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quinta-feira, novembro 15, 2018

A marcha

A seca parecia pior com o por-do-sol.
"Fora daqui!"
A marcha dizia que eles merecem. Seremos minoria em breve.

Uma noite caía sobre a cidade, exausta pelo calor; soldados privados monitoravam as ruas.
Johv saiu sozinho e voltava para casa. Estava apaixonado. Estava confuso.
Seu tio o observou, serviu um chá. Eles conversavam pouco.

Seu tio havia vivido num campo de detenção quando seu barco chegou.
Parlamento operante, Justiça operando, ataques de drones, barcos cheios de gente, lares devastados, guerra.
- Por que não podemos falar sobre nosso medo?
- As festas místicas, eu já fiz isso.

Comeram.
Ele finalmente disse:

- Você sabe.

Eu vivia no caos e na confusão.

Prometeram me proteger. Eu tinha 19.

Tinha problemas com meus pais. Eles diziam que era auto-defesa. Foi lavagem cerebral.

Tivemos uma festa teatral, irmãos, mãos dadas.

Devíamos manter a desigualdade, era um ritual, desde crianças, bebês, a ordem ia voltar.

Nós éramos fantasmas do inferno.  A liberdade pedia atos de violência.

Havia um romantismo, no filme eram defensores da mulher perseguida por negros.

Os imigrantes, judeus, católicos e negros eram os culpados.

Eles queriam ganhar as eleições de 1944.

O tio acabou seu vinho. O vento da noite entrava pela janela.

Johv pulou a janela para dentro da casa dela.

Afonso Lima





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