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sábado, abril 23, 2011

CCSP terceirizado?

Uma fonte na Prefeitura comentou que o Centro Cultural São Paulo pode ser terceirizado. Claro, como a saúde está um caos, é boa idéia. Os hospitais dizem que recebem pouco e mandam as pessoas para as AMAS (superlotadas, com dois médicos cada) e o governo diz que saúde não é mais com ele, a Globo mostrou. Justamente um lugar com cinema antes grátis (agora 1 Real), com peças a preços populares, Biblioteca de 100 mil volumes. “Sabe como é, tudo vira pago” – diz ela.

Além disso, ouvi de um amigo que trabalha com o setor, que uma terceirização desta, a famosa “Fundação”, que houve com uma biblioteca, transformou o local em templo de Dan Brown e Crepúsculo (que devem estar lá, mas ao lado de Clarice e Drummond). Essa proposta eu ouvi da boca do secretário que hoje está na TV Cultura, que já foi violentada.

Lembra-me muito uma situação que passei no CCSP. Cruzando por ali, ouvi um show que começava. É gratuito, pode entrar na fila e pegar o ingresso, disse um funcionário. Bem, eu fiquei ali e a fila foi se formando atrás. “O sistema está parado”. Havia sido terceirizado. Esperamos uns dez minutos, o show rolando.

O pessoal começou a reclamar. “Onde está o técnico?” – eu perguntei ao segurança, que, bem brabo, dizia apenas “O sistema parou”, “O sistema não funciona”, “O sistema...” Ou seja, o que antes seria resolvido com um bloquinho e uma caneta, agora com o Ingresso Difícil, computer e microfone... E reclame ao Papa. Ao invés de ampliar o “centro” para a extremidade, a “periferia” está chegando ao centro.

quarta-feira, abril 20, 2011



Audiência não responde dúvidas
A longa apresentação do projeto não tranqüilizou os representantes dos moradores, comerciantes e movimentos
http://www.brasildefato.com.br/node/6072

13/04/2011 - Patrícia Benvenuti


Questionamentos e muita tensão marcaram a audiência pública sobre o projeto Nova Luz em São Paulo nesta terça-feira (12) na Câmara Municipal.

Cerca de 200 pessoas participaram do encontro, que contou com a presença do secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, de vereadores, deputados, representantes do consórcio responsável pelo projeto e, principalmente, de moradores e comerciantes da região.

A audiência iniciou com a apresentação de Bucalem, que definiu o projeto como “uma oportunidade de transformar a cidade”. Por meio de desenhos e gráficos, o secretário mostrou as perspectivas para a região depois das reformas.

O projeto Nova Luz, feito pelo consórcio formado pelas empresas Concremat Engenharia, Cia City, Aecom e Fundação Getúlio Vargas (FGV), prevê a reurbanização da área, com reformas no trecho delimitado pelas avenidas Duque de Caxias, Rio Branco, Ipiranga e ruas Mauá e Cásper Líbero.

Bucalem fez questão de frisar que o projeto apresentado na audiência se trata apenas de uma versão “preliminar”, e que o documento final será concluído no final de maio. Já a licitação para escolher a empresa executora do projeto deve ser lançada em junho. O orçamento do plano urbanístico é estimado em mais de R$ 1,1 bilhão – metade do valor deve ser bancado pela Prefeitura.



Dúvidas persistem

A longa apresentação do projeto, no entanto, não tranqüilizou os representantes de associações de moradores, comerciantes e movimentos sociais presentes.

A principal reivindicação das organizações é a garantia de permanência na área depois das reformas. O presidente da Associação de Moradores da Santa Ifigênia, Antônio Santana, critica a indefinição sobre o destino de quem trabalha e reside na região.

“Desde 2009 a gente pede garantias, ainda antes da aprovação das leis, estamos em 2011 e a resposta [do poder público] é sempre de que o estudo é preliminar”, afirma.

O projeto de lei de concessão urbanística em áreas degradadas na capital paulista e a reurbanização do centro foi enviado originalmente à Câmara Municipal de São Paulo como um único texto. Em seguida, foi desmembrado, dando origem a duas leis aprovadas em 2009: a lei que define as regras gerais para as chamadas concessões urbanísticas (que terceiriza a desapropriação de imóveis), a lei que trata especificamente da concessão urbanística na Nova Luz.

As incertezas também fazem com que a presidente da Associação de Moradores e Amigos da Santa Ifigênia e da Luz (Amoaluz), Paula Ribas, se mostre apreensiva em relação ao futuro. “Será que todas as questões que a gente pontua há tanto tempo serão contempladas no projeto final? O debate é bom, mas e as ações? O que concretamente vai acontecer?”, questiona.

