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segunda-feira, setembro 28, 2009

"Você mente!"

Recentemente a CNN criticou a FOX por, elevando o tom, como sempre, ter mentido sobre uma suposta falta de cobertura de sua parte a um protesto contra Obama. Ou seja, você planta uma bomba, mesmo que totalmente descabida, e a verdade demora tanto a aparecer que cria um efeito confusão na opinião pública.


O âncora da CNN disse: "A verdade é que nós, sim, cobrimos as notícias e nós cobrimos extensivamente esse evento nós não promovemos o evento. É isso o que as verdadeiras organizações de notícias deveriam fazer" "Você mente!" - ele completou, usando o slogam republicano.

Confesso que sempre acho contrangedor esses slogans como PIG (Partido da Imprensa Golpista), porque penso que, se chamamos de golpista um pensamento conservador, subimos o tom e ficamos sem referência no caso de algo mais grave.
Bem, mudei de opinião.Agora, é grave!
A capa da Veja me deixou boquiaberto. Por que fiquei com a impressão de que, se houvesse um golpe de Estado no Brasil...

Vamos retomar os acontecimentos: um presidente eleito foi deposto, com a justificativa de que iria fazer uma consulta não autorizada pelo Congresso.
A OEA, imediatamente, condenou o ocorrido.

"O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu a Honduras que 'respeite as normas democráticas e o Estado de direito'. A prisão de Zelaya também foi condenada pela União Européia".
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090628_honduras_atualiza_rw.shtml

"Certamente nós achamos que Zelaya é o líder constitucional e
democrático de Honduras'- reiterou Ian Kelly,
porta-voz do departamento de Estado dos EUA".
http://www.camera2.com.br/noticia_ler.php?id=185576

Ou seja, o fato é totalmente anacrônico e violento. Neste contexto, a comunidade internacional deveria tomar medidas enérgicas, porque, afinal (mesmo depois de Bush), existe o direito internacional. Os países da América deveriam tomar medidas imediatas, ou parecerá que os órgãos internacionais estão falidos, só servem a usos instrumentalizados, para aprovar um projeto nacional, como a ALCA.

Depois disso, ladeira abaixo: a embaixada ficou sem luz, foi invadida por gases tóxicos, as pessoas sangraram...
Não é nada disso que se vê na imprensa.

A Veja puxou o cordão com "Imperialismo megalomaníaco". É uma pérola da criatividade!

Acabo de ouvir o Boris Casoy dando a chamada: "Representante americano na OEA diz que a volta de Zelaya foi irresponsável!" Continua afirmando que a volta do presidente "não ajuda a democracia."

Uma série de entrevistados do programa Canal Livre aparecem dizendo que "não houve golpe, apenas aplicação da regra constitucional que veda a reeleição", "Zelaya estava caindo no esquecimento e decidiu usar a Embaixada como escritório", etc.

Até Sarney (agora é autoridade?) surge para denunciar o "abuso", ainda que diga que "dar asilo era fundamental."
O jornalista ainda conclui com seu famoso comentário: "Nem o presidente deposto pediu nem o Brasil deu asilo, um instrumento sério". Teríamos de "condenar a irresponsabilidade da volta", que tranforma a embaixada no "QG" de Zelaya. A operação é uma "aventura picaresca."
No SBT, o comentário é: "O presidente Lula deveria demitir o ministro das relações exteriores." O fato é chamado de "lambança".

Bem, isso é, no mínimo, não comentar, não contextualizar, por exemplo, o AI5 Hondurenho, a gravidade da recusa à mediação, impedindo a entrada de membros da OEA.

Esquecer que "a OEA (havia dado) ao governo interino do país prazo até sábado (4) para que Zelaya voltasse ao cargo" e que, por exemplo, "os manifestantes, entre oito e dez mil, ocuparam uma faixa de cerca de 100 metros em frente ao aeroporto (...)"
http://www.bbc.co.uk/portuguese/

Isto soa como um tácito apoio ao golpe!

Como diz Luiz Carlos Azenha:

"O governo golpista só tem apoio na mídia brasileira, na Fox News e no Washington Times, ambos a serviço da extrema-direita dos Estados Unidos."
http://www.viomundo.com.br/opiniao/governo-golpista-de-honduras-tem-apoio-na-midia-brasileira/

Até a CNN afirma:

"Roberto Micheletti is in effect running the country, but he wasn’t elected. He assumed power by force!"
http://ricksanchez.blogs.cnn.com/

Lembro de ter lido:

"Há vários quadros da Fundação Victor Civita,
que é uma susidiária da Editora Abril, que
trabalharam na administração estadual e vice-versa.
Várias estatais estaduais de São Paulo tem investido
bastante em publicidade nas revistas da Editora Abril (...)

