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segunda-feira, setembro 03, 2018

Um museu a menos

"É como se fôssemos extintos novamente”, disse Tutushamum.
(Revista Piauí)

O poder do Império - reprodução, colonização, roubo da força de trabalho, obediência - fez o museu.
O novo totalitarismo da austeridade colocou fogo.

Nada que foge ao controle (lucro) pode existir. Isso significa que o Ministro Verde da França não pode ficar no governo Rothschild. O Brasil é o Paraíso do Mundo Aristocrático: controle da informação, polícia forte, Legislativo oligárquico, Justiça perseguindo inimigos políticos.
A cultura pode libertar o desejo. A cultura cria mundos alternativos.

"Esses ossos (de mais de de 7.000 anos encontrados na região de Lagoa Santa) são cruciais para entendermos os rituais mortuários, o estilo de vida e a origem biológica dos primeiros brasileiros e dos primeiros americanos. É um patrimônio único e de valor internacional", lamenta o biólogo da USP Pedro da Glória. (DW - 03/09/2018)

Por Alexandre Fortes - Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação UFRRJ: "Mas, acima de tudo, escancara o caráter criminoso das políticas de 'austeridade' transformadas em emenda constitucional. Para que nunca mais se repita a "aventura" de gastar com educação, saúde, cultura, ciência e tecnologia." (GGN - 03/09/2018)

"Em 2002, o orçamento para a universidade federal, que gere o Museu Nacional, era de R$ 46,9 milhões, enquanto em 2015, último ano das gestões petistas, o valor era de R$ 391,8 milhões." (BR 247 - 03/09/2018)

A cidade austerizada também não tinha combate ao fogo.
Acho que é o momento do presidente não-eleito ir ao Rio e explicar por que "entre os meses de janeiro de 2017 e 2018, o governo brasileiro gastou exatos R$ 392 bilhões de seu orçamento federal com o pagamento de juros". (GGN)

"Quando você trava uma guerra sistemática contra a ideia de esfera e dos bens públicos, é claro que as estruturas vão atingir tal estado de abandono... quando corta tantos impostos que não tem dinheiro para gastar em quase nada além de polícia é isso que acontece..." (N. Klein, Não Basta dizer não, Bertrand do Brasil)

Lembrando Foucault, parece que o melhor dispositivo de controle é o da burguesia, porque se pensa que tudo ocorre por acaso.Quem tem identidade, sabe o que quer e resiste ao ataque. Não é pego de surpresa. Ataque Blitzkrieg é o que gera desorientação para a privatização. Apagar o passado do Brasil também é apagar a origem na violência brutal.

É o símbolo que organiza o "espaço interior" - o mercado oferece o símbolo do "consumidor em busca de mais consumo", que ativa, mas não pode vencer a realidade de uma estrutura de radical concentração.

Se a classe oprimida de cima e a classe oprimida de baixo se unirem, isso gera movimento. A publicidade é o mecanismo de controle responsável por impedir que isso aconteça. Sem espaço público, sem comunidade, sem trabalho estável, sem referências, apenas o sujeito sozinho, inoculado de fatos desconexos e desejos, para enfrentar o poder-capital concentrado. O juro é a riqueza sem o valor-trabalho; o rico-burro e o pobre-globalizado vivem o agora cinzento - a história é o que permite saber que o agora é a continuação do ontem e criar escolhas.

O novo-rico-pobre é escravizado no imaginário: o que é a vida é ditado pelo bio-poder-midiático-corporativo. O partido sindicalista-intelectual deu propriedade, os Donos do Discurso inocularam o medo proprietário.

O Estadão ajuda a esclarecer quem já acha desigualdade normal; é o branco-periférico, o negro-periférico que vai eleger governos conservadores.

A falta de escolas é uma escravidão lenta; a fome é um extermínio lento. A "meritocracia" como movimento do topo para o mais alto.

Os judeus resistiram milhares de anos porque se protegeram com o livro.
Se o fogo queima o livro, não é acaso estarmos vivendo a barbárie de candidatos apontando armas na sua divulgação de campanha eleitoral. Matar o pensamento, tão acostumado a seu lugar de poder que não pode mais reconhecer o outro.