Além de falta de garantias para moradores e comerciantes, Paula Ribas frisa que o projeto apresentado não responde a outras demandas importantes da região.

“O projeto Nova Luz não apresenta alternativas sociais, como no caso dos moradores de rua e dependentes químicos. Como vai se resolver isso?”, indaga.

Por parte dos comerciantes, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas da Santa Ifigênia, Joseph Hanna Fares Riachi, criticou o projeto que, segundo ele, deve tirar o caráter comercial da região. Segundo ele, os trabalhadores serão penalizados em função de interesses da especulação imobiliária na área.

“A Santa Ifigênia cresceu por conta própria, nunca tivemos qualquer incentivo do governo. O nosso desejo é de que o projeto melhore, mas que haja a participação de todos que estão aqui”, afirmou.



Promessas

Depois de ouvir as críticas e reclamações, o secretário de Desenvolvimento Urbano afirmou que todas as questões levantadas na audiência serão contempladas no projeto final.

Ele garantiu que, em caso de desapropriações, os proprietários receberão o valor de mercado por seus imóveis e que aqueles que perderem suas casas poderão permanecer na região.

“O projeto tem obrigação de oferecer uma moradia na área para essas pessoas, isso é uma premissa”, disse.

Já em relação aos dependentes químicos e moradores em situação de rua, ele destacou que o atendimento não está previsto no projeto Nova Luz, e sim por meio da Ação Integrada Centro Legal, trabalho conjunto da Secretaria da Saúde com as Secretarias Municipais de Assistência e Desenvolvimento Social, Habitação, Gestão, Ministério Público e Guarda Civil Metropolitana no atendimento a pessoas em situação de rua.

A vereadora Juliana Cardoso (PT), no entanto, se mostrou cética em relação às promessas.

“O secretário fala em moradia, mas o que a gente mais vê é a derrubada de casas. Um exemplo é o São Vito e o Mercúrio [prédios no centro de São Paulo]. O secretário fala de assistência social, mas a secretária de Assistência Social [Alda Marco Antônio] fechou de 600 a mil vagas em albergues no centro”, afirma Juliana, que pediu mais respeito à comunidade.

Para Juliana, o projeto tem de estar de acordo com a lei, de forma a que os direitos das pessoas sejam respeitados. “Aqui está a vida dessas pessoas e elas querem ser respeitadas”, salienta.

A audiência chegou a ser interrompida em função de discussões e trocas de ofensas entre os vereadores e os comerciantes. Exaltados, os vereadores Roberto Tripoli (PV) e Claudio Fonseca (PPS) foram exigir explicações de um manifestante que, durante uma intervenção, chamou os políticos da mesa de “vendidos para o capital”.

sábado, abril 16, 2011

Anne Frank X Espigões

Ontem, estive na Biblioteca Anne Frank, no Itaim Bibi, fazendo a leitura do diário na Semana da Leitura. A biblioteca foi fundada por Monteiro Lobato. O ambiente é maravilhoso, limpo, claro, com belos jardinzinhos, uma coleção de HQs bem variada e muitos outros livros infantis. O sarau foi delicioso com bandolim, fado, poesias dos participantes, Drummond e outros... Muita gente contou que começou a ler ali quando criança.

Pois é, a Prefeitura vai vender essa área verde e uma construtora quer fazer ali espigões. Realmente o verde é maravilhoso em um dos bairros mais sofisticados da capital. Deve dar vontade de encher de concreto... Sabe como é: as construtoras “terceirizam” creches na periferia (- onde? quando? como? Ninguém sabe). Levando em conta o fiasco da saúde com as O.S.s, da Eletropaulo, das creches, da Telefônica...

Sem falar que os que utilizam os espaços (APAE, creche, CAPS, EMEI, UBS, Biblioteca, Escola...) não são realmente os mais ricos.
Meu plano é Uma Biblioteca por Bairro. Por quê? Porque as minorias não deveriam vencer sempre na democracia e, sim, está provado que os traficantes viram heróis porque dão lazer nas comunidades distantes do centro.

Isso nos leva ao próximo tema: o Diário do Comércio continua sua campanha de “eles e nós”. Uma das capas mais chocantes dos últimos tempos foi a do nosso ex-presidente, recebendo seu honoris causa em Coimbra, sendo ridicularizado com os dizeres: “O título que recebeu... assim vestido, Lula dedicou a seu vice. E, chorando, chegou ao velório...”

