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segunda-feira, novembro 16, 2009


Sim. O Lula investiu 90 milhões em 2008 e 100 milhões em 2009/10 em bibliotecas, enquanto em 2002/30 foram investidos meros 7 milhões, sim, por aquele professor.

Este dado, fornecido por Fabiano dos Santos, da Diretoria do Livro e Leitura do Minc, foi uma das ações importantes debatidas durante o II Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias e o II Fórum Prazeres da Leitura, patrocinado pela Poiesis e pelo governo do Estado.

Justamente o secretário da cultura João Sayad gerou desconforto com suas colocações: os curadores de exposições seriam responsáveis por gastos com "mostras", enquanto o bom mesmo seria exibir o acervo dos museus.

Concordo que há alguns exageros, principalmente quando o "novo" não cabe no sentido didático para o público leigo, mas... será? Não é chato, sempre o mesmo? O curador seleciona um olhar, propõe uma narrativa.

Já, segundo o secretário, as Bibliotecas deveriam entrar na cultura "competitiva do século XX", tipo "jogo de futebol" (?), expor bem na frente Paulo Coelho e, quem sabe, a Playboy (?), e, mais atrás, Guimarães Rosa.
A platéia resmunga. Sim, deve haver alguma lógica. Tem que haver...

"Por que ler ao invés de ver um DVD"?

Sejam quais forem as vantagens de acessos múltiplos (é um absurdo, por exemplo a insistência da escola em fazer jovens de 18 anos ler apenas romances do século XIX, quando há tanta coisa leve e curta do Séc. XX!), soou maaaal.

Professora Lucia Santaella encantou o público explanando sobre as diferenças entre o leitor interiorizado do Renascimento, o leitor desatento da cidade, e o leitor implodido do Kindle. (O mestre de cerimônia, José Goldfarb, avisa que ela já foi twittada :)

Foram apresentados os lindos projetos da cidade de Medelín, do Ecofuturo, entre eles a criação de Bibliotecas Comunitárias, o ônibus Biblioteca do Município (que existe desde 1936, Mario de Andrade: vá em busca de seu público) , o Barganha Book de São Carlos, feira de trocas, (sem medo de "fazer o bom por causa do otimo") e o Instituto Pró-Livro, com sua visão ampla e o interesse que despertou pelo Brasil em sua curta existência.

O que mais me impressionou mesmo foi o trabalho do Programa Nacional do Livro e Leitura, que, como se disse, não criou praticamente nada (o que pode até ser bom nesse vai e vem de governos e ações), mas articulou, incentivou e deu resultado.

E é fácil começar obras de impacto:
a Biblioteca da Escola Municipal Maria de Lourdes Gonzaga, recebeu em 2008 os 6.000,00 que precisava para "Ter em mãos uma quantidade aproximada de 5.000 livros para a efetivação da primeira biblioteca escolar".

Como tudo no Brasil o mais incrível é o básico: um senhor nordestino contou-me que o Lula é um herói no rio São Francisco, pois colocou barcos a vapor por lá!

Moacyr Scliar fechou a noite com seu otimismo imbatível, dizendo que provavelmente ganhou o Jabuti porque souberam que ele ia falar para "pessoas tão importantes", contando de seu amor-tormento pelos livros e lembrando que o Brasil melhorou muito: "Nunca se falou tanto em livros! Não posso aceitar 1/3 dos convites que recebo para encontros sobre o livro!"

Todos nós saímos acreditando que ainda vale a pena guardar e trocar ideias.
Bonito Caetano, sua mãe ainda não é da elite,
nem quer puxar o saco...

Dona Canô vai pedir desculpas a Lula após Caetano chamá-lo de analfabeto

"
Vou me desculpar e dizer que, pelo que conheço de Caetano, sei que ele não quis ofender o presidente. Não é possível que ele chamasse Lula de analfabeto, aliás, ele nem teria o direito de falar assim. Ele é apenas um cantor", afirmou".

http://noticias.uol.com.br/politica/2009
/11/16/ult5773u2980.jhtm

quinta-feira, novembro 12, 2009

Apagar a verdade?


Em 2006, Alberto Dines escreveu sobre uma suposta "Onda antimídia" que estaria atormentando os jornalistas com mensagens críticas, certamente "enviadas por militantes petistas".

"Esta onda antimídia está ganhando proporções de verdadeiro linchamento... rancor jamais visto entre nós. Na quinta-feira (2/10), na Folha de S.Paulo, a colunista de política Eliane Cantanhêde denunciou a avalanche de e-mails ofensivos e ameaçadores que atulha a caixa postal de jornalistas e de veículos.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=405JDB021



Bem, eu não sou militante petista, mas não é difícil pensar que D. Eliane tem algum problema com Lula. Será que é o fato de ele ser o Brasil “verdade inconveniente”?


(Vide William Waak dizendo, como bem resumiu alguém no twitter, que o Brasil "não presta"...)


http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=20834

É que a grande mídia se distanciou do cidadão comum, a ponto de uma representante da Unesco confessar em palestra que os grandes jornais não enviam mais jornalistas à periferia por medo. Ou seja, trabalham em casa, no seu bairro...

Abaixo uma notícia bem feita, de Claudia Andrade, sobre o apagão, no UOL online que, como o G1, consegue superar a versão televisiva e "oficial" do grupo: informa o motivo; não tenta usar fatos para insinuar nada; aceita dados informados.


Vale a pena ser citada, pois demonstra imparcialidade cada mais rara. Comparemos com a Folha mesma abaixo:


***

Raios e ventos na região de Itaberá (SP) causaram apagão no país, diz ministro


Claudia Andrade*

Do UOL Notícias



A reunião realizada no fim da tarde de hoje reuniu mais de 40 pessoas, integrantes de órgãos ligados ao Ministério de Minas e Energia. "Todos chegaram à conclusão que foram descargas atmosféricas, ventos e chuvas muito fortes na região de Itaberá (SP).

Houve uma concentração desses fenômenos atmosféricos ali. O que provocou um curto circuito nos 3 circuitos que levam a Itaberá, que vêm de Itaipu", disse Lobão. Nenhuma medida emergencial para evitar que o problema se repita ficou estabelecida. Ele classificou o fato de "ocorrência raríssima".

"Vejam que temos três linhas. Se caísse uma, as duas atuariam fortemente, caindo duas, a terceira sustentaria o sistema, não conseguiu sustentar, tão forte foi a incidência dos raios ali ocorridos", disse Lobão durante a entrevista no começo da noite.

De acordo com Zimmerman, nenhuma medida emergencial foi adotada porque a ocorrência foi considerada excepcional. Ele afirmou, contudo, que o encontro realizado hoje resultará em um relatório com propostas de melhorias no sistema.

