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sexta-feira, outubro 18, 2019

Primeiro amor

Duplico-me. O espelho fala. A ferida cria. 

*

Diário de um pai 

Tudo acabou me levando a um desejo que escondi, e por isso, acabei cometendo um erro imperdoável. 
Minha filha falava sobre seu desassossego com um livro que estudava:
- A visão de um homem tradicional que fala de sedução infantil baseando-se na história de uma menina de 11 anos sequestrada, ameaçada e violentada.

- Mas não podemos esquecer que, para algumas mulheres, a sexualidade começa muito cedo mesmo - disse minha esposa. Proteger com a cultura. Conheci meninas que menstruaram aos 9 anos.

Fui tomado de forte emoção. Me veio à mente uma cena muito constrangedora de minha juventude.
Eu, com minha família do interior e com meu pai militar, era amigo de um outro rapaz. Entre nós surgira uma eletricidade espontânea, eram os pequenos toques, o calor do falso sono na noite não dormida, havia sonhos, estávamos descobrindo nossa sexualidade contra tudo e todos quase saindo da adolescência.

Ele tinha uma irmã. Era uma época de erotização excessiva na TV, e, ao mesmo tempo, eu vivia as angústias e o medo que a sociedade impõe à natureza quando ela se rebela. E se eu fosse normal?
Nós começamos a brigar, eu jurava que não queria nada, que era absurdo, que era crime, ele dizia que logo, logo eu iria beijar aquela criança. Isso me dava nojo. 

E assim foi. Numa festa, um quarto, ela veio sobre mim. Não me orgulho disso, provavelmente seria preso hoje, eu quis. Eu, maior, precisaria ter sido razoável. Ela já era fértil, muito precoce. Ele entrou no quarto e nós estávamos abraçados.
Assim, meu amigo ficou magoado, nos separamos.
Que horror pensar que essa menina podia ser mãe. Que horror pensar que podiam obrigá-la a ter um filho. 
Logo, engravidei minha esposa, não me considero infeliz, mas a verdade é que estou contente em saber que minha filha sabe se defender.

Afonso Junior Ferreira de Lima

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