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domingo, novembro 25, 2012

A cura

Senhoras e senhores, muito obrigado. Então, quando eu comecei a pesquisar esse caso - tão repleto de perversa mecanização, tão simbólica de um homem como objeto e que, ao mesmo tempo, coloca a questão da relação entre sistema e intersubjetivo - eu perguntava: pode a mera descrição de um fato ter um efeito artístico depois que a realidade superou todos os efeitos de choque? Como é possível a mímese - tudo é sempre construção, o "como era" morreu na Primeira Guerra, o sistema nervoso não se interessa, o tema é a forma. Então eu perguntava: uma mulher; 25 anos; morando na praça há vinte anos; e como contar? Como incorporar o "Clube dos Donos de Ferraris" da China, e suas fábricas escravistas, os milionários americanos construindo réplicas de Versailles, com salões para mil pessoas, num país com salário estagnado há 30 anos, e o uso do Irã para não negociarmos a paz? Com as unidades de linguagem arbitrárias e diferenciais? "Mamão" não se liga a uma forma natural, "cigarro" ou "pinga" só existem em relação aos outros signos... Aqui, os reflexos da arte na esfera da autonomia, desde a organização idealista da forma por Aristóteles - Sócrates chamara os artistas de mentirosos - passando pelo desinteresse sem referência à vontade, ao desejo do agradável e do bom, de Kant, até a "arte inútil" de Wilde, colidem, se reformulam, transitam perante o simples fato de que o "Vendedor" impunha o falocentrismo na troca assimétrica, sendo ela a única mulher entre os "bufões" despersonalizados pela rua. Como diferenciar num mundo determinista os limites para uma boa alma ser livre? "Só o poeta, que despreza sua sujeição e levanta-se com o vigor da invenção, cria uma outra natureza" - diz o crítico Sir Philip Sidney. E, com isso, retomo a questão de Pirandello: ele vê personagens vivos, mas eles não entram na forma dramática. Ou, com Macedonio Fernandez: "A tentativa estética presente é uma provocação à escola realista, um programa completo de desacreditamento da verdade ou realidade do que o romance conta, e somente a sujeição à verdade da Arte, intrínseca, incondicionada, autoautenticada". O que me ocorreu nesse processo foi representar a mulher currada como alegoria do "Não Desejo" e da "Liberdade" - esta mulher, que agora vive com a família, refeita com remédios, deseja voltar à "liberdade" em meio ao lixo e seu bando torpe. Ao receber esse prêmio agradeço em especial à Academia pela compreensão de uma reflexão neo-realista E formalista citando a coisificação da palavra na indiferença do tempo por Brecht: "as palavras ocorrem num planeta que não é o centro".

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sábado, novembro 24, 2012

Lisa 

Lisa eu te amo mas o mundo não ajuda quando vc disse sim pelo Face eu não entendi qual a pergunta eu te amo mas eu ando cansado suado lotado esmola e gente amontoada quase caindo no abismo multidão no pico escada desligada porque o engenheiro não fez um buraco grande fez o mesmo buraco planejado de 30 anos antes eu te amo mas o email gerou um mal entendido e eu vejo um cara bem assustador pedindo dinheiro na estação e me dizem segurança não tem não eles circulam e só chegam depois do fato foi privatizado eu tô apaixonado o mundo não ajuda vc mandou sms mas eu não tinha crédito para responder eu te amo mas foi a gota d´água eu não sou nada eu tô vendo na recém inaugurada uma parede mofada todo mundo sentado que a linha parou eu te quero livro na estante dia todo na labuta amo mas estou sem meu amor e o mundo não ajuda só quero a paz do televisor.

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domingo, novembro 18, 2012


Escrita X: em busca do ódio

1 - B.I.T.

"Toda pálida a lua, e uso indefinido quando tudo em crise anda". Fumava trip na calçada e ia na estrada e já nem queria - exilado no tempo da atrofia.
1. de como niti era chato e passado
2. de como não queria um hermetismo revelador (da linguagem)
3. de como não sonhava em transformar nada
4. de como odiava a comida em lata da arte
5. qualquer ódio às respostas frias de raideguer e universidum e nutaum
"A falta de trens não o deteria". "Eu não posso dizer que é verdade, e Ele, que não parece".

2 - Pela Arte

Acho que foi quando eu fui morar nos Estados Unidos com meu amor
Ou quando eu quebrei o vaso da minha avó e descobri o ódio
Ou quando, depois de formado, fui representar o governo inglês
numa aldeia indígena da Amazônia que, sim, desviava recursos
E, perdido amor de olho, fiquei confuso e triste
E fugi de crianças vendendo colares no Butão
E me apaixonei por um marinheiro árabe
Nos meus ossos existe um pouco da fome de avós em Dublin
E da sopa que se ganhava depois do bombardeio
Pedaços de mim, de outros, coisas feitas à mão
Linhas universais, pela terra, pelos vasos comuns, mortais
Não é fácil ser uma mulher de nariz grosso numa
sociedade que ama nariz fino
(porque a Virgem tinha, dizem, e era dócil e amava as crianças
e ainda somos movidos à coisas que não somos)
E como sou a última a saber o dialeto perdido
Não é fácil saber algo quando os sábios sabem tudo
E ser rebelde e crítico querendo (um pouco) fama e aplausos
E de tanto cairelevantar e de tanto eagorajozé
E arrastar-se no chão e temer perder o melhor
E no tabuleiro do Banco Imobiliário da Guerra Naval
E de tanto casca de ferida e elogios dos Mestres medalhados
E deixar o que não é meu e aceitar que só se anda errando
E viver sem compromissos e saber dar à César
E ser sem medo e não repetir e saber parar
Essa é a arte.

