Ele dorme. Derruba a jarra de água.
Uma caravana chega a uma torre no deserto.
Seja bem-vindo, amigo.
Somos chamados de o inimigo interno. Até inventaram histórias macabras em que sacrificamos crianças.
Somos os três filhos de Abraão. Eles dizem que somos essencialmente violentos, mas foram eles que derramaram sangue em nossa terra. Se formos maus, eles podem nos roubar.
Acolha-nos, somos perseguidos. Eles estão na escuridão, são miseráveis, e agora desejam tomar o mundo superior imaginando-se os escolhidos.
Assim como os judeus que viram o Trono de Deus, o Poeta, na Noite, encontrou os profetas anteriores e foi abençoado para dar a mesma mensagem às tribos que nunca haviam tido um profeta.
Deus abençoe a Recitação e as riquezas do califado.
A jarra de água cai no chão sobre o tapete.
Afonso Lima
segunda-feira, novembro 30, 2015
domingo, novembro 29, 2015
Um muro
Antes,
havia a restrição de não se aproximar do muro. Havia cercas e
havia o bosque proibido, tiros e alarmes que soavam colocando as
pombas desavisadas em pânico. Agora ninguém parecia disposto a
alimentar uma pomba velha. Estava com frio e sua liberdade não
ajudava. Então era assim? Os que estão bem estão bem porque
combateram com mais coragem, foram mais fortes? Se tudo for difícil,
os ganhadores ganharam. Ele não podia evitar a sensação de que
alguém barrava seu caminho, de que podia ser muito mais, voar muito
mais se tivesse um vento favorável. Encolhida perto da calçada,
lembrava dos dias em que tinha comida, entregava mensagens para os
ditadores. Agora os prédios estavam vazios, os homens pareciam
marginais, as crianças não saíam de casa, não era seguro. A pomba
fechou os olhos.
Afonso Lima
sábado, novembro 28, 2015
As bestas
Maiorca, 1232. Nasce.
Agora seus pais têm uma terra, a reconquista.
Aprende árabe, estuda teologia cristã e muçulmana, prega.
Lê as fábulas das Epístolas dos Irmãos da Pureza Muçulmana, pensa em uma fábula.
Conhece Kalila e Dimna - versão árabe do Panxatandra indiano, duas versões: o livro que o rei Afonso X havia dado - traduzido ao castelhano - para a esposa do rei francês Felipe o Belo, que o traduziu ao latim, e a tradução de João de Cápua para o mais elegante latim, de 1278.
Decide ir até Paris pregar na universidade, escreve ao rei pedindo audiência. É recebido.
Afonso Lima
Agora seus pais têm uma terra, a reconquista.
Aprende árabe, estuda teologia cristã e muçulmana, prega.
Lê as fábulas das Epístolas dos Irmãos da Pureza Muçulmana, pensa em uma fábula.
Conhece Kalila e Dimna - versão árabe do Panxatandra indiano, duas versões: o livro que o rei Afonso X havia dado - traduzido ao castelhano - para a esposa do rei francês Felipe o Belo, que o traduziu ao latim, e a tradução de João de Cápua para o mais elegante latim, de 1278.
Decide ir até Paris pregar na universidade, escreve ao rei pedindo audiência. É recebido.
Após o fim cruzadas, em 1291, o cristianismo abandonou a Terra Santa aos infiéis, afirma, é preciso converter os tártaros para que destruam os Sarracenos. Pede a Felipe o Belo que envie embaixada ao Khã mongol da Pérsia, que simpatiza com a cruz, com ouro e presentes, expondo-lhe a necessidade de expulsar mamelucos da Síria e da Palestina. Também pede monastérios onde se aprenda a língua oriental.
Sua palestra é um fracasso. Tem um acento "arabista", dizem os doutores.
Ele retorna à sua ilha, funda um mosteiro, é chamado à Paris anos depois ("velho e pobre", como se descreve) para o grande Concílio, no caminho escreve um Livro no qual o mal conselheiro do rei, que o levara a prender o Papa e os templários, é retratado como raposa, o que lembra Kalila e Dimna. Morre aos 84 anos, quando suas afirmações sobre conselheiros fanáticos "não de Deus, mas do Estado" foram defendidas pelo jurista Pierre Duby, que escreveu Da Recuperação da Terra Santa.
