quarta-feira, dezembro 30, 2020
sábado, dezembro 26, 2020
quinta-feira, dezembro 24, 2020
domingo, dezembro 20, 2020
Dramaturgia - Estado de emergência
Carro.
Prólogo
Notícias do dia, coladas nas janelas. Do lado de dentro e do lado de fora.
- Deputada que falar contra o machismo vai ser morta! Anuncia partido do presidente.
- Último povo indígena exterminado com sucesso na floresta amazônica.
- Campo de trabalho forçado para professores foi inaugurado na última sexta-feira.
- Conselho de Direitos Humanos distribui uniformes azuis nas escolas prometendo que os
meninos nunca virarão meninas.
- Policiais recebem “licença para matar” todas as 24 cores de pele do Brasil, menos uma.
Cena 1
Mulher 2, de moleton e tênis, entra no carro. Olha as notícias coladas nas janelas.
Batidas na janela. Mulher 2 abre a porta. Entra Mulher 1, de salto alto, chapéu, frasqueira.
Mulher 1- Pára o carro!
Mulher 2- A gente nem saiu.
Mulher 1- Eu sei. Mas pára. Não to mais agüentando tudo isso.
Mulher 2- Isso o quê?
Mulher 1- Você. Sei lá. O trânsito.
Mulher 2- A gente não saiu.
Mulher 1- Por isso mesmo. É muito sufocante aqui dentro.
Mulher 2- Eu tenho pastilhas. As que refrescam.
Mulher 1- Eu não consigo respirar.
Mulher 2- Quando eu saio com o MEU carro, aquele incrível possante, eu me sinto muito bem.
Mulher 1- Eu não consigo respirar.
Mulher 2- Eu ligo o ar no talo. E o som. Liga o rádio no último volume.
Mulher 1 abaixa o som.
Mulher 2- Por que você abaixou o volume na melhor parte? Ela ia dizer que ama e que vai voltar.
Mulher 1- Eu não consigo respirar nesse trânsito com música.
Mulher 2- Nós estamos paradas.
Mulher 1- Mas há uma expectativa. Duas pessoas sentadas num carro. O arranque.
Tempo
Mulher 2- (Tira a chave da frasqueira) Então lá vai!
Mulher 1- Espera! Pra onde a gente vai?
Mulher 2- Dentro da frasqueira tem um envelope.
Mulher 1- Dentro do envelope há um endereço.
Mulher 2- Temos um alvo.
Mulher 1- E um GPS.
Mulher 1 abre o envelope.
Mulher 1- Por isso que eu não gosto de sair com você. Não tem nada escrito dentro do envelope.
Mulher 2- É feriado! Abre a frasqueira. Vasculha. Pega óculos escuros. Pronto. No feriado as pessoas se divertem. Vamos nos divertir! Liga o som.
Mulher 1- (Desliga) De que pessoas você está falando? Eu nunca me divirto em feriados. Fico entediada. Não tenho dinheiro. Eu quero sair daqui.
Mulher 2- Pois é. Todos querem sair deste lugar. Ainda mais agora.
Mulher 1- Agora o quê?
Mulher 2 – Nada. (Tira o moleton. Fica só de camiseta).
Mulher 1- Dá a partida! Você tem a chave.
Mulher 2- Eu?
Mulher 1- É. Você tem a chave o volante a embreagem o freio a buzina.
Mulher 2- Mas o carro é seu!
Mulher 1- Por favor! Eu não consigo.
As duas se olham. Mulher 2 não se mexe. Mulher 1 vai pra cima de Mulher 2. Embate. Elas trocam de lugar. As duas se olham.
Mulher 2- Se eu me sento aqui preciso do seu chapéu.
Mulher 1- Eu quero seus óculos de sol.
Cena 2
Mulher 1 com óculos de sol. Mulher 2 de chapéu. Mulher 2 tira da frasqueira folhas de papel com paisagens maravilhosas. Praia. Montanha. Deserto. Cola as paisagens nas janelas do carro.
Mulher 1- O que é que isso vai mudar?
Mulher 2- (Colando) A gente precisa se livrar do peso das notícias iniciais. Na vida real sempre existem janelas. E paisagens.
Mulher 1- Na vida real tem sempre uma janela aberta pra se jogar um pedaço de pão ou um abajur. Um cachorrinho ou carrinho de bebê.
Mulher 2- Ahn?
Silencio.