Questionado se não haveria nada a ser feito para evitar um novo apagão em curto tempo, o ministro recorreu mais uma vez ao histórico de investimentos. "Há o que fazer fortalecendo o sistema. Isso nós fizemos. O sistema está fortalecido. Eu disse que temos três circuitos, não um, não dois", afirmou.

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/11/11/ult5772u6082.jhtm

***

Dito isto, voltemos à Folha, nas manchetes:

MP abre investigação sobre apagão

Governo culpa "fenômenos climáticos" por apagão

Usina de Itaipu levou oito horas para voltar a funcionar após apagão



... É que, nesse caso, as linhas que levam energia para o país vizinho são de responsabilidade da paraguaia Ande (Administración Nacional de Eletricidad) e não de Furnas.

Isso foi usado pela direção da hidrelétrica para reforçar que o apagão não teve origem em Itaipu. "Em 15 minutos [após o início do apagão], o sistema paraguaio já estava sendo suprido por Itaipu, o que reforça o fato de que a causa do defeito foi externa", disse a direção, em comunicado oficial.

***


Escuridão na luz - Sérgio Malbergier (com destaque no site)

....
A teoria do raio de Bauru, obviamente, nunca foi comprovada. Procurado, São Pedro não retornou as ligações da Redação. Nossos dirigentes não estão interessados em dar satisfação aos cidadãos-eleitores, mas em nos enrolar para que possam seguir tocando seus negócios como sempre.


***

Vale lembrar do apagão FHC, este sim, por falta de investimentos:




"A crise ocorreu por falta de planejamento e ausência de investimentos em geração e distribuição de energia, e foi agravada pelas poucas chuvas. Com a escassez de chuva, o nível de água dos reservatórios das hidroelétricas baixou e os brasileiros foram obrigados a racionar energia [2].

Após toda uma década sem investimentos na geração e distribuição de energia elétrica no Brasil, um racionamento de energia foi elaborado às pressas, na passagem de 2000 para 2001".

http://pt.wikipedia.org/wiki/Esc%C3%A2ndalo_do_apag%C3%A3o]




Só para lembrar, FHC recentemente pretendeu comparar seu governo ao de Lula, causando constrangimento aos tucanos:


"Como destacaram, em 1997, Cid Benjamim e Ricardo Bueno, no "Dossiê da Vale do Rio Doce", "o Brasil levou 54 anos para construir e amadurecer esse gigantesco complexo produtivo. O governo FHC pretende vendê-lo, recebendo no leilão uma quantia que corresponderá, mais ou menos a um mês de juros da dívida interna". Em maio daquele ano, a Vale foi vendida pelo governo federal por R$ 3,3 bilhões. Em 2007, seu valor de mercado estava em torno de R$103 bilhões."


http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16223


Então, jornalismo de laptop: alguém se lembra da entrevista de Itamar de Souza – um dos integrantes do MST que esteve acampado em Brasília em agosto? Pois é, só na Agência Brasil.


“Somos responsáveis por 95% da produtividade [daquilo que chega à mesa do brasileiro]. No entanto o dinheiro destinado para pequenos e médios produtores é de apenas R$ 15 bilhões, enquanto o dos grandes [produtores], que plantam principalmente para o mercado externo, é de R$ 45 bilhões. É preciso reverter esse quadro”, afirmou.


Agora a Folha fala que apenas menos da metade do orçamento para a energia foi utilizado, em 2009. Mas onde está o contexto?

Lá no meio se lê, bem depois do impacto da manchete, só para assinantes:


A Eletrobrás prevê que, até o fim de ano, executará de 70% a 80% do orçamento. Segundo a estatal, a execução depende de fatores como "procedimentos legais e ambientais que necessitam ser cumpridos".


Onde estão os dados sobre o investimento do PAC? Será que mídia agora é só a defesa de um ponto de vista privado?


http://www.brasil.gov.br/pac/.arquivos/8balanco_3Aenergetica12112009.pdf


terça-feira, novembro 10, 2009

Quando o Estado compensa sua ausência com força

by Michelle Amaral da Silva — http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/entrevistas/quando-o-estado-compensa-sua-ausencia-com-forca

"Para o professor do Departamento de Economia da Puc-SP Ricardo Gaspar, aumento do 'número de favelas e ocupações precárias' em São Paulo é preocupante

Como avalia essa intensificação de confrontos em São Paulo entre forças de segurança e moradores de comunidades pobres?

Ricardo Gaspar - Esse é um problema crônico de todas as cidades mais importantes do planeta hoje, que passam por uma transformação bastante profunda na sua estrutura econômica, diminuição de empregos industriais, aumento de empregos em serviços, precarização da força de trabalho e vulnerabilidade da moradia. São três elementos que eu queria destacar, esse é o primeiro.

O segundo é o fato de que os governos locais das cidades são, por si só, incapazes de resolver esse problema se não tiverem um apoio forte, uma institucionalidade regional e um apoio do governo federal para isso. Em terceiro lugar, apesar das cidades não poderem fazer muita coisa, [elas] podem fazer, sim, ações importantes, e a cidade de São Paulo não está fazendo isso, pelo menos na direção correta.

São ações não só no sentido de propiciar maior número de moradias, condições mais adequadas de moradia, como também planos para a cidade, planos mais democráticos, que prevejam maior mistura de usos, acessos mais fáceis à população de baixa renda aos serviços públicos e equipamentos públicos. Isso não está sendo feito pela atual administração".

***

Maioria dos alemães orientais sente que a vida era melhor no comunismo

Uol -Der Spiegel

A apologia da República Democrática Alemã está em alta, duas décadas
depois da queda do muro de Berlim. Os jovens e os mais ricos estão
entre os que desaprovam as críticas segundo as quais a Alemanha Oriental
era um "Estado ilegítimo". Numa nova pesquisa, mais da metade dos
antigos alemães orientais defende a RDA.
...

O resultado dessas pesquisas, divulgado na sexta-feira em Berlim,
revela que a glorificação da antiga Alemanha Oriental atingiu o cerne
da sociedade. Hoje, não é mais uma mera nostalgia eterna que chora a
perda da RDA. "Uma nova forma de Ostalgia (nostalgia pela antiga RDA)
se constituiu", diz o historiador Stefan Wolle. "A ânsia pelo mundo
ideal da ditadura vai muito além das antigas autoridades
governamentais." Até os jovens que quase não tiveram experiência com a
RDA a estão idealizando hoje. "O valor de sua própria história está em
jogo", diz Wolle.

