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sexta-feira, outubro 25, 2019

Cinzas

Ela tem um olhar estranho, sem pupilas, seus gritos são os de uma besta ferida. Caminha pelo bosque atrás da casa.

Você precisa superar isso. Eu.

Então eu grito, eu acordo. Imediatamente me lembro dele.

O soldado.

Estávamos naquela casa. Fugimos. Os outros foram pegos.

Papai.

Eu ouço seus passos. Aquele dia, o sol na sala, ele lia Kant e disse: "Não sabemos nada sobre o real".

Eu fui criada assim. Poemas e livros.

Ele também tinha medo, um zumbido. A lógica da guerra não permite dúvidas.

Uma besta ferida. Fui ferida. Meus ossos você nunca verá.

Eu deixo cair o véu. Eu aprendi com você.

Não sou humana. Circulo na vasta região de pessoas sem importância. Eu sou um monstro.

Eu ouço na rádio que você, digo, que o corpo foi encontrado. Spray. Sequestro.

Você diz que eu te ensinei.

Eles se alimentam de sangue. Disseram que tinham jogado suas cinzas no mar.

Vá com elas. Siga na rua. Estamos juntas.

*
Afonso Junior Ferreira de Lima



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