Ficaram escondidos na casa de campo. Acenderam o fogo. Ele serviu dois copos.
- Você acha que vão nos descobrir? - ela perguntou.
- Os espiões estão por todos os lados. Mas... A opinião pública anda desconfiada.
Por que eles decidiram colocar fogo nas fábricas?
Os robôs foram derretendo um a um.
Estavam tentando dar um alerta ao governo de que percebiam que, enquanto as pessoas viviam cada dia com menos dinheiro, os estoques cresciam - acabar com a superprodução.
- Como as pessoas não percebem? Que já estamos numa ditadura? Que isso é um experimento?
- Parece estranho isso, vindo de um membro de uma organização clandestina - ela disse.
- Você sabe, meu irmão é um desaparecido. Faz vinte anos que esperamos um teste de DNA para descobrir se ele é um dos descobertos no cemitério. Não existiu processo contra os torturadores.
O campo parecia vivo com o vento e o clima úmido. Ali perto, o bosque guardava ruínas de um mosteiro que havia sido incendiado por soldados inimigos. Fileira de cabeças cortadas. A lenda dizia que os monges cantavam lamentos quando a tempestade se formava.
Tudo havia sido muito rápido. Um dia, as estruturas pareciam firmes e as instituições fortes. No outro, um grupo de bárbaros tomara legalmente o poder e a oligarquia bancária aliara-se a um tirano.
Ela disse:
- Eles colonizam as colinas, atiradores treinados, a polícia não é confiável, a lei parece depender de cada juiz. Todo mundo vota como se nada estivesse acontecendo. Às vezes eu penso se esse mundo que eu vejo também não é uma construção ficcional.
- Acredite, a realidade está bem diante dos olhos. Cada dia penso mais nos filósofos que falavam de uma "consciência modificada" para interpretar a "falsa opinião".
- O caos é uma arma política - ela disse, e o beijou.
Afonso Jr Lima
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