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sexta-feira, março 08, 2019

Dos caminhos que se bifurcam

Os óculos de aro preto, cabelo repartido, a camisa nova. O fato de ele sair pelo mundo não os surpreendeu. Eles costumavam brincar no jardim. Sua mãe era divertida, e percebia, desde bebê, a cabecinha fazendo cálculos. A biblioteca imensa, aos dez anos, sociedades secretas, ritos macabros, espionagem, labirintos, clãs e assassinos.
Um dia estava no computador escrevendo histórias, no outro parecia querer escalar o mundo, querer voar pelos prédios como seus personagens.
Alguma coisa era muito diferente. Estava mais duro, mais frio, mais lento, como se fosse uma metamorfose, ela pensou.
As fotos mostraram a mudança. Um trabalho aqui, outro ali, estátuas, praças, cabelo grande, paixões, cabelo branco, artefatos arqueológicos, Borges, filosofia, romance pobre e separação.
O pai havia morrido repentinamente.
Voltou depois de vinte anos. A mãe já deixara o jardim tornar-se uma floresta.
Continuava na mesa, o rapaz, óculos de aro preto, sentaram juntos.
Afonso Lima

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