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segunda-feira, março 18, 2019

Esforço

Ele contratara aquele homem capaz de evocar espíritos.
Nada deixava Destino mais furioso do que os humanos que desdenhavam seus truques construtivos - e, portanto, a batalha com as Moiras, que teciam o ponto final, faziam estatísticas, mas tinham que deixar diversos caminhos para ele.
Ele colocava pistas, criava encontros, lançava ideias e criava coincidências.
Acima de tudo, odiava as pessoas que negavam seu trabalho.
E assim era aquele homem. Ele subira bem alto na vida comprando e vendendo casas, depois construindo casas, e agora vivendo de renda.
Mas o que teria sido dele se não tivesse feito aquele casal adorável ouvir o choro do bebê na rua escura?
E, agora, sabia estar acordado, mesmo assim sentia um outro o sufocando.
O bruxo conseguira fazer com que o espírito colocasse suas mãos na garganta do homem em meio a um sonho.
Imaginava que o homem chegaria, enfim, a percepção: "Que pequeno eu sou! Há mais mistérios entre o céu e a terra do que eu podia supor..." Mas, talvez estivesse apenas vivendo em outro século.
Todas as noites, sussurros, gritos, uma mão gelada no ombro.
O homem foi ficando insone e emagreceu.
Destino, com seu terno impecável branco, puxou conversa no bar onde ele tentava acalmar-se com uísque.

Contou sobre sua vida feita de adoção, na esperança de que o outro pelo menos reconhecesse que tivera sorte na vida.
Nada. Pediu ao bruxo que fizesse o homem ouvir um choro do bebê a noite toda.
As olheiras pioraram. Mas, finalmente, despediu o bruxo pensando que nada faria refletir esse sujeito.
- Ele só fala do seu suor, de seu heroísmo, de tudo que deixou de fazer para ter o que tem - Destino se queixava com a Moira mais Velha.
- Por que você não aparece em seu sonho? E lhe faz ver sua vida sem o sussurro do "acaso"?
Assim Destino o fez. Agora, o herói a ninguém importava. A noite abria-se infinita em detalhes, frieza, dores, tristezas, ele mergulhou na outra existência.
O que não esperava, era que ele jamais retornaria.

Afonso Lima

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