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sábado, julho 28, 2018

sexta-feira, julho 27, 2018

o alquimista

criança amarrada
desagradável a coisa
esse corpo nômade
não conheceu o amor

contabilidade das sacas
de café a areia e o sol
o mundo não tinha
um lugar pra você

caminhando pelas florestas
filho da terra da umidade
do teu tempo
rejeitaste as mentiras


Afonso Lima

quarta-feira, julho 25, 2018

A caça espiritual

eu sou a caça
bombas incendiárias no bulevar
exposição do luxo e
gatos e cães dos mortos a vagar

come-se o pão branca massa
das catacumbas os ossos
caminhar aflito pela multidão espancado
um muro para os nossos

novos mundos ao mundo
do ouro, o marfim e pessoas
tecidos, porcelana e metais a rota
costas marcadas violência herdada

quando de Constantinopla
nesse limbo vem o rolo
de Gilgamesh, pelo Egito
aos garrafões frios vinho novo

o mundo aguarda em sua tumba
cânticos órficos Ursa Maior
misturam amoníaco na noite amantes
ervas da imortalidade gritos
e purificação

ouro perfeito grãos de poema caem
sobre o crânio vigilante, hora fria
semente de vida os filhos do sol
vão libertar das palavras antigas

sonho de menino os mares azuis
a verde luz as ruínas de Cartago
o sol e a lua no poema infinito
vai o barco nas ondas brincar
magia

Afonso Jr. Lima

domingo, julho 15, 2018

Um mundo em perigo

"Liberdade para mim é isso: não ter medo". 
Nina Simone

"A gente não é violento apenas quando agride fisicamente. Tudo aquilo que a gente faz que restringe o outro pode ser percebido como violência. Quando me coloco numa posição em que estou no topo da hierarquia, eu só sei colocar limites de forma violenta". 

Brenda Pacheco, psicóloga 


Um rapaz universitário, de olhos claros, com suas postagens sobre o candidato fascista. O jornalista Leonardo Stoppa falando sobre a política do ridículo. Uma matéria afirmando: “O poder Judiciário custou aos cofres públicos R$ 84,8 bilhões” (Congresso Em Foco).



Um humorista conservador chama deputada de “cínica” e “nojenta”. 



Depois, tira foto ao lado de uma assistente negra e de um ovo de Páscoa e escreve: “de um lado esse maravilhoso chocolate de primeira que comerei o dia todo durante esse domingo tão especial. Do outro lado um ovo de Páscoa escrito meu nome".



O homem branco classe média de Trump quer deportação e prisão. 

Ouvi de uma professora que a diretora não deixou ensinar Renascimento porque uma mãe reclamou... Tanta gente pelada... 

Em manchetes, nós vemos jornalistas formados se prestando ao papel de ridicularizar uma senadora da república do Partido dos Trabalhadores. A campanha de ódio torna irrelevante a imprensa a não ser para a madame maluca e o universitário bozonazi.

Parece que a razão foi sendo tirada do sistema para não debater com o conjunto da sociedade ou seja, as pautas progressistas. Mas quando o pai é autoritário, o filho é fascista. 



*


A ideia é que o pobre é inerentemente corrupto? 


Pessoas negras como objetos para satisfazer seu instinto? 

Toda a tribo isolada cria uma ideologia racista?

O sistema jurídico-policial só responde a um grupo. A polícia escolhe a lei a ser seguida. O juiz que discorda é punido. Sua rebeldia pode incentivar a indignação justa.

Há 100 anos, tanto o herdeiro do café (Lobato) quanto o imigrante racista (Kehl) pregavam segregacionismo e esterilização em massa. Refletir sobre instintivo sentimento de supremacia branca e indiferença que surgem numa crise sentida como perda de status.

"Nas décadas 1920 e 30, o pensamento eugenista cooptou muitos nomes influentes, como Júlio de Mesquita, proprietário do jornal O Estado de S. Paulo." 


Júlio de Mesquita falava da "massa impura de dois milhões de negros" com seus "sintomas de decadência moral". (Priscila Silva, 2015)



1964 - (Os) golpistas foram à embaixada perguntar qual seria posição de Washington caso fosse deflagrada uma guerra civil no Brasil. Segundo a revista Fortune, o diretor do Estadão, Júlio de Mesquita Filho era “um dos recrutas mais proeminentes” e “líder nominal do grupo”. (Operamundi)


(Lembro de um grupo de moradores de um bairro nobre no qual fui incluído; desesperado com a sensação de que o bairro não é parte da cidade, postei temas como fechamento de creches e  de centros culturais em bairros distantes. Um morador reclamou e a administradora me excluiu).



"A não análise do fascismo é um dos fatos políticos mais importantes dos últimos 30 anos. Isto permite que o fascismo seja usado como um significante flutuante, cuja função é essencialmente a de denúncia". (Michel Foucault apud. Paul Gilroy)


O perigoso jogo de tornar as ideias divergentes criminosas. Bilionários rentistas talvez prefiram fomentar a lógica do ódio até que loucos atirem contra lideranças progressistas. Isso pode sair do controle como ocorreu com o AI5, atacou seus gestores. 

Às vezes, a ideologia toda parece repousar no medo - como nos lembra o caso do cofre do Ademar e os "terroristas" na ditadura:  "O que havia era assalto a banco para alimentar os que estavam na clandestinidade", afirma Carlos Knapp, publicitário que resolveu se juntar ao Partido Comunista quando os militares chegaram o Congresso em 1968 e acabou hospedando Carlos Marighella. Sequestros para libertar companheiros aprisionados nos assaltos. "Não havia um contato com a massa". (TV Senado, 2013/ Knapp, 2013). 



Parece que numa sociedade de classes, desigual e injusta, é preciso implantar profundamente a ideia de desigualdade natural, de superioridade tribal, o invisibilizar normal, a ideia de "degeneração do outro". O crime estrutural da criação da injustiça e miséria, o instinto da indiferença.

"Tive a infelicidade de me matricular em uma disciplina cuja professora não gostava de pobre. Isso ficava evidente nas muitas piadinhas que ela fazia sobre empregadas domésticas", conta Gabriel Gomes, estudante de Publicidade e bolsista do ProUni na PUC-Rio, onde 51% dos 12.760 alunos são bolsistas (BBC - 06/10/2016)


*

O Congresso como ditadura do dinheiro; a mídia hater; Justiça-Polícia como tropa de combate. Estamos vendo a falsa democracia, na qual a Constituição cidadã coabitava com um Congresso hostil, polícia-de-repressão, monopólio de mídia, falta de moradia e anistia a torturadores deslizar para a tirania dos eleitos e sua força explícita baseada na alienação da massa. Ressurge a intimidação ao marginalizado.

O mundo da mídia é vazio de sentido. Os produtos são tudo. O tempo da comunidade se esvai, assim como ambientes públicos, porque tudo tem de gerar lucro. 

A sabedoria da democracia é que mais cabeças, geralmente, erram menos. 

Se saúde, parques, guerras, tudo são "oportunidades", como escolher apenas o que é melhor?

(Blackwater - Após os atentados de 11 de Setembro de 2001, a empresa expandiu sua atuação e obteve altíssimos lucros por meio de contratações públicas em meio à "Guerra ao Terror" deflagrada por George W. Bush. No Iraque e no Afeganistão, a Blackwater forneceu proteção a diplomatas, além de conduzir operações clandestinas da CIA - Opera Mundi - 22/10/2014). 

Desregulamentação. Mais prisões. Menos impostos no topo. Menos "gastos" nos serviços públicos. Venda de empresas públicas. 

"É vergonhoso que o presidente de um país se orgulhe de não ter pago os impostos por quase 20 anos... Os mais altos gestores das grandes corporações estadunidenses levam para casa cerca de 300 vezes o salário de um empregado médio." (Joseph Stiglitz - "A única prosperidade sustentável é a prosperidade compartilhada.")


O sistema evitou a crítica para poder governar sem participação: ninguém entende o que é capital improdutivo, a dívida pública, a tirana dos bancos. A incapacidade de pensar gera monstros. 


A cegueira do inimigo: "esses drogados estão tirando dinheiro do governo"; "fome? por que têm filhos se não podem sustentar?"; "albergue e morador de rua desvaloriza os imóveis". 

O juiz que, mesmo com uma legislação mais progressista, não reconhece a violência contra as mulheres e repete a prática patriarcal de culpar a mulher. 


Michelle Alexander: “Em 2013, vimos o fechamento de centenas de escolas de ensino fundamental em bairros majoritariamente negros. Onde essas crianças vão estudar? É um círculo vicioso que promove a pobreza, distribui leis que criminalizam a pobreza e levam as comunidades de cor para prisão” (Dodô Calixto, Opera Mundi, 29/06/2016)

*

Um capital sem trabalhadores. O paraíso fiscal como ideal do egoísmo máximo. Em parte isso é culpa do individualismo acumulador da nossa cultura - selecionar alguns escolhidos e que os melhores dirijam a todos. O homem super-rico se conecta com o trabalhador atomizado pelo desejo. Antigamente, a religião dizia que a hierarquia era divina. 

O lado "ruim" era que no topo estava Deus, o ser imaterial, e os seres humanos (quase todos) tinham uma alma e, portanto, havia limites (a ideia de que "posso fazer" é porque alguma lei grupal legitima). Com o fim da metafísica, a "inferioridade" é inerente, e tem a ver com a situação de não colono. 

No Absolutismo pós-Muro, em que Justiça é da Nova Nobreza, não precisa Constituição. A dominação de mente de massa e a educação precária quase acabaram com a "opinião pública" para quem era preciso dar resposta.

Mas, para o positivismo, que se seguiu à queda de Napoleão e às revoluções de 1948, mais interessante era ver a sociedade como um objeto: a política devia se submeter "à prova científica e não ao livre pensar". (Mesquita, 2011) A Física Social descobre também leis baseadas em fenômenos, "merecendo sua aplicação inteira confiança". 

Para Comte, secretário do socialista Saint-Simon (pensador das reformas e grandes obras realizada pela união de trabalhadores, financistas e cientistas), cujo primeiro artigo, de 1822, chama-se "Plano de trabalhos científicos necessários para reorganizar a sociedade", a filosofia visava "classificar todas as partes da existência humana", de modo que "o filósofo e o político devem agir juntos na ação política. Na Escada das Ciências, a mais importante era a Ciência Moral que, "encarando o homem assim modificado pelo concurso de todos os agentes físicos e sociais, constrói a teoria positiva da natureza humana (moral teórica) e deduz as regras para o governo do homem (moral prática), isto é, dirige a educação, no significado mais lato deste vocábulo". O imaginário da Ordem e da Mecânica deixa pouco espaço para a liberdade. 


Não admira que Rimbaud tenha dito, ao saber da Comuna de Paris em 1871: "Muito bem! A Ordem foi abolida!" (White, 2010) 

Bad boss: predador é herói. Você não é um zé ninguém humilhado pelo mundo, eu te darei essa suposta força se você aderir a esse grupo (contra eles). A função da presa é alimentar o predador (o macho patriarcal fala em "comer" a mulher.) Predador, do latim "praedatōre", "ladrão".