O problema é que a Veja, a revista 'informativa' da Abril
tem feito várias reportagens sobre Serra.
Não uma defesa ideológica do sujeito, mas basicamente
uma série de artigos defendendo a viabilidade
da candidatura do sujeito".
http://www.andrekenji.com.br/weblog/?cat=18

Engraçado, não ouvi, na TV, essa notícia:

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve o prêmio Chatham House 2009,
concedido pelo Instituto de Assuntos Internacionais de Londres,
por sua contribuição à melhora das relações exteriores. (...)
Na esfera subcontinental, Lula foi reconhecido por ser uma "figura-chave na estabilidade e integração na América Latina e por desempenhar um papel destacado na resolução de crises regionais", e no âmbito local por "sua contribuição para a redução da pobreza no Brasil".
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u630353.shtml


É uma pena que nossa imprensa tenha tão pouco amor à democracia de fato. Depois dessa, eu só espero que o Brasil não tenha um golpe!


sexta-feira, setembro 18, 2009


BRUNO: dois coelhos com um consolo só

Vou contar uma história: depois de um ano de amizade, descobrimos que tudo sobre nosso amigo era mentira. Ele mentia o lugar que nasceu, a casa, o emprego. Tinha vergonha de ser "out".
Isso mostra que nossa sociedade adoeceu as pessoas, com seus padrões de "certo" e "errado". Todos nós estamos condenados a ser não-celebridades.

Sacha Cohen retorna com seu misto de documentário, roteiro e tentativa de suicídio.


Por um lado, ataca o padrão global "be a celebrity", e por outro, mostra a verdade que o politicamente correto encobre: o que pensam um político conservador e o povo do Alabama sobre os gays. (Esse é o povo americano real? A instrução pública não existe? Será que a "onda gay" é apenas um slogan "comprem, gozem, vivam sem limite como eles!?")

Sim, existem caras que se divertem dando tiros em lebres e que acham veados porcos, com o perdão da piada.

Bruno é um pensar, o que já é muito. Não é o clássico que é Borat, mas é uma comédia reflexiva genial.Não apenas pela tão falada cena em que traz um bebê africano, trocado por um iPod, em uma caixa (que idéia de solução da pobreza, essa de Hollywood!)

Mas também por aquelas menos comentadas, como a cena em que desfila na passarela De La Prada com roupas presas no seu modelito de velcro, sem sentirmos muita diferença entre seus pinduricalhos e as modelos, cheias de panos estufados...

As mães tantando vender (para uma sessão de fotos) seus filhos por qualquer coisa (animais mortos, pseudo-crucificação, roupa de nazista, etc.) Ser famoso é mais importante que estar à salvo.

Cantando uma canção de paz entre palestinos e judeus... (será que alguém vê essa situação de modo simplista?)

Paula Abdul falando sobre sua filantropia sonhadora sentada sobre um mexicano é um clássico! (Dizem que a equipe não esperava que alguém de fato aceitasse isso!) Sentar sobre latinos é constrangedor (Elton John, parece à vontade), mas, e vê-los como cidadãos de segunda classe?

Sem falar da cena em que ele, com um vidente, faz sexo oral com um espírito do rock, quando o cinema vem abaixo!

Pois é, ser gay é super "in", não? O mundo aceitou a divertidade? Não, somente os marketeiros das corporações. Vide os soldados da Guarda Nacional dos EUA na frente de um D&G.

Além disso, os recrutas estão proibidos de falar com seus oficiais. "Quando finalmente foram questionados se 'sabiam quem era aquele recruta', cadetes responderam com segurança: “Sim, senhor! Sacha Baron Cohen, senhor!” http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/?p=2939.

O filme mostra a rebeldia programada do mundo MTV/Fashion Week... Lembra quando Björk apareceu de Cisne no Oscar? Todas as revistas disseram que ela era doida... Mas a arte não era ousadia?

(Spoiler:
"O Conselho Italiano de Moda emitiu um comunicado aos estilistas,
alertando-os para a possibilidade de Baron Cohen tentar penetrar
em seus eventos; a instituição recomendava ainda a proibição
ao acesso da produção de “Brüno”.
(...) E a polícia de Milão declarou que ele seria detido no ato. (...)
O ator foi algemado pela polícia e levado preso,
enquanto os integrantes da sua equipe seguiam no encalço deles.
Embora ele tenha alegado que simplesmente cometeu um terrível engano
— ele simplesmente usou um macacão de velcro e saiu andando
— Baron Cohen foi revistado e interrogado por sete agentes da polícia."
http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/?p=2903

Viva a criatividade!)

Bruno tira o maior sarro também daquelas "músicas que salvam o mundo", o que eu já havia comentado sobre MJ. Parece vago e soa como anestésico para os conflitos reais.

Lembrei-me de Thom Yorque (vocalista do Radiohead, que falou sobre Bono:

"a diferença entre eu e Bono Vox é que ele fica
completamente feliz em elogiar pessoas para conseguir
o que ele quer, e ele é muito bom nisso,
mas eu simplesmente não posso fazer isso.
Eu provavelmente acabaria dando um murro na cara deles
em vez de apertar as suas mãos,
mas isso é melhor do que ficar fora do caminho deles.
Eu não posso simpatizar com esse nível de besteira.
É uma vergonha, verdade, e isso pode ajudar
se eu quiser, mas eu não posso.
Eu admiro o fato de Bono poder,
e poder caminhar através disso cheirando a rosas."