Mulher 2- Há um lugar! Aquele que todo mundo quer ir. Onde se contam carneiros
pulando acima de um arco-íris. Arranca!
Mulher 1- (Vendo o celular que tirou da frasqueira) Não posso. Acabei de ler mais uma. A bala atravessou a menina no trânsito. Ainda bem que não saímos daqui. Me parece mais seguro.
Mulher 2- Sim. Do lado de dentro.
Mulher 1- Ou do lado de fora? Ela estava do lado de dentro e...
Mulher 2- Me dá um medo de sair.
Mulher 1- Eles conseguiram. Me dá um medo de ficar.
Mulher 2- Dividiram a gente.
Mulher 1- Escolhem quem fica vivo e quem fica morto.
Mulher 2- Eu me recuso. Arranca!
Mulher 1- (Chave nas mãos) Você não ouve a imobilidade do ar. As folhas não dançam de um lado para o outro.
Mulher 2- Então?
Mulher 1- Eu vou! Tem um cigarro? Me dá mais coragem. Cinto de segurança, ok. Janelas fechadas, ok. Eu posso fumar?
Mulher 2- Se eles não se importarem?
As duas olham para o público no banco de trás.
Mulher 1- Ela, a menina de oito anos, do lado de dentro da Kombi, voltava pra casa com a sua mãe.
Mulher 2- Cheiro de fumaça no banco. Será que já somos o alvo?
Epílogo
Mulher 1 liga o carro. Tempo. O carro não sai.
Fim.
sábado, dezembro 19, 2020
quinta-feira, dezembro 17, 2020
O Evangelho de Josefo
- O primo profeta do Rio, percebe a verdadeira natureza de Yeshua. Ele lhe protege com sua magia para que tenha uma nova chance.
Angustiado, Yeshua parte pelo deserto. Ouve uma voz. Quer atirar-se do templo.
Ele começa a fazer perguntas. Juntam-se para ouvi-lo. Ele ensina a expulsar os demônios.
Condenado, Yeshua amaldiçoa o Céu, e é deixado para ser devorado pelas aves e feras.
Josefo sonha com um demônio, que o faz ir até o Palácio de Pilatos.
O Pai envia o Anjo da Presença, chamado Kristo, para conversar com Yeshua.
Eles viajam até o passado.
A Emanação viu que era Luz e queria ser o governante do mundo sombra.
O Pai o joga desde cima, e ele cai em um corpo de virgem.
Yeshua recebe a tocha do Portador da Luz, que desaparece.
Josefo de Arimathea vigia o corpo na caverna, Kristo acorda, seu corpo brilha - Josefo engole a Tocha.
quarta-feira, dezembro 16, 2020
Traduzindo William Blake - A voz do antigo bardo
A voz do antigo bardo - de Songs of Experience - 1818
The Voice of the Ancient Bard
Youth of delight, come hither
And see the opening morn,
Image of truth new born.
Doubt is fled, & clouds of reason,
Dark disputes & artful teasing.
Folly is an endless maze,
Tangled roots perplex her ways.
How many have fallen there!
They stumble all night over bones of the dead,
And feel they know not what but care,
And wish to lead others, when they should be led.
*
Jovem em flor, vem cá
Veja a manhã que brilha
Imagem da verdade agora-nascida
A dúvida fugiu, e as nuvens da razão,
Disputas sombrias e astuta provocação
A loucura, labirinto sem fim,
Raízes enredadas nos caminhos.
Quantos caíram nesse vão!
Eles tropeçam a noite toda em ossos putrefatos
E sentem que nada sabem senão preocupação
E desejam liderar, quando deviam ser guiados.
Versão: Afonso Jr. Lima
sábado, dezembro 12, 2020
sexta-feira, dezembro 11, 2020
quinta-feira, dezembro 10, 2020
quarta-feira, dezembro 09, 2020
Catalepsia
Segundo golpe foi na elite cosmopolita-banqueira para eleição do militarismo-religioso.
Assim, rapidamente, as mulheres foram subjugadas e estabeleceu-se uma sociedade de castas.
Ela, herdeira de uma família aristocrática, foi designada para acompanhar a expedição como cronista e tradutora.
O general era um homem atraente, melancólico, dado a explosões de fúria. Mas sabia agradar a seus homens. O que prometiam era acabar com a “cidade dos molestadores de crianças”, um reino do deserto.
Ela viu que alguém entrou em sua tenda na primeira noite no deserto. Sacou sua espada, mas foi dominada por dois outros homens.