Segundo a feminista Amelinha Teles: "O terrorismo sexual foi uma característica da ditadura. O torturador diz 'sou dono da sua vida, do seu corpo, eu venci e faço do seu corpo o que quiser... Eles achavam que as mulheres queriam superar os homens". (Opera Mundi - 08/06/2016)



Nosso mundo dá prêmios aos que trabalham para consumir; o trabalho do pensar é precarizado. Até mesmo o governador falou da Sociologia como algo "inútil" (algo que lembra o ódio nazista à pureza teórica). Quem somos? Como chegamos até aqui? Como faziam outros sistemas de pensamentos? Que heranças temos que podem servir de saída (para o povo judeu da época dos profetas, o futuro olha para trás, o tempo anterior fica adiante - mikkdem - se avança mirando o passado e o futuro é algo oculto - (Carreira, p. 70)

Sem pensamento crítico. As universidades geram reflexões que podem atrapalhar a objetificação completa de povos e recursos. A educação liberta da escravidão porque liberta a imaginação. A polícia tem feito ataques a reitores e universidades. A máxima exploração é a exploração do objeto/máquina/robô - fascismo latente das democracias capitalistas, retirando a contradição. (A velocidade é a lógica do mais-valor, da superprodução: mais produto/resultado em menos tempo é o outro sem ideias próprias). O individualismo é também retirar a experiência do compartilhamento de reflexões - é impossível pensar sozinho. 


A curiosidade despertada pelo input social precisa de vácuo, não saber - nada bom, no mundo de empreendedores, com a grande utopia do aumento do número de acionistas no país, tentando oferecer jobs emocionais e jobs sociais (muito além de um simples produto), na linda jornada pelos mercados de capitais e no qual se vende "ideias de sugestões de investimentos".  


Não admira que as famílias - contaminadas pelo meme ideológico, o consenso pré-reflexivo reforçado pelo poder-riqueza ligados à domesticação do corpo estudados por Bourdieu (2001) - considerem fracassos as pessoas que não vivem para ter dinheiro - e o resto virá depois. Ou os playboys herdeiros achem fácil agredir as mulheres que se negam a ser objetos. tempo gasto na compreensão não faz parte da experiência de uma família trabalhadora, que pode ver tudo isso como perda de tempo (Souza, 2016); mas ela pode, em alguns casos, ser a fonte de incentivo contra uma "resistência de classe". 


*
O homem branco ressentido que se sente roubado de sua ascensão planejada não culpa as estruturas de poder da elite/imperialismo (com quem se identifica), mas as figuras públicas, movimentos e ideias populares que conseguiram relativo sucesso. "Eu mereceria estar nesse lugar, não é justo". São pontos em comum com Himmler, a frustração de um agrônomo no pós-guerra, sua formação de um clube exclusivo. Ele queria "subir na vida"e precisava da legitimação de uma perseguição moralista - assim como, guardadas as proporções, nossas corporações (algumas lideradas por messias bíblicos) precisam de pautas "direitos humanos contra corrupção". 


"No fim das contas, estamos falando de uma sociedade com uma noção muito enraizada de hierarquia, onde, de uma maneira ainda leve e superficial, a ordem social está passando por transformações. Óbvio que isso vai gerar uma reação... Há vozes estridentes incomodadas com o fato de que, agora, tem que dividir certos espaços (aeroportos, faculdades) com pessoas de origem mais humilde. Firme e forte é a mentalidade do: 'de que adianta ir a Paris para cruzar com o meu porteiro?”.

(Tim Vickery, BBC Brasil - 13/11/2015)

“Hoje qualquer miserável pode ter um carro”, diz um jornalista num dos telejornais de uma afiliada da TV Globo em Santa Catarina. (Conceição Lemes, Viomundo, 16/11/2010)

Toda a vez que pensamos que todos são parte do jogo, a mentalidade da exclusão opera: agora a direita odeia as "minorias". Diferencialismo como prevenção de ameaças e paranoia de controle baseado na inércia do conservadorismo, na objetificação e no discurso totalitário: anticomunismo, homofobia, antissemitismo, islamofobia, classismo, misoginia. 


Foucault analisou esse mecanismo de domínio do bem e caça ao a-normal - a perseguição de elementos de "desordem", seja o louco, o operário "imoral e revoltoso", o "pederasta doente" ou o "judeu que quer adulterar a revolução para o marxismo" - como, segundo Longerich (2008), escreve Himmler em carta.  (O povo judeu, tendo sido vítima de perseguição desde pelo menos os massacres do ano 1010 na Europa, quando surgia a fase expansionista da cristianização do mundo, aliando sentimento antijudaico à antiislâmico, tem instrumentos para perceber a estrutura totalitária – Richards, 1993). 



Agora, a programação-fluxo da TV (propaganda e conteúdo) cria o sentimento de “você não tem valor”, é um “zé ninguém” - depois é oferecido o modelo de vida do luxo, uma meta para organização do tempo. Segundo Kempf, essa comparação competitiva, procurando uma “diferença simbólica em relação às pessoas com quem vivemos”, estão mesmo fazendo com que a dilapidação da oligarquia sirva de exemplo a toda a sociedade. (Kempf, 2007)


O contágio de um ambiente em que ideias fascistas são incentivadas. 





*

A sociedade de controle precisa do pensamento de sub-cidadão (a produção é ser incluído) para a mitologia e o maquinário de opressão. Não se aplica a Convenção de Genebra nos conflitos coloniais. Lula não pode ser julgado pela Constituição. As "espécies inferiores sem o apoio das leis" (Ellis apud. Gilroy, 1993) podem ser sindicalistas ou russos. Intolerância com a ampliação da igualdade. O truque de fazer o “outro”não se sentir capaz, ou se sentir culpado por uma revolta justa, crer que é “ressentido”. 

Como mostram os economistas Yanis Varoufakis e Joseph Stiglitz, o povo não pode nem entender de Economia - o FED se vendeu sempre como "independente", (até o socorro trilionário aos bancos), a Economia suprema está em outra esfera que nunca a Política, que brinca de democracia. Os herdeiros que lucram com rentismo são sempre muito mais inteligentes. 


"A ONG acusou o governo inglês de 'agir como um braço de pressão da indústria de combustíveis fósseis". (Jornal do Brasil 20/11/2017)  


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O ódio do herdeiro que chama de “esquerdismo" toda demanda como forma de deslegitimá-la. Sua certeza prepotente.

O fascismo corporativo e o novo político showman que deixam a população sem serviços públicos e os torna fonte de renda privada. 


Fundamentalismo do sistema financeiro e corporações que quer se livrar do "intermediário" governo. O banco que impediu Clinton de fazer seu "É a economia, estúpido!" (dizem) e hoje é o comando no golpe do dólar. Quando ele começou?


João Pedro Stédile: “É revelador o grau de  de dependência que a humanidade começa a ter de algumas empresas que controlam a vida. Vira uma centralização que eles controlam tudo. A compra é um absurdo. A Bayer passa a controlar o mercado de adubos, insumos, fertilizantes, venenos agrícolas e sementes".


O caso mais dramático da vida como lucro é a privatização da saúde: não apenas o legislativo impede investimentos públicos como empresas terceirizadas ganham recursos (muitas vezes gastos em grande parte com "pessoal", uma forma de destinar verbas da saúde para a classe média), com poucos mecanismos de transparência e controle social, e sem foco na prevenção (menos lucrativa).

Além disso, o estresse da privação de recursos materiais pelo abandono gera mortes. Para o advogado Pedro Affonso Hartung, coordenador do programa Prioridade Absoluta do Instituto Alana, "...sem a política de restrição de gastos, nos próximos 12 anos poderiam ser evitadas 124 mil internações e 20 mil mortes de crianças até cinco anos de idade]". (Redação RBA - 17/07/2018)



O mercado imobiliário também considera um "mau exemplo" qualquer gasto com moradia. Afirma a urbanista Ermínia Maricato: "Na gestão municipal passada houve um cadastro chamado Geosampa e vimos que 1% dos proprietários detém 46% do valor dos imóveis na cidade. Esse cadastro mostrou que há juízes que possuem dezenas de imóveis na cidade e ainda têm auxílio moradia. A especulação imobiliária é que cria a exclusão". (Redação RBA - 03/05/2018)


Por que você ouviria se eles são tão diferentes de você e só querem roubar o que é seu ou será?

A forma política que fez com que, ao se retirar um Executivo progressista, tudo tenha ruído.  Trinta anos depois, o Congresso ainda é quase indiferente ao conjunto da população. 

A ponto de colocar veneno na comida. As pessoas desistem de votar. 
Legislativo autônomo.

(Lobby nos EUA movimenta US$ 3,3 bilhões - Liderando essas despesas no ano passado, as farmacêuticas despejaram US$ 234 milhões nessa finalidade...

Nesta categoria também estão lobbies tradicionais, como o conservador pró-Israel, que no ano passado desembolsou US$ 3,5 milhões... Os grupos a favor das armas de fogo gastaram US$ 6 milhões em lobby no ano passado, 25 vezes mais que os grupos a favor do controle delas.)

A mensagem é: não seja esquecível, ou será esquecido. Os lugares abandonados são habitados por pessoas abandonadas. Até serem "revitalizados".  Quando você não puder mais pagar, será descartado. 

Não gosto de ser alarmista, a não ser quando a situação exige alarme. 

*

Por acaso, olho páginas fora do meu círculo. SD, PHS, Pode, PRB, PRP, PEN, PSL... Os candidatos da "nova direita" que defende "a intervenção limitada do Estado na economia e a defesa radical dos valores cristãos e da família tradicional (direita religiosa)". (Carta Capital - 14/05/2017)

O “livre comércio” que produziu miséria econômica e indigência intelectual vê seu espaço roubado pela mentalidade de guerra, talvez o estado perfeito do capitalismo (planejamento da acumulação e exclusão contínua).

- "A mídia não é 'inocentezinha' quando faz a defesa engajada do desarmamento civil. Assim, como Hillary Clinton e Barack Obama, eles seguem a Agenda Globalista, algo comum aos maiores ditadores e facínoras da história humana, para te manter desarmado e suscetível ao arbítrio do mais forte. E, quem pode ser mais forte que um Estado tirano?"

- A receita do sucesso do candidato, é simples: evitar a política, apesar de ser político profissional. “Tenho fotos de flores com 180 mil curtidas. Se puser que o Lula ou o Temer não prestam, o povo não quer saber. O que eu busco é criar uma amizade com o eleitor”, justificou. Para chegar aos 7,6 milhões de seguidores ele recorre aos impulsionamentos, o pagamento para ampliar a veiculação de postagens nas redes sociais.

- "O deputado não terá qualquer dificuldade para demonstrar que não é racista... Foi exatamente o que fez no Clube Hebraica, ao defender que todos devem trabalhar para seu próprio sustento, inclusive quilombolas e indígenas, ao invés de serem sustentados pelo Estado.”


*

Que sistemas operam para que metade do Congresso não seja de mulheres, metade do Ministério não seja de mulheres e metade do salário seja das mulheres?


É mais fácil criar um heroísmo "conservador", ridicularizar o que ameaça seu sistema cristalizado de crenças. 

Por que o gay é uma afronta? O sonho patriarcal de que a mulher é frágil. William Summers, professor de Yale, no século XIX, usou esse conceito de extinção do mais "frágil" quando disse que só havia a opção entre liberdade com desigualdade ou estado opressor e sobrevivência do mais fraco. (Limonsic, 2009)


E o gay teria necessariamente que mudar de gênero, inverteria a hierarquia. Parece que a multiplicidade de masculinidades e o feminino homem é uma "perversão" do signo macho, cuja função é o controle, preservar a tradição e o patrimônio. O desejo fluído precisa ser eliminado através do objeto desejado. Perda de "status", quando até mesmo a biologia binária e funcionalista de Darwin parece contestada - vide a tese da bióloga Joan Roughgarden. 


O patriarcado é um sistema de pensamento que objetifica a mulher (ou aquele visto como mais frágil, destinado a obedecer): mas os homens são vistos como inimigos que lutam por espaço, recursos e mulheres. Por isso faz mal a homens e mulheres, vendo a todos como rivais. 



