O
Brasil decidiu fechar as fronteiras. Mais de 3 milhões de russos,
dinamarqueses, alemães e ingleses haviam chegado desde o “Domingo
Branco”, quando Paris chegara a 20 graus negativos.
Há
algum tempo atrás a Itália processara a Inglaterra pelo uso do nome
“Londres” (de Londinium) e pela “falsa paternidade do
futebol”; a China processara a Itália pelo copyright da
massa e Bagdá a Europa pelo copyright do Renascimento; foi um
passo pequeno até a África requerer direitos de imagem sobre Les
demoiselles d´Ávignon.
Por
um lado a direita européia dizia que o “mundo em desenvolvimento”
não tinha direito aos solos quentes da Terra, agora que o frio se
espalhava porque a água doce dos icebergs, aquecidos pela fumaça,
acabara com a corrente do Golfo. O governo brasileiro dizia que
milhares já haviam imigrado quando das Guerras Mundiais.
As
flores e árvores dos jardins escoceses foram engolidas pelo inverno.
A imagem de um campo de futebol congelado em Paris passou a circular
na rede com o seguinte dizer: “Todos tem direito a um raio de sol.”
Um carro bomba explodiu perto do Parlamento onde a Comissão para
Imigração Européia se reunia. O salmão, era uma vez, passou a
fazer propagandas na Noruega exigindo “tolerância e abertura de
fronteiras”.
Grupos
de direitos humanos brasileiros começaram a mostrar fotos de meninos
jogando na terra, para defender que, num mundo com distâncias tão
grandes, receber imigrantes é “imoral”. A Câmera de Comércio
Européia ofereceu 2 bilhões de dólares para restaurar cortiços
putrefatos em São Paulo, tetos e paredes mofadas, e um plano de
“reinserção de moradores de rua”. O clipe da campanha no Tube
mostrava multidões caídas, enroladas em cobertores e com potes de
plástico para sopa, no cimento da cidade.
Quando
as escolas e os transportes entraram em colapso devido ao
congelamento, os presidentes da Alemanha, França e Inglaterra vieram
ao Brasil, e falou-se em uma ameaça velada de guerra.
Os
primeiros imigrantes europeus chegaram na Amazônia em dezembro de
2060. Celebrou-se um jogo amistoso em nome da “a união
intercontinental”.
Afonso Jr. Ferreira de Lima - 2010
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