As pessoas estão ignorando os defeitos da ditadura, como se as
críticas ao Estado fossem um questionamento de seu próprio passado.
"Muitos alemães orientais percebem as críticas ao sistema como um
ataque pessoal", diz o cientista político Klaus Schroeder, 59, diretor
de um instituto na Universidade Livre de Berlim que estuda o antigo
Estado comunista.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2009/07/05/ult2682u1224.jhtm

segunda-feira, novembro 09, 2009

"Prefeito Kassab (DEM) fecha bibliotecas em São Paulo

Sob a alegação de falta de demanda, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) determinou o fechamento de quatro bibliotecas infanto-juvenis em São Paulo.

Foram desativadas uma biblioteca que ficava no Alto da Lapa (Cecília Meireles), duas na Vila Mariana (Zalina Rolim e Chácara Castelo) e a última no Tatuapé (Arnaldo de Magalhães Giácomo).

Juntas, as unidades tinham um acervo de 165 mil livros que registraram o acesso de 58.842 pessoas de janeiro à setembro de 2007".

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/prefeito-kassab-dem-fecha-bibliotecas-em-sao-paulo

Menos bibliotecas

O prefeito fechou o livro

mas a mente é sempre fogo

Sem palavras e sem freios

corta, mostra, torna vivo

o dentro


O homem odeia os livros?

torna o caminho tortuoso

nosso rosto não nos fala

voz dum mundo rouco


meu falar cria molduras
de futuro, o medo emudece
sem passado e sem olhar
o homem, só, adoece


sim, livros e pontes

sim, precisamos falar

sim somos um povo

de poetas naturais


aquilo que herdamos e somos

nos vem por invisíveis

pássaros que voam


tomar pé e chegar ao chão

biblioteca avenida

palavra puxa palavra

inventa o mundo

e lê a vida


Senhor, senhor que tem a chave

abra a lingua para a passagem

de homens por dentro de si

só há um grande enredo

da guerra, do amor e do medo

sem forma o fogo de dentro

torna-se fogo de tormento

os livros contam a passageira

contagem



Afonso Jr. Lima

quinta-feira, outubro 22, 2009

1 000 000 000


Preto turbinado: o carro

O astro australiano da semana

Ouro na noite

A semiótica a robótica a logológica

Pesado medido tese de doutorado

Explode a favela


Teu rosto machucado

Velho, pedindo comida

Teu cheiro repulsivo

- tua roupa imunda

Bêbado!

por tua sorte te culpam:

Chegaste tarde no albergue?

Não querias tomar banho?

Por que essa cara de espanto e de dor?

De onde vem esse roxo e esse sangue?

Tanto dinheiro e nenhum para ti

Tuas chagas são nada

Ouro e negro, a noite

A cidade se apaga


São Paulo UK:

viver

ou não

herança antiga

– abandonados

entregues

o frio

solidão

e a esperança?


fechado

o albergue

um fio de

projeto social

0 . 1 . 1 . 0

número

sem barriga

o mal no mundo racional


10 bilhões 100 bilhões

de euros de ações de bites

a fotinha a motinha celebridades

a Bolsa caiu, a Bolsa subiu

num instante

comentário na tela, economista

cabeça americana, transplante

formada, transformada, elite pensante

São Paulo mil favelas

1 bilhão de famintos


a tela, a visão

palavra feitiço

morreram nas chuvas

ficaram sem leite

perderam a mãe

sem casa: enchente


senhor cidadão

corre entra pula

dorme dorme dorme

- no domingo

somos os primeiros

prata corre: crescemos

tetra luxo meta super

bocas

insanos urbanos


- chamem

as deusas da floresta

para trazer o que interessa

um canto do lago, uma reza –


que tudo é isso?


- me chama de índio raiz e cobra

fala da Terra Sem Males

quero um sono de dormir e ser o mundo


Quero ir ao outro da lua

pelas pedras e estar com meu povo -


A arte a língua a vaga angústia

Bresson pop um som

internacional: eletro DJ o novo

gringo de 80 reais

a cidade a balada

a guerra, terror

O Chamado: bonde

entre empurre grite

usuário aguarde: gado


o eleitorado

metropoferrado


praça anti-mendigo

o velho bicho

o Isso

animal mestiço

- Não!

criança baleada na rua!

chegamos a um bilhão


socorro

de onde veio este homem

conhece Madonna? já viu Overdrive?

um novo CD de Amy Winehouse?


fome velho perdido sujo

na avenida na porta

mão gorda vermelha pedindo

de onde essa barba branca

sem nome, pele, ossos, sem cor

entrego comida. Jesus te: corro


São Paulo UK: a ciência

viver

ou não

mundo racional

uma pergunta

– é preciso

vidro aço aço metal

robô.dernidade

vencedora

a cidade

hoje ainda não

homem hematoma velho fome

paciência: ?


Afonso Jr. Ferreira de Lima

segunda-feira, setembro 28, 2009

"Você mente!"

Recentemente a CNN criticou a FOX por, elevando o tom, como sempre, ter mentido sobre uma suposta falta de cobertura de sua parte a um protesto contra Obama. Ou seja, você planta uma bomba, mesmo que totalmente descabida, e a verdade demora tanto a aparecer que cria um efeito confusão na opinião pública.


O âncora da CNN disse: "A verdade é que nós, sim, cobrimos as notícias e nós cobrimos extensivamente esse evento nós não promovemos o evento. É isso o que as verdadeiras organizações de notícias deveriam fazer" "Você mente!" - ele completou, usando o slogam republicano.

Confesso que sempre acho contrangedor esses slogans como PIG (Partido da Imprensa Golpista), porque penso que, se chamamos de golpista um pensamento conservador, subimos o tom e ficamos sem referência no caso de algo mais grave.
Bem, mudei de opinião.Agora, é grave!
A capa da Veja me deixou boquiaberto. Por que fiquei com a impressão de que, se houvesse um golpe de Estado no Brasil...

Vamos retomar os acontecimentos: um presidente eleito foi deposto, com a justificativa de que iria fazer uma consulta não autorizada pelo Congresso.
A OEA, imediatamente, condenou o ocorrido.

"O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu a Honduras que 'respeite as normas democráticas e o Estado de direito'. A prisão de Zelaya também foi condenada pela União Européia".
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090628_honduras_atualiza_rw.shtml

"Certamente nós achamos que Zelaya é o líder constitucional e
democrático de Honduras'- reiterou Ian Kelly,
porta-voz do departamento de Estado dos EUA".
http://www.camera2.com.br/noticia_ler.php?id=185576

Ou seja, o fato é totalmente anacrônico e violento. Neste contexto, a comunidade internacional deveria tomar medidas enérgicas, porque, afinal (mesmo depois de Bush), existe o direito internacional. Os países da América deveriam tomar medidas imediatas, ou parecerá que os órgãos internacionais estão falidos, só servem a usos instrumentalizados, para aprovar um projeto nacional, como a ALCA.