Talvez a lógica seja a agressão - expansão do "espaço vital" (para expandir é preciso unificação), uso, conquista, exploração (assédio significa também alguém que vai perder dinheiro/espaço se não aceitar se tornar objeto usável). Parece tão sagrada a missão do homem branco de ganhar seu dinheiro que qualquer crueldade é apenas "get your money".

Criando a professora de Direito que diz na TV que a "Bolívia é insignificante",  o empresário que fala em "países de merda" e o pastor político que acredita que os africanos sofrem de "uma maldição" (fazendo a população negra sem formação reprimir sua identidade). Isso chega ao cúmulo de criar histeria de medo contra todos os muçulmanos, aqueles que levaram a herança grega à Europa feudal. (Wolf comenta sobre o uso do feminismo como forma de fomentar a islamofobia - Wolf, 2014). 


Os povos escravizados, depois abandonados, agora perdem suas terras, como está ocorrendo na Colômbia, como explica Francia Márquez, uma ativista afro-colombiana, ganhadora do Prêmio Goldman de Meio Ambiente de 2018 :


"Nos últimos anos, o governo tem dado o nosso território concessões a grandes empresas transnacionais, como a AngloGold Ashanti, a Cosigo Resources, a Pan American Limited, mas também a pessoas de fora que solicitaram em 2009 uma licença de mineração e uma ordem de despejo para a nossa comunidade, que está no território desde 1636." (DemocracyNow, 12/05/2018)



Nenhum tipo de regulação para empresas predadoras que pagam salário de fome e usam agrotóxico. Leis antitrabalhadores.



Nenhum limite para os agressores verbais e físicos, nenhuma educação de gênero 

(educação significa autocontenção para ouvir o outro). Acordo nacional de impunidade com Supremo.

Sou forte, vendo vitória, posso fazer tudo "grande" de novo - sou forte porque ataco esse inimigo. 


Uma vez que ativos ("ações" são "ativos"; salários, que fazem viver pessoas, são "passivos") não fazem parte de comunidades, é o vale tudo por dinheiro. O lucro tóxico e o ouro sangrento são "sucesso".  No totalitarismo comercial, não há pensamentos independentes. 




"Temos um poder financeiro mundial com imensas corporações transnacionais, com um volume econômico que supera o de muitos países", diz o jurista argentino Eugenio Raúl Zaffaroni. "Isso está virando uma pulsão totalitária... o objetivo desses interesses é impor sociedades com 30% de incorporados e 70% de excluídos". (Sul 21 - 12/08/2018)

*
A urgência como tática de gestão dos oprimidos. 


Para que não se mude o status quo, viver em estado de crise com a angústia da sobrevivência, aliviada pelo impulso-consumo (você não vai querer mudar nada se está vendo sua cenoura logo lá apontada pelo marketing; e não vendo que ela se afasta). As pessoas falam de trabalho como de um "corre".
Quando a sobrevivência é ameaçada, se coloca o "eu na frente". Quando tenho pressa, não quero ninguém no meu caminho.


No nosso tempo está tudo nos livros. Mas ninguém mais tem tempo de ler livros. 



A grande mentira. Achar a informação correta exige oportunidade de formação intelectual, um meio social progressista ou plural e meios para adquirir instrumentos intelectuais. A ditadura nunca acabou porque os torturadores não foram punidos e a mídia nunca foi democratizada. O recontar e apagar da história (Jango é a principal vítima) se vê até mesmo na recente entrevista do ex-presidente argentino Fernando De la Rúa, que em 2001 teve de fugir de helicóptero depois de protestos contra medidas de abandono do FMI e o fato de os bancos proibirem os argentinos de sacar seu dinheiro. Ele declarara estado de sítio, sugerindo ao povo que ficasse em casa. (Naomi Klein - "Não basta dizer não", Bertrand do Brasil, 2017). Ele diz que "foi derrubado pelos peronistas". 

Melhor que a repressão, era a confusão. 

Depois de décadas de discurso de monopólio que cria outra lógica para conter a revolta, f
azer passar austeridade cruel, direcionar o medo para alvos políticos, de "saber científico" usando "autoridade" para criar oprimidos subservientes (quando o juiz Favreto divergiu, era um ato de "questionar a autoridade" da versão oficial), quando toda essa propaganda cai sobre uma população na qual metade dos adultos não tem ensino médio, não apenas surge uma mentira bio-política inquestionável como a fúria pode fugir ao plano neoliberal de terceirização do mundo.   


A opressão discursiva chegou à repressão física dos cultos afro-brasileiros, os vizinhos pedem ao juiz proibição de casas religiosas e os espaços públicos privatizados não aceitam os ritos ancestrais. 


A religião como organização de baixo-para-cima e forma de elevar a auto-estima, auto-consciência e a percepção da própria dignidade. As comunidades provavelmente desenvolveram formas de conter a insolência e a agressividade. Não parece acaso que Nietzsche (1844-1900), o gênio capaz de perceber a ascese como escravização, apontar o obedecer incondicionalmente como o "sentimento alemão" e abrir todo um novo campo de reflexões sobre a subjetividade da razão, não sendo um antissemita, tenha sido defensor da vontade de poder como valor máximo, com seu "além-do-homem" com instintos não limitados, e desprezado a solidariedade como "moral dos escravos" (sintoma de um tempo de senhores da indústria alemã nascente?) 


Se é libertador perceber o jogo de inferiorização que existe na atribuição de uma verdade fixa baseada em certo e errado, sem espaço para a subjetividade da autoridade, a "lei do mais forte" parece contrariar o que hoje sabemos ter sido essencial para a sobrevivência desse ser frágil num mundo de animais ferozes: a cooperação. 


Não é por acaso que nossa elite classe média (que nasceu em ambiente marcado por tanto desprezo sedimentado, racismo e parasitismo econômico) tem o filósofo como uma revolução alternativa a serviços públicos de qualidade - apresentando mesmo o grande metafísico como o grande democrata. 


É claro que, na sua estante, Hitler tinha livros com frases assim: 


"A diminuição dos instintos hostis e que despertam desconfiança... representa apenas uma das consequências da perda de vitalidade"... (Crepúsculo dos Ídolos - 1888)

"O homem livre é não-ético, porque em tudo quer depender de si e não de uma tradição". (Sobre os preconceitos morais - 1880)
"Há fantasistas políticos e sociais que com fogo e eloquência exortam a uma subversão de todas as ordens... O socialismo é o fantasioso irmão mais jovem do quase decrépito despotismo..." (Humano, demasiado Humano, 1878)

É preciso lembrar que Nietzsche nunca viu o Holocausto nem as bombas no Japão. 


Quem sabe a Alemanha tão Iluminada, com tanta ciência e amor aos clássicos, não tenha sido vítima do fascismo justamente por saber demais. Quem sabe uma razão-opressão (e não uma linguagem que nos reúne) ou que se foca demais nos bosques e no "puro perceber", no libertador que "tem que ser violento", no olhar como "posse direta" do ente", no "automanifestar-se", no "povo sem espaço", como a de Heidegger, destruidor da escolástica, chegue a isso: "é preciso estar do lado dos nazistas e de Hitler". (IUH, 18/10/2016; Berti, 1997) Heidegger achava que, no nosso tempo, "o sagrado se perde", o trágico dessa ausência de Deus é que "nem sequer se pode sentir a falta de Deus como uma falta". (Minois, p. 673) No entreguerras da França, a obra husserliana será lida através do seu "o sentido do ser é o tempo" (Safranski, 2000) - o que pode levar, segundo Roudinesco, à "rejeição dos valores da democracia, em nome de um retorno às raízes originárias do ser". (Roudinesco, 2008, p. 129) Ele se desiludiu, mas não a ponto de arrepender-se. "O que até agora existiu é refutado pela obra em sua realidade exclusiva". (Safranski, idem) Como, provavelmente, a "evidência" também é uma metafísica, - e juntos podemos, talvez, ter uma verdade mais coerente - sem o marcador da justiça (um pensar-ético?) pode nascer uma razão perversa. 

*


Os povos tradicionais admiravam a regularidade da natureza e sabiam respeitar suas forças, mas o homem moderno pensa controlar o mundo.

No Egito dos faraós, Maat é uma deusa que representa ordem cósmica e ética que sustenta o mundo; o cosmos é um processo não um estado.

Maat era um princípio superior à lei que unificava o rei e o camponês – obrigava proteção aos fracos, e condenava o vício da ganância (“cupidez do coração “). Essa ordem global do mundo ao mesmo tempo recomenda ao governante que providencie “mantimentos e vestiário para todos” e critica a insensibilidade do funcionário corrupto - “não há festa para o ganancioso” dizia um discurso de sabedoria.


Quem diminui a mentira e fomenta a verdade (maat),
quem fomenta o bem e afasta o mal,
como a sociedade mata a fome,
vestido cobre a nudez,
como o céu está sereno depois da tempstade brava,
de modo a aquecer os que tem frio,
como fogo coze os alimentos crus,
como água apaga a sede.
(Carreira, 1994)



O povo hebreu também absorveu esse conceito na figura da Sabedoria, “pessoa e princípio”, por exemplo em “Provérbios” (p. 90) O twahid (unidade divina) dos muçulmanos também dizia respeito a essa unidade do mundo humano e divino, interior e exterior, que deveria refletir a justiça de Deus, com respeito à comunidade, evitando que os irmãos brigassem entre si ou vivessem na opressão. A própria jihad (luta) diz respeito a um esforço interior para corrigir os maus hábitos. (Armstrong, 2001)

Se Lutero (1483 -1546) libertou a comunidade de uma hierarquia, do academicismo e devoção exteriorizada medieval (exige do papado a renúncia a exigência de dominar o mundo e centra a autoridade na Bíblia), como decorrência colocou as obras em segundo lugar e tornou também o mundo um lugar manipulável.

Para Aristóteles, a natureza é  "o animado". Santo Agostinho (354 - 430)  lembra, em suas "Confissões", de um Deus que enche "o céu e a terra" e a linguagem aristotélica de ato e potência, forma e matéria, substância e acidente cede lugar a categorias pessoais como Deus misericordioso, homem pecador, fé, confiança), fronteira livre para a ciência, desprovido do valor intrínseco de reverência (como forças de vida) (Küng, 2002) Como aponta Weber: "O mundo existe para servir a glorificação de Deus e só para esse propósito". (2002, p. 85)

Em 1563 o protestante Pierre Viret escreve que, para os deístas, "somente existe um Deus que criou talvez o mundo, mas desde então ele é indiferente". (Minois, 156)

Se no centro do protestantismo (também complexo, variado e contraditório) está uma convicção igualitária, já que o elemento fundamental da sociedade é o indivíduo e o que torna alguém um individuo pode ser encontrado de modo igual em todos, seu duplo sombrio é a ideia de que é preciso um centro de controle, a razão, na jornada de transformar todos em personalidades éticas com motivos morais constantes e técnicas de auto-regulação - porque o rico parece estar predestinado ao céu (Leites, 1986). Controlar a sexualidade - essa força móvel que se esconde e apresenta ao redor da consciência, se espelha na mulher-desejo.

Os povos mais ligados à terra tem outra relação com a religiosidade e o gênero. Na Grécia pré-homérica, por exemplo, há o culto das cavernas - como em Eleutia, uma deusa - nas quais se encontra a água, uma forma de contato com poderes misteriosos; na iconografia minóica, a atividade cultural se dava por meio da dança e procissão: nos afrescos, mulheres seguem em procissão até a deusa. (Burkert, 1993). A deusa Justiça (Dike) estava pronta para denunciar ao pai Zeus, protetor da sociedade, qualquer "basileus" que aceitasse propina, e ele puniria a cidade com a peste, fome e desastre. (Armstrong, 2008) 

Importante pensar no papel das mulheres na religião de matriz africana e na religiosidade indígena. As atividades da coleta e do artesanato eram femininas. 