Afonso Lima
quinta-feira, novembro 26, 2015
Bambee
Bambee sempre achara que Paraíso era imortal. Ele e toda a União da Estrela do Rio tiveram
que subir para bem longe da lama que destruiu a cidade. As sereias e
os seres invisíveis sentiriam muita dor. Seu pai está agora
evocando, com o Sumo Sacerdote, os espíritos dos cervos ancestrais.
Eles os aconselham a subir até a grande Torre e pedir ajuda ao deus
das tempestades. Comem as folhas sagradas. As almas dos animais
mortos se levantam do chão brilhante de restos metálicos para
assombrar os homens gananciosos. Sobem até o castelo. O deus prepara
raios. O pai se despede do filho, se transforma em nuvem negra e
parte carregado de raios para dizimar a raça humana.
Afonso Lima
terça-feira, novembro 17, 2015
Trecho do romance "Canções para Dias Difíceis" (inédito)
Trata-se
de dinheiro, duto de bilhões dos contribuintes dos Estados Unidos,
do petróleo do Iraque para corporações; abrir mercados com a
guerra. Eliminar a indústria do país, invasão de trabalhadores
estrangeiros, reconstrução com subcontratadas das subcontratadas
que não fazem nada direito, governo que significa entregar pacotes
de notas de cem dólares. Somente o que atinge fisicamente, os
nervos, pode levar à pensar.
Eles
eram uma raça inferior, repetiu o comandante. Eles não entendem a
democracia, ele disse. Eles gostam de empresas públicas ineficientes
e corruptas. Eles tinham medo que suas empresas fracassassem diante
da competição estrangeira. Vencem os melhores é uma lei biológica,
dizia nosso comandante. Mas parece que os trabalhadores daquela
fábrica se negaram a abandonar seus serviços. Agora não tinham
água tratada, eletricidade duas horas por dia, usando lenha para
cozinhar, um clérigo juntou desempregados para consertar as linhas
de telefone, instalar geradores, dirigir o tráfico. A iniciativa
privada comprou essa companhia, a primeira coisa que irá fez foi
reduzir o pessoal. Eles pensam se colocam fogo ou se explodem dentro.
Não será privatizada. Quatrocentos mil soldados demitidos com suas
armas. Cimento e trabalhadores importados, sem geradores para as
antigas empresas estatais que poderiam produzir. Empresariado
financiando a violência, porque suas fábricas acabaram.
Fecho
os olhos. Escuro. Por que agora? A educação-lixo, os políticos
fundamentalistas, oligarquias. O sistema de exclusão do Brasil, "Canções para Dias Difíceis" - Afonso Jr. Ferreira de Lima
segunda-feira, novembro 16, 2015
Depois da reconstrução
Estou vindo da reconstrução. Não merecia receber estilhaços e ver pratos e mesas voando durante o jantar.
Você está bem, deveria agradecer. Espero que o J. saia logo do hospital. Acalme-se, vou acender o aquecedor. Um jazz. Não podemos sair de casa.
Será que aquele inferno todo. Eu me sinto mal.
Mas os ideais por trás disso. Era uma ditadura, tinha a existência de armas, o terror jihadista.
Um governo opositor nacionalista. Nós lutamos sem saber ao certo.
E a tortura. Quem poderia imaginar que... um milhão de soldados.
Nós fudemos tudo. Acabamos com tudo. Desmoronou, eles não ia aguentar. Uma moça disse que antes não usava véu, agradeceu ironicamente. Sem tratamento de água.
Não se pode prever o mal antes. O mundo está mais inseguro, fazer o que. Marcas de sangue no chão.
E não teria sido um pouco propaganda? Gastamos mais com isso, gastamos bilhões.
A incerteza moderna. Prefere sushi ou pizza?
E nós estávamos lá, falando em contratação em meio ao caos.
Era uma reforma terceirizada. Pizza de quê?
Um milhão de dólares para deputados e senadores.
Vamos tomar um vinho. Você tem de ser menos radical. Você viu o que está passando na TV?
Afonso Lima
Você está bem, deveria agradecer. Espero que o J. saia logo do hospital. Acalme-se, vou acender o aquecedor. Um jazz. Não podemos sair de casa.
Será que aquele inferno todo. Eu me sinto mal.
