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segunda-feira, abril 30, 2018

Dança

Ela veio visitar a franquia do pai.
Tinha sido convidada.
Sua mãe ficava louca quando ouvia falar:
- A filha da Marta, com 13 anos, está grávida.
Na feira, o pai se animava, tudo deixava, parece que rendia 80 mil por dia, tinha muita gente, menino de 15 anos que antes apanhava em casa, promotor, juiz, vivendo disso.
- A paz veio da nossa luta, dizia o pai.
As barracas vendiam tijolos e a policia observava ao longe.
Não queriam ajudar o prefeito vermelho.
- Eu já te disse que não quero que venha aqui. Hoje tem julgamento.
Ela sabia que o pai levava os caras para dentro dos hotéis, depois os carroceiros desapareciam com os pedaços pela cidade.
Teve de ir embora sem dizer o que queria. Era uma festa. Todo mundo precisa fugir de vez em quando.

Afonso Jr. Ferreira de Lima


quinta-feira, abril 26, 2018

O beijo da morte

A solidão de um país, travessia incompleta, a oligarquia não desiste, as comunicações não mudaram, a nação desertificada pelo crime sem castigo, a madrugada traz o fogo e o frio cai sobre o homem anestesiado pelo álcool.

são paulo perigo e progresso

tanto cresce tanto aço luxo

produzido entregue

massa imunda seca vida

você tem fome

ergue esse cartaz

mecanismo silencioso

você mostra o mal

Como dizer isso eu me observo como animal no gelo, na parede da cidade a rachadura, o canto dos soldados, eu tenho que dizer desse grupo mínimo, solto entre engrenagens firmes, no meio da fumaça que nos cega.

solidão da cidade confinada

no templo um canto um gemido vida

aceito o novo acolho estranho

aventuras de medo e sonho

esse menino pensou que iria ler um livro

e a ele olhariam com sorriso amigo

seu pai não sabe o que fazer agora

Agora eu paro em frente a uma confeitaria. Um rapaz tem a camisa rasgada e a calça mais ainda. Eu não posso comprar nada. Eu caminho pelo parque pensando que algo mudou. Um homem parece mudar seu curso. Perdidos, fora da conta. Os olhares são mais sinistros. Eu encurto o exercício.

você teme foi derrotado

perdeu as peles

arte língua a esperança

feroz você animal

leopardos lantejoula e brilho

produz se cria fome o desespero

serpentes da terra buscando respiro

ataque o amanhã é soco

famílias sob fogo policial

Como dizer quando do jovem pobre atrás do balcão foi tirado a capacidade de saber quem é. A lei com seu ódio cada dia muda sua estratégia. A aura de glória usada para fins cruéis. Mas ninguém quer sujas as mãos com um acusado.

ser empresário gana de família pobre

senso comum ser autodestrutivo

no escritório negócios com a vida

recolhe o lixo faz telhado

você não sabe mais

ergue esse cartaz

você tem fome

O escritório de poesias olho o relógio tantos maços de senso comum por hora, tanta bruta injustiça por dia, o horror das instituições, porque linguagem faz tudo que é concreto.

o pano sujo a roupa rasgada

observe a mulher sem sapatos e louca

pensa na rua a jovem que imaginou

bonito filho e paga em dia casa

caça de corpos divas divergentes

A lua acolhe o beijo e o sangue, algum poema disse. Minha função é pensar com o coração. E eu mesmo fico preso nas imagens dos espelhos, eu já não acho o tiro certo que retrata o coração esmagado da tragédia.

luto e ódio porque já não é gente

processo preconceito varre tudo

observe a criança suja a mãe triste

você é meu irmão

você quer mais

você é mais que bicho

ruínas de verso o vento calculado

a alma da cidade que cai desse edifício

Eu ouço a palestra. Eu anoto. Eu ouço o mestre. Eu reflito. Eu anseio em giro interno eu volto. Alguma coisa muito errada segue seu curso. Alguma coisa que esqueceu da sensata incerteza.

pelas ruas surgirão pedintes

entrega rápida encomenda triste

alguma coisa se perdeu no mecanismo

o tradicional ritmo já não serve

evolução sem parada do verso 

observe o jovem sem esperança

Agora a máscara de uma alma exilada, agora a máscara de uma resignada aflição, panorama de horizonte em guerra.