Um mito dos tupis da Amazônia pode revelar o papel das mulheres na sociedade indígena: "Após ter criado a primeira mulher – nenhuma variação do mito faz menção ao seu nome – (Mahyra) construiu uma casa e plantou toda uma roça de milho. No dia seguinte, ordenou que a mulher fosse colher o milho". (Laraia, 2005) A mulher se nega e ele abandona a casa. Assim, seus filhos vão continuar sua obra de civilização. A castigo dessa Eva é ter filhos mortais. 

Quando surgem a criação de gado bovino e a agricultura, o que vai distinguir a aristocracia do cidadão comum é a posse da terra. Na Antiga Roma os soldados podiam ganhar terras como recompensas de seus superiores. Homens livres supervisionavam os escravos que produziam. A mulher será a filha, a esposa - "guardiã das chaves do lar" para os romanos. "Leal e verdadeira, prudente e  fiel, essa eram as palavras que descreviam Penélope, a esposa ideal". (Yalom, 2002). 


É claro que a religião (com sua visão de valor transcendente) pode ser também uma forma de valorização e preservação da vida e freio à polarização que coloca diferentes do lado do inimigo. O rabino Hilel, pensador do século I d.C., dizia: "Se eu for só por mim, o que seria?". Ele também pedia que as pessoas ficasse com a comunidade - "nunca julgue seu semelhante antes de passar pela situação em que ele se encontra". (Butler, 2017/ Bonder, 2017) O conceito chinês de "li" está ligado também ao refrear do ego e moderação. (Armstrong, 2008)


Quando a peça de Jo Clifford, dramaturga escocesa, que coloca Jesus como uma mulher trans, colocando em novo contexto as parábolas sobre compaixão, foi proibida em Curitiba, a Paróquia São Lucas de Londrina, da Igreja Anglicana fez uma nota pública: 


"A peça demonstra cenicamente o melhor da Teologia Cristã ao reivindicar a Encarnação do Cristo frente às dores deste mundo, frente as rejeições, exclusões, julgamentos e assassinatos de pessoas homossexuais, bissexuais e transgêneros, pelo simples fato de sua sexualidade". (Diocese Anglicana do Paraná 01/09/2016)


A Igreja Anglicana publicou um guia contra o bullying por orientação sexual destinado aos professores de suas 4.700 escolas, na qual orienta que "os meninos devem se sentir livres para escolher usar roupas geralmente associadas ao sexo oposto, como uma saia de balé, uma tiara ou saltos, e as meninas, cintos de ferramentas e capas de super-heróis". (El País - 11/2017)



A religiosidade de tom medieval retorna no século XIX. A "ideologia das esferas distintas e da domesticidade" prevalesse. A mulher escravizada está sujeita a todo tipo de assédio e ao estupro. (Yalom, 2002). 

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Quase 500 anos depois, se verá a condenação do homem pobre em variações contemporâneas do protestantismo. 

Para Edin Sued, sociólogo da religião da PUC-SP, na teologia da prosperidade, surgida nos Estados Unidos nos anos 1930, “se você foi fiel, dando dinheiro e tendo um comportamento respeitável, tem o direito de cobrar Dele as promessas de um retorno material”. (Taís Laporta IG economia - 16/08/2016)


Samuel Compers, da "American Federation of Labor", fundada em 1886, tinha a mesma opinião que o magnata J.P. Morgan: as grande companhias eram "um avanço sobre empresas pequenas e destrutivamente competitivas". Roosevelt teve de quebrar inclusive o paradigma da Suprema Corte ao se opor aos monopólios. Mais que "monumentos vergonhosos do banditismo em larga escala, as grandes empresas eram, para os darwinistas sociais, uma ordem mais elevada das conquistas humanas, como as catedrais da Idade Média". (Morris, 2006)


Afirma o Pastor Ariovaldo Ramos, da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito: "Os cristãos que se tornaram ricos... sempre foram muito incomodados pela Bíblia. Eram sempre cobrados... Por que você não é mais solidário? Finalmente chegou a teologia que os abraça, a teologia da prosperidade... Calvino via a prosperidade como um sinal da eleição divina. Mas eles levam isso às últimas consequências". (Fórum Onze e Meia - 23/07/2008) 

Dez membros do gabinete de Trump participam de um grupo de oração com reuniões duram de 60 a 90 minutos guiado por Ralph Drollinger, um ex-jogador de basquete. Entre suas posições conservadoras, estão a de que "as escrituras não apoiam o comunismo", e seus desejos de "fazer discípulos de Jesus Cristo na arena política em todo o mundo".
(BBC - 10/04/2018)

O coração do constitucionalismo na França foi a necessidade de se aceitar várias religiões num mesmo estado. 

Essa involução fica ainda mais perigosa quando o Philip Alston, coordenador de um relatório da ONU sobre a fome, afirma que: “A política adotada ao longo do último ano parece destinada a acabar, deliberadamente, com as proteções fundamentais destinadas aos mais pobres, punir os que não têm emprego e até transformar em privilégio o acesso a serviços básicos de saúde” (RFI - 02/06/2018)

Nós vemos um homem branco fundamentalista armado (também através de polícias, guerras e ocupações) se pensarmos no financiamento da indústria de armas a Trump e em suas ideias de mudar leis, num pais que teve mais de 300 tiroteios em escolas nos últimos cinco anos. Dos 435 representantes eleitos, foram 215 congressistas republicanos, de 240, que receberam dinheiro da NRA (National Rifle Association): 3.534.294 dólares (Esquerda.net – 03/10/2017). 

Tanto o fundamentalismo como projeto de poder ("derrotar essas abortistas" como diria o deputado Malafaia) quanto o individualismo sem voto nascem desse ambiente.


...esses indivíduos (adultos norte-americanos membros de seitas) são alienados por participarem de grupos que demandam absoluta lealdade e uma distância maior do mundo que os cerca. Grupos religiosos fervorosos, dogmáticos, com uma dinâmica interna exclusivista, tendem a minimizar a participação de seus membros em outras áreas da sociedade civil... grupos que se caracterizam por uma hostilidade maior à cultura dominante, que mantêm uma ideologia religiosa voltada para o mundo do além, e que possuem uma liderança carismática, têm constantemente levado seus filiados a se alienarem culturalmente dos padrões e valores de vida da população norte-americana. (Cavalcanti, 1998).



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De alguma forma tudo isso tem a ver com as ideias de Thomas Malthus (1766-1834), "pai científico" de Charles Darwin. 
No século XVIII, a melhoria da qualidade de vida fez com que a população dobrasse - cidades como Manchester cresceram 10 vezes.
O século é palco do debate entre mercantilistas, que desejavam uma população maior ganhando pouco para criar produtos nas fábricas, e os fisiocratas - fisiocracia significa “governo da natureza” - que prefeririam uma população reduzida, valorizavam a agricultura e defendiam ausência de regulação.

A partir de várias observações (como a da miséria das crianças de classe pobre) Malthus chega à conclusão de que "a população vai sempre aumentar mais rápido do que o suprimento de comida". 

Ele pretendeu revisar, a partir de leis imutáveis (seu estudo de Newton em Cambridge) as teorias de William Godwin (1756-1836) e Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778) de que são a cultura e a política as causa da desigualdade, argumentando que ela sempre existiu (é natural, como me disse uma mulher branca rica) e existe uma causa ecológica por trás disso. (Malthusianism, Melvyn Bragg - BBC - In Our Time - 26/06/2011)

Um sistema que foca nos "poucos", baseado no acúmulo de riquezas com a renda da terra dos latifundiários.

Mandeville, que publicou no século XVIII um tratado ("A fábula das abelhas"), no qual afirma que "a sociedade tinha uma necessidade desesperada de pessoas pobres, e quanto mais pobres melhor, pois assim demandariam menos em bens e serviços, deixando mais para os ricos", influenciou Marx sobre a necessidade de uma população ignorante e desesperada para o sistema de acumulação. (Harvey, 2013)

No século XVIII, segundo Foucault, surge o estudo da delinquência pela análise em termos de economia política.  
A vagabundagem é uma contrassociedade, um tipo de existência comum, um não estar fixado à terra, não estar determinado por um trabalho. Os fisiocratas fixam o papel da delinquência "em relação aos mecanismos e processos de produção... enquanto definem os delinquêntes (pelo ângulo da) produção, também o caracterizam como inimigo da sociedade. (Foucault, 2015). 


Ainda em 1870, Rimbaud será preso como vagabundo por viajar sem dinheiro. Sua vida adulta, fugindo da mãe carola e repressora, seria "em constante movimento". Ele pensa que os órfãos são mais felizes, porque seriam "novos em folha, sem princípios, sem noções, já que tudo que nos ensinam é falso!" (White, 2010)

Comenta José Eustáquio Diniz Alves, Doutor em demografia:

"O princípio de população malthusiano... foi elaborado para justificar a permanência do salário de subsistência e a renda da terra dos latifundiários.... Malthus era contra o “planejamento familiar”... Como pastor anglicano, também era contra a esterilização e o aborto. Só aceitou, numa segunda versão do Ensaio e depois das críticas que recebeu, o adiamento do casamento (monogâmico e heterossexual) como “freio preventivo” do crescimento demográfico. (EcoDebate - 29/08/2014) 

O controle da população se daria pela fome, guerras e doenças. Mas, por fim, população não cresceu como ele havia previsto. 

Ao contrário, é o "desenvolvimento econômico" que ameaça a vida na terra. "Sem dúvida, Malthus estava errado.... (mas) se a dinâmica demográfica e econômica continuar sufocando a dinâmica biológica e ecológica a civilização caminhará para o abismo e o suicídio", afirma Alves. 

Além disso, se provou que a desigualdade é um projeto. 

“Os sujeitos que produzem mais alimentos são os que possuem menos terra (geralmente terras menos favorecidas do ponto de vista da fertilidade, acesso à água, localização geográfica, etc.) e são menos assistidos pelo Estado... Aqueles que detêm a maior parte das terras não são os maiores produtores de comida, porém são os que recebem a maior fatia dos recursos para financiamento. Ao contrário, os que possuem a menor porção das terras são os que mais produzem, contudo recebem bem menos financiamentos para produção”. (Inês Castilho, De Olho nos Ruralistas, 06/02/2017) 


Soma-se a isso o fato de que, conforme argumenta o geógrafo Ariovaldo Umbelino, metade dos documentos de posse de terra no Brasil é ilegal, são as propriedades que utilizam "terras retiradas do patrimônio público ilegalmente, os famosos casos de grilagem". (Marcella Lourenzetto — Carta Capital, 20/06/2013)

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O isolamento do projeto urbanístico cria solidão. O capitalismo como conjunto de metas do novo mundo. 


Solidariedade faria todos crescerem. Mas o militarismo possibilita governar sem povo. 


Sem a maioria do povo. Planejamento da exclusão. A população negra foi sempre segregada. Como continuar com a escravidão depois da abolição? As habitações sem hospitais, escolas, áreas de lazer. Universidade e saúde são nos centros. O investimento público virou pecado. O jovem negro aparece na TV como perigoso; depois a guerra contra o negro o mata. O salário é miserável. Juízes brancos julgam racismo com pessoas negras.


