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segunda-feira, dezembro 20, 2010



Tom Ford é alguém que consegue fazer até Beyoncé ficar chic-ousada :)
Seu look tem cheiro de noir, Agatha Christie e vontade de mistério...

http://thefashionlamp.wordpress.com/2010/11/14/tom-ford-new-collection/
E parecia que o brilho ia derrubar a diva!

domingo, dezembro 19, 2010

De fato, a Record está superando todas as expectativas em seu jornalismo.
Morar na Rocinha e no Alemão, na 25 de Março, mostrar notícias de Belém e de casos sobre a terceirização da saúde, criticar o "estupro" fake do Assange, são exemplos de um novo ar no jornalismo. Já perdi as contas do número de vezes que troquei de uma fria informação eixo-Rio-São Paulo para a simpática Ana Paula Padrão!

Criador do WikiLeaks está preso
por fazer sexo sem camisinha



quinta-feira, dezembro 16, 2010

Traduzindo SAILING TO BYZANTIUM - de William Butler Yeats

Apesar da bela versão de Augusto de Campos, gostei do desafio. :)

VIAJANDO PARA BIZÂNCIO
Tradução: Augusto de Campos


Aquela não é terra para velhos. Gente
jovem, de braços dados, pássaros nas ramas
gerações de mortais cantando alegremente,
salmão no salto, atum no mar, brilho de escamas,
peixe, ave ou carne glorificam ao sol quente
tudo o que nasce e morre, sêmen ou semente.
Ao som da música sensual, o mundo esquece
as obras do intelecto que nunca envelhece.


Navegando para Bizâncio

Não é um país para homens velhos. Os Jovens

Uns nos braços dos outros, pássaros nas árvores,

Essas gerações que morrem – em sua canção

Saltos de salmão, cavalas-pululam nos mares

Peixe, carne, ou ave- celebram por todo o verão

O que for procriado, nascido, e morre.

Pegos naquela música sensual são abandonados

Monumentos do intelecto nunca mudado.

Afonso Jr. Lima


That is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees —
Those dying generations — at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.



sexta-feira, novembro 26, 2010

Pedras

Quando eu era criança, meu pai dizia: “Você quer ser uma águia ou uma pedra?” Eu sabia a diferença, as águia seguiam livres, sempre melhoravam e tudo que precisavam era de um céu. As pedras eram chutadas pelos outros.

Um dia, cansado de ver tantos corpos expostos ao frio, a chuva, gente dormindo na pedra fria, tive a ideia de ligar para algum serviço da prefeitura. Um pouco surpresos, os funcionários me davam um telefone atrás do outro, até que descobri.

A primeira vez que liguei foram gentilíssimos, inclusive me ligando no dia seguinte para informar que sim, as pessoas haviam sido recolhidas.

Mas os dias frios continuaram. Eu sabia que provavelmente eles estavam pelas ruas, provavelmente o livre arbítrio da sociedade livre deveria prevalecer, mas a cena miserável dessas pessoas degradadas, alguns rostos tão sofridos que parecem mesmo alienados, sem estarem de fato drogados, me deixava chocado. Que fazer?

É claro que isso deveria levar à questão sobre o acesso, a informação, a capacidade do sistema e até mesmo sobre a história do Brasil e dessas pessoas: quem são como chegaram até aqui? Que ambiente é esse para o qual as pessoas não desejam ir (as rápidas visões e informações que eu tivera descreviam o inferno).

Passei a ligar sempre que um dia mais frio acontecia. Dia a pós dia, mudavam alguns atores, a tragédia permanecia, ainda mais que se ouve falar de redução nas vagas e na extinção de albergues no centro, tentando "limpar" à força a cidade. Provavelmente não era lógico, mas aquelas pessoas seriam lembradas de que eram seres humanos. Legal.

A ligação de cortesia sobre o resultado sumiu na terceira vez. Aos poucos o telefone passou a não atender. Tudo bem, hora do café.

Na penúltima ligação eu perguntei: "Tenho ligado quase todo o dia, será que há outra forma de resolver isso?" Uma moça simpática disse que eles eram avisados do local do albergue. Ok, mas pelo estado das pessoas, talvez isso não fosse tão fácil.

Na noite seguinte vi outro corpo, enrolado em lençol, três prédios a frente. Chovia um pouco, a noite mais fria do ano, anunciava o jornal. Lá pelas duas da manhã, acordei com a chuva que explodiu. Tive de ligar.

Na voz mais grosseira do mundo: "O Senhor tem ligado todo dia. Eu não vou mais abrir solicitação!" Subitamente me vi no papel de criminoso.

"Desculpe, eu apenas passei ali mais cedo, vi essa pessoa, queria ajudar, mas se não é possível..."

"Não é que não se queira. As pessoas que estão ali já sabem sobre o alberge!"

A voz responde, irritadíssima: "Vou abrir solicitação" e, praticamente, desliga na minha cara.

Então, percebi, que eu era apenas uma pedra.


Ajr

Legal...

by BBC/ mixbrsil

O trio Delphic, de Manchester, ficou ficou em 3º lugar em uma lista da BBC que indica os artistas que devem despontar em 2010.

Mais de 165 formadores de opinião, entre críticos, blogueiros e jornalistas, votaram.

Avesso a definições, o grupo diz que mistura a euforia da dance music com elementos emocionais da música indie, acrescentando uma pitada da “melancolia” de Manchester para criar um estilo próprio.



quinta-feira, novembro 25, 2010

As duas piores entrevistas da história

(uma delas, muito boa...)

O que leva alguém a iniciar uma entrevista dizendo “além de velho, punk e católico, como o senhor é descrito...” (sim! descrito pelo come-tudo-Murdoch - seria tanta a ingenuidade?), principalmente em se tratando do inacreditável crítico Terry Eagleton, uma das leituras contemporâneas mais intrincadas, lúcidas e abrangentes - Harold Bloom diria, muitas vezes, depois de Shakespeare!

Por que começar com a petulância sofisticada do “centro” na moda no estilo “já que o marxismo é uma piada, vamos entrevistar esse marxista”... e continuar com “o senhor disse que o futebol era o novo ópio do povo, já que está no Brasil”...

E, evidentemente, na continuação, poderia ter evitado o que soou como ironia batida sobre a "fé no marxismo", e ficado sem a merecida "o que você chama de ... primeiro, todo mundo tem fé em alguma coisa." ("Ah, sim foi nessa fé que eu falei...")


