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quinta-feira, maio 18, 2006

Belíssima matando a pau


Belíssima está de parabéns. Silvio de Abreu criou um enredo realmente interessante.
Ninguém sabe o que aconteceu, e a volta de “Bia Falcão” foi o acontecimento do ano, na TV. Fernanda Montenegro está insuperável, o vilão André esconde muito bem o que é, até a mocinha está interessante.

Se a gente fala mal dos excessos, é importante também falar do que há de bom.
Antes de tudo, criou-se no Brasil uma idéia de que “pessoas inteligentes” (seja lá o que isso for), não falam nem assistem novela (mas TODO MUNDO assiste; percebi isso quando fiquei seis meses sem TV; todos diziam “ah, eu não assisto novela, mas estava passando pela sala, você viu ontem?”).

Claro, a maioria delas realmente está apenas correndo atrás de IBOPE fácil, e para isso, num país com tantas pessoas que nem sequer podem ler, o negócio é vender a alma ao diabo. Isso deixa a gente com vontade de ler um livro, como disse alguém. O que se deve criticar é o fato de a maioria dos brasileiros ter apenas a novela como espelho do mundo. (Aliás, dizem que na Austrália o governo criou leis para que houvesse programas infantis de conteúdo didático nos horários em que a criança está em casa; aqui isso seria “censura”...)

Funcionam, no fundo, os mesmos moldes que funcionam para o romance ou o poema: uma síntese do mundo, um julgamento, uma sensação de identificação e suspense quanto aos personagens, etc. Somente quando é contado, algo se torna real. São as histórias que nos contam que fazem a vida ter sentido, pelas quais identificamos como agir, quem é bom e mau, que houve antes de eu chegar nesse mundo. Contar histórias e estórias é nosso jeito de estar no mundo. (Evidentemente, em um romance, se pode emitir mais julgamentos e reflexões, de modo a melhorar nossa compreensão do mundo, assim como das emoções humanas).

Mas a novela em si é um gênero como todos os outros, e tem suas regras e seu padrão “ótimo”. Ela não substitui um filme ou um livro, mas tem sua narrativa, sua abordagem e pode ser entretenimento qualificado. O que seria isso? É preciso ter “intriga”, um bom vilão, falas interessantes, uma simplificação do enredo, mas com força, tudo o que estamos vendo agora. (Tirando os sotaques sem sentido e que- pelo menos em Tony Ramos, são pedras no caminho do entendimento).

Toda vez que se tenta escapar dos limites do gênero, acabamos em confusão: um vilão (e uma mocinha) “bom-mau”, como em O Dono do Mundo, confunde a atrapalha, por exemplo. Vemos agora, com a reprise de A Viagem, o quanto as novelas decaíram em uma década; naquela no ela, não das melhores, ainda se sente claramente um “enredo”, algo que vai se desenrolando e que prende a atenção. Hoje, cada capítulo é uma pequena história, mas ela não leva a nada.
Uma vez vi Eva Wilma dizer: “Agora em novela das seis eles querem que tenha ET, torta na cara, vampiro e tal. Tem de ter tudo, ao mesmo tempo pra chamar a atenção. Não sabemos pra que lado o personagem vai”. È isso mesmo.

Depois da “graças a Deus que acabou” Alma Gêmea- em que todas as cenas repetiam o que já sabíamos, sim a chatíssima ERA a reencarnação da outra- da insuportável Bang Bang- em que se apostou em um figurino e cenário moderninhos (lindos, aliás) e na reinvenção pelo lado da palhaçada, pois o enredo parecia sumir frente a milhares de gracinhas e situações comicazinhas (mas realmente quem trabalha 12 horas por dia adora ver gente na lama)- e do tédio de América, que, além do estilo da autora de boas idéias sem desenvolvimento linear), teve inclusive de ser mudado porque os protagonistas simplesmente não combinaram, (ganha nas exoticidades, reportagem ou beleza plástica,como em O Clone), a Globo apostou pesado: colocou as divas pra atuar e voltou ao “novelão”. Funcionou.

(Inclusive a novela das sete, Cobras e Lagartos, voltou ao tradicional, no melhor sentido: mocinhos perseguidos pelos vilões, etc.Carolina Dickman dando um show! O elenco todo está vivo, aé Francisco Couco, que é sempre igual e gago).

Me parece que, claro, tentando acompanhar a evolução da ignorância e da rapidez do mundo, as novelas acabaram por substituir o enredo por fortes emoções, brigas, ou mesmo muitas cenas de “rápido impacto”, em que se baseava, por exemplo, quase toda a Senhora do Destino, com sua vilã limpando privada. É uma penas, pois me lembro ainda de Janete Clair, que consegui levar para a TV o que o teatro tinha de melhor: tensão, personagem, decisões.

Dizem que uma vez um jornalista ligou para Carlos Drummond de Andrade e ele estava vendo os Trapalhões. Quem dera que todo brasileiro pudesse, como ele, escolher o que quer ver e quando quer.

2 comentários:

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