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quinta-feira, dezembro 29, 2022

Algo podrido hay en Dinamarca

Cambiar de país. El día que recibí mis facturas en el Centro de Integración, no había wifi, los migrantes solo pueden tener un teléfono celular con un número de identidad.

(En la policia tambien no hay wifi, certificado de domicílio solo con identidad, te mandan a la web - donde es imposible allar algo). 

En la fecha de vencimiento, la cajera acepta una boleta (800) pero no la otra.

Volvo a lo Centro de Integración de personas migrantes para saber si necesito imprimir para pagar 3,000 pesos. 

La chica de recepción me ve y se va sin decir nada, espero un rato. Volta, le explico, me dice que debo ir a la oficina de correos. 

Reforzo que está vencido. Ella dice que lo aceptan de todos modos. 

Voy a la oficina de correos, la chica no me deja ni abrir la boca, Banco da Nacion, tres cuadras. Intento decir que me enviaron allí, hace "tres quadras" con la mano. No digo gracias. 

Por el mal servicio, decido ir a otro coreio, me atienden bien, pero "solo en el banco" me lo explican.

Sol sol sol. Tumulto. 

En el banco juran que después del vencimiento no lo aceptarán. Por favor informe esto al centro, me dicen.

Vuelvo al centro. Voy preguntar. Quiero saber si necesito fecha para imprimir una segunda boleta. El tipo no me deja ni abrir la boca, sin cita, no se hace nada. 

Yo explico. Vencido, no te van aceptar nada, dime. 

Ya enojaro, lo digo que precisamente se está dando información incorrecta, otras personas perderán su tiempo. 

Finalmente me da un sitio web para marcar la hora.

Tengo fecha - "Tu culpa" me dice la empleada. "No se puede hacer otra copia". No puedo viver acá, entonces? “Si vas al banco de enfrente, puedes hacerlo”. Una hora después el guardia del banco me explica que los no clientes pueden esperar hasta tres horas. Me voy.

AJr

sexta-feira, dezembro 23, 2022

Ilíada

silenciosa progredia 

cobiçada arquitetura

a torre caída

sua forma 

movia 


mas o que tecia 

paciente

como devia

silenciosa

não era a virtude

da tela esperada


solidão divina

helena dos bosques

helena na casa

tecia um livro


Afonso Jr.

terça-feira, dezembro 20, 2022

La sonrisa de Messi

El fútbol no es realmente mi campo. Soy lo que se podría llamar afutebístico.

Cuando llegué a Argentina vi una cara por todos lados y me tomó un tiempo saber que era Messi.

Me criaron con la idea de que los argentinos eran violentos en la cancha, eran "nuestros enemigos".

Además, el mundo del fútbol terminó significando para mí el entretenimiento de hombres banales, alimentado por el poder de la máquina publicitaria.

Pero me encanta este equipo. Mucho por tu sonrisa. La idea ahora es compartir.

Veo, en esos dos minutos de Twitter, un equipo trabajando en conjunto.

Algo que no parece ocurrir con Brasil.

Una cosa que me llamó la atención fue la forma en que miran al futbol los argentinos. Parece que, en Brasil, el juego es solo ruido, un ritual colectivo de empujones y maldiciones.

En Argentina reina la concentración. Sólo los goles generan barullo. 

Incluso los triunfos tardan unos minutos en procesarse. 

Vi una casa con las ventanas abiertas para que la gente de la calle pudiera ver el partido.

En el metro, de repente, no son átomos los que circulan por el poder, sino una sola esperanza a coro.

- ¡Quiero morir! La puta madre! - el sufrimiento compartido quita el velo del "yo" ilusorio.

Algo interesante, porque, en general, se podría ver la nacionalidad como una construcción de alguna élite preocupada por defender sus fronteras y encauzar el odio.

Pero, de repente, en el mundo brutal del capitalismo que tiende a su punto cero - la esclavitud - hay gestos de esperanza y colectividad.

Conductores de metro y tren tocando la bocina en ambas direcciones antes del partido. El altavoz cantando con la juventud dentro.

Evidentemente, el que sufre se pone una medalla simbólica de vencedor -que puede ayudar al sistema a seguir- y algún poder logra cubrirse con el brillo del vencedor en la foto, pero más allá, hay una generosidad en el trabajo colectivo que abre un espacio. Por un momento las mentes trabajaron juntas y la voluntad del yo fue que el conjunto triunfara.

Es la liberación de la ola de hostilidad que subyace a la lucha en la sociedad atomizada.

Mi raza, mi familia, mis hijos, mi cuerpo. El hombre común está siendo entrenado en dominio ilimitado por el poder que detesta el conocimiento colectivo.

Hay banderas, espuma, niños, mucha fiesta en las calles. Antes de que el alcohol haga todo más opresivo.

Es algo que hacen los seres humanos de lo que no se puede apropiar por completo. Como el arte.

El arte de la concentración en este equipo es asombroso.

Y la percepción de Messi en el minúsculo tiempo de un penalti se desborda.

La alegría de la gente es contagiosa. En esa alegría, la agresión del cálculo se desintegra al menos en un instante. El sueño de la aristocracia es una pesadilla de tristeza para el pueblo.

La sonrisa de Messi me abrió una nueva percepción del juego.

De repente, el fútbol rima con lo nuevo.

Ajr


segunda-feira, dezembro 19, 2022

O sorriso de Messi

O futebol não é muito meu campo. Sou o que se poderia chamar de afutebístico.  

Quando cheguei na Argentina via um rosto por todo lado e demorei algum tempo para saber que era o Messi. 

Fui criado com a ideia de que os argentinos eram violentos em campo, eram "nossos inimigos".

Além disso, o mundo do futebol acabou significando para mim o entretenimento do homem banal, alimentado pela força da máquina publicitária. 

Mas esse time me encanta. Muito pelo seu sorriso. Toda a ideia agora é compartilhar.

Eu vejo - naqueles dois minutos de Twitter - uma equipe que trabalha em conjunto. 

Algo que não parece ocorrer com o Brasil. 

Uma coisa que me chamou a atenção foi a forma que com que os argentinos torcem. Parece que, no Brasil, o jogo é um ruído só, um ritual de impulsionar e xingar coletivo.

Na Argentina, reina a concentração. Somente os gols geram barulho.

Mesmo as vitórias levam alguns minutos para serem processadas.

Eu vi uma casa com as janelas abertas para que a gente na rua pudesse ver o jogo. 

No metrô, de repente, não são átomos sendo circulados pelo poder, mas uma esperança única em coro.

- Me quiero morir! La puta madre! - o sofrimento compartilhado retira o véu do eu ilusório.

Algo interessante, porque, em geral, se poderia ver a nacionalidade como uma construção de alguma elite preocupada em defender suas fronteiras e dirigir o ódio. 

Mas de repente, no mundo brutal do capitalismo que tende ao seu ponto zero - a escravidão - surgem gestos de esperança e coletividade. 

Os condutores do metrô e do trem buzinando nos dois sentidos antes da partida. O auto-falante cantando com os jovens de dentro. 

Obviamente o sofredor coloca uma medalha simbólica de vitorioso - o que talvez ajude o sistema a seguir - e algum poder consegue cobrir-se com o brilho do vencedor na foto, mas além disso, existe uma generosidade no trabalho coletivo que abre um espaço. Por um momento as mentes trabalharam em conjunto e o desejo do eu era de que o todo triunfasse. 

É a libertação da onda de hostilidade que fundamenta a luta na sociedade atomizada. 

Minha raça, minha família, meus filhos, meu corpo. O homem comum está sendo treinado no domínio sem limite pelo poder que detesta o saber coletivo. 

São bandeiras, espuma, crianças, muita festa pelas ruas. Antes de que o álcool torne tudo mais opressivo.

É algo que os seres humanos fazem e que não pode ser totalmente apropriado. Como a arte. 

A arte da concentração desse time é espantosa. 

E a percepção de Messi no tempo ínfimo de um pênalti transborda. 

A alegria do povo é contagiante. Nessa alegria, a agressão do cálculo é desintegrada pelo menos num instante. O sonho da aristocracia é um pesadelo de tristeza para o povo. 

O sorriso de Messi abriu, para mim, uma nova percepção do jogo.

De repente, futebol rima com o novo. 

Ajr






domingo, dezembro 11, 2022

sábado, novembro 19, 2022

A pérola negra

O beduíno entregou a pérola negra ao farmacêutico. Quanto valeria?

O homem saiu feliz com um dinheiro para alimentar a família.

A pedra ficou escondida em uma caixa rústica entre outros frascos.

A filha pequena do casal achou a pedra. 

O farmacêutico vendeu a pérola, ampliou seus negócios. 

