Podem me chamar de louco. Ele me disse.
O demônio Yuri tinha conseguido. A filha estava se tornando uma maga respeitável.
Por enquanto somente havia ressuscitado ratos, mas quem sabe o que poderia fazer?
Milton conseguiu a autorização de Miguel para descer. Somente eu, o poeta poderia ajudá-lo.
Pois em uma de minhas visões vi a sombra negra se precipitar do céu e soube que precisava receber o
entre-vivo na minha casa, aceitei.
Milton primeiro surgiu como tempestade, o líquido negro tomando forma na bacia de prata colocada na varanda.
Dali surgiu o corpo, aquecido na lareira.
Fomos juntos ao bordel.
Milton quase a matou quando entrou no seu quarto, Yuri estava no meio de uma fórmula mágica.
Eu sabia como prender os demônios com espelhos alquímicos, mas Yuri era melhor que isso e me prendeu com correntes de cabeça para baixo.
Agora, Milton torna-se fumaça e chega ao corpo periférico da filha, tenta penetrar sua essência. Ela resiste.
Não perdoa a morte.
Mas como ele vê o tempo como pedaços de uma só coisa, mostra-lhe a imagem de seu desejo terrível e fugaz de matar no berço aquela filha recém nascida e sua futura ambição de ressuscitar seu filho morto.
A mulher tomba e chora.
O demônio sente meu punhal se cravar em suas costas e foge.
- Blake, aguarde minha vingança!
Milton leva a filha nos braços até minha casa.
Ela dorme próxima a lareira.
- Minha filha me chamou em sua Forma e o Estado mutável nada pode fazer. Ela cantou a canção de ninar, e eu tornei-me estrela para cair a seus pés.
Dito isso, a nuvem escura subiu.
Afonso Lima
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