E o que leva alguém a tratar Madonna com superioridade como alguém que "escolheu seu primeiro nome" e “concedeu ao marketing (sic)”?

Uma produção canhestra que nunca fez Vogue, claro... (ou sim!)

Bem, a eleita maior bizarrice do nosso mundo midial... Histórico...






segunda-feira, novembro 22, 2010

Yeats Unplugged

A preguiça me faz querer Yeats em pt.
Mas nada me irrita mais do que traduções empoladas, que falam mais e pior que o autor.

O pobre Whitman sofre com suas "Folhas pela refulgente Relva levadas" e a Ilíada (como já comentei) eu até transformei (bem ou mal) em teatro só pelo prazer de acabar com os "bronzelínios bronzes brilhando solincandecentes" ...
É a velha idéia de "Alta Cultura", tudo que é de fora e não pode ser apenas "bronze".

Então, aí vai, com dicionário e tudo...

THE LAKE ISLE OF INNISFREE (1892)

I will arise and go now, and go to Innisfree,
And a small cabin build there, of clay and wattles made;
Nine bean rows will I have there, a hive for the honeybee,
And live alone in the bee-loud glade.

And I shall have some peace there, for peace comes dropping slow,
Dropping from the veils of the morning to where the cricket sings;
There midnight's all a-glimmer, and noon a purple glow,
And evening full of the linnet's wings.

I will arise and go now, for always night and day
I hear the water lapping with low sounds by the shore;
While I stand on the roadway, or on the pavements gray,
I hear it in the deep heart's core.


Eu vou surgir e ir agora, e ir para LivreMundo

E uma cabana pequena lá fazer, feita de argila e vime

Nove fileiras de feijão lá terei, uma colméia de abelhas mel

E viver só na clareira som-de-abelha


Eu devo ter alguma paz lá, a paz vem em lentas gotas

Pingando dos véus da manhã para onde canta o grilo

Lá a meia-noite é toda trêmula, o meio-dia um brilho violeta

E a tarde cheia de asas de pardais.


Eu vou surgir e ir agora, para sempre noite e dia

Eu ouço a água murmurando graves sons pela margem

Enquanto eu continuo na estrada, ou nos caminhos cinza

Eu ouço no profundo fundo do coração.



Versão
Afonso Jr. Lima

domingo, novembro 21, 2010

Grandes entrevistas

Marcel Proust

Entrevista extraída da revista Espaço & Debates, v. 11, nº 33, 1991

* * *

Nos últimos anos de sua vida, Marcel Proust se isola no seu quarto de doente. É lá que ele escreve Em busca do tempo perdido, cujo primeiro volume é publicado em 1913. Um ano antes, no mesmo recinto, ele concede a entre­vista abaixo (extraída da revista Globe, nº 59, julho/agosto 1991).

No seu quarto, com as venezianas quase sempre fechadas, Marcel Proust está deitado. A luz elétrica acentua-lhe a palidez do rosto, mas dois olhos admiravelmente vivos e febrís reluzem sob a cabeleira desfeita, encobrindo a testa. Proust continua escravo da doença, mas já não o parece quando indagado sobre sua obra, se anima e fala.

http://www.tirodeletra.com.br/entrevistas/MarcelProust.htm
Ótimos documentários sobre livros...

Grandes Livros - Episódio 8: "Livro do Desassossego", Fernando Pessoa

segunda-feira, novembro 15, 2010

A ciência do comportamento e como aplicá-la nas empresas
CBN -Mundo Corporativo

Entrevista com Orlando Pavani Júnior, diretor-executivo da Gauss Consulting e especialista em Ciência do Comportamento

http://cbn.globoradio.globo.com/programas/mundo-corporativo/2010/01/23/A-CIENCIA-DO-COMPORTAMENTO-E-COMO-APLICA-LA-NAS-EMPRESAS.htm
Duo

Lá vem
sol
caminhamos sem rumo
o pensar se abre
há sempre outra porta

E o que importa
é estarmos juntos
criarmos ouro
criança

A esperança
passado é futuro
ouro quente
semente de paz
nossa dança

o sol
nossa vida
sem centro e sem selo
desespero,
pular por sobre
em direção à
o mar

Quixote no espaço
gente é pulo
outro ser
alegria da cartola
limonada, omelete
sozinho, no olhar
matar o dragão
dizer não ao não
tempero no aço
tudo cria
o tempo
não se aquiete
nada se repete
é o caminho
viver

não me diga a felicidade
a verdade
é estar vivo
atento
ter corpo lá dentro

rumo ao farol
nossa história
a calma do inverno
sem modelo
primavera da alma
vale
juntos
o agora é que pode
a dança
torta
do sol
a memória
da vitória
há sempre outra porta



Afonso Jr. Lima

sexta-feira, novembro 12, 2010

Amar

O Conhecimento mata
curiosidade vivifica

o conhecimento destrói
e também edifica

conhecer é julgar
e um modo de vida
sem contraditório
parasita

a verdade é o dia
o saber é finito
salva o riso
arte, pensar com sabedoria

conhecer não é
celeste
sabemos tanto
que tudo perdemos
o mundo não passou
no teste

Um pouco de saber
é sempre profundo
te dou todo o vazio
se me adorares

conhecimento é esperança
ser sem saber
o mistério
jogar faz o infinito

meu mel não cura ferida
não trabalho para agradar a Deus
Deus é meu vinho e renasce
uma criança da dúvida

pessoas: o novo
saber agora é mais que céu
além da razão
que glorifica o meu
toma a colher sagrada, símbolo de nosso jogo
a verdade e o mito se fecundam

uma brincadeira de circo
aqui e agora
com sentido de nada

mas que desenrola e desata
fingindo

pensar é pouco
pensar o coração
o não
Pensar para unir

que sabemos nós, nessa louca jornada
senão que estamos
e somos a tribo

e que o ouro aqui não é lá
e que dominar é pouco
saber semente
quer chão

knowledge is misunderstanding
conhecer para amar

Afonso Jr. Lima

sábado, outubro 30, 2010

Não criança

Teu nome era criança
Não podes passar aqui
As boas coisas da vida
Nao são para ti

Mas e se houvesse cavernas
e a verdade estivesse no mapa
se houvesse camadas
nessa tal realidade

o segurança te expulsa
menino com caixa suja
o pensamento de Fausto
em que lhe ajuda?