Depois disso, ladeira abaixo: a embaixada ficou sem luz, foi invadida por gases tóxicos, as pessoas sangraram...
Não é nada disso que se vê na imprensa.

A Veja puxou o cordão com "Imperialismo megalomaníaco". É uma pérola da criatividade!

Acabo de ouvir o Boris Casoy dando a chamada: "Representante americano na OEA diz que a volta de Zelaya foi irresponsável!" Continua afirmando que a volta do presidente "não ajuda a democracia."

Uma série de entrevistados do programa Canal Livre aparecem dizendo que "não houve golpe, apenas aplicação da regra constitucional que veda a reeleição", "Zelaya estava caindo no esquecimento e decidiu usar a Embaixada como escritório", etc.

Até Sarney (agora é autoridade?) surge para denunciar o "abuso", ainda que diga que "dar asilo era fundamental."
O jornalista ainda conclui com seu famoso comentário: "Nem o presidente deposto pediu nem o Brasil deu asilo, um instrumento sério". Teríamos de "condenar a irresponsabilidade da volta", que tranforma a embaixada no "QG" de Zelaya. A operação é uma "aventura picaresca."
No SBT, o comentário é: "O presidente Lula deveria demitir o ministro das relações exteriores." O fato é chamado de "lambança".

Bem, isso é, no mínimo, não comentar, não contextualizar, por exemplo, o AI5 Hondurenho, a gravidade da recusa à mediação, impedindo a entrada de membros da OEA.

Esquecer que "a OEA (havia dado) ao governo interino do país prazo até sábado (4) para que Zelaya voltasse ao cargo" e que, por exemplo, "os manifestantes, entre oito e dez mil, ocuparam uma faixa de cerca de 100 metros em frente ao aeroporto (...)"
http://www.bbc.co.uk/portuguese/

Isto soa como um tácito apoio ao golpe!

Como diz Luiz Carlos Azenha:

"O governo golpista só tem apoio na mídia brasileira, na Fox News e no Washington Times, ambos a serviço da extrema-direita dos Estados Unidos."
http://www.viomundo.com.br/opiniao/governo-golpista-de-honduras-tem-apoio-na-midia-brasileira/

Até a CNN afirma:

"Roberto Micheletti is in effect running the country, but he wasn’t elected. He assumed power by force!"
http://ricksanchez.blogs.cnn.com/

Lembro de ter lido:

"Há vários quadros da Fundação Victor Civita,
que é uma susidiária da Editora Abril, que
trabalharam na administração estadual e vice-versa.
Várias estatais estaduais de São Paulo tem investido
bastante em publicidade nas revistas da Editora Abril (...)

O problema é que a Veja, a revista 'informativa' da Abril
tem feito várias reportagens sobre Serra.
Não uma defesa ideológica do sujeito, mas basicamente
uma série de artigos defendendo a viabilidade
da candidatura do sujeito".
http://www.andrekenji.com.br/weblog/?cat=18

Engraçado, não ouvi, na TV, essa notícia:

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve o prêmio Chatham House 2009,
concedido pelo Instituto de Assuntos Internacionais de Londres,
por sua contribuição à melhora das relações exteriores. (...)
Na esfera subcontinental, Lula foi reconhecido por ser uma "figura-chave na estabilidade e integração na América Latina e por desempenhar um papel destacado na resolução de crises regionais", e no âmbito local por "sua contribuição para a redução da pobreza no Brasil".
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u630353.shtml


É uma pena que nossa imprensa tenha tão pouco amor à democracia de fato. Depois dessa, eu só espero que o Brasil não tenha um golpe!


sexta-feira, setembro 18, 2009


BRUNO: dois coelhos com um consolo só

Vou contar uma história: depois de um ano de amizade, descobrimos que tudo sobre nosso amigo era mentira. Ele mentia o lugar que nasceu, a casa, o emprego. Tinha vergonha de ser "out".
Isso mostra que nossa sociedade adoeceu as pessoas, com seus padrões de "certo" e "errado". Todos nós estamos condenados a ser não-celebridades.

Sacha Cohen retorna com seu misto de documentário, roteiro e tentativa de suicídio.


Por um lado, ataca o padrão global "be a celebrity", e por outro, mostra a verdade que o politicamente correto encobre: o que pensam um político conservador e o povo do Alabama sobre os gays. (Esse é o povo americano real? A instrução pública não existe? Será que a "onda gay" é apenas um slogan "comprem, gozem, vivam sem limite como eles!?")

Sim, existem caras que se divertem dando tiros em lebres e que acham veados porcos, com o perdão da piada.

Bruno é um pensar, o que já é muito. Não é o clássico que é Borat, mas é uma comédia reflexiva genial.Não apenas pela tão falada cena em que traz um bebê africano, trocado por um iPod, em uma caixa (que idéia de solução da pobreza, essa de Hollywood!)

Mas também por aquelas menos comentadas, como a cena em que desfila na passarela De La Prada com roupas presas no seu modelito de velcro, sem sentirmos muita diferença entre seus pinduricalhos e as modelos, cheias de panos estufados...

As mães tantando vender (para uma sessão de fotos) seus filhos por qualquer coisa (animais mortos, pseudo-crucificação, roupa de nazista, etc.) Ser famoso é mais importante que estar à salvo.

Cantando uma canção de paz entre palestinos e judeus... (será que alguém vê essa situação de modo simplista?)

Paula Abdul falando sobre sua filantropia sonhadora sentada sobre um mexicano é um clássico! (Dizem que a equipe não esperava que alguém de fato aceitasse isso!) Sentar sobre latinos é constrangedor (Elton John, parece à vontade), mas, e vê-los como cidadãos de segunda classe?

Sem falar da cena em que ele, com um vidente, faz sexo oral com um espírito do rock, quando o cinema vem abaixo!

Pois é, ser gay é super "in", não? O mundo aceitou a divertidade? Não, somente os marketeiros das corporações. Vide os soldados da Guarda Nacional dos EUA na frente de um D&G.

Além disso, os recrutas estão proibidos de falar com seus oficiais. "Quando finalmente foram questionados se 'sabiam quem era aquele recruta', cadetes responderam com segurança: “Sim, senhor! Sacha Baron Cohen, senhor!” http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/?p=2939.

O filme mostra a rebeldia programada do mundo MTV/Fashion Week... Lembra quando Björk apareceu de Cisne no Oscar? Todas as revistas disseram que ela era doida... Mas a arte não era ousadia?