Nos anos 60, os militares foram o instrumento de uma oligarquia enriquecida com grilagem, trabalho escravo e hierarquia de cor; agora, o Sistema de Justiça controla a eleição - esse mesmo que tem a polícia que mais mata e faz 80% dos presos serem negros.

Pode ser um plano para sermos controlados como a Colômbia:
"Falta ao cenário esse outro personagem: os grupos paramilitares de extrema direita, guardiões clandestinos dos grupos econômicos que mandam na política colombiana há 60 anos. 'Nos últimos 20 anos, a média é de um sindicalista morto a cada três dias".
(https://www.redebrasilatual.com.br/revistas/30/a-outra-guerra-da-colombia)

O pensamento só tem valor quando existe diálogo e convencimento - depois de anos de TV dizendo no sub-texto como a agressão é algo positivo, "pobre não tem querer", sobre "o perigo do menor negro", fica evidente por que convivemos com jovens (até mesmo técnicos, porque uma faculdade pode ser também domesticação) sem nenhuma compreensão do mundo, idolatrando ídolos fascistas. Em meio ao caos, sem compreensão, o autoritarismo passa como moralidade, força e beleza da estabilidade.

Quando Lula está preso e o candidato que faz apologia ao crime ("“Vamos fuzilar a petralhada”) solto, o STF é cúmplice.
A função do Capitão é a denúncia - alimentar o pânico anticomunista (maluco).
O importante é tirar o discurso da maioria do jogo. Como pode que uma concessão pública como a TV seja um mecanismo de opressão?
A elite do investimento foi derrubada pela elite-do-extrativismo-financeiro.

Quando as pessoas querem direitos, é preciso desviar a revolta para um inimigo. A retórica do ódio anula a dúvida, relaxa enquanto você é expropriado. A elite colonial não ama o Brasil que não é lucro. Intentona VIP.

Não se pode falar em investimento público, nem em reduzir juros para rentistas, nem
em taxas justas de herança ou impostos na renda sobre capital. Nem mulheres, nem negros, nem LGBTs, só proprietários de terras, industriais, militares e rentistas.

A única linguagem possível para entender tudo isso é algo muito arcaico, como
golpe contrarrevolucionário de direita ou ditadura jurídico-policial. O que diz muito sobre nossos poderosos.
A supremacia branca bilionária prega: "E daí que anos de investimento desaparecem? Sub-espécie não precisa de escola".
Não querem um estado que gere desenvolvimento, pois isso significa mudar: as 15 famílias mais ricas (R$ 269 bilhões) colaboram para preservar o Museu - Marinho, Safra, Ermirio de Moraes, Moreira Salles, Camargo Correia, Villela Itaú, Maggi...

Parece que a concentração para dialogar com a tradição vai contra a nova disciplina do corpo, o instinto-comprador e a dispersão-tecnológica.
Não temos lei para o trabalho porque somos animais. Não temos ciência porque somos insetos.

Uma campanha de marketing pela internet, pelo Whats, criminalizando a cultura. Investimento público - coisa de "petralha". A China vive onda de novos museus. A elite da China não é rentista e não odeia investimentos públicos.

Uma crise pode sempre decretar o Estado de emergência. Mas a miséria gera a crise.

"O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, decretou estado de emergência na capital paulista em razão dos protestos dos caminhoneiros e das vans escolares na cidade." (O lGlobo - 25/05/2018)

O capital tem de dialogar, às vezes, com um estado de bem-estar, uma estrutura de concentração que permite uma liberdade relativa. Porém, quando opera a desumanização do pensamento estamental, fome e conflito são legitimados.
Um empresário russo, em meio ao levante de autogestão dos operários em 1917, disse: "Esperamos que a esquelética mão da fome traga os operários à ordem".

Como curar o fanatismo? Diz Amós Oz: "A capacidade de existir em situações em aberto, até mesmo aprender a desfrutar de situações em aberto, desfrutar a diversidade, pode ajudar".

Afonso Lima 

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