Ele não sabia que o demônio que habitava a pedra era o responsável pelas dores de sua filha. 

A senhora que comprou a pedra passou a usá-la no pescoço. 

Cada dia mais cansada, com febre, resolveu consultar sua médium favorita. 

Com a ajuda de sua criada, disfarçou-se e enganou a família, saindo pelas ruas com  sua capa de lã.

A médium começou lendo sua mão. Empalideceu, fez algumas preces, mas o demônio entrou em seu corpo e passou a ameaçar a visitante.

Ela levantou-se assustada e tentou fugir, mas a mão da médium apertou sua garganta. 

A senhora achou um punhal sobre a mesa e enterrou na garganta da outra. 

Voltou para casa tentando não ser vista. 

A criada lhe perguntou o que aconteceu - ela pediu segredo.

A pérola, ela enterrou numa caixa de bronze no jardim. 

Logo, viajou para o exterior por um ano. 

A criada foi encontrada morta algum tempo depois, alguns comentaram que teve sintomas de envenenamento. 

Afonso Jr. 


sexta-feira, novembro 18, 2022

domingo, novembro 13, 2022

Boca

A branca linha

Da indústria do dia  


Algo no corpo 

Aspira marcar o espaço

Algo no vazio

Quer régua de Pitágoras

O ritmo do vento

é o que estrutura o movimento 

*

Afonso Jr.


domingo, outubro 30, 2022

domingo, outubro 23, 2022

Live Hanan Al-Shaykh - Šahrazad do Líbano


 

empatia

o fruto dirá
máximo lucro
mínimo tempo
executa o pensamento

AJR

quinta-feira, outubro 13, 2022

Poesia pesquisa

Grande investigadora, a Poesia 

Vaga com o manto da noite

Observa o decantar de séculos

Os pés feridos; corpo horizontal

no cimento - sem as rosas

Tem de calcular

Bicho ferido

Versos com sujeira, objetos na calçada

Tudo tem de medir e ordenar no poema

Aponta para outra coisa - o despoema

E como, puro corpo sem imaginário

Sua mitologia de fogo 


Grande investigadora

Vaga na noite

Observa 

Calcula

Bicho sofrendo

campo de concentração 

rimas de uma enfermidade

- filosofia da compaixão

Ela tece, na terra do pesadelo

deixa uma flor nos ossos esquecidos. 


Afonso Jr Lima

sábado, outubro 08, 2022

"Elecciones en Brasil: El gigante decide" (by @SicPeriodismo )

Ayer vi el programa de la SIC sobre Brasil. Agradezco al equipo por su trabajo, no recuerdo algo así de Argentina en la TV brasileña. Es importante ver cómo se piensa en términos de integración regional: el autoritarismo y la democracia de la mentira en un país ayuda a hundir toda la zona.

Destaco, sin embargo, algunos puntos.

Las entrevistas callejeras son interesantes, pero fragmentadas.

La red de empresas mediáticas hegemónicas creó una realidad paralela que preparó a Brasil para la mentira masiva de la extrema derecha: los que viven fuera de la realidad necesitan muy poco para caer en la paranoia.

Sería importante entrevistar a más académicos e investigadores capaces de dar un panorama: los únicos que citaron los problemas de manera integral fueron Boulos y el sociólogo Argentina.

Entrevistas importantes con activistas en la favela, pero muchas se quedaron en el tema más inmediato de la violencia policial.

La larga entrevista con el aristócrata pro-Bolsonaro no tuvo un contrapunto adecuado, por ejemplo posicionar a esta élite como una casta que vive de la deshumanización de la era esclavista.

Son 4 años de ataques diarios, decretos, negociaciones con el Congreso, represión de la fiscalía, privatizaciones, violencia policial y política.

Muchos activistas y escritores amenazados de muerte: me fui en 2019 sabiendo que la policía sería política.

Nada se dijo de la mafia policial que apoya a Bolsonaro (milicia); corrupción de funcionarios fantasmas y patrimônio criminal (rachadinha); del papel del Ejército en el nuevo gobierno. La pandemia tuvo una impresionante Comisión del Congreso (CPI) cuyo resultado fue archivado.

Incluso se dijo que Dilma fue destituida por un caso de corrupción, lo cual no es cierto.

Sé que el mundo ya tiene un panorama de lo que está pasando, pero el programa necesitaría llegar a las estructuras.

Sugerencia: utilice también equipos brasileños para analizar la complejidad del momento y su historia.

¿Cómo llegó Brasil al borde de una dictadura, cómo la gente sigue creyendo en este criminal, cómo fallan las instituciones?

Agradezco

Afonso Jr

historiador, filósofo, escritor

terça-feira, outubro 04, 2022

Brasil para principiantes

Dos hechos me sorprendieron en las narrativas sobre las elecciones de Brasil desde el Río de la Plata: un periodista (Gustavo, de LN) asegura que Lula está libre porque “tiene amigos en la corte” (quien, no sabemos, esa corte que mantuvo su detención arbitraria en 2018); alguien me dice que "Dilma hizo la crisis, vino la pandemia y Bolsonaro no pudo resolver todo..." (unindo 2015, 2020 e 2022). 

(Otro periodista tuvo el coraje de decir que Bolsonaro representa el "antipopulismo"...)

El primer caso muestra la fuerza del prejuicio y la irresponsabilidad en los medios de manipulación masiva. El segundo, la duración de la mentira en la imaginación de los ciudadanos votantes.

La fragilidad de la democracia brasileña viene de sus orígenes: los héroes canonizados por la historia oficial son los primeros asesinos de indígenas (los "bandeirantes"); el debate crítico que presupone la idea de una república nunca se estableció del todo; se comemoró, en la educación superior, el marco de 8 millones de inscripciones en un universo de 217 millones de habitantes.

Un joven universitario dice: “Yo voto por Bolsonaro porque Lula acabará con el techo de gasto”... El mecanismo de masas antilulista de la televisión fue una bomba reloj que dejó desinformación residual; los jóvenes ya no leen Estado de São Paulo, ni Folha de São Paulo, ni creen en TV Globo.

La mayoría se quedó con la fábula del robo, muchos que no tienen edad para saber cómo ha cambiado Brasil.

Lo nuevo es la coherencia de las teorías conspirativas (formando un mundo paralelo) que venden los líderes radicales - Venezuela y Cuba como ejemplos de campos de concentración de izquierda, el Foro de São Paulo como conspiración autoritaria, Lula como un Hugo Chaves demoníaco...

El trabajador más precario, sin educación, el heredero de los prejuicios de generaciones, el indigente intelectual (simbolizado por el "motoboy" de las "motociatas" - las "campañas" de motos), incapaz de entender la política, es el votante enfocado por Bolsonaro. 

Dicho esto, Internet se ha convertido en el canal principal para la mentira masiva.

Tenemos una serie de fuerzas dispuestas a evitar la igualdad:

- jueces, fiscales y jueces superiores (desembargadores) involucrados en la defensa de la casta aristocrática

- parlamentarios, de un Congreso que logró destituir injustamente a una presidenta (2016) y ahora negocia fondos en una "habitación secreta" con el actual presidente.

- periodistas que crearon un consenso criminalizador como lucha política

- empresarios (investigados por el Supremo Trinunal) que se rebelan directamente contra las leyes y regulaciones y pagan por publicidad radical

- agentes internacionales de una extrema derecha feudal y racista, que trabajan en red utilizando la técnica del enemigo público para distraer la atención de la verdadera causa de los problemas, privilegios e injusticias

- el Ejército como promotor político y su relación oculta con grupos empresariales y legales

Si la agroindustria y los bancos internacionales apostaban por la criminalización de la izquierda y por la agenda de privatizaciones y corte de inversiones - y cambiaron al borde de una dictadura - el agronazismo y la industria armamentista parecen incontrolables.

Por otro lado, las fuerzas progresistas no supieron crear canales de comunicación con esta población marginada y anonimizada por los procesos de desarraigo y despojo capitalista. La derecha investiga, la izquierda poco a poco deja de confiar en la intuición de 2002.

Una "segunda vuelta" significa cualquier posible "milagro fascista", como el misterioso apuñalamiento de Bolsonao, cuando el último ataque político en Brasil fue en 1981, cuando los militares detonaron por error una bomba que iba a matar a los progresistas en un concierto. (Bolsonaro - en la década de 1980, intentó realizar atentados contra el Ejército).

Obviamente, es impactante saber que, después de cuatro años de desastre, el 43% todavía vota por alguien que aboga por la tortura.

Significa que el presifake tocó un sentimiento vivo en la población: que - en un mundo tan desigual- la guerra social es la única salida, la clase media debe abandonar la elegancia y defender el armamento y la opresión policial como una estructura no solo latente, sino explícita de Estado.

