Aquela Igreja escura e
(seria minha imaginação?) úmida me dava arrepios, mas minha irmã
teve um surto de fé e quis batizar meu sobrinho seguindo a tradição
da família. Por algum motivo eu estava sentada sozinha no banco,
olhando aquela imagem de dor que tanto tinha significado em minha
infância. Parecia tudo frio, e as velas iluminando rostos distantes
me davam arrepios. Incrível como certas crenças ficam fincadas na
alma da gente: os protestantes eram rebeldes, Deus é homem, Cristo
realmente é o Filho Único e a Bíblia errou ao afirmar “irmãos
de Jesus, existem pecadores por default. Eu era simplesmente
à favor da liberdade. Estava distante quando ouvi um choro abafado
em um bando atrás de mim. Pensei em ignorar, mas a moça parecia
desesperada e acabei levantando e oferecendo um lenço. Obrigada, ela
disse. Ficamos sentadas lado a lado em silêncio e eu ia levantar-me
quando ela falou: - Você acha que existe mesmo pecado? - era uma
pergunta retórica, graças a Deus – Eu trabalho numa clínica de
abortos. Nós trituramos bebês de três meses em liquidificadores e
jogamos no vaso sanitário. Damos fetos de cinco e seis meses para os
cães do canil - Eu mesma comecei a tremer involuntariamente. Tentei
desviar o olhar – Estou entrando em depressão. Ouvi um barulho
vindo da sacristia. Levantei-me um pouco contrangida e fui em direção
à minha irmã. Ela saía animada com o padre. Voltei-me. A moça não
estava mais no banco. Olhei rapidamente pela Igreja, havia
desaparecido. Aquela noite, tive pesadelos.
Pesadelo de Afonso Jr. Ferreira de Lima é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Perssões além do escopo dessa licença podem estar disponível em http://afonsojunior.blogspot.com/.
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