3 - Urbe - Ela preparou o chá acendeu o incenso e tocou o sino e entrou o homem totalmente armado e perigoso e os amigos gritaram e foi brutal e sexual e quase impensável e bem como se queria num realismo neourbano pósmetafísico do físico. (Mas, ainda assim rubem: era carnaval, era noturno, era artificial: o ok povo das bananas porra pode virar o Ocidente). Já podemos agora pensar: precisamos de livros proféticos e a contagem para explosão. Porque as perguntas estéticas são pó no vórtice canibal de explosões proveta incestuosa vermes discursando e terror político. E os outros mundos? Colecionador de canções e técnicas. E de como tudo é um pouco vaidade e leviano mas acredite na mobilidade. Seria tão fácil separar política de desejo poético? E as cegueiras da terra assumidas podem ser sempre fertilizadas? E para que a escrita se os bosques são servidos em FMICIASFBI? O Estado Original dos Homens pode ser a Arte? Que tenhas questões e possas ir em frente. Como criar esperança hype e fluente? Vão nobres viver - vício do mesmo e rigor - se afunda o chão? Se haverá deus, como haver nós? Seremos o jesuíta que comeu o índio do novo ou Sardinha (inflexível), que foi comido? E não será tanta a angústia e nem essas as PERGUNTAS FUNDAMENTAIS mas é preciso fazer.

4 - SciFi -

a) O homem caiu na Terra.
b) Eles se encontram no Lago
c) Ela o leva para casa
d) Na lareira, se amam
e) Eles conversam:
- Ousemos. Nós, herdeiros dos outros, de esculturas brancas e autores irlandeses. De como perguntar. A pobreza dos antepassados e a vontade de contar e como brincamos com pequenos ossos e lagartas caídos na terra antiga. Tédio da revolução e rompimentos. E de como eu uso a língua para (re)quebrar Platão e J. Uma especificidade criadora que é ver tudo e ser tudo. (E eu quero saber onde entram Anjos de Fogo e Deuses de Túmulos na Era Gris). Não acredito que no Mundo Mau só se crie decrepitude. Não creio que existam regras de comunicação. Nem que o delírio a destruição rizomática seja solução. As soluções racionais podem nos matar e tanto o obscuro. Nem o passado nos serve nem pode ser esquecido. Tenho medo de acúmulos.
- Sejamos o Personagem que se descentra em busca do Autor inventivo e salteado e fazedor de ocultações - ela disse. Estava grávida.

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sábado, novembro 17, 2012

O vento doente


Los chora sobre os escombros do que já foi uma esperança
Anteu está em pé e não leu a Bíblia do Inferno
Mas decorou as fibras cinzentas que escondem a música
Los pensou em tambores e fogo e fitas coloridas
E o que se move – em meio ao dia quente - são repetições e dualidade
(Ah, Raízes, Correnteza, Justiça e Arte – 
criando filhos da neblina e da disciplina fluente
vós que já dominaram as Noites, as Cidades, Penhascos)
Uzi, com um compasso e régua, e o coração gelado
sorri vendo que nem a dor genuína (de um sangue livre)
nem o estrangeiro assimilado sobraram sobre Ítaca
(terra reescrita em ouro falso
e tesouros e fungos na caverna comungam
os líderes do amanhã são iguais aos tiranos de outrora)
Tudo muda, e corre, e sobe e renova-se
(A Revolução é também a Guerra Nuclear
América podre, onde foi parar teu leite?)
E voltam as velhas Górgonas – estéreis, doentias, furiosas
desenhando teias de aranha pelo céu novo e limpo
Somente Los e sua poesia Anteu reconstruiriam
Porque os criminosos têm interesses intelectuais
Também eles são vigorosos e navegam céleres e tem um sono mortífero.

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quinta-feira, novembro 15, 2012


Blue Moon - versão brasileira

"Blue moon, tão só estava eu
´cê viu, o coração tão frio
Sem um amor só meu

Blue moon,  você me viu assim
Rezando por um amor
Para abraçar junto a mim

E apareceu caído do céu
Um anjo quase alado
E você viu, lua, o sonho realizado
Aquele que diz "serei sempre fiel"

Blue moon, agora ´tou tão alegrinho
o coração tão quentinho
Um amor que é meu todinho
/(Não estou mais sozinho".

(Afonso Lima)

domingo, novembro 11, 2012


Democracia
Tem que matar esses noia mesmo, eu dizia, enquanto ela lia sobre o comandante, que estava no corredor polonês, de pontapé e cassetete, dizem que virou guerra, pegaram soldado de folga, que mandaram pegar um pra cada bandido morto, naquela noite parece que foi futebol, a briga ficou feia e não se achava homem no comando, entrou ele na frente do batalhão, caiu uma coisa lá de cima, caiu o homem no chão, alguém gritou: - Pegaram o comandante! Foi 311 bem matados, frigorífico a noite toda, e a notícia só saiu depois de um dia todo passado, só mortos que tinham família na cidade, e dizem que é maldade, preto já nasce suspeito, ladrão tem cara sim e em geral tem estilo funkeiro, nosso candidato diz que tá na hora de por o fuzil pra cantar, ditadura acabou mas quem manda agora é o terror, nosso comandante, em quem a gente pode confiar. 

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