primavera-morte em ebulição

as mãos multidão criada e crescida

método milhares de bocas famintas 

o pomar dos venenos hoje alimentado 

a escuridão ouve mais um grito

A noite avança. Eu me calo. Por que não o silêncio? Acerto os livros. Limpo a estante. Cuido da planta. A eterna angústia de dizer que a história nunca acaba.

silêncios a dor e você

ergue esse cartaz

você mostra nossa alma podre

todos merecem a paz e o progresso

todos merecem dormir em não pedra

tiraram a pele de gente do sem teto

ninguém nasceu para o inferno

a névoa cruel que encobre o pensamento

avenida são paulo o crime arma fria

não tenho metáforas para tua pele cinzenta

nem rima que possa nesse calafrio

onde os amigos a jaula de ouro

É isso que eu sou. Eu ouço as vozes, eu tento a mancha, a veloz sombra se cala. Eu tento telepatia, as lacunas que te fazem ver. A água corre e eu preciso sonhar. Eu sou o ouvido universal. 

a obra segue rompe o ser mutante

o pássaro canta mesmo na gaiola

retalhos de cor e borda um novo dia

minha escrita salta e já não segue a forma

meu coração lembra canção

e fantasia contada ao pé do ouvido

a tribo existe e o sentimento que era

grita a cidade por esses esquecidos 

olhar sedento máfia linha reta

a força bruta lei justiça e letra 

quero ter um riso e um suspiro ainda

um dia a mais de luta desconhecido 

em nome da paz sempre silenciada


Afonso Jr Ferreira de Lima





domingo, abril 22, 2018

a primeira palavra

amor em espera pão da manhã

jardim em chamas hoje

verso buscando esperança

pombas sobre o piano esperam

lobo hesitante com duplo olhar

cortiço ouve a sirene da nova ordem

preso a preconceitos flauta paralisada

rumor de luz afundada dia seco

thriller cinzento tarefa peito silencioso

cães protestam por sangue

passeatas greves um dia comum

quero sentir ainda teu martírio de corpo sujo

da janela lembro do gramado verde

quando éramos inocentes 


Afonso Jr Lima

terça-feira, abril 17, 2018

Livro: "A ilha: um repórter brasileiro no país de Fidel Castro" - de Fernando Morais

Nesse vídeo Afonso Jr. apresenta o livro "A ilha: um repórter brasileiro no país de Fidel Castro - de Fernando Morais".

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domingo, abril 15, 2018

Buffalo Bill está de volta


um céu púrpura os helicóptero sobre a cabeça

o corpo levado pelo povo

os exércitos descem das nuvens canto de guerra

a praga atingiu o Espírito da Cidade

essa pedra teu sangue por ela caminhos

da nação que morre raízes brotam

a lágrima é o primeiro ingrediente do entendimento

liberdade é um órgão que nenhuma opressão silencia

o monstro rasga a terra era voz não se cala e interrompe

a tempestade flor na correnteza o círculo do céu a treva

salve a coreografia divergente o rastro perfumado

ela dança com seu corpo singular amor

índio olhos verdes lutando a luz nasce

e

eu preciso da coisa concreta música

em círculo no salão branco homens de pedra andam

monstro coisa contrária à natureza rei louco

o absurdo inimigo do povo inocente criança olha o horizonte ruína

seus pais estendidos na terra um homem corre está ferida o fogo vem do céu 

corto com espada a pálida palavra, água verde, deixo o sol entrar

agora essa voz branca, voz da força, guerreiro sem alma

sempre preenche tudo sempre cala inundação

o menino bebe a água suja da calçada

a roupa imunda a mão estendida a noite 

eu monstro como flores e caminho azul-nascer

verso com dragão batalha, vazio e mundo nas mãos

corpos divergentes, o olhar que desmente fraude nos livros explicada

força como lei, amigo da paz amigo do povo na corrente

ódio são os lobos a toga os bárbaros os jornais

o preso observa o horizonte canto resiste em noite escura

o monstro grita a voz não se cala e geme

os soldados estendidos na terra, os soldados cruzes brancas

o sangue na calçada, lavado nasce o dia

sementes largadas no verde círculo do tempo

indestrutível verdade

mulheres dançam no choro as vozes

a madrugada me põe no seu colo

Alejandro: Un día alguien te va a abrazar tan fuerte,

que todas tus partes rotas se juntarán de nuevo 

do céu o ciclo, caminho pelo mar, deixo o sol entrar



Afonso Jr Lima


domingo, abril 08, 2018

Livro: "Os inventores do New Deal" - de Flávio Limoncic


Manuscript on Memory (English version)

(This is a rush translation. Version may not be in its final form.)

