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terça-feira, outubro 09, 2018

Mãe

Meu nome é Tempo. Eu estou aqui antes da fome e desespero, antes do aquecimento global.
Navego os espaços entre os universos para encontrar os outros Tempos.
Eu estava na terra com botas negras quando a  polícia foi criada para açoitar corpos negros.
Vi as periferias elegeram o líder que tratou de exterminá-las com morte e prisão.
Eu vi a lógica do inimigo chegar e o medo do estudante, da mulher e dos professores crescer.
Os tribunais começaram a ser alterados quando o salvador chegou. Governar sem Parlamento.
"Eu sei a solução. Eu pensarei por vocês".
Eu vi tantas vezes.
Produção ilegal de alta demanda. Guerra.
Eu observava de cima dos prédios. Mulheres estupradas. Gays espancados. A tortura da polícia.
A lei do abate foi aprovada.
Racionalmente as chamadas "raças inferiores" seriam apenas colocadas para trabalhar até morrer; mas a lógica da eliminação era maior.
Um dia, conversando com Tempo do outro universo, perguntei sobre a força resistente, se ele já havia visto, a luz que vaga cálida por todos os planos.
- Chuva, Mãe, um novo dia, Espelho do Incriado. Eu a vejo correr. Eu ouço.
Ficamos olhando a flutuação.

Afonso Lima

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