Ela observava o sistema que mostrava quem vai aonde, quem fala com quem e o que cada um faz durante o dia.
Os jornais falavam do desaparecimento de um editor conhecido. Empresários haviam também desaparecido de hotéis.
No celular, o qual captava as vozes, as pessoas assistiam trechos da fala do primeiro-ministro no Congresso:
- Temos liberdade de voto, um estado de direito, um sistema judicial independente, uma imprensa livre e a liberdade de protestar - isso é, sim, a melhor democracia que nós fomos capazes de produzir..
Ela lembrou das brincadeiras com seus pais na beira do rio, quando se sentia livre.
- Tudo bem um pouco de sujeira, seu pai disse.
Ela pensou: liberdade religiosa, com fundamentalismo na política; capacidade de protestar livremente com polícia brutal; imprensa livre, com monopólio familiar; e estado de direito com justiça de classe.
Ela ouvira os agentes falarem de casos fabricados, com julgamentos injustos.
Sabia da prisão de dissidentes. Havia boatos sobre covas coletivas e aldeias incendiadas. Surgiram nas províncias "equipes de humilhação" dos estudantes contra minorias - o governo incitando a "guerra cultural". Essa nova lei legalizaria o seqüestro.
Ela colocou o vírus na máquina.
Afonso Junior Ferreira de Lima
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