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terça-feira, abril 28, 2020

Nova coesão

Muito calor. Na Sibéria, um vírus acordou depois de 30 mil anos.
Ele chegou na grande cidade para vencer. Mas precisava trabalhar. Conseguiu um emprego com um pintor famoso, havia estudado com um mestre.
Preparava tintas. Pintava cabeças. 
A peste se espalhou. O presidente ordenara atirar em quem saísse na rua, depois o Parlamento suavizou as medidas. 
Decretos foram assinados, mais e mais poder ao centro. 
Nessa época a Justiça já havia sido comprada e os jornais já pertenciam a amigos do governo. 
Ele trabalhava muito pintando cabeças e naturezas mortas. Caminhava pela rua com uma espada, foi preso e pagou fiança. 
Foi chamado ao palácio do Chefe do Exército. 
- Um jovem talentoso e violento. A beleza me comove. Quero que viva aqui comigo, será meu protegido. 
Ele começa a pintar todo tipo de figuras religiosas, jovens desnudos enchem seu estúdio. 
Um dia, estoura uma briga com um menino que se atrasa. 
- Você não pode pegar um trem, a polícia vai te barrar, vai te interrogar.
No jantar, comenta com o general sobre o isolamento.
- É um momento muito difícil. Sempre defendemos a coesão, sempre lutamos contra o inimigo interno. Mas sinto que elementos do meu grupo perdem o controle. É preciso ter uma democracia controlada, mas eu sou contra o abandono. Com corte de orçamento, o povo fica sem saúde, prejudica economia... Até nossas mulheres perderam a noção de quem são, se percebem como a aristocracia do chá, bebendo com filhas de banqueiros. A ordem traz progresso, mas sinto que o povo está sendo levado ao desespero. O nosso comandante parece ter enlouquecido. 

O presidente lhe encomenda um conjunto de pinturas para o Salão da Liberdade. Serão exibidos quando acabar o estado de alarme. 
Sai uma noite escondido, se envolve numa briga, mata um homem. 
Pergunta ao general se deve fugir.
Prepara-se um barco, foge para as ilhas, uma tempestade. Caminha de volta para a cidade à pé, tem febre, morre numa cabana.
Os imigrantes foram acusados de espalhar a peste. 
Os partidos foram banidos, jornalistas foram presos, ativistas estão sendo processados. O general é executado.
Um ano depois, o Salão da Liberdade é inaugurado. Suas pinturas criam um novo estilo. 

Afonso Junior Lima

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