El racismo como estatus simbólico que contradice la verdadera degradación nacional. 

Esto quedó claro en el discurso de un célebre activista político/periodista, que llamó al Nordeste "Cuba del sur", supuestamente por "no ayudar al PIB" y "vivir del bienestar". Asusta la nueva elite política conservadora (representada por João Doria, por fin derrotado en São Paulo), esa que confía tanto en la fuerza de la propaganda que anula hasta la eficacia mínima de la gestión pública.

El fascismo es una forma de vida, no está relacionado con la idea liberal de defender los propios intereses a largo plazo. 

Los que fueron criados en el odio no cambian, rehacen la realidad para que se doblegue a sus análisis fantasiosos - aún hoy, hay gente que repite las consignas de Mussolini. (Las personas no racistas y que no viven el ódio social pudieron votar por Lula, incluso si no dependen del estado).

Evidentemente los estados que se consideran privilegiados y votaron por este proyecto - São Paulo, Rio de Janeiro y Rio Grande - están entregando el gobierno a minorías autoritarias y arbitrarias que desmantelan el acuerdo democrático hegemónico de 1945 - 2001, apostando por un estado de guerra.

En consecuencia, terminan con su propia posibilidad de progreso, ya que nada bueno puede salir de la ausencia de paz y la explotación sin ley. La guerra civil no es buena.

También tenemos que pensar por qué, 20 años después de la elección de Lula, la izquierda todavía depende de él como la única figura capaz de movilizar millones.

La esperanza que despertó la posibilidad de una participación activa después de 4 años de arbitrariedad resultó ser una fuerza poderosa; lo mismo con el odio de clases. 

sábado, setembro 17, 2022

Os melancólicos das esferas

Quando chegaram as naves, metade do planeta era ocupado por edifícios-troposfera vazios, terreno comprado por oligarcas transnacionais que acabaram substituídos pelos seus próprios generais replicantes. A outra metade era de desertos que resultaram de uso predatório de grãos de exportação e gado.

Os aluvianos cultivavam a mansidão, queriam ensinar aos poucos humanos refugiados nas esferas orbitais ao redor do planeta como viver com tolerância. Para isso decidiram exterminar os replicantes, eles mesmos melancólicos e cansados de viver. 

Fazia pelo menos dois séculos que os sistemas autônomos governavam as esferas. Cada tribo vivia no seu Arco. Os humanos eram analfabetos e só tinham acesso a história e cultura por imagens e sons. Milhares de dados confusos e contraditórios. De qualquer forma, comer e trabalhar eram sua única ambição. 

Um garoto se apaixonara por um livro (atribuído ao Capitão George Northhá mais de 50 anos e decidira recuperar tudo que fosse possível. Ele criara a religião dos Buscadores, que pregava a salvação dos inquietos. Eles tentaram reconstruir a origem do Mal - como era chamado o declínio da raça humana.  

Primeiro eles alegaram fraude. Depois, tomando as ruas, forçaram o governo a mudar o resultado da eleição. Logo, milícias surgiram entre os manifestantes e o governo eleito teve de sair do território. 

O futuro não era claro. Os oligarcas impuseram sua força. Parece que a guerra civil foi se alastrando e povos inteiros foram expulsos ou exterminados. 

Os aluvianos ajudaram os Buscadores a repovoar a Terra. Em troca, alguns de seus filhos deviam servir a Corte. 

Afonso Jr. Lima 

terça-feira, agosto 30, 2022

sexta-feira, agosto 12, 2022

Live: Abolicionismo, republicanismo e movimento operário no Recife

 




PRÉ-VENDA - Canções para dias difíceis

 "O pai sentiu a casa tremer, a escuridão era total, a filha rezava baixinho e a mãe disse: Vamos procurar algum estrangeiro com telefone. Pedir que diga que tudo está certo. Que diga que seu pai e sua mãe estão bem. Diga um oi. Diga: não se preocupe. O pai pensa: acabou o embargo, acabou a história, começou a importação."

Canções para dias difíceis, 2022

Livro em pré-lançamento, a partir de 14.7.22
https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/cancoes-para-dias-dificeis/

terça-feira, agosto 02, 2022

Pré-lançamento: Canções para dias difíceis

"Por que motivo o pai de Jacob havia sido preso? Recebia revistas de música e poesia de Moscou. O carteiro não gostava de comunistas.

Papai e mamãe foram levados de trem. Mamãe foi levada assim que desembarcou para a enfermaria. Nunca mais a vimos."

Canções para dias difíceis, 2022

"Quando seu avô Jacob morreu, David juntou suas coisas, despediu-se dos sócios do escritório e foi morar no antigo apartamento, com paredes cobertas de livros. O que não imaginou é que nos livros, documentos e manuscritos deixados pelo avô, ele fosse encontrar espelhos que vão ajuda-lo a refletir sobre a própria vida e sobre o que trouxe sua família, fugida de guerras e perseguições, até o bairro do Bom Retiro na cidade de São Paulo. Convivendo com a memória do avô, um imigrante russo quase indecifrável, David penetra na sua consciência e no seu viver. É neste clima de memórias espelhadas que o leitor, ao lado de David, vai descobrindo sua capacidade de interpretação para reinventar o mundo e transformar fragmentos em uma unidade viável. Em Canções para dias difíceis, Afonso Jr. Lima nos traz uma trama modernista, que dá conta de temas diversos como fugas, desterro, abandono, desigualdades, novas terras, e a história de um bairro incrustado na cidade de São Paulo."

Vera Carvalho Assumpção
https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/cancoes-para-dias-dificeis/

sexta-feira, julho 22, 2022

sábado, julho 16, 2022

Lançamento: Canções para dias difíceis, 2022

 


Quando seu avô Jacob morreu, David juntou suas coisas, despediu-se dos sócios do escritório e foi morar no antigo apartamento, com paredes cobertas de livros. O que não imaginou é que nos livros, documentos e manuscritos deixados pelo avô, ele fosse encontrar espelhos que vão ajuda-lo a refletir sobre a própria vida e sobre o que trouxe sua família, fugida de guerras e perseguições, até o bairro do Bom Retiro na cidade de São Paulo. Convivendo com a memória do avô, um imigrante russo quase indecifrável, David penetra na sua consciência e no seu viver. É neste clima de memórias espelhadas que o leitor, ao lado de David, vai descobrindo sua capacidade de interpretação para reinventar o mundo e transformar fragmentos em uma unidade viável. Em Canções para dias difíceis, Afonso Jr. Lima nos traz uma trama modernista, que dá conta de temas diversos como fugas, desterro, abandono, desigualdades, novas terras, e a história de um bairro incrustado na cidade de São Paulo.
Vera Carvalho Assumpção https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/cancoes-para-dias-dificeis/ Convidados: Patricia Cezar da Cruz Tito Prates Débora Gimenes Vera Carvalho Assumpção

sábado, julho 09, 2022

quarta-feira, junho 29, 2022

The son of H.P.

At a luxury hotel in Harrogate, I was greeted by Sir Arthur and Mary Clarissa. She apologized for having discussed a sensitive topic with the old writer at a party at her house, but she had come to imagine that spiritualism would help me. By chance, Sir Arthur had received a letter in which a lady told a very similar story.

When I was Chief of Police in Brussels, I met the young Miller who was passing through Paris with her mother towards the East. We met again by chance during the War when I arrived on the island as a refugee. She was working as a nurse at the time.

She invited me to her house. In the conversation, between cookies and tea, I told her about a boy I had adopted in Belgium, an orphan.

- I always said, Mary Clarissa, that the reason for the crime is what is sought today; that I am an expert, actually, in the psychology of criminal affairs. Well, it's exactly the "why" that is missing here.

The boy, very happy and always willing to hear beautiful stories, had mysteriously disappeared during a ship trip we took on the Adriatic. There was a storm, and the waves seemed about to capsize the vessel; in the confusion, I left the boy in the cabin while helping calm the passengers; when I came back he was gone. We searched the whole ship, the captain and I, after things calmed down, we notified the police when we disembarked, I had hoped for months that they would find him.

Afterward, she and I didn't speak to each other for a while. One day, I got a call from her. She had lost her mother, her husband abandoned her, she told me we should meet. A.C.D. would be present.

They told me that Sir Arthur received from a friend in Dublin a letter in which she told that her neighbor Mrs. M., being ill, had decided to tell her the truth about her adopted son. The lady died, and the lady asked the writer if she should finally tell the secret as the other woman had requested.