(Spoiler:
"O Conselho Italiano de Moda emitiu um comunicado aos estilistas,
alertando-os para a possibilidade de Baron Cohen tentar penetrar
em seus eventos; a instituição recomendava ainda a proibição
ao acesso da produção de “Brüno”.
(...) E a polícia de Milão declarou que ele seria detido no ato. (...)
O ator foi algemado pela polícia e levado preso,
enquanto os integrantes da sua equipe seguiam no encalço deles.
Embora ele tenha alegado que simplesmente cometeu um terrível engano
— ele simplesmente usou um macacão de velcro e saiu andando
— Baron Cohen foi revistado e interrogado por sete agentes da polícia."
http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/?p=2903

Viva a criatividade!)

Bruno tira o maior sarro também daquelas "músicas que salvam o mundo", o que eu já havia comentado sobre MJ. Parece vago e soa como anestésico para os conflitos reais.

Lembrei-me de Thom Yorque (vocalista do Radiohead, que falou sobre Bono:

"a diferença entre eu e Bono Vox é que ele fica
completamente feliz em elogiar pessoas para conseguir
o que ele quer, e ele é muito bom nisso,
mas eu simplesmente não posso fazer isso.
Eu provavelmente acabaria dando um murro na cara deles
em vez de apertar as suas mãos,
mas isso é melhor do que ficar fora do caminho deles.
Eu não posso simpatizar com esse nível de besteira.
É uma vergonha, verdade, e isso pode ajudar
se eu quiser, mas eu não posso.
Eu admiro o fato de Bono poder,
e poder caminhar através disso cheirando a rosas."


Walter Benjamim falava da embriaguez, da telepatia e da teologia contra a ideologia da técnica que se tornara desumana: hoje, a embriaguez é a técnica, mas é possível usar-se desse "limiar", o bizarro, para mostrar seu absurdo. Diversão é a alma do negócio, mas é uma pena que seja apenas uma nuvem de fumaça de alegria para o medo do mundo em pedaços.

Ou, seja, que fazer se todas as pessoas se tornaram tão banais quanto Bruno, o mundo é fútil, e o entretenimento o produto mais importante? "Se eu abrisse meu guarda roupa e só visse capas pretas, eu também me explodiria", diz ele sobre os homens-bomba.

Mas isso é homofóbico? Infelizmente, os gays se tornaram o símbolo de tudo que o prazer sem limites tem para oferecer.
-
Boa reportagem: http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/?p=2892

***

Susan Boyle está aí de volta, com seu single de estréia!



Ela comoveu o mundo por seu talento, força emocional (de todas as versões de Cry me a river que ouvi, nenhuma chega à sua paixão) e, principalmente, por ser uma cidadã "out-fashion".
O seu caso fala muito do nosso mundo, onde uma senhora tipicamente "inglesa" (da Escócia), com seu vestidinho poá está definitivamente fora de questão.

O jurado faz a cara mais feia do mundo quando ela diz sua idade; e, quando ela dança sua dancinha, dizendo "Mas esse é só parte de mim", o outro faz cara de "Ai, que nojo!". Claro que eles enfrentam muita gente doida e sem esforço que pretende ser um grande talento, mas a seleção do show provavelmente selecionou algo...

Enfim, fica a pergunta: quantas Susan Boyle estão perdidas no mundo onde o Estado desapareceu e as pessoas estão entregues a sua sorte, onde o homem é o lobo do homem? Que riqueza está perdida na favela? Em Dublin?

terça-feira, setembro 01, 2009

Heliópolis quer falar

É realmente revoltante como o Jornal da Globo pode dar uma notícia como a queima de carros e ônibus em Heliópolis, devio a morte de uma inocente pela polícia: "Imagens sobre o vandalismo numa favela de São Paulo".
A jornalista Michelle Barros junta palavras como "selvageria", "confusão", "ônibus atacados", "vândalos" (mil vezes) e também conta o caso de uma mulher com deficiência visual em pânico (!) e dos católicos presos na Igreja por uma hora. "Entre atos de vandalismo uma palavra no chão: Justiça".
Depois fala-se longamente do pescado, de como o pré-sal será ma para quem usou FGTS para comprar ações da Petrobrás e da comovente despedida a um juíz, com "tristeza", "brilhantismo" e perda irreparável".

Lembro da manchete da Veja ironizando a responsabilidade social das Casas Bahia ao abrir uma loja:
"Pedágio para vender em Paraisópolis." No mínimo estranho considerando-se que a própria reportagem mostra famílias que perderam tudo e que receberam as doações através da associação de moradores. E também como foi preciso uma ligação da loja para iniciar os "planos" de saneamento...

A Folha anunciava, em fevereiro que "moradores faziam protesto em Paraisópolis" contra a morte de um morador e teve manchetes razoáveis como: "Favela está em zona campeã de desemprego." Já a Época falava em "baderna" etc. Muito da violência vem do não reconhecimento.
Um homem bem pobre e sujo, sem dentes, fedendo, falando alto, entrou no ônibus onde eu estava na região do centro. As pessoas ficaram ansiosas, ele dirigia-se a um e a outro. Perguntou sobre um ônibus. O rapaz oerto de mim respondeu, com a maior calma, que ele devia pegar outro etc. "Tá limpo. O que vale é o respeito. respeitou, tá limpo", ele disse, e desceu do ônibus.

Quem sabe algum dia nossos jornalistas e políticos persebam que somente o reconhecimento pode trazer a verdadeira riqueza, a criatividade humana. O resto, é apenas preconceito.

Vale a pena ver P.H.A

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=17352

PS: O Secretário da insegurança de São Caetano já tinha dito que "não se tinha certeza se a bala veio do policial ou do bandido", mesmo tendo uma testemunha dizendo que não havia troca de tiros. O Jornal Nacional entrou ontem falando "Ainda de não se sabe de onde partiu a bala que matou a jovem."

Serra fez gracinha: chamou-se de "amigo dos pobres" e, em outra ocasião, mesmo afirmando que a polícia "entrou atirando dentro de uma favela", arrematou que "direito de protesto é algo que nós defendemos"... mas "vandalismo é outra coisa." Pois é, é que as pessoas estão cansadas de ir na Roda de Debate entre Polícia e Cidade, nos Fóruns da Prefeitura no Seu Bairro e no Orçamento Participativo. Povinho estressado.
Em Belém, mais um protesto: "cenas de vandalismo." Por que o povo dinamarquês gosta tanto de briga?
Vale a pena a cronicazinha humorada do Blog com Fel e Limão sobre a notícia "atingida por um 'suposto' objeto. "

http://comfelelimao.wordpress.com/2009/09/01/suposta-news-o-maior-jornal-do-mundo/

domingo, agosto 30, 2009

MJ: 1958- 1993

Eu era pequeno demais em 82, quando ele tornou-se o primeiro e último unânime do globo. Mas lembro do impacto de sua performance. Um caldo de tradições, black músic e disco, a síntese de uma história que começa com o jazz. Os descendentes tinham sua própria herança (soul, funk) e Elvis, filho bastardo.