Mas os ideais por trás disso. Era uma ditadura, tinha a existência de armas, o terror jihadista.
Um governo opositor nacionalista. Nós lutamos sem saber ao certo.
E a tortura. Quem poderia imaginar que... um milhão de soldados.
Nós fudemos tudo. Acabamos com tudo. Desmoronou, eles não ia aguentar. Uma moça disse que antes não usava véu, agradeceu ironicamente. Sem tratamento de água.
Não se pode prever o mal antes. O mundo está mais inseguro, fazer o que. Marcas de sangue no chão.
E não teria sido um pouco propaganda? Gastamos mais com isso, gastamos bilhões.
A incerteza moderna. Prefere sushi ou pizza?
E nós estávamos lá, falando em contratação em meio ao caos.
Era uma reforma terceirizada. Pizza de quê?
Um milhão de dólares para deputados e senadores.
Vamos tomar um vinho. Você tem de ser menos radical. Você viu o que está passando na TV?
Afonso Lima
A jornada
você pode ficar aqui em casa.
estava escuro e. ótimo, estou cansado, obrigado.
e esse corte?
tive de passar pela cerca.
o homem louco. em nome de Deus.
sim, sim. sabe, estava tudo bem, até que fui preso sem motivo.
sem motivo, sem motivo mesmo?
sim, e meu amigo desapareceu.
agora está tudo bem. você sabe, nossa família respeita muito as refeições em família.
ok, tem uma fila ali embaixo.
o banheiro, pode usar na padaria.
naquele caminhão, morreram alguns que reclamaram da água.
você vai superar. eu fico louco com eles, simplesmente doido mesmo com eles, quem pensam que são dizendo não aceitamos mais ninguém, só espero que não nos faça pagar essa conta. sua cidade não existe mais, espero que não seja deportado, mas pode ser que. não use símbolos religiosos, somos laicos. seja forte e não tenha medo do spray de gás. você pode ficar aqui em casa.
Afonso Lima
estava escuro e. ótimo, estou cansado, obrigado.
e esse corte?
tive de passar pela cerca.
o homem louco. em nome de Deus.
sim, sim. sabe, estava tudo bem, até que fui preso sem motivo.
sem motivo, sem motivo mesmo?
sim, e meu amigo desapareceu.
agora está tudo bem. você sabe, nossa família respeita muito as refeições em família.
ok, tem uma fila ali embaixo.
o banheiro, pode usar na padaria.
naquele caminhão, morreram alguns que reclamaram da água.
você vai superar. eu fico louco com eles, simplesmente doido mesmo com eles, quem pensam que são dizendo não aceitamos mais ninguém, só espero que não nos faça pagar essa conta. sua cidade não existe mais, espero que não seja deportado, mas pode ser que. não use símbolos religiosos, somos laicos. seja forte e não tenha medo do spray de gás. você pode ficar aqui em casa.
Afonso Lima
domingo, novembro 15, 2015
Em perigo
Período de mudanças. A polícia secreta cria um documento, editando trechos de um romance de 1835, acusando o grupo de "semear o ódio de classe, o ódio de raças". Eles querem invadir, destruir nossa identidade, penetração com planos de domínio. O racista cria a raça. A crise do czar ganha novas causas. Perseguições, incêndios, fuga em massa. Eles compraram uma casa na serra, depois do oceano. Eles criaram galinhas. Mas uma janela é quebrada. Um bilhete ameaçador. Notícias de parentes desaparecidos. Um dia, a mulher encontra na parede do galpão escrito com sangue: "Morte aos comunistas do demônio". Uma nuvem negra sobre a casa. Eles se dão as mãos e dormem para sempre.
Afonso Lima
sábado, novembro 14, 2015
Preservar
Preservar a vida. Preservar toda a vida. Cuidar do pequeno, do detalhe, do tijolo e do tecido.
Celebrar. Eu celebro o labirinto da regra, o instante da rosa, o pássaro negro, a paz e o verde inseto. O primeiro amor de um átomo.
Incerteza. A nuvem pesada. O não esperado. Mutações do azul.
Um futuro para a vida. Um rio que corre, uma saída possível, uma luz na noite para doces amantes.
Preservar a dança, o beijo lento, preservar a erva e o erro. Celebrar o caminho de volta.
Perguntar. Descansar. Deixar entrar o ar. Correr pelo gramado verde até o lago.