O general a estuprou, deixando sobre a cama uma joia.
Ela tomou banho e não derramou nenhuma lágrima.
*
À medida que avançavam, ela ia se tornando mais e mais respeitada. Ela passara a buscar a companhia do general, o instruíra em saberes que só uma mulher rica podia chegar a conhecer.
- Não é, como em geral se traduz, apenas verdade. Catalepsia é a capacidade de unir o fantasma dos sentidos e o juízo correto, unindo os modelos prévios, a particularidade dos objetos e as regras lógicas de aceitação do real.
- Nós, homens da guerra, precisamos estimular aversão e evitar união, disse o general.
Por fim, chegaram próximos à cidade, os mensageiros enviaram uma flecha inteligente e deram dois dias para a cidade se render. Ajudava muito as imagens da destruição de Hubes. As mulheres foram vendidas como escravas, e os soldados que resistiram foram obrigados a mergulhar em água fervente.
Ela observava a cidade ao longe. Torres douradas. Parecia estranhamente calma. Era como se não houvesse mais ninguém.
- Onde estarão eles, ela perguntou a sua serva.
- Não sei senhora, mas podem estar em túneis subterrâneos.
- Que queres dizer?
- Sabemos que esse é o povo que tem o ouro, respondeu a mulher idosa.
- Eu nunca soube disso.
- Não são molestadores de crianças, disse a mulher. Quando eu era pequena, minha babá foi um deles. Foram os sacerdotes que criaram isso.
Ela não deixou transparecer sua emoção. Sabia que era um tipo de opinião que podia matar. Manteve o olhar firme e disse que precisava de um banho perfumado.
*
Ela deitou ao lado do general derramando seu perfume sobre a cama. Ela lhe fez uma massagem.
Fizeram amor, e ele dormiu. Luas finas iluminavam a madrugada.
Ela aqueceu o óleo quente.
Quando o homem gritou, ela enfiou um pano em sua boca.
Bolas de fogo começam a cair sobre o acampamento, gritos.
Ela saiu em meio ao tumulto com sua bagagem nas costas.
domingo, dezembro 06, 2020
A peste e as lentes
As pessoas abandonadas nas ruas.
Os religiosos no exército de vanguarda. As pulgas que habitam as ruas.
Eles estão na torre de sua casa.
O monge cientista e o médico.
O rei já solicitou aos professores da universidade uma explicação.
São os astros influindo na atmosfera, nada se pode fazer.
As lentes mostram que há germes.
Um monge está inflamando a cidade com sermões sobre a penitência, sobre lembrar-se da morte e fugir do pecado.
A feira de domingo no cemitério traz os palhaços vestidos de Morte, bispos e reis com máscaras de caveira.
O médico tenta convencer a multidão de que a doença veio em navios, de que é preciso fugir da gente, de que Galeno sabia menos que os modernos.
- Os astros que se cruzaram em 1345 não são a causa da pestilência no ar. Nem Deus quer nos punir.
As autoridades o levam até uma cela.
O monge é punido com a transferência para as montanhas do Norte.
Os aristocratas começam a culpar os judeus por envenenar a água.
Afonso Jr. Lima
Xenofobia en la calle Europa
Siempre me he enfrentado a los prejuicios contra los que tienen cabeza de escarabajo. Afortunadamente, la ley está de nuestro lado. Pero nadie puede evitar al dueño de una tienda de telas en una calle con casas antiguas del centro de Montevideo.
Mi solicitud fue extraña. Respondió algo más.
La anciana que apareció me gritó.
Intenté seguir mi compra. Dejé caer accidentalmente la tela del dispositivo colgante.
Gritando, el hombre se me acercó y me empujó. Olvidan que tenemos poderes psíquicos.
Salí de la tienda para evitar a la policía y llamé a mi amigo de cola oscura.
Se suponía que ese animal lo paralizaría durante días y bebería su sangre poco a poco hasta la muerte, a menos que el agujero que haría en su techo ayudara a que le cayera un poco de agua.
*
Afonso Jr. Lima
A xenofobia na rua Europa
Sempre enfrentei o preconceito das pessoas com os que têm cabeça de besouro. Por sorte, a lei está de nosso lado. Mas ninguém pode evitar um dono de loja de tecidos numa rua de casas antigas no centro de Montevidéu.
Meu pedido era estranho. Ele respondeu outra coisa.
A mulher idosa que apareceu gritou comigo.
Tentei seguir minha compra. Sem querer, deixei cair o pano do mostrador no qual estava pendurado.