Eu ainda penso se poderia haver algo mais grotesco do que o "tributo" a MJ ,17.500 pessoas, de corpo presente. Liz Taylor chamou de "um grande circo"... (Por piedade, enterrem logo esse corpo!)
O psicanalista Jorge Forbes afirmou na Globo News que cada um de nós tem um MJ. Lacan via, parece, a arte como aquela pintura de uma fruta coberta por um pano: uma tela branca para nós nos jogarmos.



Não podemos encarcerá-lo em uma personalidade patológica: ele dizer que sofreu é apenas uma opinião a mais... Talvez.

O tema é infinito. Por exemplo: Madonna conseguiu impor uma imagem oferecendo um "pacote" (vários) para a indústrial mundial do entretenimento que explodia nos 80.
MJ nunca conseguiu criar uma imagem única, nunca foi um bom narrador de si mesmo, ou nunca conseguiu uma personagem pública que fosse algo de si a ponto de mudar sem morrer, portanto é péssimo num mundo que precisa vender rápido para a massa. Nos anos 80 ele ainda conseguiu um estilo impressionante ("eu sou o homem impenetrável, que domino o mundo com minha dança"), que ecoou em milhões de Maycons e Maicous pelo Brasil afora.

Depois vai de um lado para outro, com o rosto em mutação, estranho, dançando com o Olodum e fazendo o egípcio. A pergunta surgiu: mas quem é MJ? Não aguentamos uma arte que não propõe um julgamento do mundo, nem que seja "seja ativa como eu", o que Madonna fez. A década de 90, com seu branco panos-quentes "politicamente correto" não ajudou alguém cada vez mais distante da comunidade (aliás, ela mesma, marcada pela desindustrialização, consumismo tele-produzido e violência das novas máfias, jogando tudo pra fora no hip-hop) a refazer o pop, que tornara-se replicagem.

Como o disco mais vendido do mundo, o mais caro contrato de propaganda, o Super Bowl e programa de entrevista mais assistidos da América (100 milhões) e o videoclip mais caro da história não tem identidade? "Thriller" foi o ápice e o último passo da revolução? Se você não criar um personagem, eles criarão, nem que seja o demônio.

(É notório como as tragédias, no mundo contemporâneo, são banais, pois fazem parte da vida dentro de um sistema organizadíssimo de economia, transporte, venda e produção de valores e desejos onde tudo é planejado e não há chão para pensar uma resposta: a alma de tantos artistas morre de falta de realidade).

Infelizmente, ao morrer, conseguiu ser sintetizado, como rei do pop. Mas mesmo assim:
cada um disse sobre ele algo e é notório que a MTV apenas conseguisse falar em uma sucessão de clips e a Época ficasse no blá-blá-blá nada convincente, a posteriori, que não consegue senão algo como "pobre criança rica". Pobre.

As imagens acabavam antes dos anos 2000. Tudo que o definia era Jackson Five, "Billie Jean" (1500), "Thriller" (1982), a Pepsi (1984). Ninguém conseguiu achar uma linha de explicação que fosse ao menos um cliché razoável. Sim, ele foi o "rei do pop", pelo menos isso se tinha certeza. Quem afirmava eram produtores, especialistas, músicos, sabiam de algo que ninguém sabia. Uma energia incrível, criação pura, e, ao mesmo tempo, uma pessoa desconexa, com frases inexplicáveis...

Outro ponto: quem quer que tenha ouvido o documentário de alguns anos atrás deve ter ficado impressionado com um homem carismático, dizendo coisas corretas e vivendo no mundo da lua, que fala com toda a sinceridade que não entende por que não pode dormir com uma criança. Ele tem toda a razão do mundo: a sociedade está doida de recalcar tanto o amor dos pais, etc. É bem claro que o mundo é que talvez seja doente, com todo seu ódio pelo contato... Mas custava um pouco de precaução? Você entende que o objetivo da "notícia" é criar uma pauta macabra ("tudo que você disser..."), não entende a inocência. (O Dr. Stan Katz, que o examinou em 2003 disse que teria a idade mental de 10 anos).

Ele falava como alguém que viveu dentro de um mundo de "sonho", que a indústria precisa. Aprendeu a vender o sonho e se tornou ele próprio uma fantasia. Diz no documentário que recebeu um cheque de 200 mil dólares do pai quando tinha algo como 15 anos... (que o jornalista é um babaca aproveitador, não há dúvida)

Além disso, sempre achei incrível que a mídia tenha ficado tanto tempo sem falar na sua aparência. O que eu via era chocante, mas a imagem de "rei" ainda era muito forte. Pareceu sim que há coisas das quais não se fala de um grande vendedor.

Mostra o quanto foi difícil mudar de canal para o próximo show e o quanto ele vacilou (por brigas com a Sony, por estresse dos processos, etc...) em oferecer uma substituição. Já "Black or White" soava para mim como enlatado (o que era aquele final: sempre penso que violência-tube é uma volta desesperada à realidade, assim como pegar no pinto fica estranho para alguém dessexualizado) e depois foi apenas mais do mesmo, baladas e clipes eróticos gelados (que idéia foi essa de chamar essa camuflagem de "In the Closed"?). Madonna também passou por um período indefinido entre o pop descarado até 90 e o novo dance-tecno dos 2000, (eu chamo, o fim lento da era disco, era Clinton, chove não molha, nem imperialismo de Bush, nem democracia de Jimmy Carter), mas MJ nunca pareceu ligado (a não ser ontem, com o Will. i.am)

Sabe, apesar da poesia impresssionante, e de não ser objetivo da música defender causas como um jornal, "Heal the World" sempre me causou algum mal estar. Parecia tão vinda em papel de indústria internacional, tão como um produto. Quem está falando do que e para quem? Precisamos de alguém que mantenha o sonho vivo, mas eu temo quando alguém fala "ame o mundo." É um passo para esquecermos que no outro lado da rua há algo concreto, um problema bem definido. (Bem, foi concreto "We are the World". Mas prefiro o ativismo realista de um Thom Yorque, que sabe quem são seus inimigos... ok, Thom não vive no país-entretenimento. MJ ficou, afinal, do lado de Reagan contra as drogas. Medo)

Forbes nos perdoe, mas, nós, pobres humanos que ainda precisamos de uma história pra nos contar, uma biografia mínima, mesmo que contraditória e aberta, queremos saber: foi o peso dos conflios internos, isolamento extremo, por exemplo, ser negro e talvez gay numa sociedade e época em grande parte racista e homofóbica? Freud disse certa vez, em entrevista, que as pessoas morrem quando querem morrer...