Teu nome era criança
mas foges do perigo
da lógica enlatada
e um poeta sabe que nada
Acaba com o infinito


Afonso Jr. Lima

sexta-feira, outubro 29, 2010

Verde


Como eu fiquei nessa situação?
Onde está o inferno, o veneno, a chama?
Olha, eu vim do interior, que lá a coisa tá feia.
Não existe o inferno e por isso também não há a paz
Passar fome na capital é outra coisa!
A alucinação é o pão nosso, eu derramei-me
Eu tenho dormido embaixo da entrada da Assembléia, não dizem que é a casa do povo?
O inverno o conforto
O guardinha sempre deixa eu ficar ali.
O barco bêbado
Devo dormir antes do último jornal
É um vão de verde onde canta o riacho
Descia rios impossíveis
Dormir não que o que a gente faz é ficar abraçando as coisinhas da gente
Não me sentia mais guiado
Daí de dia a gente fica nas Bibliotecas dormindo em cima de Machado
Muita gente diz que dá sono mesmo os peles-vermelhas
Lhes tomaram por alvo
Ah, quando eu vim pra cá eu tinha emprego sim
Pregando-os nus aos postes coloridos.
Eu era auxiliar de serviços gerais numa escola. Eu dormia lá.
Eu era inconsciente de todas as cargas levando
Ai a diretora me chamou disse: “temos de cortar custossss”.
“Custossssss!” Era eu!
O trigo flamengo ou o algodão inglês
Quando meus guias acabaram seu tumulto
Os rios me deixaram ir aonde eu queria
Que fosse gente, eu pensei, descobri que era
No burburinho furioso das marés
Nada
Aí comecei a viver nas ruas, eu e minha mochila. Eu corria!
Eu, o outro inverno, mais surdo que os cérebros de crianças,
Ah, de noite vem aquelas vans, e dão massa em copinho de caixa de leite.
E as penínsulas sem amarras outro inverno
Ou é massa ou é sopa! Argh! Será que aquilo é limpo?
Não tiveram clamores um dia
Eu levei a mão - e uma dona disse
Você? Mas você tem olho azul!
Aí eu: olho azul não enche barriga dona
Verde de fome gente rica é burra?
É um vão de verde onde canta o riacho
Como a gente toma banho?
Perdido, um buraco onde os raios caem
Ah, tem uma fábrica que domingo fica só com o segurança
Como sorri no sono um menino
Ele deixa a gente encher três baldes de água e a gente toma banho de calção na calçada
Dorme na relva a mão no peito
De calçããããão! Que nem no Big Brother
No lado direito
Sexo? É difícil... é mais companheirismo, a gente se dá a mão, essas coisas.
Dois furos no peito.


Afonso Jr. Lima/ Rambô

quinta-feira, outubro 28, 2010

Comprei, adoro!


Nova York e Leipizig são exploradas em romance juvenil

Rosana Rios e Regina Drummond autografam lançamento no dia 28

Aqueles que adoram conhecer outras cidades, ouvir novos sons e apreciar belas artes têm encontro marcado no lançamento de dois títulos que acabam de chegar às livrarias pela Editora FTD. Marcelo descobre a Alemanha, de Regina Drummond e Uma canção em Nova York, de Rosana Rios estreiam a coleção Intercâmbio que remete a uma verdadeira troca de culturas e novas experiências.

No dia 28 de outubro, as autoras que já tem diversos livros publicados, autografam seus lançamentos na Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista. A proposta da coleção é trazer para o leitor a grande diversidade que as experiências de intercâmbio proporcionam.

Em Marcelo descobre a Alemanha, Regina Drummond revela através do olhar do protagonista que viaja ao país para ficar durante um ano, aspectos históricos e culturais da Alemanha, em especial da cidade de Leipizig. O Muro de Berlim, a Segunda Guerra Mundial, a Baviera, a vida e a obra de Goethe formam cenários deste livro.

Os sons das ruas de Nova York são o pano de fundo de Uma canção em Nova York de Rosana Rios. Marcada pelo suspense – característico da obra da autora –, a narração traz a multiplicidade da vida numa das maiores cidades do mundo, habitada por personagens vindos de diferentes partes do planeta.

O lançamento acontece às 18h30 da próxima quinta-feira, dia 28 na Livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, nº 509.

Lenine e sua banda arrasam!

sábado, outubro 23, 2010

Corra como um Coelho: no in-joke.



O título pode ser perigoso: seria uma brincadeira de meninos ricos sobre Alice, pop inside joke, vamos ser loucos, vamos ser velhos?

A coisa mais difícil, hoje, é ser surpreendido. Arte é ousadia, mas como ousar se vivemos uma tirania das normas: sexo, beleza, O Sucesso? Idéias, marcas, política global. Para sermos aceitos temos de ser corretos: gestos, livros, excesso.

Somos a sociedade exausta de novidades, e carente, enquanto a outra parte está suja e têm o estômago em coro. Já vi tanta coisa que é chata, não tem rebeldia, é só rebelde de novo. Não: cenário vintage, figurino lindo, Broadway, italianos burlescos, no momento da Itália suvenir.

O gesto, que estabelece, divide, sonha, nasce de uma postura, de um tema fundamental, jogo de atores ancestrais e externos, um interesse ético-(sim)político. Um nada-sei, que desperta o desejar, que alimenta de imagens o fio que sustenta tudo invisível.

Então, como os dadaístas eram birutas, parece fácil ser artista. Acabaram os critérios.

Contestação segundo o manual, inovação para inovar, atualidade européia, a favela de Pixinguinha, favela enlatada.

Viciados em adrenalina, vítimas, gozadores profissionais. Tudo o que poderia causar choque foi ocultado: pobre rico, pensar junto, pessoas gordas, distribuição, vida cotidiana. O contexto. Por isso somos chatos, não estamos em lugar nenhum, tudo é igual a tudo. A exploração foi excluída, nosso discurso morre. Bairros, países, massas inteiras sumiram do mundo.

Se meu filho atrapalha meu trabalho, perco o filho: existo quando me respondem. O processo é mais ou menos esse, como na família onde um filho morto cria uma sombra: se é selva, cada um por si, se temos de fazer parte à força da minoria dos privilegiados, se não podemos ver o todo, prever, participar e ter esperança, essa sombra gera angústia que nos aprisiona no mesmo, na incomunicação, no julgamento, o que mata a renovação. A vingança do morto.