Aos gritos, o homem veio para cima de mim e me empurrou. Eles esquecem que temos poderes psíquicos.
Eu saí da loja para evitar a polícia, chamando meu amigo de cauda escura.
Aquele animal iria paralisá-lo por dias e beber seu sangue aos poucos até a morte, a não ser que o furo que eu faria no seu teto ajudasse a cair um pouco de água.
*
Afonso Jr. Lima
sábado, dezembro 05, 2020
Cartas de Teatro e Peste - SATYRIANAS 2020 - Episódio 1
Dramaturgia/Vozes: Lisa Reis (Cabo Verde), Jorge Palinhos (Portugal), Armando Nascimento Rosa (Portugal) e Afonso Junior Ferreira de Lima (Brasil/Uruguai).
Direção: Mario Sergio Medeiros (Brasil).
Duração: 3 episódios de aproximadamente 7 min.
sexta-feira, dezembro 04, 2020
quinta-feira, dezembro 03, 2020
sábado, novembro 28, 2020
sexta-feira, novembro 27, 2020
quinta-feira, novembro 26, 2020
quarta-feira, novembro 25, 2020
A sociedade sem reflexão
sábado, novembro 21, 2020
sexta-feira, novembro 20, 2020
sábado, novembro 14, 2020
sexta-feira, novembro 13, 2020
quinta-feira, novembro 12, 2020
sábado, novembro 07, 2020
sexta-feira, novembro 06, 2020
terça-feira, novembro 03, 2020
sexta-feira, outubro 30, 2020
quarta-feira, outubro 28, 2020
O veneno
O governo tinha um programa especial de migração voluntária, no começo.
Seu pai era policial. Sua função era não deixar que as pessoas negras chegassem nas áreas brancas.
Alguns animais apareciam caminhando à esmo, pássaros morriam batendo contra os vidros dos altos edifícios.
Não aconteceu no útero, seus neurônios não foram envenenados por sua mãe. Mas enzimas foram afetadas.
Ela tinha seis anos quando comeu aquilo enquanto sua célula se dividia.
Desde então, a menina começou perder a visão.
Por fim, seus ossos se quebraram enquanto subia numa árvore, ela morreu em seguida.
"Algumas pessoas estão com medo da própria sombra, estão pensando em queimar livros" - disse
um artista.
Sua mãe ouvira falar em espíritos que tomam cadáveres e os fazem caminhar.
Buscou auxílio nas forças infernais.
A mulher atendia vários colegas do seu marido, políticos e homens de negócios, mas nunca haviam ido tão longe.
Um espírito pediu que o pai trouxesse carne fresca para alimentar os seres sedentos.
Ela retornou.
A menina passou a viver no cemitério, onde a mãe ia todas as noites contar-lhe histórias.
O espírito falou por sua boca e pediu que seu pai se tornasse político.
- Vamos nos livrar das raças inferiores e cobrir de ouro nossos herdeiros.
Precisavam de espaço. Animais.
Eliminariam grande quantidade de pessoas.
*
Afonso Juior Fereia de Lima
sábado, outubro 24, 2020
sexta-feira, outubro 23, 2020
sábado, outubro 17, 2020
sexta-feira, outubro 16, 2020
sábado, outubro 10, 2020
sexta-feira, outubro 09, 2020
domingo, outubro 04, 2020
sábado, outubro 03, 2020
pensar diferente
a humanidade não é só isso
confusão e
viver no trilho
estende a mão
corre risco
não é só essa
a humanidade quer mais
recusa a mentira
gente é conversa
a humanidade será melhor
a dominação não permanece
a semente, pensar diferente
uma esperança nasce sempre
Afonso Jr
sexta-feira, outubro 02, 2020
quinta-feira, outubro 01, 2020
A família real
A menina não sabia que poderes eram aqueles.
A família real do Brasil detêm os jornais e os sinais de satélite, censura as universidades e a internet.
Ela foi eleita no mesmo ano que mataram o principal jornalista que denunciava o sistema paramilitar na política.
A menina descobriu um baú com fotos, mapas e manuscritos de sua família.
O filho do presidente, pastor Américo, tornou-se presidente da Fundação Nacional para a Alegria.
Sua mãe desaparecera quando era tinha três anos.
Primeiro, o jornalista havia perdido sua coluna no jornal, depois foi banido do Twitter, depois programas de TV e acadêmicos começaram a falar mal dele no jornal da noite.