Enfim, chegamos ao funeral bizarro de um ícone que, só Deus sabe porque, acabou de mandar sua mensagem em 1993 (se fez algo notório, não chegou até mim) e passou a ser um "perseguido", caça-de-paparazzi.

Um homem com um sonho, mas nascido e criado dentro de uma indústria que não lhe permitiu ver (muito) que existe mundo lá fora. O fato de ganhar milhões de dólares por ano e morrer endividado é exemplo disso. (A cena em que compra a loja toda sem perguntar o preço é doida...)

Alguém que, em um momento, parece consciente de tudo que querem impor a ele e, no outro, afirma categoricamente que nunca fez mais que duas cirurgias no nariz.
Alguém que não é gay nem hétero, nem branco, nem negro. Alguém que casa para não deixar vir a tona boatos sobre sua sexualidade (quem foi o RP maluco que bolou isso?) e muda de aparência sem convencer jamais que isso não tem a ver com um sentimento de inferioridade monstruoso.
Alguém criado à porrada para ser "um show" e que, mesmo genial, mesmo criando um estilo, parece nunca ter encontrado um motor interno
para digerir o sucesso, recriar-se e resumir-se, impondo-se até o fim. E, ainda assim, uma lenda. Dito isso, ainda há a maravilha de "We are the World". Deus abençoe MJ.

Dicionário das Globalizações e An Altro Monde ist Possível, Fórum Social Mundial.



sábado, agosto 29, 2009

"O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) encaminhou ofício (nº 01244/2009) no dia 20 de julho ao prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Na carta, após receber um e-mail com argumentos homofóbicos, o parlamentar pede ao gestor da capital paulista que faça um plebiscito para que os cidadãos paulistanos decidam se a Parada do Orgulho LGBT deve, ou não, continuar na avenida Paulista."

http://www.acapa.com.br/site/

Carta ao Senador:

"Caro Eduardo:

Recentemente o senhor defendeu todo o povo brasileiro no Senado, pela verdade inconveniente, mas necessária. Pela ética.

Mas lembremos que já foi "ético" aos imperialistas colonizarem a África em nome da raça superior. Já foi "ético" matar milhões de judeus em nome da melhoria racial da humanidade. Foi "ético", salvou as aparências, mas não foi correto, custou sofrimento, silêncio, vergonha, exclusão. Não foi moral. Nem sempre o que nos trouxe a tradição, a religião e até a ciência é a verdade completa. E somente uma verdade completa, que inclua gays, mulheres, negros, ricos, pobres, pode ser verdadeira. Odiamos o que desconhecemos, e o mal é fruto do desconhecimento.

Por que motivo os gays mostram-se tanto, beijam em público, por exemplo? (Os heterossexuais beijam muito mais, creia).

É como se dissessem: você me aceita como sou? Minha mãe preferia que eu não fosse assim, a polícia bate em gays e travestis, a religião fanática pede nossa cabeça, acusam-nos de não ter moral e de acabar com a família, culpam-nos pelo que nunca escolhemos, recebo piadas imorais e até agressões físicas de machões inseguros por aí, e eu até fiz com tudo isso uma vida feliz, mas hoje, hoje, você vai ter de me engolir. Me ver como um igual, alguém que quer amor, que sente o mesmo desejo e a mesma necessidade de toque e carinho que você. Hoje, eu sou o que sou.

Há um abismo entre a aceitação das camadas cultas, internaciolizadas (mas nem todos, como prova esse senhor dos Jardins), e as camadas populares, muitas vezes com uma visão restrita de família, religião e papéis sexuais. Restrita porque justifica censura e domínio, nega a realidade e o direito de fala, com argumentos como "Deus, pátria, família", nossos antigos conhecidos. Este caso mostra quanto é instável nosso país de direito: um belo dia decidem que você é imoral, depois criminoso, quem sabe doente.
Aí, pronto, a lei está ao lado do "ético" e do nazismo.

Se as pessoas ricas e com boa formação em geral vivem livremente (ninguém teme mais dizer que os maiores filósofos do século XX, Foucault e Wittgenstein, ou o criador do computador, Turing, eram gays, por exemplo) os menos favorecidos têm de esconder-se e temem a repressão policial.

A polícia negou-se a fazer um B.O., por exemplo, para jovens que estavam em frente ao shopping do ABC e que apanharam feio de um grupo homofóbico, o qual chegou batendo, pois disse que eles haviam "provocado". A simples presença do diferente é tida como ameaça, agressão. Medieval. Ainda tem gente querendo curar o desejo: o senhor quer ser curado de sua sexualidade?

O senhor, sempre ao lado das boas causas, não pode imaginar o sofrimento que representa o silêncio, pois é uma condenação velada, que leva ao ato criminoso, como uma bomba sobre uma passeata. Um povo assim, precisa ser educado, não apoiado com repressão simplista. Um e-mail fala muito de um povo que ainda pensa que pode colocar os que não são como ele de fora, mulheres, negros, pobres, gays, nordestinos; só faltou chamar de "vagabundo".

Se houvesse mais debates públicos sobre o tema, se as escolas aceitassem educação para o respeito sexual, se os jovens fosse ensinados que temos de respeitar nosso diferente e dar-lhe legitimidade, então provavelmente os gays não precisassem afirmar sua condição e jogar na cara de um país repressor sua alegria por ser como todos os outros.

Se os jovens soubessem que os jovens gays são mais iguais que diferentes, que tem os mesmos problemas que eles, e outros, por terem de viver com a ignorância, se esse senhor fosse educado para educar seu filho a aceitar que não apenas as pessoas como ele beijam, mas todas as pessoas, toda a diversidade imensa da vida, negros, brancos, mulheres, homens, travestis, senadores, roqueiros, americanos, então essa criança seria um cidadão melhor. Então não haveria medo e exagero.

O seu lugar sempre foi ao lado da liberdade. Se os gays puderem ter seus filhos, se a família for vista como laço de amor, esse cidadão indignado aprenderá que todos merecem o que ele tem (ou não). A felicidade."

