efeitos resfriadores de uma imensa erupção vulcânica e colocar milhões de pequenos espelhos no espaço para desviar a luz solar; os efeitos ocorreram em cascata e o departamento de jornalismo da TV de um conglomerado começou uma série de reportagens.

- Eles querem semear o caos, diz o presidente. Mudar o sistema de transporte e a geração de energia é inviável.

Mas os jornalistas são ameaçados pela direção da emissora.

- O senhor está me dizendo que eu devo seguir sua recomendação política?

- Não seja ridícula. O capitalismo é isso. 

- Faz tempo que nós somos propaganda.

O governo oferecera aos acionistas mudar a lei. Um mesmo grupo não podia ser dono de mais de uma rede de TV.

Agora os jornais estão em silêncio. A mídia diz que a rede adquirida pelo grupo não poderia seguir sem apoio e não pode ser fechada, ela é que mais espaço dá às minorias excluídas da programação das grandes redes.

Afonso Junior Ferreira de Lima