Os Meninos Brancos começaram uma série de explosões em jornais depois que o presidente lhes homenageou no Palácio Presidencial.
Juízes e jornalistas começam uma campanha contra os movimentos antiterroristas.
A família real do Brasil é investigada pela sua ligação na morte do jornalista.
A menina observava o mar à noite e treinava a capacidade de mover as bolas de fogo.
Afonso Lima
domingo, setembro 27, 2020
O dizer e o ser na epistemologia grega - Mestrado em Filosofia (2002)
Afonso Junior Ferreira de Lima
Michel Foucault: A morte do sujeito e a arbitrariedade do
saber como condição ética; 2002; 418 f; Dissertação (Mestrado em Filosofia) -
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior; Orientador: Pergentino Stefano
Pivatto;
Ciência, verdade, poder: um diálogo com Michael Foucault - Mestrado em Filosofia (2002)
Afonso Junior Ferreira de Lima
Michel Foucault: A morte do sujeito e a arbitrariedade do
saber como condição ética; 2002; 418 f; Dissertação (Mestrado em Filosofia) -
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior; Orientador: Pergentino Stefano
Pivatto;
Volume 1 – Cap. 3
Ciência, verdade, poder: um diálogo com Michael Foucault
Foucault contra o humanismo - Mestrado em Filosofia (2002)
Afonso Junior Ferreira de Lima
Michel Foucault: A morte do sujeito e a arbitrariedade do saber como condição ética; 2002; 418 f; Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior; Orientador: Pergentino Stefano Pivatto;
Foucault contra o humanismo - vol. 1 - Cap. 2
sexta-feira, setembro 25, 2020
quarta-feira, setembro 23, 2020
Palavra
A palavra mente
o discurso abuso
vergonhosamente
a palavra gira
a hieraquia
Em melhores dias
palavra linda
que carrega água
ainda que espelho
do espelho, cantada
quanta coisa puxa
de ser gente e soltar a mente
combinar o real
com ela desfaço (a machado)
me acho, louvada seja
porque entrega
palavra é carta
não palavra é fatal
palavra amiga
nunca uma só
meu cipó de ser junto
para ser singular e
inegual
Afonso Jr.
terça-feira, setembro 22, 2020
O filho de Sei
Um quarto com paredes de papel pintado com pinheiros e flores vermelhas. O vento traz o perfume das cerejeias em flor, o som do rio correndo próximo. A luz da lua entra através das cortinas de tecido azul translúcido e ilumina as almofadas coloridas ao redor do leito de Sei. Ela está sentada no chão, escrevendo poemas na sua mesa baixa, ao lado da lamparina à óleo. Ouve os grilos da noite e isso lhe traz uma alegria sutil. Ouve um barulho como se alguém tivesse pisado no degrau da entrada, depois pensa ter se enganado. Sei sente seus longos e negros cabelos arrepiarem-se, mas decide controlar seu coração. Vemos a sombra de um ser que caminha com dificuldade, longos dedos de ossos que abrem a cortina azul. A cabeça alaranjada de um morto, a mandíbula e o alto do crânio de um laranja mais forte, como vários tons de carne podre, o branco dos olhos com nervuras vermelhas, órbitas negras. Um vapor fétido toma o lugar do aroma das cerejeiras.
O filho do demônio é um senhor cruel.
Os demônios estão com ele nas batalhas.
Afonso Lima
domingo, setembro 20, 2020
O despertar
O quarto meu. A casa com a qual viajo pelo universo.
Ninguém sabia que - quando o Senhor falou as palavras que despertaram o pobre Lázaro - João as havia anotado.
E João as escondeu da melhor forma possível, dentro de um pergaminho.
E eu descobri a verdade. Eu criei meu grupo de Amazonas.
E, agora que meu quarto está em chamas, eu consegui usar o que sei.
Elas recitam os versos sagrados.
As ruínas dos templos queimam ao lado dos ossos dos animais.
As covas se movem, tantos buracos com cruzes agora vivos.
E eles saíram na noite maldita para visitar seus queridos. Eles entraram nas casas e comeram o que havia na geladeia.
Eles comeram os gatos e os cachorros.
Eles seguiram até encontrar os pastores com as Bíblias abertas, os vereadores nos prostíbulos.
Eles acenderam o fogo com os corações ainda frescos.
Quero um futuro para minha casa. O próprio inferno abriu sua boca, porque os demônios gostam da luta, e não do silêncio.
