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quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Desamor de Carnaval

A vida é cheia de êxtase e fuligem. *Como essa loucura começou? Houve um encontro de ideias* Segunda: o fim. Sexta: A- Almoço de negócios Vamos almoçar Tem uma exposição linda aqui perto Vamos no meu hotel. B - Balada Ele tem 21 quero pegar. * Sabe o que eu acho mais perverso em você? A forma como manipula para que a gente continue interessado* Sábado: A- Bloco de carnaval Surfista dourado tatuado Eu sou da equipe organizadora Legal, quer meu telefone. B - Quando teclamos Sou o boy 22 O que quer? >Números invisíveis. São números que contêm objetos invisíveis não localizáveis. < [Metade disso tudo era sexo, abraço gostoso, beijo. Eu excluí nossa conversa no FB e peço que faça o mesmo. Marquei um encontro para hoje e vou fazer essa loucura acabar e é já  Obrigado queridão - Como? Lindo! O que tá acontecendo?] >Números invisíveis são mais e menos que zero< >Números invisíveis. São números que conectam diversas dimensões contraditórias<*Eu achei que havia algo de nosso, de nós dois, algo de união. De futuro. Eu achei que você podia receber meus sonhos. Meus fluídos de proteína. Eu percebi que você sonhou, mas teve medo. Eu não sei lidar com a estática* >Números invisíveis. São números que se modificam continuamente e contém o vazio< Segunda: A - Você tem namorado? Tenho É advogado Eu quero te beijar Você pega mulher? Claro Só as que me enfeitiçam Que bonitinho [- Legal amigo, que viva sua fantasia e seu interesse. Siga seu caminho, seu carma, sua liberdade. O que eu busco é para a vida e só estou querendo conhecer cada pessoa. Já tenho quem me quer. - Espero que ele seja boa inspiração pra semana. Não fiquei com aquele garoto. Qto aos "adolescentes", é uma fase! E tem que acabar!] *Como começou isso tudo, pergunto às cartas: A atração que um sente pelo outro, a confiança e o conhecimento favorecem uma união perfeita. A beleza estética cria uma situação de forte atração física e sexual. Será necessário controlar a imperatividade e o temperamento forte. Deixe de lado o sentimento de posse ou o relacionamento viverá em desarmonia.* [Obrigado pelo carinho intenso. Bjo e até já - Mas não sei viver na incerteza. Fim do romance pelo FB.  Meu carinho - Parei de ir por aí e de ser levado. Não quero que vá, mas... - Achei alguém legal] Quarta: Tudo recomeça.> Os Números invisíveis foram inspirados em Mozart e na matemática egípcia<


Afonso Lima

sábado, fevereiro 15, 2014

Um dia comum

O clube de ginástica. No centro de Buenos Aires. Nessa época alguém fazendo uma caminhada matinal podia achar o horror em latas de lixo, nas margens do rio do Prata. Ninguém conseguia dormir na vizinhança. Entravam e saiam carros militares o tempo todo. Uma senhora ia às compras e via um embrulho estranho, semelhante a corpos, ser colocado num carro. Alguém foi pro interior e disse ter visto dezenas de cadáveres em buracos mal tapados. Começaram a surgir narrativas de pessoas presas em celas por anos. Compartimentos sem janela, com a luz acessa o tempo todo. Uma mulher desmaiou ao ver vários corpos caírem de um helicóptero. Aprisionamentos na madrugada começaram a virar história corrente. Mendigos sumiam das ruas. Treinadores da CIA eram vistos entrando, com superioridade científica. Logo em seguida se ouviam gritos lancinantes, eram as aulas. Quando a ditadura acabou, um dos presos disse: "Fiquei numa cela durante dez anos, vi o sol 8 vezes nesse tempo. Eu perdi completamente a noção de dia e noite. Eu esqueci como era o sol. Eu comecei a pensar que havia morrido, porque não tinha mais sonhos e meus parentes estavam todos mortos para mim". Essas técnicas ainda hoje são usadas. 

Afonso Lima

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Nojo

A pobreza é ruim É Você não pode ser pobre É É uma vergonha ser pobre É Tenha nojo de pobres Mas São maus, são violentos É Não há o que se possa fazer Talvez Não existe isso de sociedade É Eu eu eu É?Nunca nós É Eles são sujos, eles emporcalham as ruas, eles não lutam, eles podem morrer de fome É Eles podem morrer de frio É Você pode ser alguém Como? Você será um de nós. Eu sei. Tenha nojo. Faça o que eu digo.

Afonso Lima

sábado, fevereiro 01, 2014

Acrópole

Mar, mármore, montanha, flores, o céu azul. A Grécia. Eles haviam sido um grupo muito íntimo, animado, um grupo de inovadores. L. havia morrido subitamente há um mês e um clima de mausoléu se instalara. Para piorar, notícias de guerra se alastravam, um governo conservador era eleito democraticamente. Agora ela inventara esse passeio longo e cansativo com dois dos remanescentes tendo a certeza de que, refazendo a viagem de 1906, o sol voltaria a brilhar.

Ela viajara com os dois irmãos, a irmã V. e os amigos à essa região anos antes. Parecia o Paraíso. Londres, com suas festas, convenções e conversas autocomplacentes, gerava ondas de ansiedade em sua natureza sensível. Desejaria ter feito picnics na grama, à beira do Partenon, mas os homens estavam apressados em percorrer todos os passos de todos os heróis. Conheceram mosteiros e fontes sagradas esquecidas. Foram cortejadas por soldados, eruditos peregrinos e pescadores. Uma expedição. Pontuada de dores. Sua irmã teve uma estranha febre e foi obrigada a voltar para casa. Seu irmão contraiu uma doença e morreu três meses depois. Agora, voltavam todas essas coisas, quando o vento batia e ela via uma faixa azul de oceano escuro e ilhas de pedra. A luz do céu parecia apagar o cansaço. Ela tinha a deliciosa sensação de dissolver as barreiras que o eu quer criar em torno de si. Tentando ler, lembrava do amigo falecido, sua fome de conhecer tudo. À noite, Bach no altofalante. 

Quando voltaram, depois da morte do irmão, V. se casou com seu melhor amigo e conheceu a psicanálise, tentando esclarecer seu misterioso ataque. Agora, os amigos falavam sem parar, enciclopédicos, pintavam cada paisagem que achavam, e ela tentava retomar os fatos passados, tentando unir em si tudo que era contraditório e sofrido. Planejava um novo livro observando as ondas. Escreve em seu diário: "Como pode as coisas seguirem assim sem você. Nós conversávamos um dia entre as fileiras de hortências azuis e você me disse a verdade sobre mim mesma, que eu devia recusar tudo, menos o que eu queria. E agora você não lerá mais nada e eu não sei o que fazer com isso". 

Afonso Lima