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sexta-feira, setembro 07, 2018

A nova sociedade

"A maioria dos historiadores afirma que realmente tratou-se de um ato isolado... O fim das liberdades democráticas era aceito em silêncio. Hitler deixou-se festejar como o salvador da Alemanha diante do perigo do comunismo". (www.dw.com/pt-br)

As cidades estavam em ruínas. Saques. Fogo. Depois fuzilamentos, julgamentos sumários.

Hoje vivemos numa sociedade que se reconstruiu.

Nada é como antes.

Ontem, o atentado contra o candidato transformou o clima.
Os fanáticos organizados em milícias ameaçaram respondeu aos "inimigos". Dizem que estão em guerra, que existe uma conspiração apoiada pela TV que acaba com a família.

Os novos campos de concentração são os presídios.
Infelizmente, no novo tempo, "negro" não é apenas proteína na pele ou cultura: é um modo de ser tratado, uma expectativa, uma limitação externa ao desenvolvimento.
A nova sociedade encarceradora pretende lidar com a pobreza através do negócio do presídio.
O velho discurso do perigo da esquerda (nacionalização) pode ser usado com a classe média desinformada.
O proprietário tem medo na sociedade brutalmente desigual. A lógica do punitivismo e criminalização sem os pobres/negros ganha moldura do marketing: você é bom, eles são corruptos. Sem ouvir.

Eu saía de um teatro, um homem cuspia fogo na rua. Tive medo. Pessoas dormindo na rua, sujeira. Tudo parecia mais sujo e mais perigoso. Lembrava da palavra "guerra" tão falada nesses dias.

A lógica da guerra é ótima para o negócio vampiro.
O rentista parasita diz que o investimento público é bandido. A polarização da publicidade-de- antagonista.

Ambiente de ódio-de-consenso e preconceito irracional. Vendo o laranja das janelas da igreja na noite fria eu lembro de quando os oradores lutavam contra a tortura.

Lembro de um louco que morava no casarão de minha avó. Ele me contava histórias de monstros, vampiros e espíritos malignos que habitavam em baixo da casa, no cemitério, no jardim, tudo para nos proteger. "Sangue é vida... eles revigoram as energias consumindo outros seres vivos".

Uma classe média despolitizada, cuja única preocupação é manter sua propriedade segura,
se deixa manipular pelo marketing-jornalístico de bilionários que querem pouca regulação do estado e permanência da desigualdade: empresários que lucram com os impostos em serviços-público-privados, excluindo os sem renda.

As pessoas que trabalham tem dificuldade em manter seus lares. O shopping center do bairro está cheio de ratos.

Hoje eu entendo as falas do prefeito que abandonou o posto como uma campanha de marketing contra os direitos humanos e o combate à desigualdade.

A "democracia com desigualdade" é um sistema em que o dinheiro, e não a força bruta, exerce o comando. Mas os oprimidos sindicalistas deram lugar aos novos consumidores manipulados pelo publicitário gestor. Ampliar a participação num método democrático.

A maioria da classe média não tem meios de entender, poderia mesmo querer mais serviços públicos.
O filho do branco que veio com dinheiro ou capital cultural fez faculdade e agora acha que falar em serviços públicos e igualdade é "bobagem".

O parque está tão sujo que não me atrevo a caminhar lá. As folhas formaram montes, sacos plásticos voam entre na grama. Os velhos procuram comida em sacos pretos. Mesmo com a chuva fica, um homem com garras horríveis estende a mão por uma moeda.

O filho do escravizado que ganha pouco para pagar por educação, saúde e segurança é criminalizado.

A TV ajuda a retirar da pauta a reflexão numa sociedade escravocrata, tirando os direitos humanos do debate. Oportunidades para os filhos dos escravizados, comida para a família e mais médicos são a manipulação para a a elite sem civilidade; aborto e pauta homoafetiva são a manipulação para os novos pobres-não-miseráveis sem escolaridade.

O animal agoniza cercado de flores e parentes que prometem vingança. A cidade está fria, na praça central, preces pedem o retorno do messias.

Eu lembro do artista que cuspia fogo na rua e apresso o passo para casa. Obrigado.

Afonso Lima

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