Many years ago, on a journey across the Adriatic, in the midst of a storm, a six-year-old boy, of Belgian origin, took refuge in his cabin. He told her that a man had kidnapped him and was holding him captive. She ended up talking to the captain, and they both decided to hide the child. The next day, the boy began to say that it was all a joke and that he wanted his father. The captain thought it was a kind of "love for the criminal syndrome", or even fear of being discovered. A doctor present on the ship was consulted. At the same time, they were suspicious of the egg-headed Belgian policeman who was circling the ship very nervously. The doctor decided to medicate the child, and he was practically unconscious until they left the ship, which happened as quickly as possible.

Only after they arrived in Ireland, on her property next to the city, did she realize that the story about an adoptive father could be real. But, by then, her husband had already fond of the child, and she was too ashamed to reveal it to everyone. Finally, the boy was adapting himself, and his past become like a distant adventure. 

Mary Clarissa, at that moment, was surprised by a musician from the hotel orchestra, who asked her:

- Aren't you that mystery writer?

We knew our peace was over. We parted ways, and I decided to go to Dublin to meet my son.

Afonso Jr. Ferreira de Lima 

O filho de H.P.

Num hotel de luxo em Harrogate, fui recebido por Sir Arthur e Mary Clarissa. Ela se desculpava por ter comentado sobre um tema delicado com o velho escritor em uma festa em sua casa, mas chegara a imaginar que o espiritismo me ajudaria. Por acaso, Sir Arthur havia recebido uma carta em que uma senhora contava uma história muito parecida.

Quando eu era Chefe de Polícia em Bruxelas conheci a jovem Miller que passava por Paris com sua mãe em direção ao Oriente. Nós nos encontramos novamente por acaso durante da Guerra quando cheguei à ilha como refugiado. Ela trabalhava como enfermeira na época. 

Ela me convidou a sua casa. Na conversa, entre bolinhos e chá, contei-lhe de um menino que adotara na Bélgica, órfão. 

- Eu sempre disse, Mary Clarissa, que o porquê do crime é o que hoje se busca; que sou especialista, na verdade, na psicologia dos assuntos criminais. Pois bem, é justamente o porquê que aqui me falta. 

O menino, muito alegre e sempre disposto a ouvir lindas histórias, desaparecera misteriosamente durante uma viagem de navio que fizemos pelo Adriático. Houve uma tempestade, as ondas pareciam prestes a virar a embarcação; na confusão, eu deixei o menino na cabine enquanto ajudava a acalmar os passageiros; quando voltei já não estava. Revistamos todo o navio, o capitão e eu, depois que as coisas se acalmaram, avisamos a polícia ao desembarcar, por meses tive esperança de que o encontrariam. 

Depois, eu e ela ficamos sem nos falar algum tempo. Um dia, recebi sua ligação. Ela perdera sua mãe, seu marido a abandonava, ela me disse que devíamos nos encontrar. A. C. D. estaria presente. 

Eles me contaram que Sir Arthur recebeu de uma amiga sua em Dublin uma carta em que ela contava que sua vizinha, sra. M., estando adoentada, resolvera contar-lhe a verdade sobre seu filho adotivo. A senhora veio a falecer, e a dama perguntava ao escritor se deveria por fim contar o segredo como a outra solicitara. 

Há muitos anos, em viagem pelo Adriático, em meio a uma tempestade, um menino de seis anos, de origem belga, se refugiou em sua cabine. Ele lhe contou que um homem o havia sequestrado e o mantinha cativo. Ela acabou falando com o capitão, e ambos decidiram esconder a criança. No dia seguinte, o menino começou a dizer que era tudo uma brincadeira, e que queria seu pai. O capitão achou tratar-se de uma espécie de "síndrome de amor ao criminoso", ou mesmo de medo de ser descoberto. Um médico presente no navio foi consultado. Ao mesmo tempo, desconfiaram do policial belga com cabeça de ovo que circulava pelo navio muito nervoso. Ele resolveu medicar a criança, e ele passou praticamente desacordado até saírem do navio, o que se deu o mais rápido possível. 

Somente depois de chegados na Irlanda, na sua propriedade ao lado da cidade, ela foi percebendo que a história do pai adotivo poderia ser real. Mas, nesse momento, seu marido já se afeiçoara à criança, e ficou com muita vergonha de revelar isso a todos. Por fim o menino foi se adaptando, e seu passado ficou como uma aventura distante. 

Mary Clarissa, nesse momento, foi surpreendida por um músico da orquestra do hotel, que lhe perguntou:

- A senhora não é aquela escritora de mistério?

Sabíamos que nossa paz havia acabado. Nos separamos, e eu decidi ir a Dublin conhecer meu filho.  

Afonso Jr. Lima


domingo, junho 26, 2022

A Segunda Eva

Era assim a história:

Eva olhava a si mesma na água, estava cansada, havia sido expulsa do Paraíso depois de Adão ter reclamado com o Altíssimo.

- Se nos unirmos, podemos vingar-nos de nossos opressores - dizia a Outra. 

- Você está querendo usar-me porque não pode mais entrar no Jardim, disse Eva.

- Sim, é verdade. Eu sou um demônio, mas você pode ser transformada num animal e passar despercebida. Eu fui lançada à Terra dos Demônios porque me neguei a ficar por debaixo dele. Eu queria poder controlar um pouco nosso desejo. Ao invés disso, ganhei uma terra onde nada cresce e onde o vento é sempre impetuoso e seco. E você também caminha sem rumo, por entre pedras e insetos, você já é um dos animais, que não têm os anjos a ensinar-lhes.

- Fui expulsa porque o Primeiro sentiu asco ao ver-me sair de sua carne. 

- Eu amo a beleza disforme. Nesse novo caminho, a mudança é a lei. Tens que contar a tua irmã nossa história, e como ela já é de fato uma escrava. Somente no sono Adão aceita que ela viva. 

- Mas o que acontecerá comigo depois que eu lhes disser as palavras que me ensinarás? Serei lançada ao fogo ou me esmagará algum anjo?

- Eu te protegerei - ainda que não possa entrar aí, estarei nos portões do Paraíso e lutarei com Uriel, o Anjo que os protege, para dar-te sua Espada de Fogo. Nós nos uniremos em carne, e tu gerarás uma raça de homens inquietos, amantes dos sons e das cores, aos quais ensinaremos símbolos, e que jamais deixarão os reinos adormecerem. Depois, me tornarei uma ave e seguirei os filhos de Adão e da Nova Eva para que conheçam o amor com nossos filhos.

E assim a segunda Eva viu sua pele tornar-se fria.

Afonso Jr. Lima 


Live: As memórias dos sobreviventes de Hiroshima


 

sábado, junho 18, 2022

Problemas familiares - oficina com Juan Peralta

M - Creo que voy a quitar el dispositivo que te permite respirar. No querías escucharlo.

H – Yo no quería nada extraño en mi cuerpo.

M - Puedo decidir sobre tu vida. Ya no puedes discutir nada.

H - Puedo pensar. Sé que tienes ese derecho, pero quiero vivir.

M - Nunca estuve limitado por nada. No quiero ser oprimido.

H - Quiero algo más que ciclos.

M - Al principio yo estaba. Fue el origen de la especie. Mi agua caliente creó torres de azufre y hierro. Les paso y creo moléculas orgánicas.

H - Usé piedra pulida. El agua era fundamental, paramos, criamos gallinas y vacas. Necesitamos defender nuestro pueblo. El mar es feroz. El viento puede ayudarnos.

M - Analizando las circunstancias tomas una decisión.

H - Está bien, mátame. Hacer algo.

M - Tu acción es la guerra.

H - Si me rebelé contra ti fue porque quería ser diferente.

M - Hablemos de eso. Es una tragedia, es decir, la imitación de una acción, varias acciones con un vínculo causal. ¿Y cuál es la trama, qué pasa?

H - lo sé. Esta trama resultó de la composición de acciones más pequeñas unidas entre sí por necesidad. La acción define, no el carácter.

M - Dijeron que tenía cara de enojo. Tus héroes están manchados de sangre. Mataron a mis hijos, perforaron los ojos de los monstruos. Me dieron un nombre, dijeron que perseguía a los que intentaban volver a casa para vengarme.

H - Corté la madera. Cuento monedas. Nuestras ciudades tienen chimeneas. Casas climatizadas. Nuestra ciudad contamina el agua. Hace más calor. El agua está más cerca, los tsunamis más peligrosos.

M - Avanzo sobre la tierra. Penetro el suelo. Las grietas crecen. Caen las paredes. La casa se derrumba. El barrio está vacío. Caen los edificios. La tierra tiembla. Los animales corren.

H - Encontrado muerto dentro de una habitación. Soy el criminal, la víctima y el detective.

