Aristóteles - uma introdução
Aristóteles foi um grande sistematizador do pensamento antigo, levando sempre em
consideração as opiniões dos pesquisadores anteriores a ele. Através de uma equipe de
colecionadores pôde classificar de modo eficaz uma série de dados, dando impulso assim à
biologia, psicologia, astronomia, etc.
Para os gregos, o universo estava em equilíbrio e harmonia, era o “cosmos”, em
oposição ao caos primordial. A terra estaria rodeada de inúmeras esferas celestes,
móveis, formadas por um quinto elemento ou éter, a primeira das quais seria a que dá
impulso ao movimento que chega até o mundo sublunar (formado pelo fogo, água, ar e
terra), regendo as cheias dos rios, marés, configurações dos continentes e mares.
Influenciado pelo neoplatonismo que penetrou a teoria aristotélica no mundo árabe (o
princípio motor torna-se Deus Criador), no aristotelismo da Idade Média européia as
emanações do divino permeavam o mundo terrestre, cada ser era provido de uma “forma
substancial” (estrutura abstrata do ser, que se manifestava como qualidade, frio, calor,
etc.)
Além disso, das causas pelas quais as coisas existem (material, motora, formal e
final), a mais importante é a causa final, ou seja, o fim ou função pela qual existe: “A
natureza não faz nada em vão”, ou seja, é perfeita e tudo responde a uma necessidade
específica. Nos séculos XVI e XVII, a Igreja tomou esse aristotelismo arabizado como
cavalo de batalha, pois um mundo mecânico sem Deus parecia surgir das novas
descobertas científicas, como a mobilidade da terra ao redor do Sol, onde a mera
extensão e jogo de forças justificariam os movimentos dos corpos.
Também um novo método científico vai tomar o local do silogismo aristotélico
(definição por relações de conceitos); através de comparações numéricas se pode testar
as hipóteses, verificar as relações entre as medidas físicas. Para os sábios escolásticos
medievais e os aristotélicos, para se chegar à forma científica usava-se à indução: vendo
casos particulares chegava-se, por abstração, a uma definição precisa. Para os gregos
havia uma ligação natural entre os homens e o universo, de forma que ter uma definição
precisa de algo era conhecer a sua realidade última. Galileu terá de mostrar que, por falta
de instrumentos como o telescópio, as definições de Aristóteles informavam pouco sobre
o mundo, muito mais qualidades sensíveis (úmido, por exemplo), do que quantidades
mensuráveis e representáveis matematicamente.
Aristóteles influenciou mil anos de pesquisa científica no ocidente. Em que outros
aspectos podemos perceber sua influência?
Alguns conceitos base de sua filosofia:
SUBSTÂNCIA
Sobre o ser (“Aristóteles”, p. ex.) pode-se perguntar:
O que ele é?
Quais suas qualidades?
Onde está?
Como se relaciona com os outros?
Cada tipo de pergunta quer um tipo de predicado (kategoria): de quantidade (tem um
metro e sessenta), de relação (é filho de Nicômaco), etc. Haveria 10 classes. Também são
vistas como “categorias do ser” classes das coisas “que existem”. Isto porque tem de haver
alguma coisa ao qual o predicado se refere. Aristóteles é saudável. A saúde tem de existir.
A primeira categoria, que corresponde a pergunta “o que é isso” é a de substância.
Mas há muitos sentidos de dizer que as coisas são, e há tantos sentidos de “ser”
quanto as categorias dos seres.
Mas todas existem com relação a substância, pois é preciso que ela se mova, seja
colorida ou tenha tal tamanho. A substância pode ser “distinguida individualmente” e
“separada” , permanecendo essencialmente a mesma. Para os pré-socráticos as matérias
eram substâncias ( como pó fogo ,a água, etc.) , para outros os átomos, os números
(pitagóricos e platônicos) e para outros os universais abstratos ou idéias, como para Platão.
Para Platão as coisas são brancas porque partilham da brancura Ideal, enquanto para
Aristóteles as coisa brancas existem antes da brancura em si.
Para ele substâncias são os animais, plantas, astros, artefatos como mesas e cadeiras:
os objetos materiais de tamanho médio.
METEORIOLOGIA
O mundo sublunar é constituído de quatro elementos-terra, fogo, água e ar-
correspondentes a quatro qualidades primárias-secura, calor, umidade e frieza. Cada
elemento tem um movimento para seu “lugar natural”-fogo para cima, a terra para baixo, Os
corpos celestes são constituídos de uma quinta essência, ou quinto elemento, sendo divinos,
vivos e inteligentes, e fazendo girar o universo.
Alguma fonte imutável da mudança, estando fora do universo, incorpórea e, tem de
iniciar o movimento, e “inicia a mudança como objeto de amor.”
PSICOLOGIA
Todas as coisas vivas são possuidoras de uma psique, uma força animadora, que
podem ter faculdades simples como nutrição, como as plantas, ou estas , percepção e o
desejo, como os animais, ou estes e imaginação que cria o pensamento, como os homens.
Ter alma significa possuir uma habilidade, é um conjunto de potências e capacidades. As
realizações não podem existir separadas dadas coisas que são realizadas. As almas são
capacidades físicas.
