Contos de (assustar) fadas
Afonso
Junior Ferreira de Lima
Biblioteca Nacional
535801, em 03/08/2011
A
CABEÇA
A
seca castigava a Cidade. As crianças da vila estavam passando mal, não havia
água encanada. Havia só um córrego fino que passava por entre as casas, mas ali
era jogado todo tipo de coisa, lixo, esgoto, tudo. Na mata ali perto tinha uma
fonte de água, as pessoas faziam fila para pegar. Então o dono da terra, que
era homem muito ambicioso, decidiu fechar o terreno, e botou guardas para
cobrar por cada balde de água. As pessoas não podiam pagar e fizeram protesto
na frente da fonte, mas os guardas deram tiros pra cima e todo mundo correu. A
seca não perdoava, e as pessoas começaram a desmaiar. A mãe de João Pedro ficou
tão fraca que ele foi ate a mata, onde havia uma pedra com um buraco no meio,
onde se havia posto uma imagem da Senhora coroada de estrelas:
-
Santa Senhora, se existe mesmo, faça minha mãe
ficar forte e ter água de beber.
E
ficou assim rezando um tempo quando ouviu um assobio
-
Hei, menino. Hei, você ai.
-
Quem esta falando - olhou João Pedro para todos
os lados.
-
Sou eu o João de Barro. Eu ouvi seu choro e vim
lhe ajudar.
-
Seu João de Barro veja meu problema, não tem
água aqui na vila, somos muito pobres, e o dona da terá, malvado, fechou a
fonte que tinha.
-
Na
verdade esse não é um dono de terras, é um feiticeiro. E os guardas não são
homens, são cães que ele transformou em servos. Mas à noite, eles voltam a ser
bicho, e o homem tem de tirar sua cabeça e pendurar em um gancho na entrada de
seu casarão. Vá de noite a sua casa e roube sua cabeça, que e apenas de
encaixar, enquanto a cabeça estiver longe do corpo, nem a cabeça nem o corpo
podem acordar, ate o sol nascer, e cante e seguinte canção:
Cabeça
minha cabecinha
Veja bem que vou lhe levar
Durma, durma sossegada
Pra sede do povo eu matar
Depois
vá ate a fonte e cante para os cães a seguinte canção:
Eu sou
homem – sim senhor
Mas
vocês são bichos, que eu sei
Durmam
agora cãezinhos
E água
daqui levarei
Depois coloque a cabeça do
homem no casarão e volte com a água, cantando a seguinte canção:
Cabeça
de feiticeiro
Tão
malvado e ambicioso
Deixe
eu levar essa água
Que
salvará o meu povo
Assim
o menino fez. Pegou a cabeça do feiticeiro, cantou para os cães, pegou a água
em sete baldes, levou até a vila, devolveu a cabeça no castelo. O povo da Vila
quando amanheceu, percebeu sete baldes cheios de água e cantou de felicidade:
Salve, salve Santa Senhora
Que milagre será este!
Ontem o sol nos matava
Hoje matamos nossa sede
O
feiticeiro ficou furioso e mandou que os guardas vasculhassem as casas da vila
procurando se alguém guardava alguma pista. Em vão, pois não acharam nada.
Na próxima noite o menino pegou a cabeça do
feiticeiro, cantando:
Cabeça minha cabecinha
Veja bem que vou lhe levar
Durma, durma sossegada
Pra sede do povo eu matar
Voltou
à mata e cantou para os cães:
Eu sou homem – sim senhor
Mas vocês são bichos que eu sei
Durmam agora cãezinhos
E água daqui levarei
Pegou
a água em sete baldes, levou até a vila, devolveu a cabeça no castelo,
cantando:
Cabeça
de feiticeiro
Tão
malvado e ambicioso
Deixe
eu levar essa água
Que salvará o meu povo
O povo
da vila quando amanheceu, percebeu sete baldes cheios de água e cantou de
felicidade, novamente:
Salve, salve Santa Senhora
O milagre se repetiu
Ontem o sol nos matava
Hoje cantamos no estio
Depois
de sete noites, o feiticeiro, já possesso da vida, resolveu ele mesmo se
transformar em pássaro e ficar por sobre a àrvore observando se alguém se
aproximava do castelo.
Mas
deixou em seu lugar um boneco de pano, transformado pela mágica em uma cópia
quase perfeita de si mesmo. Entretanto, quando o menino chegou perto do
castelo, ouviu um assovio diferente:
Cuidado meu menino
Nada é o que parece
Na vida é preciso cuidado
E olhar com olhos abertos
O
feiticeiro, que estava como pássaro, ouviu o canto do João de barro e, em um
vôo rápido feriu de morte o passarinho.
João
Pedro se lembrou da voz do João de barro e decidiu ficar de olhos bem
arregalados. Quando chegou perto da cabeça, que era a do boneco, percebeu que
algo estava errado. Portanto ao invés de cantar a canção, criou outra mais
adequada.
Cabeça
minha cabecinha
Vim
aqui todas as noites
Pedir a ti com carinho
Que me
dês um pouco de água
Para o
meu triste povinho.
Toda
noite você me diz
Que
posso ir lá pegar
Que
odeia o feiticeiro
Que
gosta de lhe usar
E que
depois de sete dias
Vamos
juntos lhe matar
Você
me disse o feitiço
Que
lhe hei de fazer queimar
Eu
guardei lá em um tonel
Antes
da vila sair
Vou
pegá-lo agora, cabecinha
Para o
mago destruir
E,
dizendo isso, foi até o fundo de sua casa, fez uma pequena fogueira ali perto
se escondendo entre na mata. O feiticeiro voou até a vila, procurou o tonel no
pátio e transformou-se de novo em homem colocando a cabeça no tonel. Neste
momento o menino, usando uma vara comprida, deu uma marretada no pescoço e fez
a cabeça rolar. Pegou a cabeça correndo e jogou na fogueira. A cabeça
transformou-se em fumaça vermelha enquanto cantava.
Queimar-me
era minha esperança
Era
uma vez um feiticeiro
Feito de fogo e de fel
Cortou
minha cabeça
E me
fez um mago cruel
Agora
acaba a maldição
E
minha alma descansa
Neste
momento João Pedro ouviu o assovio do João de Barro, que ganhara vida de novo,
e o latir dos cães, agora livres para sempre.
Parabéns
menino valente
Aprendeste
a lição
Coragem
e prudência, juntas
Nunca
serão em vão.
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