Evitar que o bem seja imposto, não esquecer da necessidade de suprimentos.
Preservar a cor da vermelha lanterna, o chá, a temperança quando a brisa é suave.
Ler um livro e controlar o fogo, gato adormecido.
Financiar a vida. Planejar o espaço para a vida. Vê-la crescer. Controlar o medo. Amar o lodo, um querer de outro, o corpo que não habitamos. Nutrir, rever o caminho, aceitar a voz não pensada, o não ensinado, ir ao estranho. Não reagir pelas leis canônicas, não aceitar a tradição. Mar aberto.
O menino africano que vai para a escola, a mulher do deserto, a moça japonesa na janela.
Não esquecer o tempo de cada coisa, não sucumbir à hierarquia. O que é urgente para que tudo corra bem.
Não sucumbir às explicações fáceis, não deixar que o ouvido adormeça.
Preservar o translúcido, dar a mão, achar espaço para o que sufoca, pensar sobre o pensar em bloco. A raiva cega. A certeza medonha. Guardar no corpo o prazer da corrente, uma fábula sem força, uma fábula com o que não entendo. Preservar a mudança.
Com vulcões, com leões, com todos os tremores e raios.
Evitar as palavras de ódio. Preservar os sonhos mais loucos, as teorias mais profundas, o mais complexo sistema, fórmula ou painel, o inverno sem limite, o que é disso tudo, e tudo é caminho, matéria, tudo é celebrável. Achar um tempo para a célula, um passo com os pés no chão, uma noite de paz.
Preservar o frágil evento.
Afonso Lima
Celebrar. Eu celebro o labirinto da regra, o instante da rosa, o pássaro negro, a paz e o verde inseto. O primeiro amor de um átomo.
Incerteza. A nuvem pesada. O não esperado. Mutações do azul.
Um futuro para a vida. Um rio que corre, uma saída possível, uma luz na noite para doces amantes.
Preservar a dança, o beijo lento, preservar a erva e o erro. Celebrar o caminho de volta.
Perguntar. Descansar. Deixar entrar o ar. Correr pelo gramado verde até o lago.
Evitar que o bem seja imposto, não esquecer da necessidade de suprimentos.
Preservar a cor da vermelha lanterna, o chá, a temperança quando a brisa é suave.
Ler um livro e controlar o fogo, gato adormecido.
Financiar a vida. Planejar o espaço para a vida. Vê-la crescer. Controlar o medo. Amar o lodo, um querer de outro, o corpo que não habitamos. Nutrir, rever o caminho, aceitar a voz não pensada, o não ensinado, ir ao estranho. Não reagir pelas leis canônicas, não aceitar a tradição. Mar aberto.
O menino africano que vai para a escola, a mulher do deserto, a moça japonesa na janela.
Não esquecer o tempo de cada coisa, não sucumbir à hierarquia. O que é urgente para que tudo corra bem.
Não sucumbir às explicações fáceis, não deixar que o ouvido adormeça.
Preservar o translúcido, dar a mão, achar espaço para o que sufoca, pensar sobre o pensar em bloco. A raiva cega. A certeza medonha. Guardar no corpo o prazer da corrente, uma fábula sem força, uma fábula com o que não entendo. Preservar a mudança.
Com vulcões, com leões, com todos os tremores e raios.
Evitar as palavras de ódio. Preservar os sonhos mais loucos, as teorias mais profundas, o mais complexo sistema, fórmula ou painel, o inverno sem limite, o que é disso tudo, e tudo é caminho, matéria, tudo é celebrável. Achar um tempo para a célula, um passo com os pés no chão, uma noite de paz.
Preservar o frágil evento.