E o coelho? Nonsense sem perder a cabeça. Porque Lewis Carroll (calma, ele não aparece!) só existe se tudo for lógico.

Sim, a sociedade do entretenimento da informação, zorra total (o mal é ser exclusivo), onde New York é mais próxima que M´boi, estereótipos, onde a clínica psicanalítica fala de sombras, espectros, todos são de outro planeta, sem chão, sem “raiz e fibra”, um Orlando rolando por aí.

Fernanda Camargo e sua trupe de inova-tores (Tomás Decina, Pedro Cameron e Carolina Bianchi, um gênio da comédia-dark), consegue rir de si mesma, falar da vida de plástico, colocar a arma na boca da personagem, levantar a plaquinha de aplauso, pensar.

Não é fácil.

Afonso Jr.

quinta-feira, outubro 21, 2010

Arrasou, bee...


Mika- Rain

Eu percebi que minha rua nunca teve "moradores", de repente...

Pode? - do Conversa Afiada...


Governo Kassab tenta expulsar mendigos jogando água fria nos colchões



“Brasília Confidencial” via Azenha:


Na contramão das políticas de inclusão lançadas pelo presidente Lula em todo o país, em São Paulo os governos de José Serra (PSDB) e de Gilberto Kassab (DEM) se tornam, a cada dia, mais excludentes.


Além de frequentes cortes de gastos com programas sociais, particularmente na capital paulista a Prefeitura tornou rotineiro um tratamento cruel aos miseráveis, inclusive com o uso de jatos de água fria sobre colchões e papelões que homens, mulheres e crianças juntam para para vender e usam para dormir.


Um levantamento de Brasília Confidencial mostra que até marcas da propaganda nacional do Governo Serra, como os programas Renda Cidadã e Ação Jovem, foram reduzidos em todo o estado.


Na contramão das políticas de inclusão lançadas pelo presidente Lula em todo o país, em São Paulo os governos de José Serra (PSDB) e de Gilberto Kassab (DEM) se tornam, a cada dia, mais excludentes.


Além de frequentes cortes de gastos com programas sociais, particularmente na capital paulista a Prefeitura tornou rotineiro um tratamento cruel aos miseráveis, inclusive com o uso de jatos de água fria sobre colchões e papelões que homens, mulheres e crianças juntam para para vender e usam para dormir.


Um levantamento de Brasília Confidencial mostra que até marcas da propaganda nacional do Governo Serra, como os programas Renda Cidadã e Ação Jovem, foram reduzidos em todo o estado.


O Movimento Nacional da População de Rua estima que o número de moradores nas ruas da cidade de São Paulo aumentou de 12.000, em 2005, para 20.000, em 2010. Quase dobrou, portanto, em cinco anos. Ao mesmo tempo, o número de vagas nos albergues diminuiu.


De 2008 para cá o Governo Kassab desativou dois albergues que tinham 700 vagas mas chegavam a reunir mil moradores de rua. Outras 485 vagas serão canceladas neste ano. Nos três anos anteriores, incluído o governo municipal de José Serra, 350 vagas foram eliminadas.


EXPULSÃO

Os mendigos superlotam os viadutos do Centro da capital, de onde Serra tentou primeiro e o Governo Kassab tenta agora expulsá-los à força de jatos de água jogados pelos caminhões da Prefeitura nos colchões e nas caixas de papelão que recolhem para vender e onde dormem.


A intenção de Kassab é afastar os mendigos para a periferia, longe das vistas dos eleitores das classes média e alta. Nos últimos dias, no entanto, os mendigos têm se espalhado por áreas nobres da capital irritando os moradores desses tradicionais redutos de votos tucanos.


A Prefeitura de São Paulo informa que ainda pretende encerrar, neste ano, os serviços de mais dois albergues, com quase 500 vagas, porque estariam em condições inadequadas. E garante que procura outros imóveis para instalar albergues.


Não há, no entanto, nenhuma previsão de instalações nem previsões orçamentárias para os sem teto paulistanos. O que o Governo Kassab tem feito, além de aplicar o método cruel de afastar os mendigos, é instalar algumas tendas com banheiros químicos que não funcionam à noite.



http://www.conversaafiada.com.br/antigo/?p=27340

quarta-feira, outubro 20, 2010

A francesa Yelle:

segunda-feira, setembro 20, 2010

“Roberto Zucco”

Pois é, eu saio da minha casa, ando pelo centro à noite, espero uns 30 minutos e vou ao teatro ver “Roberto Zucco”. Vocês já ouviram falar daquele texto que em 10 min te entediou?

("Não se trata somente do dramaturgo francês contemporâneo mais encenado no mundo: trata-se de um escritor completamente singular. (...)Passados mais de dez anos de sua morte, ele aparece como um clássico contemporâneo." Fica difícil saber se é a filosofia ou a montagem...

http://www.opalco.com.br/foco.cfm?persona=autores&controle=7 )

Salvam duas grandes atrizes, a irmã e a madame francesa robótica e um irmão brabo bom. E a movimentação da arquibancada, bom. Faz algum sentido incesto e virgindade hoje? Bordel com boá, menina com laço, cara branca, bobs no cabelo... Tem cadeira de interrogatório, momento Lady Macbeth louca, videozinho, briguinha, monólogo sobre a vida...

Ontem assisti a uma entrevista do Boni e ele falou da falta de “conteúdo” na TV brasileira, que era preciso trazer “gente de fora” (como ele fez com Dias Gomes, etc.), que estejam perto do comum e do cotidiano. Grande verdade: em um Brasil cheio de moradores de rua (vi um caído com sangue e moscas na esquina hoje), 1 milhão de dependentes de crack, uma classe média zumbizada que não vê sentido na vida, vestir roupa de Nelson Rodrigues cansa.

E levanta a pergunta: por quê? Para ser “artista”? (A Boa Companhia, em contrapartida, arrasa mesmo quando o enredo não é tão bom, como em “Portela, patrão; Mário motorista”. “Tão bom”, mas bom, com começo meio e fim e um trabalho de corpo e interpretação que o valoriza. Uma reflexão sobre a exploração e a violência da vítima que “denuncia” sem chatear).

