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terça-feira, setembro 22, 2020

O filho de Sei

Um quarto com paredes de papel pintado com pinheiros e flores vermelhas. O vento traz o perfume das cerejeias em flor, o som do rio correndo próximo. A luz da lua entra através das cortinas de tecido azul translúcido e ilumina as almofadas coloridas ao redor do leito de Sei. Ela está sentada no chão, escrevendo poemas na sua mesa baixa, ao lado da lamparina à óleo. Ouve os grilos da noite e isso lhe traz uma alegria sutil. Ouve um barulho como se alguém tivesse pisado no degrau da entrada, depois pensa ter se enganado. Sei sente seus longos e negros cabelos arrepiarem-se, mas decide controlar seu coração. Vemos a sombra de um ser que caminha com dificuldade, longos dedos de ossos que abrem a cortina azul. A cabeça alaranjada de um morto, a mandíbula e o alto do crânio de um laranja mais forte, como vários tons de carne podre, o branco dos olhos com nervuras vermelhas, órbitas negras. Um vapor fétido toma o lugar do aroma das cerejeiras.

O filho do demônio é um senhor cruel. 
Os demônios estão com ele nas batalhas. 

Afonso Lima 


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