Afonso Jr. Ferreira de Lima



segunda-feira, agosto 24, 2009

Legal, né? Agora o Sarney começou a roubar, é um coronel, etc... E se ele fosse a base do Lula? E se fosse melhor salvar os dedos? É incômoda e revoltante uma campanha tão descarada contra um problema tão velho... E a Veja? "PMDB" é cobra, é antro do fisiologismo... me poupe. Vale tudo para manter o PT longe.
Muitos jornalistas são simplesmente "condutores", mas há também os meramente "fechados em sua redoma". Afinal ética é algo bom, não?

Só para lembrar, uma carta de Chauí, que tem a coragem de ser intelectual e falar de política: porque FHC disse que ela não devia se meter no que não entende. Entendeu?


"Vocês sabem que, entre os princípios que norteiam a vida democrática, o direito à informação é um dos mais fundamentais. De fato, na medida em que a democracia afirma a igualdade política dos cidadãos, afirma por isso mesmo que todos são igualmente competentes em política. Ora, essa competência cidadã depende da qualidade da informação cuja ausência nos torna politicamente incompetentes.

Assim, esse direito democrático é inseparável da vida republicana, ou seja, da existência do espaço público das opiniões. Em termos democráticos e republicanos, a esfera da opinião pública institui o campo público das discussões, dos debates, da produção e recepção das informações pelos cidadãos.

E um direito, como vocês sabem, é sempre universal, distinguindo-se do interesse, pois este é sempre particular. Ora, qual o problema?

Na sociedade capitalista, os meios de comunicação são empresas privadas e, portanto, pertencem ao espaço privado dos interesses de mercado; por conseguinte, não são propícios à esfera pública das opiniões, colocando para os cidadãos, em geral, e para os intelectuais, em particular, uma verdadeira aporia, pois operam como meio de acesso à esfera pública, mas esse meio é regido por imperativos privados.

Em outras palavras, estamos diante de um campo público de direitos regido por campos de interesses privados. E estes sempre ganham a parada.

Apesar de tudo o que lhes disse acima, fiz, como os demais (no mundo inteiro, aliás), uso dos meios de comunicação, consciente dos limites e dos problemas envolvidos neles e por eles."

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=347ASP012

Só pra lembrar: "45 escândalos que marcaram o governo FHC"
http://www.consciencia.net/corrupcao/documentos/fhc-45escandalos.html

Negócios de telefonia celular efetuados durante governo de FHC deixaram dívida de R$ 1,1 bilhão
http://www.consciencia.net/2005/1128-telefonia.html

sábado, agosto 22, 2009

Claude Régy - O Passador

"... Pode-se dizer que eu comecei na época do novo romance. Passei um pouco por Duras, um pouco por Sarraute. Através de Duras, tive algumas percepções de Blanchot, sobre a escritura. Podemos vê-las ainda hoje, apesar do retorno da narrativa.


Mas enfim, houve uma revolução da abstração, que se deu mais tardiamente em literatura do que em pintura, e suprimia a noção de personagem, e encarnação dos personagens, a noção de personalidade, de psicologia racional, de construção de uma personagem, que dissipava a noção de narrativa, ou seja, de ação. Todo mundo diz que o teatro é ação. Acho que tudo isso foi dissipado.


Tudo o que fazia parte da engrenagem do teatro, a progressão, a montagem de cada tirada e a progressão de ato em ato ou de cena em cena, tudo isso não existe mais. Ou não existiu mais durante algum tempo. Assim detendo-me a essas escrituras, precisei procurar um material para trabalhar.


Buscar um modo de dar vida às coisas em cena, sem passar pela encarnação dos personagens, psicologia ou narrativa. É assim que através dessas escrituras, por exemplo, de Sarraute, que é realmente abstrata, e cujos personagens não tem nome, é preciso que se recorra à escritura e pensar em tudo que a compõe, que a interpretação dos atores seja baseada na escritura, que a “mise em scène” seja também incluída no que é escrito e que os atores, ao invés de interpretar mal, ou seja, de encarnar, de imitar personagens reais e de dialogar entre eles, se entregue à escritura.

Ví duas coisas muito importantes.


É tentar sentir que, sem dúvida, a origem da fala é a mesma que a do gesto. Deve haver um centro em nós. Mas quando eu digo saber de onde nós falamos, penso tão profundamente, sinto por intuição. Mas não sei explicar onde fica. Não se pode dizer à alguém: “Você deve falar daqui!” É preciso achar em si próprio remetendo-se ao estado de antes da escritura, achar de si de onde vem a fala, como o autor encontrou de onde vem a escrita. Mas o gesto deve vir do mesmo lugar. Acho que só uma pessoa que escreveu o texto, e é preciso fazer com que se ouça uma única voz, por toda a trupe.


Tornando-se um monólogo, o que não quer dizer um discurso de uma pessoa, mas um único discurso. Volta-se então à origem do coro da tragédia grega. Então nesse momento, não há mais encenação, torna-se uma audição, uma audição do texto e uma forma de fazer circular... Uma forma de fazer circular o texto que carregamos com o contrapeso dessa matéria inconsciente, matéria que pereceu sua escritura, e deve então perecer nossa encenação e nosso sistema de imagens, plasticamente. É preciso ouvir e estar.


(...)


Penso que, mesmo escrevendo ou lendo, ouvimos sons. Se procurarmos de onde vêm, de alguma parte do inconsciente, então é preciso calar-se. É preciso calar-se e ouvir. É preciso ouvir o silêncio. Então percebemos que, no silêncio, de repente há a presença de homens e de mulheres... Uso “homens” num sentido geral. Essa presença é multiplicada – consideravelmente aumentada, mas é mais que isso – e que a imobilidade não é um pecado maior.


Que há na imobilidade, forças, trocas de forças que se atraem como um movimento. É preciso parar de se mexer, parar de falar, ouvir o silêncio e ficar imóvel. A partir daí, através de leituras feitas sem encenação, a partir daí começamos a descobrir como falar em sintonia com essa fonte interior. E é aí que o gesto se dá, ao mesmo tempo que a fala.


O movimento desacelerado é outra coisa. Ele vem da mesma coisa. (...)


E esta desaceleração adquire também um tipo de reflexão, na verdade, um tipo de atitude estática. Quer dizer, deixa vir a calma por si, que seja para falar ou para se movimentar. Sabemos que quando estamos a esse ponto relaxados, é uma relação com o universo, nós nos abrimos para o universo inteiro. Ou seja, estamos nos relacionando com o espaço da cena e os parceiros, ao mesmo tempo que com o universo, o cosmos inteiro, e estamos abertos a todas as dimensões. Assim o palco vai ser ocupado obrigatoriamente por algo invisível que não se pode analisar, que sentimos sem saber."