O mero acúmulo de palavras e cenas aleatórias lembra o jornalismo de “agenda” de que fala Boni, que repete o mesmo e não investiga nada. No fundo reflete uma falta de critérios, um “vale tudo” moral, onde a arte é neutra como um canal que não pode ofender ninguém.

(Duas cenas exemplares: no Fala Brasil, da Record, logo após noticiar que uma mulher foi baleada na cabeça, a repórter aparece rindo para a próxima notícia; hoje, novamente, após falar sobre um pedófilo que vivia com uma menina de 11 anos, aparece toda contente para falar de um periquito). Esterilização mesmo da violência nossa, interna, pois o ser humano já seria um perigo suficiente se algo nos alojasse no corpo. Pinter e Sarah Kane aí, dando sopa...

Sorte que uma irmã incestuosa (que dá o texto com toda a sutileza possível neste texto) e uma dondoca parisiense cômica, histérica e sorridente, uma cena legal ou outra (o banco da praça, um musical melodramático, movimentos de uma multidão solitária, etc.), mas já no fim e que não levam a um crescendo de inquietação, salvam o que poderia ser uma didática geral do “oh, o mundo sem amor.” Para que?

Roberto Zucco - Espaço dos Satyros Um. Praça Franklin Roosevelt, 214, telefone 3258-6345. 6ª e sáb., 21h30; dom., 18h30. R$ 30. Até dezembro.
Somos felizes


Quando nossa mãe nos teve, sabe, foi há muito tempo, muito tempo, nós passávamos o dia todo com fome esperando papai chegar com a caça, havia mato na época, e a gente comia aquela comida e mamãe lambia a panela, ela ficava sem. E minha avó, ela nos contava, ela colocava uma pedra na panela e ficava brincando de roda com eles, pra distrair da fome. Bebiam a água e iam dormir para não lembrar.


O sono é o melhor amigo dos que sofrem. Daí meu pai veio da Bahia, pro interior, sabia ler e sabia escrever, teve poucas aulas de letras, e os irmãos foram ajudando, o resto fez por conta própria. Quando começou a trabalhar aqui, fez um curso e formou-se na quarta série, pode pagar o aluguel. Minha mãe teve cinco filhos: um morreu dois dias depois de nascido. O terceiro filho morreu com 12 meses com alguma coisa parecida com catapora. O quinto, o médico deu medicação errada, também morreu. Minha mãe sofreu muito. Aí eu tive meus filhos. Com eles grandes a empresa disse que ia dispensar os funcionários. Meu marido desempregado. Um tio disse para nós irmos para São Paulo. Minha irmã disse que pagava quando chegássemos lá, mas o homem do caminhão não aceitou. Meu sogro deu um cheque sem fundo. Viemos eu na frente com o motorista e eles sentados atrás, com uma lona preta, só paramos duas vezes para tomarmos água.

Chegamos na casa, só tínhamos café, não tínhamos nem açúcar. Lembrei de minha avó, sopa de pedra. Minha mãe, sofrida, enterrando os filhos. Lembrei de uma mulher que vi no hospital, quando meu marido adoeceu: ela pegou um lanche sujo debaixo de uma maca que um menino jogara fora.

Pensei que eu tinha sorte. A vida não é apenas o que deveria ser é como nós somos mais do que fomos. Por sorte meu marido achou umas moedas no armário. Passamos assim até que minha irmã chegou. Meu marido estava muito nervoso, eu disse: vamos vencer. No outro dia fui procurar emprego. Hoje meus filhos estão formados, sempre ensinei não pegar nada dos outros, e compramos uma casinha, somos felizes.



Afonso Jr. Ferreira de Lima

quinta-feira, agosto 26, 2010

Rafinha cria o Centro.

Anteontem, assistindo "A Liga" vi uma síntese dos problemas que a TV pode apresentar.
O "Rafinha" é aquela flor que foi capaz de falar que "macaco..." (fazendo o Hélio de la Peña se zangar) e dos 10% de tudo que o Cristian Pior ia levar, levando uma bronca pública. Não é sua culpa: nosso olhar é cego, nosso realismo bebeu do delírio modernista e ficou vendo sem ver.

Não éo caso, claro,mas eu conheço aquela (minha) classe média gaúcha capaz de ser ainda patriarcal, provinciana e modernosa (vista Nike, seja radical!) por que vê apenas um pedaço. O mais impressionante é que ele não é um zero-instrumento do capitalismo (como um Mainard) e parecia bem simpático: o que mostra mais ainda a face do "medo" e do "impacto-que-vende-torna-se verdade".

[Isolados do vale tudo da megalópole, vivendo apenas entre três etnias, sem a circulação de classe de onde todos vendem e todos compram, com ar aristocrático de “quem roubou o meu queijo”, a elite gaúcha vive no século XIX. É uma elite que ainda pode simplesmente desprezar os “pobres”, enquanto aqui é preciso dar algumas migalhas... (15 estações de metrô em 16 anos). Não é a toa que temos um símbolo de monopólio de comunicação e ser artista é estar lá.

São várias piadinhas de "veado" no CQC. Ainda tem graça... (“É um povo mais aberto”, quando a Argentina liberou o casamento gay. Quem tem meio neurônio ri culpado. Bem, que tal fazer piada de judeu?)]

A TV tem de falar rápido: saber o que já sabemos.
Bem,a reportagem reduziu o centro de São Paulo a "ambulantes, viciados, imigrantes e sexo",como sintetiza o apresentador ao final do programa! Uma imagem distante das lojas e uma mulher na parada de ônibus com a pergunta "você se sente segura aqui?" é tudo que se tem a dizer e a mostrar do lugar onde caravanas vem do Brasil todo para ver exposições de arte e comprar suas roupas de boutique! Se andasse uma quadra daria no Franz Café, meia, no Plaza Luz e duas no Bellapan, o pão de café que saiu an Ana Maria Braga, Estadão e ruma à Veja!

Onde está o Sujinho, o Teatro de Arena (onde uma viatura de polícia estava fazendo a segurança na última peça que vi), a Oficina Oswald de Andrade e A Rota, a Fatec, etc. etc?

