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sábado, março 02, 2019

Monstros


Lorde Kevin odiava ter de limpar a sujeira. Era, afinal, um romano e tinha em seu sangue a visão de hierarquia e obediência, mas com decoro público. Os antigos, muitas vezes, viam o mundo dividido entre escravos e corte.
Chegou na escuridão da madrugada, na possível escuridão de metrópoles.
Pareciam ter perdido sangue.
Apareciam ao lado do metrô onde dormiam, sem que se pudesse saber a causa. Crianças sempre perturbavam a ordem, atraiam a opinião pública.
Precisava usar uma isca, deixou o cão sem cabeça na praça.
O tempo passava.
Finalmente percebeu. Observou de perto, sobre o cadáver,  minúsculos pontos brancos se moviam tão lentamente que pareceriam parados a um olho humano. O bicho havia escolhido o mais obscuro tipo de sugador, milhares de insetos que podiam passar desapercebidos.
Passou a mão sobre eles, conseguiu ver onde se escondia o mestre. Entrou no jardim da emissora de TV, num galho alto de uma árvore escura. O monstro das sombras dormia em completa imobilidade com suas garras fortes. Abriu os olhos vermelhos.
Lorde Kevin usou seu lança chamas, arrancou sua cabeça com um machado e recolheu os vestígios.
A civilização precisava de outro tipo de extermínio. 

Afonso Lima

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