"A Justiça determinou que o estado deverá deixar de usar armas de fogo, balas de borracha e gás lacrimogêneo com cidadãos que estiverem exercendo seu livre direito à manifestação. 'O elemento que causou a violência nos protestos foi o despreparo da Polícia Militar”, disse o juiz. (RBA - 20/10/2016)


Número de mortos por policiais é o maior em 22 anos - Somente na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), entre 2011 e 2017, a letalidade policial aumentou 96% (UOL - 01/02/2018)



No século XIX, na Europa, Rimbaud tinha dificuldade em achar livros porque não havia bibliotecas públicas - a Igreja condenou até Victor Hugo. Em São Paulo, com 31 subprefeituras, analisando o número de livros disponíveis em acervos de bibliotecas públicas por habitante com 15 anos ou mais, o fator de desigualdade entre os melhores e piores indicadores- é de 1078 vezes: 10 na subprefeitura da Sé e zero em São Mateus (Nossa São Paulo - 01/2009). 


"Me deram um soco e o dente deslocou-se e apodreceu. Tomava de vez em quando Novalgina em gotas para passar a dor". (Huffpost Brasil) Essa mulher foi retirada da presidência anos depois após uma campanha de difamação em capas de jornal, na televisão e na internet.

 “O Lula será apresentado como ‘não-leitor’”... Em relação à Dilma, 'vemos o eco da forma de descrição estigmatizada do perfil feminino de mulheres leitoras de romances”, afirma a pesquisadora Luzmara Curcino, professora da Universidade Federal de São Carlos, que analisou a representações dos presidentes na mídia brasileira. (RFI Brasil - 09/01/2018)


O lento, o hiperativo, o que não produz acumulação - os idosos, as crianças e as pessoas com deficiência são as mais afetadas por esse meme ideológico de "fraco é um peso".
O idoso pobre busca no lixo sua comida.

Parece que tudo que importa à pequena elite é mercado financeiro, e deixa-se o país ao crime e fundamentalismo religioso. Existe o negócio Gzus e o Banco de Notícias.


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"Segundo o gerente de Varejo da AC Nielsen, Olegário Araújo, o Brasil se destaca pela preocupação com a aparência, em comparação com outros países.
- Isso acontece muito porque a aparência faz parte do processo seletivo. A vaidade faz parte da busca da vaga no mercado de trabalho - avalia."
(Ione Luques, O Globo On line - 29/11/2007)

"Além da cor da pele, ser mulher, a idade, peso, tipo de cabelo, piercing e tatuagem também estão entre os itens eliminatórios de um processo seletivo. 'Além de presumirem que por ter tatuagem e por pintar o cabelo com cores incomuns eu usava drogas, já passei por situações de assédio." - Dani Krugets, empreendedora de nail art. (Empresa Dino, Terra, 24/11/2017)

O padrão de fazer você se sentir mal com o que você é pode ser uma forma de tirar mulheres poderosas do jogo. 

Depois da Segunda Guerra, comenta Naomi Wolf, quando o mercado de trabalho precisava ser ocupado pelos jovens soldados, as capas de revista incentivavam a mulher a voltar pra casa. (Wolf – 2014)

"Para seu próprio bem". Hoover, quando não estava cuidando do FBI, escrevia livros sobre a "ameaça à felicidade" (desejo) e "à segurança" (medo) da mentalidade comunista (Ehrenreich e English, 2003). 

O cinema operava para desenhar um plano de posicionamento do outro: humanóides alienígenas comunistas (medo do povo - controle político) e o casal constituído de mocinha e jovem corajoso e cientista (medo da mulher - controle de gênero). 

A vida privada deveria substituir a arena pública e o coletivo. Porque, como sempre queremos ser aceitos, odiamos ser divergentes, queremos seguir o que é comum e "certo". "Pelo bem das crianças, os pais tinham seus empregos, descansavam nos fins de semana e faziam amor depois que os filhos iam pra cama". (idem)

Para as autoras, quando, na Guerra da Coreia, os jovens pareceram se render, desistir ou roubar (quase 7 mil deles foram aprisionados pela Coreia do Norte e a China), a culpa foi colocada da sua incapacidade de obedecer; a obediência como dispositivo de aumento de poder. 

Todo uma rede de educadores, grupos de estudo e especialistas pensaram em "valores positivos", assim como a "cruzada de fé" se aliava aos mísseis em nome do medo de perder o mundo livre; a criança deveria "aceitar limites", não poderia "fazer o que quisesse". (idem)

Em 1965, quando a pílula deu à mulher a possibilidade de parar de pensar na reprodução e obter mais liberdade, surge "o ideal Twiggy", mulher-modelo sempre preocupada com algo trivial. 

Segundo Wolf, a mulher deixa de ser o útero produtor de herdeiros para se tornar consumidora vítima na autoconstrução permanente como objeto sexual (ideal político da magra, sem rugas e, claro, criadora da casa perfeita).

Quanto mais próximo as mulheres chegam do poder, mais forte opera o mito da beleza, desenvolvendo a insegurança sexual: "Você pode ser séria ou sexual, mas não ambas as coisas". 
Todo um imaginário sobre o que é perfeição sexual diz o que devem pensar as mulheres: homens no Congresso, no  Parlamento, como políticos; mulheres como modelos e atrizes. (Dilma sofreu esse assédio). 

Uma mulher mais velha pode desaparecer da TV. A política do desejo opera como censura. "A indústrias manipulam mostrando que sua carreira, sua sexualidade, sua visibilidade no planeta depende desses estereótipos", ela diz. De modo geral, ao invés de buscar o direito ao trabalho digno e evitar o assassinato de pessoas trans ("Brasil lidera ranking mundial de países com mais registros de assassinatos de transexuais e travestis. Em oito anos, foram contabilizadas 868 mortes - Thaís Cunha - Correio Braziliense) os mitos da beleza e da eficiência criam uma culpabilização do diferente, uma exclusão - ninguém quer ser "feio" e "pobre".   

É evidente que as mulheres não são robôs programáveis e que a própria denúncia faz o sistema se reorganizar.
O sistema tem de conviver com o avanço já conquistado, mas na nova "ideologia psicológica", "a criança passou a ser um obstáculo à sua liberdade". A negação dos vínculos, um realismo sombrio do tipo "aprenda a lutar e conquistar o que é seu", o ideal da "psicologia de mercado". (Ehrenreich e English, 2003). 

Na minha dissertação de mestrado, trabalhei o conceito de bio-poder-corporativo midiático:


"As corporações do Norte altamente concentradas, através da publicidade, patrocínio, lobby e notícias, vinculam a ideologia do consumo (valores, normas, objetivos, julgamentos, desejos, senso comum)... A criação da subjetividade pela mídia corporativa, aliada a educação tecnicista, cria um exército de esquerdistas do discurso, clones competitivos MBA´s, patricinhas alternativas alienadas e socialites consumistas esotéricas". (Lima, 2002) 

Parece que a objetificação também se dá pela organização do tempo em função de metas de consumo, uma espécie de endomarketing. Para se ter "beleza" é preciso dinheiro: as pessoas que podiam se desenvolver livremente como indivíduos, ativistas em suas comunidades, estudantes brilhantes ou profissionais que dão duro, precisam focar no dinheiro porque sabem que seu sucesso será medido pela capacidade de se "apresentar na vitrine" do mundo (Wolf): "ser mulher é ser sexy". Pode ser que você se torne uma executiva, mas quem sabe viesse a questionar o modo como os recursos são geridos e os valores do sistema? Para a senadora Gleise Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, "a direita quer apenas democracia formal do voto, mas sem mudança nas regras econômicas". (2017)


Não significa que o diálogo interno não ocorra, mas podemos especular se, num ambiente dominado por "confrontos ridículos" que estão "limitados a espaços uniformes" (Debord apud. Halimi, 1998), a eliminação da reivindicação pode ocorrer pela criação de um espaço público "campanha de pureza", censura corporativa e moral pelo consenso prévio - "esquerdistas mentem!", "você está perdendo tempo". 

Os memes ideológicos colonizam sua mente, seduzem continuamente pra um posicionamento de exclusão. 
Como é uma sociedade que valoriza muito a hierarquia social, há a insegurança adicional de ser julgada por homens maduros. Mesmo assim, as grandes mudanças, tanto no mundo das empresas, quanto na organização das comunidades e na revolução das ideias, têm sido feitas por poderosas mulheres. 

Mas podemos imaginar se já não vivemos numa teocracia republicana quando lemos coisas do tipo:


A Câmara Municipal de São Paulo aprovou o Plano Municipal de Educação (PME) excluindo ações de combate à discriminação de gênero e orientação sexual. Qualquer menção à questão de gênero foi excluída do texto por pressão de grupos católicos e evangélicos, que afirmam tratar-se de uma questão ideológica, e que a intromissão do poder público poderia estimular a homossexualidade entre crianças e jovens (...) Segundo Juliana, o lobby religioso se utilizou de boatos e inverdades, afirmando por exemplo que, caso a discussão de gênero fosse incluída no PME, culminaria com a extinção de banheiros masculinos e femininos, nas escolas. 

"A sociedade está cada vez mais colocando o ódio e o preconceito para fora', diz a vereadora, que conta ouvir 'em alto e bom tom', nos corredores e elevadores da própria Câmara Municipal, manifestações homofóbicas – que a inclusão da discussão de gênero no PME ajudaria a combater. 

(RBA - 26/08/2015)


Agora, é o homem que é aprisionado no mito da beleza (saia do trabalho e vá para a academia ou não será um objeto sexual adequado). Ouça seu funk proibidão e não se meta em política. 

E as crianças são robotizadas pelo consumo e entretenimento. Quem sabe o que podem imaginar se forem valorizadas e livres? 

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Esse homem branco rico ofendido por não poder ser agressivo, criado na ilha de riqueza sem oportunidade de ser questionado, não tem intuição ética e percepção de injustiça que fazem criticar senso comum herdado. O "medo da esquerda" serve como impossibilidade de conhecimento, exclusão de causas progressistas e leva ao uso do fascismo como explicação rápida, denúncia do grupo vítima. 


Tanto a guerra civil contínua da reativação dos fragmentos estagnados do poder de Foucault, quanto a comunidade de pensadores debatendo a melhor alternativa de Adam Smith e da Declaração de Independência dos Estados Unidos - "esfera pública definida pela palavra impressa", como diz Al Gore (2008) - cedem espaço para o medo e a defesa do ataque. 


Minha vida é boa, mudar é ruim (mas, como justiça é paz, esse pensamento é um erro). O eleitor da Bavária e aquele que se sentiu ofendido pela energia limpa de Obama têm em comum o medo à mudança. A verdade é a coerência com o todo. Reforçando sua crença sem diálogo, chega-se ao mal. 

Vivem no mundo pós-Muro. No mundo da "classe Davos", super-ricos que decidem o mundo na torre de marfim, seus acordos internacionais capazes de processar governos por “receita perdida”, ainda que tenha sido uma revolta contra a água privatizada como foi feito contra a Bolívia. 

"Grandes corporações como ExxonMobil e MasterCard já financiaram a Atlas. Mas o grupo também atrai grandes figuras do libertarianismo, como as fundações do investidor John Templeton e dos irmãos bilionários Charles e David Koch, que cobriam a Atlas e seus parceiros de generosas e frequentes doações. 


'O Instituto de Assuntos Econômicos – (IEA) possibilitou o governo de Margaret Thatcher – Da mesma forma, o desenvolvimento desse tipo de pensamento nos EUA possibilitou o a implementação das políticas de Ronald Reagan”, disse Milton Friedman uma vez. (Lee Fang, The Intercept, ago 2017) 


Aqui, temos uma série de Harvardos: a procuradora-geral é mestre em direito pela Universidade de Harvard; o juiz supremo cursou o programa de instrução de advogados da Harvard Law School; 

O promotor convicto é da Igreja Batista, com mestrado em direito em Harvard. 