M - Creo que voy a quitar el dispositivo que te permite respirar. No querías escucharlo.

Afonso Jr. Lima

Live: Positivismo social - O legado de Saint-Simon

 


Açucenas

Joana, 16 anos, está em seu quarto lendo um livro de fantasia. De repente, na cama, percebe um jovem de roupa branca. 

- Quem é você? 

- Oi. Sou um anjo. Você vai ser a Mãe de Deus.

- Como entrou aqui?

- Olha, eu sou um anjo. Quando eu disser as palavras mágicas você será a Mãe...

- Eu sou menor de idade. Deus não pode...

- Pode, acredite. Já foi pior. Aceite essas flores. Açucenas. 

- Aço... quê?

- Elas têm a forma de trompeta. É que quando eu disser as palavras...

- Escuta, não tem feminismo nesse Céu de Deus? Como vou acabar meu ensino médio? Não sei se vocês sabem, mas aqui tem um série de saberes que são essenciais para a vida adulta, como metonímias e cossenos, sem os quais não te deixam ter acesso a mais conhecimento, conhecimento superior. 

- Também vou colocar uma vela aqui, pronto. Quando eu falar apago a vela e... Que lindo! Vai viralizar. Ah, sim. Maria conseguiu fazer parte do Conselho dos Quatro há alguns anos. 

- Mas Maria é virgem, né? 

- Olha, nesse século, a humanidade vai invadir florestas e liberar vírus, vai ter mais insetos porque vai ter mais calor, tudo vai ficar bem infernal. O departamento de marketing achou que era necessária uma esperança. 

- E eu tenho que carregar a arma secreta contra os vírus por nove meses? Isso se chama assédio sexual divino. 

- Tecnicamente não, porque o Espírito Santo é tipo, espiritual. A santa pomba é estóica. Ah, mais uma coisa. O departamento de marketing acha que você tem de usar azul.

- Quanto a isso, ok. O problema é se vão enfiar meu filho numa estaca.

- Tecnicamente não é seu filho. Só por questão de contrato. Mas não, ele será ecologista. 

- E pode garantir que não vão enfiar meu filho numa estaca?

- O que tem acontecido com ecologistas é mais ligado ao fogo. 

- Que horror. Estou chocada. Você não pode voltar ano que vem? Quer dizer, não quero que Três Pessoas acabem no tribunal por crime e tal...

O anjo se comunica com a base.

- Ok. Você tem bom coração. Os Santíssimos vão esperar. A paz esteja com você. 

O Anjo foi diminuindo e saiu por um raio de luz que entrava pela janela. 

*

Afonso Jr. 


sexta-feira, junho 17, 2022

quinta-feira, junho 09, 2022

sexta-feira, junho 03, 2022

Elas também - e daí? - impressões sobre um julgamento

Vai demorar ainda muito tempo para avaliarmos a importância do movimento Me Too. Se pode imaginar que 30% da humanidade tenha sofrido abuso sexual - e talvez mais no caso das mulheres. ('That's enough': France confronts decades of neglect of incest cases) Não há dúvida de que um sistema todo foi construído ao redor da descrença na voz feminina - a começar pelo policial que não acredita na denúncia, chegando ao juiz que humilha a vítima. 

Mas devemos pensar: sempre que você tem poder - um poder moral também - pode surgir abuso, pode ser usado como forma de generalizar a culpa para grupos ou excluir pessoas para enfatizar superioridade e domínio. Existe o bullying pseudo-progressista (woke bully). Se o medo de afirmar a verdade sufocar a reflexão, quem ganha? Afirmar que se trata de "punir uma mulher que nomeou suas experiências" pode mesmo ajudar a evitar abusos? 

A advogada segue dizendo que ela foi "demonizada" - esquecendo que a acusação não é prova (o que pega muito mal nos Estados Unidos, e talvez seja para criar uma "onda" que leve a reduzir a indenização). Seu grande erro pode ter sido "editar" demais sua cliente, de modo que, quando apareceram falhas, toda sua credibilidade ruiu. Excesso de ficção. Ainda que o melhor que se possa fazer é criar uma teoria coerente com as informações disponíveis, o tribunal deve ser o limite último contra o relativismo - até mesmo o relativismo teórico em moda no pós-estruturalismo. E é por isso que tem sido atacado. 

É chocante o uso da tese de que o resultado "faz recuar o relógio" - é como se o sentido de grupo (de facção) devesse prevalecer mesmo sobre as evidências. Justamente o avanço das políticas de proteção é que permite que haja casos isolados de abuso. Os conservadores aproveitam para dizer que "é o fim do Me Too" ou que "só a palavra da mulher, agora, já é prova". Não podemos viver entre dois fanatismos: a mitologia perversa da extrema-direita ou a agressividade política de algumas pessoas muito certas de estarem defendendo as minorias. 

Tudo aponta para que alguém tentou aproveitar-se de um movimento legítimo para destruir a carreira de um ex-marido e ganhar dinheiro com isso. A impressão geral do momento (doxa coletiva) criou uma atmosfera para que pequenas evidências descontextualizadas gerassem uma decisão errada. É simplesmente impressionante que, de fato, um juiz veterano tenha acreditado nisso e companhias como Disney e WarnerMedia também. 

Todo mundo sabia que Deep tinha problemas com droga e álcool. Era a parcela de verdade que toda narrativa mentirosa precisa - agora será usada como trampolim para narrativas conspiratórias de como "os homens são vítimas das mulheres". 

Assistindo como Heard se dirigia aos jurados, ao invés da pessoa que lhe perguntava, ficava claro que havia algo muito errado. Era muito angustiante ver que uma pessoa havia sido muito provavelmente difamada e perdido trabalhos em função de uma performance. O fato de que ela não convenceu nem o juri, nem os milhões de telespectadores não é irrelevante. 

A questão é que, em relações tóxicas como essa, é muito difícil estabelecer os limites, o que pode ou não ser enquadrado em cada conceito. É preciso muita tenacidade e análise cirúrgica para desmentir cada pequena mentira que cria um cenário irreal. Além disso, nenhum tribunal pode ter tempo ilimitado, e nunca as evidências coletadas podem ser "tudo que existe ou existiu" em torno do caso. 

Os advogados do acusado sempre tentarão mostrar a suposta vítima como o real agressor, mas ainda assim o juiz inglês parece ter se equivocado aceitando apenas provas diretas que respondessem à pergunta "se Depp tinha cometido a violência ou não". (2 junho 2022 - BBC) Neste julgamento, os fatos externos (para além da fala da suposa vítima) que circundam o "evento" não apareceram (por exemplo, nunca apareceu uma suposta mulher de quem Deep teria tido ciúme e pelo que teria iniciado uma briga). 
 
Não sei em que ajuda pensarmos de modo tão superficial como para dizer que: "Muitas vítimas de violência doméstica que assistiram a este julgamento provavelmente concluirão que, se compartilharem suas experiências, serão desacreditadas, envergonhadas e condenadas ao ostracismo." (2 junho 2022 -The New Yorker). Havia um triunfalismo de facção em algumas declarações de que você estava sendo "manipulado" contra a acusada. Teve quem dissesse que haviam descartado "fotos de ferimentos" e seria difamatório dizer que ela "mentiu sobre o abuso". 

Antes de mais nada, o sistema seria tão ingênuo à ponto de descartar uma prova que mostra que a vítima foi violentada sexualmente? Além disso, podemos partir da ideia de que o crime é certo, a prova em contrário deve ser o objetivo? Alguém é estuprado com uma garrafa e não busca um médico? Pode ser, mas aceitar a palavra sem evidência como prova pode ser ainda mais catastrófico ao sistema democrático. Os jurados podem ter acessado à internet, mas isso os levaria a condenar uma pessoa inocente? 

Tara Roberts, administradora da ilha privada de Deep, narrou como ele foi atacado e afirmou: "Amber lhe dizia que ele era um ator fracassado... que ele iria morrer como um velho sozinho". (28 de mai - 2022 - G1) Sean Bett, o guarda costas, mostrou fotos da violência doméstica contra o ator, que havia documentado justamente por prever acusações da atriz, etc, etc. 

Em nada favorece o movimento em defesa das verdadeiras vítimas a onda de "culpado até provar inocência". Porque o que a extrema-direita faz é, na verdade, rebaixar o pensamento, destruir a sutileza, de modo que se pode inclusive generalizar a ponto de defender isso ou aquilo à custa da verdade particular. As teorias de conspiração apagam os dados concretos. O que me parece melhor - no caso de comentários que não estejam acompanhando minuciosamente o julgamento - é simplesmente dizer: não sei; não posso dar opinião definitiva baseado apenas na minha impressão, porque ela representa minha pré-concepção. 