Lembrou-me muito o tema da eugenia que eu trabalhei nessa palestra.
Mesmo quando Dilma (ela também sai na capa com freqüência, por exemplo, com um dedo em riste na saída do teatro e uma legenda que debocha do fato de alguém ter lhe chamado de “linda”) está tentando acordo com os chineses, o que vai mudar o panorama da economia brasileira, ela ainda é criticada por falar que “todos os países têm problemas ligados aos direitos humanos”, etc.

É claro que a China se tornou um exemplo do mau-capitalismo mundial, onde trabalho semi-escravo sustenta a maior produção possível e faz girar o acúmulo infinito com custo social zero. Mas isso nos mostra também a contradição na nossa classe empresarial (ou pelo menos no que seria a sua imprensa,) a mesma que fala que nos últimos 5 anos a classe média superou a marca dos 100 milhões. Será que (todos) os empresários serão sempre “do contra”? Afinal, o que é bom para o comércio, radical ideologia ou crescimento? Será que saímos do tempo dos escravos?

Ou ainda achamos, como o eugenista Renato Kehl e os ilustres membros da Sociedade eugênica de São Paulo, que é preciso “cercear a decantada liberdade individual” para a Cura da Fealdade?

sexta-feira, abril 01, 2011

Leite - sobre Luis Antônio Gabriela

Gostei. Quase chorei. Cantei junto. O meio me empolgou. O protagonista arrasou. Dança, som, tem momentos Broadway do bem, aplaudido em cena aberta. E, como ainda estamos no começo, há tempo para menos tempo. O desafio, aqui, é desfazer todos os estereótipos que temos, atores, público, família, com relação aos travestis. Em progresso - ferida aberta.

O gráfico da peça seria uma parábola, se não acabasse com uma explosão. Entre os mandamentos da encenação estão: comece com a curiosidade, a desorientação; seja breve; acabe intenso, ou logo depois. Eu vi uma propaganda que dizia: comece no topo. Apesar do absurdo lógico, aqui se aplica.

Um “Gift” de Elton John, com ruídos. A apresentação onde os atores se colocam com seus nomes verdadeiros. Polícia, prisão, surra, glamour da biba. Um irmão pega o outro, indicações. Cenas (curtas de uma infância). Europa. Passagem com irmã em Bilbao, cinco palavras para contar uma doença, cama em luz azul com despedida, volta Elton John. Seria a peça do ano.

O dono do cachorro nos leva numa viagem interessante sobre um irmão “bicha”, “pederasta”, travesti, perseguido pela ditadura e que morre. Mas o tema em si é sempre fundo na arte. Conta o impacto. Em um vídeo no fim, mostra-se o diretor, Nelson Baskerville, no início do processo, afirmando que tem o meio, e o começo e o fim sairiam do trabalho colaborativo. Essa é a explicação, talvez, para um início que vai muito lento, biográfico. Com luz muito. Uma frase (“Já viu homem tirar leite?”) foi dita vezes demais. Poda.

Eu vi ontem Dr. Pet mostrando um cão que era muito autoconfiante e que, por isso, precisava ser colocado sobre uma plataforma solta, que era puxada com força, fazendo-o perder o equilíbrio. Parece. É algo paradoxal que na nossa sociedade de desconexão violenta (o que significam tantas imagens cruas na tela?), de preconceitos massivos e isolamento comunicativo tenhamos de começar pelo topo para prender a atenção.

Então eu acho que a peça – com seu belo uso da música, sua cenografia interessante, com as telas ótimas de Thiago Hattnher, luzes, cores e negros adequados – ganharia muito se limpasse vinte minutos e cem palavras. É a diferença entre um relato memorialístico com brilhos e uma síntese cênica perfeita. Como dizia Roberto Alvim, hoje com uma frase entendemos o que no século XIX precisava dez páginas. (Outra sacada: o espectador precisa completar...)

Por exemplo, no final, quando já chegamos lá, volta uma longa descrição de doença, com fotos caseiras que nos tiram do estado “estético” de tentar reconfigurações, de “outra sensibilidade”, com exibição de documentos que não estão em linha causal. Esse “uso” mais curto ou em outro momento, podia ser um elemento a mais, um instigador. Sutileza, sugestão. Menos madrasta. Porque de forma alguma trata-se de uma pessoa, um irmão, uma homem datado.

Os travestis no Brasil perderam seu lugar na sociedade, me dizem. É impressionante que não haja, ainda hoje, lugar para os gays pobres que se percebem em outro corpo, estranho. Ou mesmo para os que têm de assumir outro gênero, porque não cabem no papel sexual. A peça traz à tona essa realidade dura e “marginal”, tão contemporânea na nossa forma de “não ver mais” o que “já foi resolvido”. E saímos com um sorriso.


Afonso Lima