Será que nosso artista nunca foi ver Harold Pinter na Roosevelt? Será que a feira onde circulam centenas de pessoas (um amigo estrangeiro é que me apresentou), onde já levei diversas caravanas de turistas sem ter problemas pode ser reduzida aos dois malandros que ele apresenta? A mulher responde o que qualquer um em qualquer lugar responderia: falta segurança. (Mesmo na República, à noite, há uma viatura da polícia!) Mas uma amiga foi assaltada na Paulista, né?

Em um mundo de política cínica onde a exclusão começa pela "degradação" da imagem, pois o que não produz pode ser esquecido, e onde a TV tem esse papel formador, não valeria apena mostrar as velhinhas fazendo caminhada na Luz,os universitários na rua Direita, a Ópera do Municipal e a bela nova Mario de Andrade, excelentes restaurantes, como o Nutrissom, e a UNG do Shopping Light?

O estereótipo significa mostrar o que eu penso: é assim que "a elite" foge e a distância se reafirma. Para invadirmos o Iraque, primeiro eles tem de ser "fanáticos" que tratam suas mulheres mal. Para excluir toda uma população,primeiro eles tem de ser "excluídos". Um "favelado" é incorrigível, né, diferente da gente... Quando Ele, Mr. Comunicador, chegou na cidade, alguém disse: “Hei, olha o Centro...” E o Centro se fez.

Coisa diferente seria mostrar que, apesar do esquecimento da Prefeitura, da luz insuficiente, policiamento fraco em ALGUNS PONTOS e não atendimento aos dependentes do Crack, sim, o Centro vive (muito!) e faz parte da cidade.

quinta-feira, julho 22, 2010

O crime

O Brasil está estarrecido com o crime. Nossa primeira reação é descrever os suspeitos como psicopatas, mas aonde isso vai nos levar?
Onde se aprende a tirar os obstáculos do caminho com violência? O diálogo existe para a maioria da população?
Há, apesar de tudo, muito o que pensar. Por exemplo, viu-se que o pai poderia ser um pedófilo. Muita gente do meio psi me conta que isso é muito mais comum do que se imagina, ainda mais entre as classes desfavorecidas, onde, barbaramente, serve até mesmo de “sustento” da família.
O ocultamento de corpos é prática comum entre os criminosos organizados. Até mesmo o número de óbitos acabou baixando.
“Quem nunca saiu na mão com uma mulher?” – disse Bruno. Será que as mulheres ainda são vistas como objeto, são espancadas, são submetidas a um machismo grosseiro? Um grupo de professores que visitou o nordeste voltou chocado com os abusos dos pais, abusos sexuais, espancamentos, etc. “O mesmo machismo da favela em São Paulo”, disse-me uma amiga. Isso nos lembra do “Puta!” na universidade e da própria dizendo que a aluna era culpada.
É inevitável pensar sobre o fato de que existem grupos de extermínio, alguns ligados à polícia. Muitas mortes podem simplesmente não ter atraído a mídia. Volto a relatar o que disse uma moça que trabalha com a UNESCO: a imprensa tem medo de enviar repórteres à “periferia”, o que torna a violência invisível.
Ainda há a questão das meninas que foram adormecidas pelo sonho de sucesso, representado pelas modelos e celebridades (até do futebol). “Tem jogador que liga dos Estados Unidos, sabe que você já saiu com vários, e quer negar, é complicado!”
Um dos amigos conta que ele e o goleiro passavam fome e comiam pipoca na parada de ônibus – até ganhar 200 mil Reais por mês. Será que criamos uma sociedade de excluídos, que vende a ilusão de que o luxo é o sentido da vida, e, portanto, exclui da humanidade ricos e pobres? Jovens adolescentes estupram uma menina, e seus parentes, donos de uma rede de TV, dão a lição: não serão julgados pelo público. Nada pode explicar a maldade, mas é possível olhar o campo fértil que a fez germinar.
A polícia também parece estar acusando e condenando – é sociedade do espetáculo? Uma semana depois a TV repetia infiniatamente o já sabido: notícia ou delícia (sádica)?
Como a polícia não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, é preciso a cooperação, o consentimento, o que só se alcança com a distribuição da felicidade. A pena não basta para criar a ordem, é preciso valer a pena. A opressão e a injustiça levam os homens à idolatria da força.
Benjamin achava que um pedaço da realidade espelha o todo. É interessante se transformarmos o horror em análise. Uma sociedade onde a lei é para a minoria ensina que sempre é possível resolver “no braço”. Um governador responde a um jornalista que o questiona sobre os pedágios: “Seu discurso é apenas o discurso do PT”. Onde o diálogo? “Resolvam o problema” - é uma frase que poderia estar na boca de muitos senhores feudais econômicos e políticos.

quinta-feira, julho 15, 2010

PORQUE CONTINUO SENDO LULA

Pedro Lima
Economista da UFRJ



FHC, o farol, o sociólogo, entende tanto de Sociologia quanto o
governador de São Paulo, José Serra, entende de economia.

Lula, que “não entende de sociologia”, levou 32 milhões de miseráveis e
pobres à condição de consumidores; e que também não entende de
economia; pagou as contas de FHC, zerou a dívida com o FMI, faz a economia crescer em ritmo chinês (2010) e ainda empresta algum aos ricos.

Lula, o analfabeto, que “não entende de educação”, criou mais
escolas e universidades que seus antecessores juntos. Foram 14
universidades públicas e estendeu mais de 40 campi (FHC não criou nenhuma em 8 anos), e ainda criou o PRÓ-UNI, que leva o filho do pobre à universidade [meio
milhão de bolsa para pobres].


Lula, que “não entende de finanças nem de contas públicas”, elevou
o salário mínimo de 64 para mais de 291 dólares [valores de
janeiro de 2010], e não quebrou a previdência como queria FHC.

Lula, que “não entende de psicologia”, levantou o moral da nação que vai sediar a Copa de 2014 e a Olimpíadas de 2016, e disse que o Brasil está melhor que o mundo. Embora o PIG (Partido da Imprensa Golpista), que entende de tudo, diga que não.

Lula, que “não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de
nada”, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o
país à liderança mundial de combustíveis renováveis [maior
programa de energia alternativa ao petróleo do planeta].

Lula, que “não entende de política”, mudou os paradigmas mundiais
e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a
ser respeitado e enterrou o G-8 [criou o G-20].

Lula, que “não entende de política externa nem de conciliação”,
pois foi sindicalista brucutu; mandou às favas a ALCA, olhou
para os parceiros do sul, especialmente para os vizinhos da
América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser
imperialista. Tem fácil trânsito junto a Chaves, Fidel, Obama,
Evo, etc.