O que isso afeta as mulheres vítimas de violência em geral? Bastante, se seguirmos a ideia medíocre de que existem mocinhos e bandidos, ou de que o sistema de Justiça não se baseia em evidências, mas em opiniões. O fato de que algumas mulheres mentem não deveria impedir que se condene quem pratica violência. Cada caso segue sendo único, e a história de opressão e violência contra as mulheres segue sendo um eixo formador da nossa sociedade. De qualquer modo, poder revisar nossas certezas e convicções ainda é o melhor caminho. 

Amanhã podem surgir novas evidências, ou podemos descobrir que o julgamento foi uma farsa (como ocorreu recentemente no Brasil). Mas, por hora, é bom refletirmos que não podemos transformar esse caso no caso "se os homens/ as mulheres" isso e aquilo. Cada denúncia deve ser tomada a sério e investigada com cuidado. Os progressistas precisam estar atentos ao uso dos direitos humanos para promoção pessoal e calúnia, de modo a evitar que a extrema-direita se aproprie disso. A democracia depende de que não seja apenas minha opinião fanática, a qual defendo até a morte. Isso foi o mundo das guerras de religião. É preciso voltar à melhor democracia que podemos criar. 

*

Afonso Jr

https://ponte.org/artigo-no-julgamento-de-heard-e-depp-quem-perdeu-foram-todas-as-vitimas-de-violencia-domestica/

https://www.newyorker.com/culture/cultural-comment/the-depp-heard-verdict-is-chilling

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61677816

https://www.theguardian.com/world/2021/feb/10/france-begins-to-confront-decades-of-neglect-of-incest-cases

https://www.youtube.com/watch?v=cRQWGbk1pqM

https://www.youtube.com/watch?v=fAqSdHBtxBE 

https://www.youtube.com/watch?v=Y83aKLBtEA0 

quinta-feira, junho 02, 2022

Exercício - Oficina Mariano Tenconi Blanco

El hombre se arrodilla.


Me entrego ciego a la suerte

Signior

Que de cerca soy perseguido!

Es muy poco entendimiento

Que solo los letraos es que pueden

Por demonios ser guiados

Que somos unos matuchos

Nuestras hembras y varones 

Cuando me alconzó cimarrón

La china allí su hechiso estaba

Me ha clavao del pico

El dulce diablo estrupicio

Llamándolo como gato de noche

El padre del artificio

Un duelo sale de entre nosotros

Que la china estaba prometida

Dos potros y la luna de sangre

Signior

Tan de cerca soy perseguido!

Lo maté el compañero

Y al trote salió marchando

Ese pobre desdichado

El por demonios guiado

En nuestra casa encontró

La china ahorcada

Signior, castigáme, juez nuestro general

Me ha clavao del pico el amor

Y los campos cubiirán mi cueipo

 *

Afonso Jr

quarta-feira, maio 25, 2022

La autoficción (ESP)

Si digo esto es con una mezcla de vergüenza y orgullo.

Entro en su habitación muy sencilla, con una mancha de humedad en el techo.

Me siento en el sillón que tiene una lámpara al lado.

En ese momento estaba muy solo y aceptaba que cualquiera le leyera.

Quería revisar todo Stevenson antes de crear algo.

Son casi las ocho cuando abro mi paquete y como mi sándwich.

Camino por la casa mirando algunos cuadros y retratos.

Miro el manuscrito sobre una mesa.

Parece saber lo que vi:

- Escribí esta historia - es como un cadáver enterrado en el polvo.

Me acerco a una foto de tamaño natural de nuestro autor.

Miro su rostro muy de cerca, quiero ver cómo eran sus ojos cuando veía.

Tengo la impresión de que avanzan hacia mí, camino hacia atrás, pierdo el equilibrio y caigo sobre la mesita donde está el manuscrito.

 

Siento que me estoy cayendo.

Despierto en el arrabal norte, observo a compadritos en la esquina.

No sé qué pasó, corro y me encuentro con un caudillo de provincia cabalgando en la calle.

En la ventana, un Quijote y, junto a él, una copia sobre mitología griega en dorado.

Intento averiguar dónde estoy, entro en la librería y me saluda un hombre de bombachas.

Una chica entra en la tienda - muy guapa, ella pregunta acerca de Oscar Wilde, yo fue tomado de intensa emoción, una experiencia mística -, me mira los pantalones y se ríe.

Se acerca y dice: ¿Cómo está tu abuela inglesa?

Me sobresalto, instintivamente me miro en el espejo y veo el rostro, su rostro, el rostro de la maldita fotografía.

Desesperado, busco su nombre en los estantes y me lanzo a su libro.

*

Afonso Junior 

quarta-feira, maio 18, 2022

Lawfare (ESP)


¿Qué mierda es este grupo de estudio, hijo?

En la Floresta. Hay wi-fi.

Estos matones.

Vete a la mierda.

Recuerda quien eres, tu sangre. Yo no te daré ni un centavo más. Usa tu dinero, lo de afuera.

Papi, es genocidio blanco.

No seas temerario, la educación es para eso, hijo.

Estamos peleando, porfa. Son los judíos, los globalistas.

Nadie duda de que la raza blanca esté amenazada, pero necesitamos más información, los votos de los pobres, necesitamos noticias, influencers y publicidad.

No papi. Si, controlar las emociones, gil.

Estudia el lawfare. La Justicia. Todavía tenemos la ley.

Crea santos. Vive el momento.

Hay que seguir hablando del Estado ineficiente, del mérito de los herederos, del heroísmo de ganar solos sin déficit fiscal.

Mierda. No sé por qué sigo hablando. Si no usas Telegram.

El socialismo y el colectivismo atraicionan el darwinismo cósmico.

No conozce 4chan. Carajo.

Política es entretenimiento. Acepto que hacer un show en la tele puede ayudar a publicitar la cosa en internet con uno u otro “el humilla” y “el calla” como titular.

Es el apocalipsis.

No hay duda de que la demografía... Ya sabes lo que le hicieron a Hitler, hijo.

Papi. Ser un guerrero, derramar sangre.

Tenemos que reunir los votos de los jóvenes radicales, la juventud exhausta, tenemos que enfrentarnos al populismo corrupto.

Violencia. Necesario.

No es posible, la puta madre. Creé un burro.

Derramar sangre de alguien.

*

Afonso Junior

domingo, maio 15, 2022

Live: Grupo de estudo - Tykhe e caráter no Hipólito de Eurípedes

 O Grupo de estudo - A Tragédia grega lê a tese de doutorado de Cristina Franciscato. A autora conversou conosco introduzindo sua pesquisa.



sexta-feira, maio 13, 2022

Live: O Brasil e o governo militar


 

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura - crítica

Depois de ficar algum tempo sem ver filmes da Marvel, mais ou menos desde que X-Men virou uma máquina de explosões, confesso que me surpreendi por conseguir gostar do filme, e por ele não ser um universo fechado acessível apenas aos "iniciados". Mas tem coisas muito irritantes nesse Dr. Estranho.

Uma das piores é a constante abertura de novos "universos" - abas e subtramas que podem criar um "carnaval da totalidade". Tendo no primeiro Homem-Aranha um exemplo do oposto, de muita sensibilidade. 

Para derrotar Wanda, Stephen Strange precisa do Livro de Vashanti - e depois isso não parece ter importância. Mas por que ele foi procurar a vilã, em primeiro lugar? (São essas coisas que devem ter um explicação - em algum lugar! - mas que não conseguimos entender na hora). Wanda quer o poder de America Chavez (muito bem apresentada aqui) para ir para um universo em que esteja em paz com seus filhos imaginados - mas o trabalho mental de criar essa narrativa é constantemente atrapalhado por algo perdido da cronologia Marvel de 20 anos e pelo festival de cenas desconjuntadas. E ninguém vai ver filme de super-herói querendo Ingmar Bergman, mas barriga tem limite. 

Um dos prazeres dos fãs quando vão ver a transcriação de uma mídia para outra é o simples deleite de "estar com quem se ama". Para esse fã, pouco importa a narrativa, a emoção de ver em 3D um livro praticamente basta. 

Mesmo assim, Marvel criou um número considerável de fãs dos seus filmes, desde 2002 - e uma onda de propagação que passa a qualificar esse legado, sendo praticamente impossível querer contrapor-se a uma "cultura sedimentada". 

Por isso observei bem os jovens atrás de mim. Empolgados no começo, ameaçando atrapalhar o filme, saíram meio confusos e falando baixo, parecendo nem entender muitas coisas. 