Existe o "Center for International Private Interprise (CIPE)" e outras forças da hegemonia neoliberal. (Minella, 2009)  



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O sentimento de ser elite, superego de dominação, elimina a intuição: é meme do crime, a vontade de resolver pela força, a culpabilização automática, de uma herança feita de sonhos de esterilização em massa e linchamentos. "Crianças negras são muito mais castigadas..." - diz Maristela Rosa, uma youtuber negra. 


Essa mesma minoria dona do discurso ainda detém os meios de violência do Estado e sua ciência jurídica - com a diferença de que, com a crítica do colonialismo e horror gerado na Segunda Guerra, a linguagem que cria a opinião pública (sendo tão caro o acesso à educação) é a primeira opção. Ela criminaliza. É a diferença entre militar e judicial, repressão física e mental. O poder produtivo do não-dito. 

Para Luis Nassif, os recentes eventos "comprovam que um dos pontos centrais da crise brasileira é a ausência de figuras públicas referenciais. Não existe a figura pública que se guia por princípios, pela obediência à doutrina. A onda obscurantista abriu espaço para três tipos daninhos de caráteres públicos: a) Os espertos b) Os medrosos c) Os convictos."


Eugênio Aragão: "Quanto mais se exibem as entranhas desse poder, mais truculento esse poder vai ficando. Como pra ele o voto popular não vale nada, ele tem que se apegar na sua 'autoridade'; toda tentativa de desnudar-lo é um desafio a sua autoridade... O que a corporação quer é continuar no topo da cadeia alimentar do serviço público". 

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Continuamente a TV fala da "insegurança", essa que o fascismo promete resolver dando milhões de armas para os cidadãos. O medo do outro como arma da opressão, a ideia de que não haverá grande fortuna e corporação vigiada por todos os outros, mas dividismo – “o sul é meu país”, “pardos versus negros”, “gays versus trans”, "centro versus periferia", “gays versus mulheres”. (
Isso é muito diferente da diversidade de singularidades necessária a qualquer processo democrático.) 


Começa a circular nas redes orgulhosamente "conservadoras" de jovens o "gay de direita" -

"- Não usava a sexualidade para ganhar votos!
- Não se fazia de vitima!
- Queria a igualdade a todos!"

Belgas aplicaram a teoria das raças para usar os tutsis contra os hutus, que antes conviviam em relativa harmonia. 

Ameya Pawar, vereador da cidade de Chicago: “Você sabe, os britânicos colocam hindus e muçulmanos uns contra os outros... De uma perspectiva de raça e de classe, deve-se levar em conta que 66% dos caminhoneiros são homens brancos de meia idade... Então, se você os deixar sem trabalho e não fizer nenhum investimento em novos empregos ou em um sistema social de suporte para que eles façam a transição de um emprego para outro, essas divisões raciais, geográficas e de classe vão crescer.” (Zaid Jilani, The Intercept, 09/07/2018)

A democracia (uma palavra levemente nostálgica na distopia capitalista que se tornou o Brasil, o país da agiotagem e do paraíso fiscal) está ameaçada. 

Eleições que se tornam pantomima. 

Sistema anti-população. 
A aceitação popular da classe política foi substituída pela classe judiciária não-eleita de filhos que tinham dinheiro para estudar, como diz Aragão. 
O perigo da rebelião bolchevique parece distante. A miséria, que gerou o fascismo nos anos 1930, também.
O desmonte da democracia propicia a acumulação selvagem. São décadas de uma cultura de lucros irresponsáveis e corporações imorais sem rosto. 

Quando  Brizola - que foi governador do Rio Grande do Sul entre 1958 e 1962, quando construiu 6.300 escolas com o lema “Nenhum município sem escola” -  foi atacado sistematicamente pela grande TV (o dono da emissora havia dito para que fizesse "umas escolinhas"), mesmo tendo feito no Rio de Janeiro 508 Cieps, com "alimentação, cultura e cidadania",  preparava-se o golpe com Dilma em 2016. (Erthal, Tijolaço, 1/11/2015)

Ninguém deveria ter tamanho poder de mobilizar as massas contra aqueles que quer destruir. 

Investimento é dívida produtiva e pode criar desenvolvimento, mas enfraquece os títulos dos investidores. 


Stiglitz: “Pode-se cortar o dinheiro que se gasta na guerra do Afeganistão. Pode-ser cortar várias centenas de bilhões de dólares desperdiçados no setor militar. Podem se reduzir os subsídios ao petróleo. Há muitas coisas que podem ser cortadas. E é preciso aumentar o gasto em outras áreas como a pesquisa e o desenvolvimento, a infraestrutura e a educação, todas elas áreas nas quais o governo pode obter uma boa rentabilidade de seus investimentos”. (Carta Maior, 19/06/2010)

Agora o deputado fascista declarou que a TV “defende bandidos”. Outro também criticou teledramaturgia.

Pode parecer, às vezes, apenas um fundamentalismo religioso cristão que vai dominar o corpo das mulheres e expandir o modelo de submissão pela ambição empresarial do pobre. 


Existe luta e existe a maioria que quer apenas ser Beyoncé; política do desejo e foraclusão da democracia também pelo poder que a marca dá - é um clube. 


Mano Brown: "No governo Lula, a pessoa comprou um carro, uma moto, um celular caro, agora ela quer trancar tudo com um cadeado e colocar a polícia na porta para defender. Eu converso com as pessoas nas ruas. Tem quem diga que não leva o filho no CEU (Centro Educacional Unificado) porque é onde estão as 'piores crianças'. É a mentalidade elitista do brasileiro." (Rádio Brasil Atual - 12/12/2017)


Esther Solano, socióloga da Universidade Federal de São Paulo, estudou a necessidade de ordem e estabilidade num mundo sentido como assustador, a incapacidade de ver o outro como fonte de riqueza e seu pânico que se torna ódio":

"Pessoas que têm dificuldade em entender o mundo e sentem-se ameaçadas pelo avanço de direitos de mulheres, negros, imigrantes. Essa sensação é muito bem manipulada por políticos populistas que propõem 'soluções fáceis', porém equivocadas". (Justificando - 12/12/2017; TV 247 - 26/07/2018) 

O espaço público apropriado está representado na nova TV Pública de SP: um show de horrores estilo Fox News. O inimigo não deve abrir a boca. 


Depois de ditaduras ferozes, a América Indígena parece viver um ciclo de criação de crise e violência repressiva (a "doutrina de choque" de Klein).

 "É assim mesmo" - a sociedade repressiva vive do normal - para perceber o meio repressivo em que se está imerso é preciso distância - soft imperialismo e bio-poder midiático-corporativo. 

O Judiciário parece ser o dispositivo muito bem pago pelo 0,1% mais rico - que ganha em um mês o mesmo que quem recebe salário mínimo ganha em 19 anos (Oxfam) - para operar o acúmulo de patrimônio e o sistema de criminalização (encarceramento e medo). Acumulação: já foram entregues o petróleo, a Embraer, e se propõe entregar água e saneamento. 


"A 14ª Câmara Cível do tribunal de Justiça do Rio manteve, por unanimidade, a decisão da juíza de primeira instância Andrea Quintella, que condenou Luciana Silva Tamburini a pagar indenização de R$ 5 mil por danos morais ao magistrado João Carlos de Souza Correa. Ele foi parado numa blitz da Lei Seca, em fevereiro de 2011 e se apresentou como juiz. Luciana, que trabalhava como agente da operação, retrucou, dizendo "Você é juiz, mas não é Deus", e recebeu, em seguida, ordem de prisão do juiz por entender que ela o desacatou... João Carlos foi parado pela fiscal por dirigir um carro sem placa e estava sem a carteira de motorista". (O Globo, 18/11/2015)

Ministério Público paulista arquiva mais de 90% dos casos de mortes por policiais
Pesquisa da Defensoria Pública de São Paulo mostra que a maioria dos autos de resistência é arquivada, sem investigação

(RBA - 16/02/2016)

Uma mãe está presa com o filho de apenas dois dias na carceragem do 8º Distrito Policial, no Brás, em São Paulo... A decisão foi tomada no plantão da audiência de custódia de São Paulo, em pleno domingo de carnaval, quando a então futura mãe entrou em trabalho de parto e foi escoltada até o hospital... Coube então ao juiz D’Angelo decidir pela prisão, ignorando as circunstâncias do parto e o fato dela ser ré primária.

(Justificando - 14/02/2018)



Alexis de Tocville, enviado pelo governo francês para estudar as prisões nos Estados Unidos, apontara para esse fato em 1835: O juízes, nos Estados Unidos, é uma das principais forças políticas”. 

Alexander Hamilton, primeiro Secretário do Tesouro da nova nação, afirmava que “todas as comunidades se dividem entre uma elite e uma multidão... o povo é turbulento e cambiante raramente faz julgamentos corretos”. (apud. Limoncic, 2009). No ano de 1806 um tribunal usa a doutrina da conspiração contra uma organização de trabalhadores.

Mas nem toda presa se sente tão desigual – o congressista americano de Ohio, John Milton Goodenow (que frequentou escolas públicas e se formou em Direito) dizia em 1829: “Eu devo respeitosamente advertir ao poder legislativo para não sustentar estes déspotas (juízes), imitadores da tirania do velho mundo”.
(Ohio é agora o lar de Tammy Tomas, ativista negra americana que nasceu em uma vibrante comunidade multicultural na zona leste de Youngstown nos anos 1960, e se tornou um bairro devastado eminentemente negro, “de vazios e silêncios”, pessoas sem emprego e execuções hipotecárias - Packer, 2014, p. 49)

Quando o presidente Roosevelt – no contexto do “National Industrial Recovery Act” de 1933 - fala que numa "ação cooperativa da indústria” (pois “sem uma ação conjunta... pagarão salários de fome e insistirão em longas horas de trabalho”), pressupõe que a comunidade puniria a empresa que agisse de modo não cooperativo através da reprovação – o “selo” Blue Eagle criado como peça de propaganda.

A lei de Rossevelt representou um “importante deslocamento do Poder Judiciário para os poderes Legislativo e Executivo”. (Limoncic, p. 136).

Uma lei é um reconhecimento de igualdade relativa, um diálogo – que a ideologia da desigualdade torna imoral por não operar na formação da classe - você faz parte do esquema se tem alguém abaixo de você, você é um gerente, defende seu status relativo numa sociedade hierarquizada.

Governo brasileiro publica lei que facilita trabalho escravo

(João Almeida Moreira, TSF, 18/10/2017)
"Cerca de 40,3 milhões de pessoas em todo o mundo foram submetidas a atividades análogas à escravidão em 2016... 71% das vítimas são mulheres... o Brasil detém a segunda maior quantidade de pessoas em regime escravocrata na região, com 369 mil habitantes. Os EUA registraram 403 mil pessoas (1,3 para mil)."

(DW Br 20/07/2018)

A solução de transferir o trabalho para países nos quais não opera a plena democracia gerou a clivagem entre mercado interno com salários altos e comunidade política – o trabalho indigno está na China, os consumidores nos Estados Unidos. 
Terra sem lei é ótimo para os negócios. 