Há dois tipos de pensamento o ativo – separável do corpo, imortal e impassível, e o
passivo, que depende da percepção.
CAUSAS
Buscar uma causa é buscar o porque de algo. A resposta é Isto porque Aquilo. Por
causa de quê troveja? Porque A é B? Porque S é P? S é P porque Y.
O vínculo que liga S a P é p termo médio.
"porque S éP? por causa de M. S é P porque S é M e M éP."Porque as vacas(S) têm
vários estômagos (P) Porque são ruminantes (M) e os ruminantes têm vários estômagos.
Quatro causas : material, motora, formal e final.
Material -constituinte a partir do qual uma coisa vem a existir: bronze
Forma e organização - o rosto tem três vezes o tamanho do nariz
Motora - fonte do primeiro princípio ou mudança: pai é do filho
Final -espécie de meta, em busca de que se dá: exercício para ter saúde.
Causa como forma-estrutura-organização -o que é e porque é são a
mesma coisa: "A lua é eclipsada porque é privada de luz ao ser ocultada, e as coisas privadas de luz
ao serem ocultada são eclipsadas"
Causas finais ocorrem tanto nos produtos de atividades humanas, como
na natureza: são “aquilo em busca do quê.”
Silogismo:
A) estátua é de bronze
B) bronze é maleável
C) estátua é maleável
VIRTUDE E INTELIGÊNCIA
A pessoa que desenvolveu virtude (arete) e inteligência prática (phronesis) que levam à
ação correta, desenvolveu capacidade biológicas de modo correto devido a vivência numa
comunidade (polis) onde a lei a justiça imperavam, onde a Dike (justiça) ordenava a cidade
fazendo julgamentos justos.
A ética de Aristóteles é baseada na eudaimonia e arete. Arete é “bem” ou “excelência”
e eudaimonia é realização, sucesso. Ele deseja compreender o que nos leva a realizarmo-nos
e a fazer sucesso na vida. A eudaimonia requer um fazer, realizar atividades, não é um mero
estado de espírito. É agir de acordo com a excelência. Existem excelências de caráter como a
coragem e a amizade, e existe “o divino que habita em nós”, ou seja, a razão, que nos impele
a saber o que é bom e mau, e à atividade intelectual que atinge a excelência nos traz a
realização e o sucesso.
A raiz da palavra está ligada a “ser favorecido por algum deus”, ter sorte, e está ligada
parte divina em nós, a razão (nous).A razão na Grécia tem uma relação sutil com a ordem e a
beleza, a harmonia. O Universo era ordem, era kosmos, como uma jóia muito bonita feita por
um artesão.
Outro significado seria o de viver bem e ir bem , ou seja dirigir nossa vida
racionalmente para guiar nossas paixões como quem guia um barco.
Realizar o que somos na essência através de obras: “o bem para o homem vem a ser o
exercício ativo das faculdades da alma em conformidade com a excelência”
Justiça
- o bem da polis exige as virtudes da soprosyne e da dikaiosyne.
- Dikaiosyne é justiça corretiva e distributiva
- A democracia é não-seletiva e a oligarquia não distingue pela virtude
- os papeis sociais influem na virtude, por exemplo artesãos e mulheres,
estas últimas por não terem controle nas emoções
- é papel da cidade treinar seus cidadãos no exercício das virtudes
- os cidadãos deveriam com a idade aprender a fazer decisões justas e isto
exigia que tivessem todas as virtudes que iriam julgar, a começar pela justiça,
“virtude em com que um homem desempenha seus papéis sociais projeta-o
finamente para o aperfeiçoamento de sua própria alma na atividade contemplativa.”
(MacIntyre, p. 122)
Aristóteles no Séc. XX
O filósofo grego tem sido retomado no século XX, desvinculado de sua roupagem
cristianizada e neoplatonizada, sendo inclusive base de uma filosofia positivista, ligada ao
filósofo Wittgenstein. Está mais claro hoje que Aristóteles não via o ser de forma tão abstrata
como a interpretação árabe deu a entender, sob influência dos testos da época helenística
grega. Conforme o professor Fernando Santoro:
“Aristóteles é sem dúvida um dos filósofos mais presentes no séc.
XX, seja pelas profundas transformações ocorridas nos estudos de suas
obras e na interpretação de seu pensamento, seja pela influência direta na
formação e discussão das principais correntes de filosofia
contemporâneas, entre as quais a fenomenologia, a filosofia analítica, o
pragmatismo, o neotomismo e a nova retórica, para citar apenas algumas
das correntes onde as fontes aristotélicas das questões e dos métodos
são evidentes”. 1
Bibliografia:
Aristóteles, J. Barnes, Loyola
Justiça de Quem? Qual Racionalidade? MacIntyre, Loyola
De La religion a la filosofia, Conford, Ariel
Afonso Junior F. de Lima, 2008
1 Disponível em: http://www.ifcs.ufrj.br/~fsantoro/ousia/artigo_aristotelismonosecxx.htm
Este
trabalho de
Afonso Jr. Lima, foi licenciado com uma Licença
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