Eu despertei 140 mil que dormiam, eles ouviram os gritos das Amazonas que voavam sobre a fumaça.
Agora, elas avançam para o Palácio com as vísceras na ponta das lanças.
*
Afonso Lima
sábado, setembro 19, 2020
sexta-feira, setembro 18, 2020
quinta-feira, setembro 17, 2020
terça-feira, setembro 15, 2020
sábado, setembro 05, 2020
sexta-feira, setembro 04, 2020
quinta-feira, setembro 03, 2020
domingo, agosto 30, 2020
terça-feira, agosto 25, 2020
O rosto sujo
São manuscritos de várias épocas, analisados em artigos fantásticos.
*
O robô bateu na porta. Ela abriu.
- Daqui a dois dias, a senhora vai querer comprar esse produto - ele disse.
Se quiser devolver, entre em contato.
*
A primeira-dama matou a jovem com extrema perícia. Os tambores abafavam o ritual.
O presidente colocou sobre o altar um ramo de flores e sorriu para a foto.
Serviam os pedaços ensanguentados em vasos decorados como nos tempos antigos.
Era um pouco constrangedor, sempre, e a primeira dama tentava sujar o queixo o mínimo possível.
*
O agressor com seu chapéu para proteger a pele muito branca. O filho do presidente, deputado, entrega a lista de inimigos do estado. O diplomata toma sua caipirinha.
- É um pouco deprimente as raças inferiores espionarem a si mesmas - diz.
*
Como bom religioso, ele lavou suas mãos, fez o sinal e fez suas orações. Aparece no vídeo.
Começou com jornalistas perseguindo o grupo político que contrariava seus financiadores. Os próprios foram perseguidos por uma máquina policial e de propaganda. "O debate racional foi perdido, é preciso desviar a atenção", era a frase que vazou da reunião presidencial.
*
As máquinas permitiam que as pessoas vivessem para sempre. Mas elas iam se tornando cada dia mais desidratadas, penduradas em seus casulos. O programa recebeu o apelido de "vidas secas" pela internet. Logo, todos os alvos preferenciais recebiam milhões de mensagens sobre a "beleza das vidas secas imortais".
*
Ela abria a Bíblia. Sobre ela, seus filho adotivo derramava o líquido. Sua ex-namorada, agora irmã, bebia o sangue. Foram elas que criaram os ritos da nova dinastia.
*
Serviam os pedaços ensanguentados na festa de aniversário.
O presidente queria exterminar o maior número de cidadãos possível.
República exportadora. Sacos pretos, em todas as cidades, carregados nas celebrações de domingo.
A primeira dama seguia sua conselheira bíblica, devia descobrir sua paixão mais profunda; talvez fosse a carne feminina, tentava sujar o mínimo possível.
Afonso Jr. Lima
domingo, agosto 23, 2020
sexta-feira, agosto 21, 2020
quinta-feira, agosto 20, 2020
geografia da cidade
a luz também é acalentada
mortais e imortais devem amar-se
a casa escura deixa o pó nascer
e enlouquece, filho trágico da
doença e ruína
capricho e maldade
todos os tipos de bichos
nada fica do que não reafirma
a canção também é união
as graças perfumam a deusa
as horas lhe cobrem de ouro
a paixão pelo dia bom
a democracia nasce de cada dia
nada existe do que não respira
a luz também é revisão
seguir no mar das paixões
o desejo e a luta pintados em moldura
as origens são a guerra evitada
o poder vigia o poder
a cidade nasce do amor
a narração é sempre uma luta
os ventos novos
a bela música
nada fica do que não pacifica
a força também é carnaval
a palavra mágica
faz a igualdade
AJr
segunda-feira, agosto 17, 2020
el fuego
Los huesos se vuelven grises
Una niebla se elevó por las calles
Los edificios observan, se han vuelto más de piedra
Él desapareció, ella desapareció
La tierra esta mas fria
Nos callamos
nos escondemos y no soñamos
la gente piensa que es pequeña
no hablamos de eso
Se equivocan
- descubre en ti mismo
otro ser no deseado -
el fuego
mis líneas de silêncio
cativo na dura piel
musica memoria
los primeros señores del río
mi canción de honor
apesar blanca flor
el verbo libera
Afonso Jr Ferreira de Lima
Soul
minha mãe suou
no parto
não sou um robô
preciso de frutas
não sou um robô
aprendo as letras
desmonto as letras
não sou um só
sou de quebrar
adoro suspense
sou de ser tudo que der