Se o empresário imoral é o modelo (como aponta Klein) porque “vencer a competição é tudo”, quando a competição é vendida como valor máximo através da propaganda para um trabalhador que fica sem entender o que acontece (“não é essa a narrativa, é mentira o que vocês estão contando, a verdade é outra”), preso no mundo do consumo e na difícil vida segregada – o direito ao trabalho digno desaparece na rivalidade e a “jornada de trabalho legalmente limitada”, que estabelece um tempo fora do lucro (de Marx) pode ser substituída pelo contrato individual de trabalho – “que poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito – pela qual o trabalhador se compromete a prestar serviços a um empregador, sem garantia de continuidade, de jornada pré-estabelecida nem de remuneração fixa, sempre que for convocado com pelo menos três dias de antecedência.” (Agência DIAP/25/06/2018) 

Como pensou Marx:

“Para se proteger contra 'a serpente de suas aflições (Heine), os trabalhadores tem de se unir e, como classe, forçar a aprovação de uma lei, uma barreira social intransponível que os impeça a si mesmos de, por meio de um contrato voluntário com o capital, vender a si mesmo e às suas famílias à morte e à escravidão”. (apud. Harvey, 2013)

*

A paz não interessa aos grupos que querem substituir o processo eleitoral (com a mobilização crescente das comunidades) por modelos elitistas de política. "Na paz, os movimentos populares crescem", diz o ativista e economista Héctor Mondragón.


Como vimos, a Colômbia tem se tornado um símbolo do processo de uso da violência (e da Justiça) para calar o contraditório (estranhamente o pastor Malafaia diz que quem não aceita seu ponto de vista rígido “não aceita o contraditório”).


Os camponeses colombianos historicamente foram expulsos para as montanhas. 
“Por exemplo, nas zonas petroleiras, a população local foi expulsa primeiro pela guerra e depois chegaram as multinacionais”, afirma o economista.  (Natalia Viana, Opera Mundi, 03/09/2009)

No século XX, a exploração da borracha matou em torno de 50 mil indígenas. De 1946 a 1958, a violência deslocou dois milhões de camponeses. Durante décadas, empresas extrativistas, que tem interesses em áreas indígenas ocuparam essas terras depois que grupos paramilitares executam assassinatos.

Os trabalhadores do corte de cana não ganham pelo por tempo de serviço, mas por produção. No Brasil, conforme Francisco Alves, da Universidade Federal de São Carlos (SP), na década de 60 a produtividade do trabalho era, em média, por homem, de 3 toneladas por dia de trabalho; no final da década de 90 atinge 12 toneladas de cana por dia. (Econews)


Na Colômbia, Álvaro Uribe, presidente de 2002 a 2010, representa o setor latifundiário. Recentemente, as populações se organizaram, conquistaram eleições e buscaram retomar o controle de territórios historicamente reconhecidos. 
Em 2017, 142 lideres populares e defensores de direitos humanos foram assassinados no país. Os ativistas erguem cartazes com os dizeres: “Não nos matem para que possamos lutar por nossos direitos” e “Não é crime defender nossos direitos”.

"Onde existe a luta contra a mineração ilegal, contra o extrativismo, é onde os líderes estão sendo assassinados", afirma Maria Consuelo Tapias, delegada do Exército de Libertação Nacional (ELN). "Os líderes sociais do (departamento de) Chocó... vêm denunciando que estão em seus territórios mais de 200 paramilitares uniformizados e protegidos pelo Exército" (Brasil de Fato - 04/12/2017)

Há um modelo de terror no qual religiosos pela guerra, políticos corruptos e paramilitares se aliam (Israel sem palestinos tem algo a ver com a volta de Jesus; a guerra e a venda de processos de controle é um negócio bilionário).

Segundo o Mondragón, também a homofobia e misogenia do combate contra a “ideologia de gênero” mobilizou os eleitores para vencer um candidato progressista, o primeiro a chegar ao segundo turno sem ter sido assassinado em décadas, Gustavo Petro, em 17 de junho de 2018.

Existe toda uma campanha para que os direitos humanos sejam vistos como algo ruim. O marketing do mau criou termos como "escola sem partido" (censura) e "ideologia de gênero" (negligência com violência com mulheres e LGBT). Quando o prefeito chama os professores que se manifestam de "vagabundos" (nas escolas estaduais, são 50 alunos por sala de aula), é uma fanatização preventiva, para deslegitimar os protestos frente à sociedade. Depois de anos de extinção do espaço público - mídia plural, escolas fortes, defesa do patrimônio coletivo e locais de interação, dívida produtiva criminalizada - a direita percebeu que o marketing pode substituir a política, e a manipulação, o argumento. Se apoiar esse candidato progressista, seu filho será gay.


Para a senadora Gleisi Hoffmann, "perderam a pauta econômica, aí entrou a pauta de valores... e estimularam o ódio de classe. Em 2014, começam uma pauta xenofóbica, machista, de ódio aos mais pobres..." (Tutaméia - 20/07/2018)

As redes, então foram invadidas por vídeos falando do "perigo do 'Black Lives Matter"; o dinheiro move o marketing político que cria o manipulado-ativo como SA virtual para atacar qualquer opinião contrária às grandes fortunas. Foi isso que Hitler aprendeu quando tentou chegar ao poder por um putsch. 


Nassif: Nos Estados Unidos, a estratégia de Rupert Murdoch foi criar um inimigo externo, que substituísse os antigos personagens da Guerra Fria. Os atentados às Torres Gemeas vieram a calhar. E calar eventuais vozes independentes, de jornalistas, com ataques desqualificadores, para impedir o exercício do contraponto. (GGN, 12/08/2015)

Isso se estende à guerra de conquista acadêmica de Samuel Huntington, professor de Ciências Políticas da Universidade de Harvard, que transforma o conflito entre as transnacionais e comunidades expropriadas em “choque de civilizações" (Doutor Carvalho, pai da extrema-direita jovem, seria um exemplo nacional?)

O formador de opinião "(apresenta) a cultura anglo-saxônica como superior e a identifica com o individualismo, na mesma medida em que a vê ameaçada pelas culturas que enfatizam os direitos coletivos. O indígena, como berço desses direitos, seria, segundo Huntington, o fundamento do atraso na América Latina". (Mondragón, 2012)

*
 Em 1939, Himmler amplia a SS, criada como milícia de luta de rua contra comunistas, depois usada no papel de policiais, carcereiros e carrascos. A necessidade de haver um inimigo interno suficientemente grande para justificar a filosofia nazista gera a insistência na ideia da destruição dos judeus (Koehl, 2015). Mas alia-se a isso um fator econômico: o "romantismo" da colonização baseada em "Sangue e Solo" e recolocação dos alemães
nos solos recém-conquistados como fazendeiros e negociantes, com a expulsão dos antigos residentes. (idem)

Quando a guerra termina, milhares de sobreviventes judeus não tinham como retornar a seus países de origem: suas casas e propriedades haviam sido destruídas ou mesmo tomadas pelos antigos vizinhos. Assim, tiveram de permaneceram em campos de Deslocados pela Guerra (DPs) criados pelos Aliados na Alemanha, Áustria ou Itália, em
sua maioria emigrando para o Mandato Britânico (Palestina). (Holocaust Memorial Museum)

Hoje, os sobreviventes do neoliberalismo (precariado) encontram os sobreviventes do imperialismo (refugiados).

Na Unesco, o escritor belga Jean Bricmont, criticou "aqueles que se utilizam da ideologia dos direitos humanos como um pretexto para a guerra, quando ele mesmo tende a ver naquela ideologia uma verdadeira causa sui generis para a guerra, porque empresta ao Ocidente uma ilusão de grandiosidade que ele não tem mais desde o processo
descolonizatório e a articulação das potências emergentes".

Bricmont, também denunciou um "condicionamento ideológico proveniente das mídias, que segundo ele visam a tornar uma intervenção militar na Síria aceitável aos olhos da opinião pública mundial".(Larissa Ramina, Carta Maior - 29/07/2012)

Iniciada em 2011, a guerra na Síria já produziu, até o fim de 2017, 6,3 milhões de refugiados (do total de 68,5 milhões de refugiados no planeta) e 12,2 milhões de pessoas deslocadas à força. (Agência Brasil, 19/06/2018)

Poderia ter havido outra opção?
A maioria do povo sírio quer que o clã Assad saia... O que é mais perigoso são as pressões externas, especialmente em Istambul e da OTAN para tentar organizar uma intervenção. A melhor forma seria a pressão externa de países que não são vistos como hostis à Síria, como a Rússia e a China, e outros." (Tariq Ali - Carta Maior - 28/02/2012)

A técnica colonial é usada para controle interno (o chamado "efeito bumerangue" de Foucault - apud. Graham, 2016). O Oriente Médio é um grande campo para multinacionais ocidentais e a guerra pode ser apenas uma forma de "abrir" as economias fechadas que não puderam ser "abertas" por meios pacíficos (Klein, 2005).

Em Londres, em 2013, a moção do governo a favor do “princípio de intervenção militar” na Síria em casos de urgência humanitária foi derrotada. "Com o fiasco das armas de destruição em massa que não apareceram em parte alguma, a experiência não foi em vão: a credibilidade dos serviços de inteligência e da procuradora geral para estes casos está no chão". (Marcelo Justo, Carta Maior - 30/08/2013)

Lembrando um outro modelo totalitário, houve em 2003, a queima da Biblioteca Nacional Iraque, que guardava todos livros e teses de doutorado publicadas no país. Para Klein, a mensagem ecoa a dos interrogatórios humilhantes: "Você não é ninguém". (idem) 

*


Foram décadas de doutrinação e bloqueio comunicativo, o jornal-bilionário (que produz a reinformação, narrando fatos de forma a desmobilizar pela dúvida moral movimentos e lideranças), com "polêmicas" sobre cigarros, aquecimento global, etc., por rádio (o rapaz que conhece Miami, mas não o Capão Redondo à 60 km do centro), TV (toda noite o trabalhador senta no sofá depois do trabalho e assiste a oligarquia) e agora - sem o papai! - a perigosa bolha do ódio da internet. 


O "livre mercado" é o produto mais vendido e sua brutal desigualdade é fragmentada em mil ideias desconexas. 
Contra repressão busca-se a liberdade, mas e contra a esquizofrenia?
O voto da vítima de censura corporativa, da escola precária, da circularidade do bio-poder midiático-corporativo, o analfabeto político, dá um aspecto de legitimidade à usurpação.

Luta como síntese quando a dificuldade de reunir, criar conexões, um panorama faz com que o ataque seja surpresa. 
A banalidade do mal como pensamento de manada na ideologia da violência. 

A mobilização de emoções do consumismo propagado no ambiente se casa com a política emocional. Analisa Peter Rosenwald, consultor de marketing estratégico: 

"(Trump tenta) levar os eleitores a uma memória afetiva dos bons e velhos tempos. E quando você consegue gerar essa identificação, o segundo passo é simples: convencer de que há uma solução... (depois) reduz toda essa complexidade a um 'inimigo comum': o imigrante... Aqui, ele também usa sentimentos como o medo e a raiva a seu favor... Se você tem recursos financeiros suficientes e uma narrativa emocional, não importa quão questionável é um produto, um marketing forte e criativo pode colocá-lo, no mínimo, para ser testado. (Endeavor Brasil - 10/11/2016)

Método Goebbels redivivo como diz o jornalista Ricardo Kotscho. 


"Prefeito acusado de gastar R$ 3,2 milhões de recursos da Prefeitura para fazer “promoção pessoal” com propagandas do programa Cidade Linda no rádio e na televisão". (Estadão Conteúdo - 01/02/18)


"Presidente gastou R$60 milhões em propaganda da reforma da Previdência" (Revista Fórum - 04/07/2017)


"Prefeito prevê gasto de até R$ 100 mi por ano com publicidade" (Veja - 08/02/17)


Não há revolução em vista para assustar os poderosos. 
Talvez a filosofia por trás do capitalismo seja apenas darwinismo social. 

*
As pessoas votam na candidata nova.