Afonso Lima
quarta-feira, novembro 04, 2015
A árvore
caminho pelo verde, a árvore grávida de tantos frutos grossos
pela estrada, folhas molhadas, o céu pesado
quero deixar aparecer o que existe
catálogo de nós cálculos primeiros a escada
listar botão de rosa lírio azul e carvalho
caveiras mexicanas barcos em Portugal uma manifestação em Paris
mensageira de simpatias mutabilidade canto o existente
a ti, poeta, tudo que não vistes, e cabe a quem duvida
desempregados britânicos, soldados russos de 1917, cidade destruída pelo fogo
Paris e Londres com palavras ameaçam
operações inexistentes corvos
dois impérios destruídos ossos
queimam as bibliotecas cada pensamento encontra seu nome
livre empresa num mundo em ruínas, povos famintos
cidade grande, arranha-céus, bondes elétricos, coelhos em Helsinki
e favelas onde brincam crianças, paz, caminhando nus perto do rio
o neon, o perfume, subclasse, imigrantes
o fogo adormece o velho da montanha ensina doutrinas cinzentas
que os homens medíocres são juízes e prosperam
não somos todos iguais não o mito da pedra
sonho de afirmação pura flor amarga
na madeira a escrita organiza a cidade
algo irrompe a sabedoria os homens santos unem palavra e força
à noite o rio atravessa tantas vezes o rio
o peso dessa alma eu deixe seja olhos
esqueça os signos que uma geração perdida observa
não julgo assisto à novidade e tudo de primeiro se torna grande e essencial
de meu tempo mergulhando nos sonhos sombrios
mas no sonho chapéu e guarda-chuva ouro e prata são Natureza
árvore dos céus, cada ramo um deus
silêncio esqueço o mundo que rola
mergulho e busco um mundo na infância
rumo à mitologia ao texto das eras
eu que amo o corpo das coisas que Eros une
a força de pensar busco reorganizar amor
quero fazer as primeiras perguntas, esquecer tudo
O lago cercado de árvores que nele mergulham
a névoa no parque que esconde o caminho
chove, a velha casa cai sob o fogo, e alguma música distante
ciganos, botas marcam o tempo
cavalo branco brancas dunas
que o vento move
Afonso Lima
pela estrada, folhas molhadas, o céu pesado
quero deixar aparecer o que existe
catálogo de nós cálculos primeiros a escada
listar botão de rosa lírio azul e carvalho
caveiras mexicanas barcos em Portugal uma manifestação em Paris
mensageira de simpatias mutabilidade canto o existente
a ti, poeta, tudo que não vistes, e cabe a quem duvida
desempregados britânicos, soldados russos de 1917, cidade destruída pelo fogo
Paris e Londres com palavras ameaçam
operações inexistentes corvos
dois impérios destruídos ossos
queimam as bibliotecas cada pensamento encontra seu nome
livre empresa num mundo em ruínas, povos famintos
cidade grande, arranha-céus, bondes elétricos, coelhos em Helsinki
e favelas onde brincam crianças, paz, caminhando nus perto do rio
o neon, o perfume, subclasse, imigrantes
o fogo adormece o velho da montanha ensina doutrinas cinzentas
que os homens medíocres são juízes e prosperam
não somos todos iguais não o mito da pedra
sonho de afirmação pura flor amarga
esperando serem transformados em homens de novo
enquanto acumula as coisas transcendência e por ser algo de belona madeira a escrita organiza a cidade
algo irrompe a sabedoria os homens santos unem palavra e força
à noite o rio atravessa tantas vezes o rio
o peso dessa alma eu deixe seja olhos
esqueça os signos que uma geração perdida observa
não julgo assisto à novidade e tudo de primeiro se torna grande e essencial
de meu tempo mergulhando nos sonhos sombrios
mas no sonho chapéu e guarda-chuva ouro e prata são Natureza
árvore dos céus, cada ramo um deus
silêncio esqueço o mundo que rola
mergulho e busco um mundo na infância
rumo à mitologia ao texto das eras
eu que amo o corpo das coisas que Eros une
a força de pensar busco reorganizar amor
quero fazer as primeiras perguntas, esquecer tudo
O lago cercado de árvores que nele mergulham
a névoa no parque que esconde o caminho
chove, a velha casa cai sob o fogo, e alguma música distante
ciganos, botas marcam o tempo
cavalo branco brancas dunas
que o vento move
Afonso Lima
terça-feira, novembro 03, 2015
The river
Land of castles, I look for my face
the ghosts in the streets, I want no power
Just a green, a free place
to revive my soul, naked flower
the river and the light I loose that I
If the trees, my loud music
If the clouds, I´m looking for me
Afonso Lima
the ghosts in the streets, I want no power
Just a green, a free place
to revive my soul, naked flower
the river and the light I loose that I
If the trees, my loud music
If the clouds, I´m looking for me
Afonso Lima
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