sou de poder mais que imaginas
não sou um robô
beijo a sereia
coisa de rolar na areia
roubar certezas
sou potente
vivo de sonho
não é só luar
preciso casa pra morar
não sou um robô
minha unha cresce
na lua cheia
não sou um robô
meu coração se parte
não sou um desses
como arte
sou de amar coisas malucas
sou uma serpente
o que não se repete
sou gérmen de gente
não sou um robô
eu trituro fronteiras
não sou um robô
sei quem não sou
preciso abraço que me alimente
Afonso Jr Ferreira de Lima
paródia
cortem a língua
enquanto conto
me torno outro
enquanto passo
jogo o todo
recorto as coisas
revivo os ossos
a língua absorve
cortem a língua
movo os ossos
enquanto conto
balanço as coisas
a língua é outro
música do todo
enquanto passo
a língua come
cortem a poesia
cadáveres em passos
cavaleiros de ossos
romances todos
na nudez do conto
vira outro
monto as coisas
existem as coisas
no passo do verso
mundo outro
de ossos leves
conto na música
todo o outro
a língua floresce
vivam a língua
Afonso Jr Lima
sábado, agosto 15, 2020
sexta-feira, agosto 14, 2020
sábado, agosto 08, 2020
quinta-feira, agosto 06, 2020
corpos sem nome
sábado, agosto 01, 2020
sexta-feira, julho 31, 2020
segunda-feira, julho 27, 2020
domingo, julho 26, 2020
quinta-feira, julho 23, 2020
sábado, julho 18, 2020
sexta-feira, julho 17, 2020
terça-feira, julho 14, 2020
Thera na Cidade Mágica
Afonso Lima
domingo, julho 12, 2020
sábado, julho 04, 2020
sexta-feira, julho 03, 2020
quinta-feira, julho 02, 2020
poema minúsculo
esse poema não tem nada a dizer
pássaro de gesso, amor bruto, árvores de barro
nada - esse poema se demora no ser palavra mesmo
sem sol vermelho, sem metáfora de música, sem rio sujo, livro sem letra
porque nesse espaço estão as coisas, coisas coisas, sem adjetivo
a cadência desse ser e sua esperança
observa o gesto desse dia minúsculo
somente leve assim esse poema persiste
Afonso Lima
terça-feira, junho 30, 2020
As fotos
O homem no banco ao seu lado diz:
- Eu me lembro quando a televisão era política. O povo era manipulado. Por isso votei neles.
*
- Ele descobriu algo sobre vocês?
- Nosso processo estava parado na Justiça. Estavam incriminando a igreja por comprar tempo na televisão. Esse cara começou a fazer perguntas sobre o juiz, sobre contratos com nossos amigos. Ligamos para a concorrente.
*
Ela observava as mulheres do restaurante, alguma coisa lhe chamava a atenção, um olhar vítreo ou eufórico, uma espécie de droga.
- Eu não vou pagar por isso, disse sua amiga.
Bem, não era sua amiga de verdade.
- O prato?, perguntou distraída.
- Onde você está? Estou falando que não podemos abrir mão de tudo em nome da pretensa justiça social.
O pior de ser uma investigadora encoberta era ter de aturar essa gente. Ela sorriu e concordou.
*
Palitó escuro, maleta preta, calça social, barba. Aprendera esses truques quando começara a estudar a colonização de planetas vizinhos.
O reconhecimento facial não detectou sua máscara. As portas se abriam com facilidade. Depositou no cofre suas memórias.
*
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"A questão é que eles sabem toda a forma de rebelião que surge. As respostas são dadas antes que as perguntas possam ser pensadas".
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O Comando avisa que nenhum dado foi preservado. Os crimes foram apagados depois da tempestade de raios de 1993. O sistema de elementos potenciais foi planejado para evitar falhas como essa.
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Ela entra no galpão abandonado. Um monte de cinzas e ossos.
Afonso Lima
segunda-feira, junho 29, 2020
domingo, junho 28, 2020
A espera
quarta-feira, junho 24, 2020
Berlim 1929
Afonso Junior Ferreira de Lima
Porto Alegre, 2002
"Aconteça o que acontecer, nunca estarei só.
Haverá sempre um rapaz, um bilhete de comboio, ou uma revolução".
Stephen Harold Spender
domingo, junho 21, 2020
terça-feira, junho 16, 2020
Um dia
sábado, junho 13, 2020
Madeleines madeleines
Pessoas saem a protestar nas ruas, derrubam estátuas, as forças da ordem atiram e matam.