Walter Benjamim falava da embriaguez, da telepatia e da teologia contra a ideologia da técnica que se tornara desumana: hoje, a embriaguez é a técnica, mas é possível usar-se desse "limiar", o bizarro, para mostrar seu absurdo. Diversão é a alma do negócio, mas é uma pena que seja apenas uma nuvem de fumaça de alegria para o medo do mundo em pedaços.

Ou, seja, que fazer se todas as pessoas se tornaram tão banais quanto Bruno, o mundo é fútil, e o entretenimento o produto mais importante? "Se eu abrisse meu guarda roupa e só visse capas pretas, eu também me explodiria", diz ele sobre os homens-bomba.

Mas isso é homofóbico? Infelizmente, os gays se tornaram o símbolo de tudo que o prazer sem limites tem para oferecer.
-
Boa reportagem: http://pipocamoderna.virgula.uol.com.br/?p=2892

***

Susan Boyle está aí de volta, com seu single de estréia!



Ela comoveu o mundo por seu talento, força emocional (de todas as versões de Cry me a river que ouvi, nenhuma chega à sua paixão) e, principalmente, por ser uma cidadã "out-fashion".
O seu caso fala muito do nosso mundo, onde uma senhora tipicamente "inglesa" (da Escócia), com seu vestidinho poá está definitivamente fora de questão.

O jurado faz a cara mais feia do mundo quando ela diz sua idade; e, quando ela dança sua dancinha, dizendo "Mas esse é só parte de mim", o outro faz cara de "Ai, que nojo!". Claro que eles enfrentam muita gente doida e sem esforço que pretende ser um grande talento, mas a seleção do show provavelmente selecionou algo...

Enfim, fica a pergunta: quantas Susan Boyle estão perdidas no mundo onde o Estado desapareceu e as pessoas estão entregues a sua sorte, onde o homem é o lobo do homem? Que riqueza está perdida na favela? Em Dublin?

terça-feira, setembro 01, 2009

Heliópolis quer falar

É realmente revoltante como o Jornal da Globo pode dar uma notícia como a queima de carros e ônibus em Heliópolis, devio a morte de uma inocente pela polícia: "Imagens sobre o vandalismo numa favela de São Paulo".
A jornalista Michelle Barros junta palavras como "selvageria", "confusão", "ônibus atacados", "vândalos" (mil vezes) e também conta o caso de uma mulher com deficiência visual em pânico (!) e dos católicos presos na Igreja por uma hora. "Entre atos de vandalismo uma palavra no chão: Justiça".
Depois fala-se longamente do pescado, de como o pré-sal será ma para quem usou FGTS para comprar ações da Petrobrás e da comovente despedida a um juíz, com "tristeza", "brilhantismo" e perda irreparável".

Lembro da manchete da Veja ironizando a responsabilidade social das Casas Bahia ao abrir uma loja:
"Pedágio para vender em Paraisópolis." No mínimo estranho considerando-se que a própria reportagem mostra famílias que perderam tudo e que receberam as doações através da associação de moradores. E também como foi preciso uma ligação da loja para iniciar os "planos" de saneamento...

A Folha anunciava, em fevereiro que "moradores faziam protesto em Paraisópolis" contra a morte de um morador e teve manchetes razoáveis como: "Favela está em zona campeã de desemprego." Já a Época falava em "baderna" etc. Muito da violência vem do não reconhecimento.
Um homem bem pobre e sujo, sem dentes, fedendo, falando alto, entrou no ônibus onde eu estava na região do centro. As pessoas ficaram ansiosas, ele dirigia-se a um e a outro. Perguntou sobre um ônibus. O rapaz oerto de mim respondeu, com a maior calma, que ele devia pegar outro etc. "Tá limpo. O que vale é o respeito. respeitou, tá limpo", ele disse, e desceu do ônibus.

Quem sabe algum dia nossos jornalistas e políticos persebam que somente o reconhecimento pode trazer a verdadeira riqueza, a criatividade humana. O resto, é apenas preconceito.

Vale a pena ver P.H.A

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=17352

PS: O Secretário da insegurança de São Caetano já tinha dito que "não se tinha certeza se a bala veio do policial ou do bandido", mesmo tendo uma testemunha dizendo que não havia troca de tiros. O Jornal Nacional entrou ontem falando "Ainda de não se sabe de onde partiu a bala que matou a jovem."

Serra fez gracinha: chamou-se de "amigo dos pobres" e, em outra ocasião, mesmo afirmando que a polícia "entrou atirando dentro de uma favela", arrematou que "direito de protesto é algo que nós defendemos"... mas "vandalismo é outra coisa." Pois é, é que as pessoas estão cansadas de ir na Roda de Debate entre Polícia e Cidade, nos Fóruns da Prefeitura no Seu Bairro e no Orçamento Participativo. Povinho estressado.
Em Belém, mais um protesto: "cenas de vandalismo." Por que o povo dinamarquês gosta tanto de briga?
Vale a pena a cronicazinha humorada do Blog com Fel e Limão sobre a notícia "atingida por um 'suposto' objeto. "

http://comfelelimao.wordpress.com/2009/09/01/suposta-news-o-maior-jornal-do-mundo/