As pessoas recebem Trump com protestos bem-humorados. 

As pessoas ouvem música na rua.

As pessoas leem livros.


As mulheres lutam contra a tirania denunciando presidente da Câmara fundamentalista. 


Diz Angela Davis:



"Nós resistiremos. Em todos os dias da administração Trump, resistiremos. Resistiremos ao racismo, à exploração capitalista, ao hetero-patriarcado, à islamofobia e ao preconceito contra pessoas com deficiência. Defenderemos o meio ambiente dos ataques insistentes e predatórios do capital... Nós sabemos que as transformações históricas sempre começam pelas pessoas... as mulheres negras sempre se engajaram nas lutas de outros grupos – por vezes, ao ponto de se excluírem (subjugando suas próprias lutas). Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. (RBA - 26/07/2017)

*

A nobreza era quem protegia as pessoas – a defesa é o melhor controle. 


Campanha para criar o medo do imigrante - o que justifica um estado de emergência. 

No momento em que criarmos a "ameaça terrorista no Brasil", poderão perseguir todos os críticos e transformar o país num Estado Policial. 
"Para nos proteger do terrorismo, o governo está retirando nossos direitos constitucionais", disse M. Moore (Carta Capital - 18/02/2013)

A escolha que gera diversidade contraria tanto a lógica do monopólio de máxima exploração da máquina-humana quanto o fundamentalismo religioso de obediência ao líder. Um cartaz do sindicato dos bancários diz: "Quero trabalhar em paz". Na guerra o indivíduos é arma - trabalhar na guerra é exploração total; trabalhar por medo alia escravidão mental à econômica (o que também nos mostra o caso de mulheres vítimas de violência). Entender é agir. 


A sociedade do dinheiro – que organiza tempo, desejo e pensamento funcionando com a sociedade da guerra, controlando dissidentes, doutrinando pela mídia, criando precarização e criminalização. 


A expansão e acumulação; apropriação dos recursos naturais (se necessário com retirada de políticos eleitos) e mercantilização de todos os aspectos da vida. Como é incluir a todos na categoria de seres humanos, cidadãos do mundo? Como pensar a natureza com direito próprio à existência? 

Para Agamben, "se havia no direito público europeu o princípio que impedia que um soberano inimigo fosse julgado como criminoso, agora todo chefe de estado é virtualmente um criminoso". (Agamben, 2015).

O sistema de concentração de renda opera junto com a repressão às manifestações claramente na Argentina. 
Recentemente o presidente Mauricio Macri  autorizou as Forças Armadas a realizar tarefas de segurança interna.
O desaparecimento do estudante Santiago Maldonado foi visto como o primeiro crime político de um novo regime. 

Estela de Carlotto, presidente da "Avós da Plaza de Mayo" afirma: 

"Nós não queremos que a história se repita e por isso vemos com grande preocupação e vamos rejeitar a proposta do Presidente para transformar as Forças Armadas... Isso nos lembra da doutrina da segurança nacional que foi implementada durante a última ditadura, que foi o extermínio do inimigo interno", acrescentou. "Se hoje estamos vendo repressão nas manifestações, o que não vai acontecer com essa mudança? Seremos todos vigiados como se fôssemos inimigos internos". (La Imposible - 24/07/2018)

O Único Centro, movido pela "divina excepcionalidade", se propõe a "provocar a democracia... se preciso pelo uso da força" com alguma "intolerância à oposição" (Henry Kissinger): "Democracia imposta pela força nunca seria democracia, decerto, mas uma fake democracia, para domínio do capital financeiro e das grandes corporações industriais". (Moniz Bandeira, 2018)

A expansão do direito de polícia pela sociedade faz parte da técnica fascista de gerar divisão instantânea (também pelo uso de palavras e imagens) - o que parece a Paul Gilroy ser o significado oculto no fato de Heidegger ter circulado na Itália de Mussolini em 1936 com uma suástica na lapela, mesmo quando quem o levava para passear era um judeu atingido pelas limitações das leis antissemitas. Era uma "sincronização de seu ser coletivo" (Gilroy, 2007), dizendo "sou do grupo da luz", essa é "minha luta moral". Evita-se a identificação, que pode impedir a apropriação. Intimidação, desmoralização, coisificação. 

No estado de emergência, é preciso ação rápida e até preventiva. 
Para Agamben, a "suspensão temporária do ordenamento" se torna estrutura do sistema. 

"Se o soberano é, de fato, aquele que, proclamando o estado de exceção e suspendendo a validade da lei, assinala o ponto de indistinção entre violência e direito, a polícia sempre se move, por assim dizer, por um semelhante 'estado de exceção". (idem)

Mas, como diz Rimbaud, "Eu é um outro": além do eu-mecânico da repressão existe um eu-criativo (a dissolução do eu parece ótima tática contra o poder que vigia o átomo na instituição panóptica, mas pode ser pouco na circulação contínua de átomos do mercado); eu-criativo que busca fundir-se com o mundo à sua volta, como queria seu herói Baudelaire, capaz de ver as coisas sob diversos pontos-de-vista; o "voyeur" cínico da "festa imperial" do Segundo Império, das lojas de departamentos e da destruição criativa das barricadas de 1848, e que é arrastado pela multidão ao tentar deixar algum dinheiro com um pobre saltimbanco. (Harvey, 2015)

Para Sthephen Graham, como as linhas de pensamento militares mais recente colonizam espaços e locais cotidianos da vida urbana e projetam a própria vida como guerra, disseminando um pensamento "xenófobo, profundamente intiurbano e tecnófilo", elas transformam a diferença no "outro", o "outro" em alvo, e o alvo em violência. Essa mentalidade permeia a cultura popular criando a fusão de entretenimento, guerra e design de armas (alguns operadores de drones militares são mesmo recrutados entre excelentes jogadores de games). A  paisagem que se apresenta é de comunidades fechadas, postos de controle, vigilância eletrônica e espionagem virtual. Mas contra o "silenciamento habitual dos outros" e a representação de seus lares como "espaço abstrato e patológico", espaço pronto a ser "adentrado, retrabalhado, reestruturado e transformado", surgem coletivos, artistas, ideias de colaboração em uma contrageografia de "coalizões transnacionais de movimentos sociais". (Graham, 2016)


Amy Goodman estava em Dili, capital do Timor Leste, em 1991, quando soldados indonésios com armas "made in USA" abriram fogo contra a multidão, matando ao menos 271 timorenses. Quando ela e o colega jornalista conseguiram chegar ao hospital, os médicos e enfermeiros começaram a chorar - eram "a espada" e "o escudo". Ela conta: 


"Os Estados Unidos fornecem muitas das armas que regimes repressores usam para matar seu próprio povo... As pessoas sabem que temos o poder de impedir ataques em vez de planejá-los, e de lutar contra a injustiça, a brutalidade e a tirania... o verdadeiro poder desse país está nos indivíduos que lutam todos os dias para melhorar suas comunidades". (Goodman, 2005) 

Luther King Jr. falou do monstro de três cabeças: militarismo, racismo, materialismo. 

Enquanto toda a natureza não for protegida da ambição, não podemos perder a esperança. 

Enquanto houver um grupo de pessoas vivendo sem dignidade, a libertação do pensamento não estará completa. 

No fim, a luta contra a opressão é eterna.

O lucro é relativo, a vida é absoluta. 

O sentimento de que merecemos - todos e cada um de nós, os animais e todos os seres - uma boa vida é mais forte.

Solidariedade é revolução.

Afonso Junior Ferreira de Lima


*

- Congresso: o índice de reeleição pode chegar a até 90%...os 0,09% que estão no topo da pirâmide – aqueles que ganham mais de 320 salários mínimos –, poderão doar em torno de R$ 760 mil ao seu candidato ou partido político. Enquanto isso, aqueles que ganham até dois salários mínimos, os 11,6% dos declarantes na base da pirâmide, poderão doar cada um R$ 854,00, em média.
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2018/07/sem-teto-para-doacoes-de-pessoas-fisicas-ricos-elegerao-a-maioria-em-2018


Um salário mínimo: com essa remuneração se precisaria trabalhar por 19 anos seguidos para receber o mesmo que o 0,1% mais rico da população brasileira ganha em um mês. Para reverter o quadro de desigualdade, a Oxfam Brasil propõe alterações no que chama de “sistema tributário amigo dos super-ricos”, que onera principalmente os mais pobres e a classe média, maiores gastos sociais e maior formalização no mercado de trabalho. “As desigualdades não são inevitáveis. Elas são escolhas políticas”, afirma Katia

https://forbes.uol.com.br/colunas/2017/09/brasileiro-que-recebe-salario-minimo-levaria-19-anos-para-ganhar-renda-mensal-de-super-ricos/


Guardiões de sementes resistem ao monopólio das multinacionais
“Para quem não sabe, o guardião de sementes é aquela pessoa que mantém as sementes crioula e preserva a diversidade que o mundo precisa”. 

https://www.brasildefato.com.br/2018/06/08/guardioes-de-sementes-resistem-ao-monopolio-das-multinacionais/

Ladislau: e os bancos sugam a riqueza do mundo  - Não é o fim do capitalismo, mas o fim do capitalismo democrático. Antes eles precisavam de milhares de pessoas, hoje a regra mudou e são as próprias corporações quem decidem o que pode e o que não. Isso porque o sistema financeiro é global e o controle dos bancos centrais são nacionais”, frisa.

https://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/ladislau-como-os-bancos-sugam-a-riqueza-do-mundo/




Xadrez do golpe na era da hipocrisia – 2, por Luis Nassif
https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-golpe-na-era-da-hipocrisia-%E2%80%93-2-por-luis-nassif
'Cidade de São Paulo é submetida à dinâmica de busca enlouquecida por poder'
Para o coordenador da Rede Nossa São Paulo Américo Sampaio, gestão de João Doria na prefeitura "sequestrou" agenda legislativa da Câmara em função de seu interesse em se candidatar a outros cargos

http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2018/07/cidade-de-sao-paulo-esta-submetida-a-dinamica-da-busca-enlouquecida-por-poder

“Na verdade, a ideia inicial do projeto era estudar experiências positivas de cooperativismo ou economia solidária”, revela a pesquisadora. “Entretanto, acabei conhecendo o grupo de Mulheres Artesãs da Enseada da Baleia, ligado ao turismo, que participa de feiras de Economia Solidária feminista. A partir dessas feiras, conheci outros grupos de economia solidária formados somente por mulheres. Então, percebi como o tema de gênero não é muito estudado na academia”, comenta.

https://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/11/29/grupos-femininos-de-economia-solidaria-dao-autonomia-para-a-mulher/

Angela Davis na Bahia: 'Mulheres negras são a esperança da liberdade'
Rádio Brasil Atual - 12/12/2017

http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/07/angela-davis-na-bahia-mulheres-negras-sao-a-esperanca-da-liberdade

The Beauty Myth by Naomi Wolf – A Singapore Writers Festival 2014 Lecture
https://www.youtube.com/watch?v=q3joFixoxhM

The Open Mind - Naomi Wolf on Beauty - A New Trap for Women


https://www.youtube.com/watch?v=VA87gm_X-5s


Agamben, Giorgio. Meios sem fim: notas sobre a política. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
Armstrong, Karen. A grande transformação: o mundo na época de Buda, Sócrates, Confúcio e Jeremias. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 
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BERTI, Enrico; MACEDO, Dion Davi. Aristóteles no século XX Enrico Berti, Dion Davi Macedo. Edicoes Loyola, 1997.
Bourdieu, Meditações pascalinas. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2001. 
Burkert, Walter. A religião Grega na época clássica e arcaica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. 
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