Lula, que “não entende de mulher nem de negro”, colocou o primeiro
negro no Supremo (desmoralizado por brancos) uma mulher no cargo
de primeira ministra, e que pode, inclusive, fazê-la sua sucessora.

Lula, que “não entende de etiqueta”, sentou ao lado da rainha (a
convite dela) e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.

Lula, que “não entende de desenvolvimento”, nunca ouviu falar de
Keynes, criou o PAC; antes mesmo que o mundo inteiro dissesse
que é hora de o Estado investir; e hoje o PAC é um amortecedor
da crise.

Lula, que “não entende de crise”, mandou baixar o IPI e levou a
indústria automobilística a bater recorde no trimestre [como
também na linha branca de eletrodomésticos]. “É só uma marolinha”, disse ele. Ninguém acreditou, mas ele estava certo.

Lula, que “não entende de português nem de outra língua”, tem
fluência entre os líderes mundiais; é respeitado e citado entre
as pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual [o melhor
do mundo para o Le Monde, Times, News Week, Financial Times, The Independent e
outros...].


Lula, que “não entende nada de sindicato”, pois era apenas um
agitador;.. é amigo do tal John Sweeny [presidente da AFL-CIO -
American Federation Labor-Central Industrial Congres - a central
de trabalhadores dos Estados Unidos, que lá sim, é única...]e
entra na Casa Branca com credencial de negociador e fala direto
com o Tio Sam lá, nos "States".

Lula, que “não entende de geografia”, é ator da [maior] mudança geopolítica das Américas [na história]. Lula, que “não entende nada de diplomacia internacional”, pois
nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e
se torna interlocutor universal.

Lula, que “não entende nada de história”, pois é apenas um locutor
de bravatas; faz história e será lembrado por um grande legado,
dentro e fora do Brasil. (Menos pelo PIG, é claro)

Lula, que “não entende nada de conflitos armados nem de guerra”,
pois é um pacifista ingênuo, já é cotado pelos palestinos para
dialogar com Israel.

Lula, que “não entende nada de nada”... é bem melhor que todos os outros...!

quarta-feira, julho 07, 2010

J.L. Goldfarb

Conheci J.L. Goldfarb porque freqüentamos a mesma universidade. (Ele casou com a moça inteligente). Não somos amigos muito próximos, mas isso apenas significa que, em um mundo marcado pela multidão que mecaniza, ele tem muitos amigos e trata a todos com bondade.

Abrindo livros, voando por ai, organizando e juntando. Sempre achei que a função de um professor é despertar o desejo dos alunos, porque a intelectualidade enquanto acúmulo pode decair em arrogância sem o sopro da vida.

(Afinal, o que conta, é achar seu próprio desejo, quem sabe, diria Lacan, porque - ai de nós, que não podemos viver dentro das linhas e vivemos - tudo nos interessa e todos os livros formam uma só escrita que luta contra a indiferença e o preconceito).

Claro, ele faz parte daquele povo riquíssimo cujo tesouro ostenta como Livro (era o que os imigrantes do séc. XIX tinham na mala, porque não vieram acorrentados). Mas há ainda mais (como os 49 significados de uma palavra da Torat: há a essência da comunicação, que é a tribo, o olhar, a fratria pelo diálogo.

E ele sai por aí, distribuindo livros (foi pra ele esse refrão) e cantando as maravilhas de se ter um irmão. E é por isso que a gente tem esperança, porque ele vê o que não vemos, e sabe nos contar. (Frei Rovílio Costa, de Porto Alegre, foi outro desses chefes de tribo que erguem Templos à Palavra, criando vínculos onde, por exemplo, a cidade do meu pai, Bom Jesus, perdida no tempo, reviveu). Então, amigo, quando tivermos passado, os herdeiros herdarão a terra, uma semente planta a outra. E está feita a humanidade.


Saramago
É muito emocionante para mim ver o amor do povo português pelo seu poeta, que mudou de ilha. Na biblioteca converso com a funcionária que diz não ser grande fã de Saramago, e eu digo que também não sou um apaixonado, mas penso que ele me ensinou a pensar em termos de cores e sensações, numa nuvem vermelha que corre sem cessar.

Eu só conseguia ver um céu alaranjado e roxo enquanto um Anjo dourado convidava Maria para entrar. (Só li dois livros dele, porque só temos 100 anos, e dá um livro por minuto). Eu digo que admiro sua figura combativa, sempre ao lado dos pobres, sempre não-crente. Pergunto se ela viu o filme, ela diz que não, que os estupros do livro já foram de bom tamanho.

“Mas, infelizmente, essa foi a história da mulher” eu digo, “ele retrata um mundo primitivo onde vale tudo” e, dizendo isso, entendo: “Ou seja, ele fala de hoje”. Penso que deu um choque geral, mostrando um animal que come carne, no mundo congelado do burguês novo milênio, anestesiado com maravilhas luminosas e a velocidade irrefreável da ambição.

Onde o conhecimento se solidifica em castelos auto-referentes. Sempre achei que nas portas dos banheiros estão as verdades escondidas, onde a capa de elegância não pode segurar o fascismo reinante, e é lá que as encontro. (Na faculdade, pensei em escrever um ensaio sobre a quantidade de números de telefone entre homens, porque macho que é macho se esconde).