Os Potestates foram incumbidos de semear a fome, Samael voou sobre as cidades derramando a peste.
O dia M foi criado e não se falou mais nisso.
Afonso Junior F de Lima
domingo, junho 07, 2020
terça-feira, junho 02, 2020
segunda-feira, maio 25, 2020
Ditaduras eleitas, milícias populares, o mercado...
https://br.noticias.yahoo.com/grupo-de-militares-defende-heleno-ataca-stf-175018084.html
O sea: los jefes máximos en actividad de las tres Fuerzas Armadas fueron informados del tono golpista de la nota de Augusto Heleno. Y no hicieron nada (sugerir, aconsejar, lo que fuera) para impedir su difusión.
https://www.pagina12.com.ar/267798-brasil-rumbo-al-fondo-del-pozo
O Ministério da Defesa obteve, junto AGU, um aval permitindo que militares (...) possam receber rendimentos acima do teto constitucional, que é de R$ 39 mil.
https://epoca.globo.com/defesa-quer-que-militares-com-cargo-no-governo-possam-ganhar-mais-que-teto-1-24421797
Talvez estejamos vendo uma nova onda surgir - as ditaduras eleitas da América Latina e do mundo.
E, como a doutrinação religiosa se mostrou a mais eficaz forma de alienação, voltamos ao fanatismo medieval, agora com um Deus dos ricos e aspirantes à ricos.
O Mercado queria assaltar o bem comum, agora se sente traído até certo ponto, era possível a vitória sem sangue. Congresso/mercado (que recriou a escravidão com o fim das leis trabalhistas) contra Família/Executivo - negócios à vista.
"An Israeli minister met with Roger Stone to provide information that may have benefited the Trump campaign. The discovery implicates Netanyahu in an attempt to distort the 2016 US election result."
A arte de romper a democracia até certo ponto...
"De acordo com o IBGE, 13,8 milhões de pessoas – 6,7% da população – vivem com menos de US$ 1,90 por dia." (Rede Brasil Atual)
Roberto Marinho disse que Brizola deveria "fazer umas escolinhas", e não o Ciep. "A falta de segurança para seus jornalistas na saída do Palácio da Alvorada fez o Grupo Globo decidir que seus profissionais não mais farão plantão naquele lugar..." (UOL) A imprensa, rápida em criar polarizações, é destratada; a verdade depende do sistema de reconhecimento.
O eu-fascista é destrutivo porque é incapaz de aprendizado; ele cria a sociedade na qual atingirá um novo status rapidamente. A violência como máscara na precariedade que não pode (e não quer) entender um sistema. O fascista parece ser alguém "ferido", alguém que não pode negociar quando há uma "ameaça à vida", alguém que tem uma "missão" e se sente acima da raça impura, quer fazer parte de uma elite. A arrogância perde o limite da razão comum com o contágio (Freud). O líder fascista acha um alvo irreal para justificar a opressão.
https://www.gospelprime.com.br/fechado-com-bolsonaro-bons-motivos-nao-podem-virar-justificativas-para-erros/
https://jornalggn.com.br/politica/acao-de-witzel-poder-ter-sido-para-beneficiar-milicias-por-luis-nassif/
https://dowbor.org/2020/03/ladislau-dowbor-alem-do-coronavirus-5p.html/
https://www.redebrasilatual.com.br/economia/2020/05/extrema-pobreza-cresce-pelo-5o-ano-seguido-e-deve-explodir-com-a-pandemia/
https://www.dn.pt/mundo/lider-da-nra-diz-que-direito-a-ter-armas-e-garantido-por-deus-9137906.html
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/revista_do_arquivo/02/interpretes_do_acervo_03.php#cite_ref-10
https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2020/05/25/jn-anuncia-que-globo-parara-de-cobrir-bolsonaro-no-alvorada-por-seguranca.htm
https://therealnews.com/stories/fbi-evidence-israel-netanyahu-roger-stone-intelligence-meeting-2016-campaign
terça-feira, maio 19, 2020
sexta-feira, maio 15, 2020
A cadeia dos seres
e desmonta
não assim
a vida
Com a mentira
de outra língua
destece, explode
grita
Olfato miúdo
na cadeia dos seres
pedra e a mariposa
coloca no alto
Ficção é tudo que
não aponta
poesia
é vida
Afonso Junior Lima