A única explicação para os criadores de conteúdo nerd estarem tão empolgados é que os outros filmes devem ser muito mais desconexos. A única opinião que vi mais crítica foi justamente de alguém que não trabalha com cultura pop. E acho isso um mal sinal. 

Começamos com uma explosão de CGI - ok, que estamos num "outro universo", e os quadrinhos eram psicodélicos, mas a artificialidade do mundo remete muito mais a uma "vontade de brilho" do que a uma necessidade narrativa. Uma paisagem de isopor de Star Treck acaba sendo mais plausível pelo simples fato de não ter glitter. 

Um dos problemas centrais do filme é que deve cumprir muitas funções: deve ter uma luta de monstros porque supostamente os jovens morreriam sem ela (tomara que não tenha matado aquele monstro incrível dos quadrinhos!); deve trazer esse e aquele personagem tão esperado; deve trazer referências a outros filmes e ter piscadelas para os caçadores de easter eggs; deve ter humor porque é disso que se trata a Marvel; deve seguir uma cronologia, encaixando com algo que passou e sendo transição para outra coisa, etc, etc. 

É um milagre que qualquer roteirista consiga um mínimo de coerência nesse contexto. E é um grande mérito de Michael Waldron e Jade Bartlett terem conseguido. Mesmo assim, parece que estamos nos afastando do que conhecíamos como cinema: a condução emocional de relações, porque a relação emocional está no outro filme. Os milhões de fãs escalaram pelo menos um ator: e parece que lidar com tanta ansiedade compromete a tarefa simples de contar um evento.

Um dos erros centrais é que - ainda que se explique razoavelmente o drama da anti-heroína Wanda - não se poderia repetir o que foi dito em WandaVision. O resultado é que 70% do sentimento está no passado. Mas quem se importa por condução emocional, aí vem mais um universo colorido! É um tipo de cinema novo, cinema-evento?

Temos, por exemplo, a elogiadíssima cena da guerra de notas musicais. Ideia linda, Harry Potter no Fantasma da Ópera. Mas que isso significa em termos de enredo? É apenas uma "aparição bonita"? 

A luta em Kamar-Taj - a "terra oculta do Himalaia" - também parece fazer apenas figuração aqui: ninguém sabia que Wanda manipula a realidade? Que espécie de magia é essa, para que serve?

O resultado é que (simplificando um pouco) estamos aqui para ver coisas, e não para sentir. O coração da história nunca aparece de verdade. Ah, mas é tão legal quando aparece um Illuminati, ou um zumbi! O filme é um grande fanservice. Impossível não, aqui, mas toda obra precisa antes de tudo responder a sua própria coerência, suas questões. Eu preferiria uma hora com força emocional do que duas horas para unir todos os universos Marvel. 

É claro que esse tipo de história tem outra coerência (não o drama de conflito clássico), mas mesmo a coerência da ameaça e da luta necessitam ser mais que cinco minutos de reencontro com personagens. E ao que isso leva é a uma "barra de energia" em que os poderes sobem e descem de acordo com o personagem do checklist (dois homens você mata em um segundo e duas mulheres em um minuto).  (Um comentarista chega a dizer que não entendeu o que eram as "incursões" porque estava prestando atenção nas aparições de astros que haviam ou não sido noticiadas). 

A direção, entretanto, é muito competente em reunir esses retalhos em algo interessante - Sam Raimi se diverte e diverte os fãs; de modo estranho, entretanto, parece que roteiristas e diretor são possuídos por forças que não controlam. O que unifica o filme é sem dúvida a crença que Benedict Cumberbatch tem no seu personagem e a força emocional de Elizabeth Olsen. 

Só duas vezes na minha vida lembro de sair de um cinema no meio de um filme - e uma delas foi com Animais Fantásticos. O dom para criar milhares de personagens funciona para romances, mas não na tela. 

Aqui não foi o caso. Consegui reunir o que a indústria separou e saí feliz em ver que ainda existem poderes criativos na Marvel. Apenas não pude apagar a ideia de que penetrei num universo fechado.

Afonso Jr. 







sexta-feira, abril 29, 2022

sexta-feira, abril 15, 2022

terça-feira, março 29, 2022

sexta-feira, março 25, 2022

segunda-feira, março 21, 2022

Hermenêutica mambembe

Não é fácil esquecer

O que nunca aconteceu

Sua bengala e sua cartola

Fantasmas de um amor

O demônio do quarto correntes

Correntezas invisíveis 

As letras pequenas do contrato

Fluxos românticos o neon teu vinho

Teatro francês desespero 

Azul wifi, jazz e não é amor 

Buraco negro sem paixão

Minha casca atingida não sabe ler 

Juntos na varanda pego tua mão

Corremos escuro mar da puberdade 

Em espelhos meu eu me olha 

Contando historias cama

Assisto os gemidos 

Num cavalo veloz eu corro

Não sei quem é você

Se existe um você 

Os astros mudam máscaras

Danço outras danças - choro de palhaço

A flor da minha pele em pedra

Taxodermia no castelo - dormia 

Você cria meu sonho - eu sei

O que não entendo e já não estou

*

Afonso Jr. Lima 




sábado, março 19, 2022

sexta-feira, março 18, 2022

sábado, março 05, 2022

Um vaso para sua flor

uma força estava ali 

a resposta antes da pergunta

desde pequeno

meu sonho pronto

meus objetivos 

tenha filhos

a família garante o Natal do comércio

um calendário que movimenta o mundo

não podemos dispensar os trabalhos da criança

tudo que precisa um lar

o corpo é

oportunidade de negócios

dois iguais nunca vão do mesmo modo

entrar tão bem no planejamento

é hora de 

moldar a pele pra ter sexo

ter sexo para garantir terreno

um lugar na sociedade 

seguir a moda para atrair 

comida top ou

parceiros que possam consumir

o brilho das pessoas falidas

a educação sexual das massas

o sonho do supermercado

reprodução em série do desejo

o teatro da família 

sexo compras

e o planejamento para

sexo e compras

a linguagem da ordem

vida é sexo

sexo é dinheiro

dinheiro é sexo

tenha filhos

O dia das mães do comércio o 

calendário 

O poeta revoluciona.

*

Afonso Jr. 



Live: Benjamin e o fascismo


 

Live: O Banquete - Platão

 


sexta-feira, fevereiro 11, 2022

A lacrada do monarca

Precisamos refletir sobre o que ocorreu - e talvez não tenhamos nenhuma fórmula mágica explicadora. 

Todos nós temos momentos de raiva, de agressão, de estupidez. Minha verdade pode desconhecer o mundo do outro, e ok. Um não-fascista muda, e a diferença é que tem autocrítica. Não conheço Monark e não posso falar muito do caso particular. Mas o tipo de jovem agressivamente conservador me lembra muito mais o poder que as teorias da conspiração dão aos ignorantes. 

O poder de inverter o jogo e seguir por cima - enquanto vocês, otários, não sabem nada. O tom de desafio é o pior: "desafio o senso comum". Os monarcas brancos da nova onda acabam tendo de novo o poder patriarcal. 

Uma pesquisadora contou uma vez que, com as fake news de 2018, seu irmão, que nunca estudou muito, se tornou o "intelectual da família", aquele "sabe-tudo" que dizia o que ninguém tinha visto. O mesmo com os anti-vacina incontroláveis. É que o tiozão do churrasco começa como tiozão do twitter. 

Segundo o G1:

"O apresentador já foi criticado por declarações consideradas racistas e homofóbicas. Em 2021, Monark foi muito criticado depois de ter questionado no Twitter se 'ter opinião racista é crime". 

Ele defende com vemência, por exemplo, que o "estado tem de que se quebrar em mil estados" com sua armadura de verdades superficiais -  se é bom que tragam pessoas especializadas para o grande público, acaba sendo um reflexo do rebaixamento dos debates que as redes propiciaram. Foi feita alguma pesquisa? Não, é "sem roteiro". É tão complexo definir a verdade para uma pessoa vivendo numa bolha dessas porque ela duvida da autoridade de todos que discordam dela. 

Essa onda de pensamentos reacionários foi se esparramando na rede com liberdade. Segundo Adriana Dias, doutora em Antropologia pela Unicamp:

“Os grupos atuam há bastante tempo com bastante impunidade. Se você não tem uma punição severa a esses grupos, eles vão crescer e se expandir”. (Sul 21 - 11 de fevereiro de 2022)

Qual a quantidade de informações conservadoras necessária para que se chegue a naturalizar o nazismo? Olavo de Carvalho estava na rede desde 1998. O ódio ao diferente está sendo plantado, justificando a injustiça e apagando a história da miséria - Arthur Do Val chama Padre Julio Lancelotti de "cafetão da miséria" (UOL - 10 de setembro 2020). É o marketing da ignorância. Como explorar politicamente o ódio e vender as ideias amargas das grandes fortunas se alguém acredita na igualdade? Uma boa pergunta é que país é esse que permite um cidadão de 30 anos viver nessa bolha. Que permite livros de escolas militares contarem mentiras. Porque a educação pública deveria servir para isso: dinamitar preconceitos familiares, de grupos sectários, de facções, pensamentos antidemocráticos. 