“Sou paulistano e paulista, mas digo que os nordestinos são mais inteligentes”, escreve alguém. “Senão não teríamos ótimos porteiros e manobristas, o proletariado que nos serve!” – responde outro mais revolucionário. “Podem ser inteligente (sic), mas são tosco (sic)”- responde outro. Ai está um mundo onde o desqualificar vem antes do dominar, porque a base do imperialismo é a incompreensão. Então, eu compreendo Saramago.
Gift

Quero meu dada particular

um anjo descendo a escada

o que eu tenho é uma canção

maluca, o mundo, complicado

é simples, sim, um arco-íris

e mil luzes de se perder

o africano em mim tem tambores

o mongol quer cavalos no infinito

um sorriso, um abraço, o limite

caminharmos nessas florestas

ou dizermos que tudo é uma fraude

Pode ser que eu corra na chuva

Pode ser que tenhamos um filho

Que aprandamos a perdorar

Que você me faça inquieto

e eu durma em seus braços

um colapso, uma rosa, os campos todos do mundo

Eu sou do coral da savana

Falo em nome de Buda

Sou a selva de ouro

com beijos e abelhas

Sou o vitoriano corpo que treme

Vejamos as estrelas antigas

Na capa do gaúcho, deitados no úmido verde

Não sei começar e nem perder

E você pode dizer: isso é seu

Agora está feito

Meu coração não sabe como

Você vai ser seu dono


Afonso Jr. Lima

quarta-feira, junho 23, 2010

Agora
Quando o fascismo chegar
Haverá mortos nas ruas
Mortos ou não
(São os dispensáveis
no mundo da informação)
E todos pensarão que é
Ainda o mais belo dia
Quando ele chegar, festivo
Mal saberemos seu nome
Os pobres serão presos
A boca dos criadores
Haverá um só pensar
E a fala bruta da morte
Haverá alegria e risadas
(tortura legalizada)
E a pedra-paz do mais forte
O fascismo precisa sim
De uma boa dose de sonho
(um sonho sem som, nem cores)
Sonhar que alguns são
Melhores
Já botas marcham fora da caserna
Os mortos pedem suas valas abertas
Uma dominação injusta
Não pode ser eterna
Liberdade: onde falam os povos
Os homens que se governam?

A selva cresceu lá fora
(homem-cabeça de caixa,
500 anos para fabricar)
Voltaram os castelos
Igualdade: para todos,
sala vermelha com escultura
Cidade em mil pedaços, vaidade
Como pode o surrealismo
Transformar a sociedade?
Fraternidade: promoção na vitrine
Franco por muito pouco
A velha miserável mija na rua
Herdeiros de Nero louco
Os que chegaram antes
(mas depois)
São os novos senhores da terra
Fecham as portas a seus pais
Que eram gente como essa
Se o fascismo chegar
serão felizes os homens
Que precisam repetir
(as coisas como estão
são horrores que virão)
Não haverá Lorca ou aurora
Seremos atores
Quando chegar
Todos os poetas serão arautos
dos tempos passados
daqueles que morreram
(mas em grega, branca glória)
Insulto será falar
dos dias que vivemos
Os jovens saberão muito
Mas nada do que estão vendo
A dor e opressão do mundo
Alegremente esqueceram
Os pensadores serão
Aqueles da torre dourada
(saberes sem contexto)
encantados no espelho
e o mundo desfeito em nada
Para os negócios é bom
Que ninguém pense diferente
Há nova ordem e progresso
No banquete da Serpente
Quando o fascismo chegar
(Faremos nossa opção)

A rua será silenciosa
Não haverá amores - desses doloridos
Porque não há vida sem contradição -
Todos que discordarem
Serão, assim, malfeitores
Quando o fascismo chegar
Haverá dor e noites com medo
Mas não haverá um sonho
De um dia sem segredos
Afonso Jr. Ferreira de Lima

sexta-feira, junho 18, 2010


Ontem vendo o Jô, quase tenho um treco com a entrevista: "O Serra fez o teste do pezinho, eu estava lá..." Gente, um novo Collor?

sexta-feira, abril 30, 2010

A Era Pós-Veja

O Serra rindo pode ser uma capa histórica de "maquiagem". Alguma vez algo representou tão bem a "realidade paralela" da "opinião pública" privada?

Então...
Mais um amigo conta que foi "expulso" do metrô da Linha Vermelha pela quantidade de gente que entrou, fazendo-o sair pela outra porta. No Encontro dos Grupos de Teatro Latino-Americanos, no Centro Cultural São Paulo, os grupos falam do desmanche da lei de fomento (que patrocina 30 dos 400 grupos da cidade), assim como demais medidas repressoras contra professores, periferia, a própria polícia!

Como já foi dito:


"Acompanhamos com preocupação por causa da violência da polícia, é um desrespeito com as pessoas. A periferia de São Paulo hoje está sitiada, qualquer coisa é motivo para a polícia entrar e matar as pessoas"

(Antonio Maffezoli Leite- coordenador auxiliar do Núcleo Especial de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo)

Temos ainda a propaganda descarada da Globo na campanha do Serra-FHC-2, sua transformação em TV do Partido. Como comentou P.H.A.:

“Deve ser uma retribuição ao agasalhamento do terreno que a Globo invadiu por 11 anos e o Serra transformou numa escola técnica para formar profissionais para a Globo. Uma mão lava a outra. E cada vez 'mais !”.


Ou seja, repressão da comunicação, de um lado e repressão da população, de outro.

Dentro desse contexto proto-fascista, vemos a Veja anunciar-criar uma Era Pós-presidente-mais-influente-do-mundo-pela-Time. (Ou seja, nem os liberais mais originais se equivalem ao nosso P.I.G)

Seria mais realista falarmos de uma Era Pós-Veja, pelo menos isso já aconteceu.


Era uma vez a Veja como informação e jornalismo (sem falar na transformação em jornalismo do "não-veja" . E, precisamos ficar atentos para evitar que a visão seja perdida por completo, retornando ao fascismo: pós-veja, seria então o tempo sombrio do consenso!)

Como coloca Nassif (agora processado!):

"O maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos
foi o que ocorreu com a revista Veja.
Gradativamente,
o maior semanário brasileiro foi se transformando em
um pasquim sem compromisso com o jornalismo,
recorrendo a ataques desqualificadores
contra quem atravessasse seu caminho,
envolvendo-se em guerras comerciais
e aceitando que suas páginas e sites abrigassem
matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico".

Assim fica como clássico o testemunho de um filho admirando o pai indignado, que cancelou sua assinatura:

"Hoje, ele cancelou a renovação da Revista VEJA, aquilo que para ele já foi seu meio de conhecimento do mundo, depois de chamar de “idiota” a entrevista daquele herói das páginas amarelas (sobre a "inexistência de motivos para temores com o aquecimento global").

Antes, havia criticado fortemente um artigo de Reinaldo Azevedo publicado na Revista, em que Azevedo falava atrocidades sobre Paulo Freire: “meu filho, veja que besteira esse homem está dizendo sobre Paulo Freire”.

Hoje, ele operou uma mudança nesta realidade tão acostumada à perpetuação do estabelecido. Hoje, para o mundo, como em todos os dias da minha vida para mim, meu pai é um herói".