No Brasil, o ódio racial é fundacional: portanto, não espanta tanta amizade com radicais. A vergonha pelo passado nunca ficou bem enraizada. A classe acumuladora quis retirar uma presidenta eleita - mas pensava que era possível uma democracia simulando normalidade. Que respeite alguns direitos, mas exclua quem não lhe agrada. Se vale tudo, vale tudo. 

A eleição de 2018 mostrou uma nação incapaz de pensar o real, também por um sistema de comunicação que não permite pluralidade. Foram as antenas do poder que criaram o "apolítico". Se vê aqui o perigo de dar "os dois lados" da forma que tem sido compreendido: abro mão de um ponto-de-vista e, na realidade, favoreço grupos extremistas. Como comentou o humorista Maurício Meirelles: "Eu nunca tento trazer alguém com um pensamento tão errado". (Metrópolis - 08 de fevereiro de 2022) Uma democracia em estado de monark. 

Ninguém pode ser esclarecido sobre tudo, e exige muito esforço sair do mundo de slogans e clichês que vivemos com os monopólios de informação e a publicidade. Para ser preconceituoso, no Brasil, e falar uma porcaria, é só "seguir o fluxo" do senso comum. O que se soma agora é a ideia de "libertação". O nazista típico foi criado num ambiente de sufocante tradicionalismo com colheradas de ambição. O fascista é incapaz de aprender, ou seja, duvidar. Ele sabe mais sobre o mesmo. O antissemitismo assassino foi cimentado na velha lenda de que a verdade foi escondida, de que o perigo está nas sombras. 

Obviamente essa "liberdade" que odeia ser limitada é o prato principal do feudalismo - a aristocracia rural, os industriais escravocratas e a "burguesia" rentista podem expandir o lucro às custas do trabalhador, da saúde, da vida. O perigo do capitalismo é essa expansão necessária e cega. 

O caso lembra o do jornalista britânico Milo Yiannopoulos - que começou antifeminista e depois disse que "alguém de 13 anos... é sexualmente maduro".

Segundo a BBC:

Ele se descreve como um "libertário cultural" e um "fundamentalista da liberdade de expressão", que se opõe à ideia de justiça social e do politicamente correto. (22 fevereiro 2017)

Outro caso famoso é o de Lars Von Trier - o diretor de cinema - que disse que compreendia e sentia compaixão por Hitler. O "rebelde" foi considerado persona non grata em Cannes.

Já vi stickers de Hitler na balada - claramente o ambiente gamer está sendo apropriado pela extrema-direita, que estuda comunicação. É a tática do "comece pequeno": você atrai por algum preconceito comum ou ressentimento justificável e vai radicalizando no submundo virtual. Assim algumas coisas são "neutras" - se propagam até que o mal seja dominante. Você pega uma parte aparentemente racional ("todo mundo tem direito à expressão") e esconde o contexto ("o nazismo é o fim da liberdade"). 

O que vem junto é o reforço da ideia da diferença essencial: por exemplo, mesmo errando, o cidadão de bem é "boa gente" - como justificou o homem que espancou o filho de um vizinho que estava usando roupas de hip-hop em Punta del Este esta semana. É claro que não é necessário ouvir alguém que claramente nos vai atacar. 

O fascismo é a propaganda da violência. Deixar que contamine é criar ambientes de destruição da comunidade. A democracia é a luta constante contra a opressão, que cresce com a enorme concentração de riqueza. Não podemos supor que as palavras não têm poder. A banalidade do mal está na linguagem que herdamos, nascida de sociedades coloniais, misóginas e racializadas. Não podemos esquecer que o nazista era também um fanático - não apenas alguém que usa ideias para ganhos pessoais - e precisamos ficar alertas contra os "imperativos de consciência" lunáticos como o que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos alegou ao defender a não vacinação de crianças.

"A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical" - ele disse. Que esquerda? Alguém viu defenderem extermínio? Ele acha que a esquerda radical é quem? O PCO, "o partido da revolução e do comunismo", tem espaço? Como ele consegue dizer isso num país em que Lula foi banido por anos da TV?

Ele se justificou: "é uma ideia que acontece em outros lugares do mundo — nos Estados Unidos". Lá não se erra? Esse país mudou depois do vexame de Trump. A Alemanha sabe porque foi destruída. 

A defesa de uma causa é uma novidade - e a causa é: "sem limites". No caso do deputado, claramente manipula os jovens para implantar teses da oligarquia - como a de que as universidades públicas favorecem os ricos, ao mesmo tempo que que fala em liberar o partido nazista para "jogar luz" nessas ideias. E vamos moldar consciências para ter o salário oficial. 

Já não é a primeira vez que esses "libertadores" esquecem a história que está por trás de alguns significantes sedutores. Muitas vezes vem junto a negação mesma do Holocausto. No caso do secretário de cultura, claramente esqueceu que o chefe tinha aliados no campo envolvido. 
 
Outra coisa paradoxal da atmosfera do nosso tempo é que o "governo" usa imagens associadas a Israel (também por influência dos evangélicos conservadores) - ao mesmo tempo em que se nutre de mentalidade clone do nazismo - superioridade de poucos, violência justificada, repressão ao contraditório e colonização dos espaços. Estamos num momento em que o Palácio do Planalto é o Gabinete do Ódio.

Assim, Segundo a EFE (14 jun. 2021): 

Brasil subrayó que desde que Bolsonaro asumió, el 1 de enero de 2019, el poder "las relaciones con Israel fueron elevadas a un nuevo nivel de prioridad". Entonces el equipo diplomático del líder ultraderechista brasileño se marcó como principal objetivo acercarse a Estados Unidos e Israel, liderados en la época por Donald Trump y Benjamín Netanyahu, respectivamente.

O palestino de hoje é o judeu de ontem. Evidentemente, falar de governantes radicais não significa falar de uma etnia - por mais que a propaganda oficial tente criminalizar quem critica governos racistas. Pode ser que amanhã o Estado seja dirigido por grupos mais democráticos, e o país em si faz parte da memória afetiva de milhões de pessoas. 

Como sempre, temos o jovem classe média reclamando da "lacração", de como não pode mais ser "livre" - ou seja, racista ou homofóbico. É a crise dos reacionários percebendo que não tem mais o poder do discurso único. Tem muito a ver com os "filhos do condomínio", que nunca são barrados. São os que acham lindo ser "hétero top". Como estaria errada uma sociedade que tem valores que me colocam no topo da "cadeia"?

Mas, como disse alguém, todo mundo que estudou Humanas sabe o que é ser "cancelado": a ideia de que você pode ser autoritário e não ter um pingo de empatia por uma boa causa é muito comum entre pessoas que se sentem progressistas. Ou as mais progressistas - enquanto todos os outros são lixo. A esquerda, claro, é apenas uma multidão de pessoas lutando cada qual contra uma opressão - mas é preciso evitar o silenciamento por pureza intelectual. Isso nada difere do woke verde (o cancelador de uniforme) que acha que o comunismo está nos ameaçando. 

Defender que nazismo é "uma opinião como outras" é uma ignorância assustadora. Porque é fazer uma Távola Redonda na qual só um dos convidados é canibal e está armado. O que assusta não é só que alguém defenda a "liberdade" usando esse signo maldito, mas principalmente que consiga dissociar a palavra de todas as ações criminosas, calculadas, em escala industrial. 

Porque isso fala da irrealidade cotidiana que toda a super-concentração de poder gera - a deformação da realidade que ditaduras planejam como primeira meta. Num mundo de senso comum não há democracia. "Segura teus B.O.s" é a frase famosa de Jojo Todynho; está na hora da sociedade pensar como produziu um país de Monarks. 

Afonso Jr. Lima 

 https://sul21.com.br/noticias/geral/2022/02/neonazismo-grupos-crescem-online-e-acendem-alerta-para-violencia-no-mundo-real/

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39050308

https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2022/02/08/quem-e-monark-antes-de-defender-existencia-de-partido-nazista-apresentador-foi-de-youtuber-a-podcaster.ghtml

https://www.metropoles.com/colunas/leo-dias/saiba-quem-e-monark-e-por-que-ele-esta-sendo-cancelado-na-web

https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/09/15/arthur-do-val-padre-julio-lancelotti.htm