"The relatively short life of tyrannies is due to the inherent weakness of systems that use force without the support of law." (Aristotle)

He found a Manuscript:

- Many inflamed hatreds of young people who were children when the worker was elected.

I was born when it was still a dictatorship. It was not good to have an opinion.

I saw how difficult it was for a mother to support three children and give them education.

But she gave them.

At that time it was very difficult to spend in public college. My dad said, "You were a grade A student and you did not go into the federal one."

And there were international institutions that warned of the danger of spending on the people. We heard politicians say that education cost a lot. Only 3% of Brazilians had a university because life was like this.

Suddenly all my friends came in. That was in 2003. Suddenly, luckily, the godson who could never afford a private school does Administration.

The privilege system is dangerous.

One of the dangers is that the spoiled child becomes authoritarian. Not always the best alternatives are chosen. The ignorant spoiled is not challenged in his certainties, he admits no divergence.

And since he's never questioned, he thinks he can talk any crap. That your speech is always important. That he can attack the divergent in the nets, while it is just a rabid fool.


Meenwhile problems accumulate and excluded people retain fair resentment.

If you live a system of privilege and oppression, you can, for a time, deny reality.

Create your child in a closed condominium, which avoids the violence planned by misery. Today, companies are even owned by shareholders, who do not respond directly to anything other than profit. And the best deal is no deal, papers and suck the state tax.

For a while.

But now I want to talk about the speech. From the danger that is the word without curiosity. From the danger of being involved by arguments sold by powerful and bought by lazy.

Before, dogma was the danger. Even our philosophers, preoccupied with eternal truths, were harsh critics of the truth that could "raise" a proposition above the others.

About one particular candidate, one commentator said that she "had no reading of the world". This is the most serious. While communication companies buy our thinking, consumerism has created a mass of people who think for "still".

And the old elite, who has always known more, has always studied more, has the law on the tip of the tongue and the maid without a signed license, these "opinion formers" have become accustomed to never hear.

Our privileged class has created a sophistical discourse, but it is strengthened and self-nourished in reiterated rhetorical arguments. Hatred has turned into a wave, and no questioning is welcome.

A lot of our economists, journalists and administrators are like this. And suddenly, the house of laws begins to respond to simplistic opinion, the law begins to respond to the wave of anger, the economy itself becomes an opinion based on arrogance. Now we see the danger of letting fear dominate us, the inheritance blind us.

Observing the coverage of large vehicles of communication, we realize that everything revolves around building the image of a villain, and anything that can contradict that image is denied. And so can also make the public officials accountable for tracking processes. Much worse if they are religious and see their carrer as a mission.

Part of our elite should not direct the nation because it does not respect human rights. Watching the channel Jovem Pan is scary. For social killers, who close schools, and children of lazy privilege, who do not know beyond TV, the progressive discourse that includes youth, black women, Indians, gays, descendants of the enslaved, offends. But, the truth wins in the end. We made a constitution in 1988.

I come from a time that was beautiful to be "neutral", to be impartial and diplomatic.

But the neutral is now only for those who have no morals.

Now the young man and the furious old man speak like robots, I can not hear, they are hysterical.

The poor man who thought to be rich, who collaborates with his oppression, thinking that when violence dominates, he will get away with a weapon; the rich who believe himself superior race, the rich unable to perceive the cause of what strikes him, fragmented thought.

Democracy suffocated by the wave of lies. And yet, there is resistance. "I want to invent my own sin," as the musisian Chico Buarque says.

It looks a lot like when people began to demand more of the political system in the early twentieth century. There was no way to ignore the arguments. The solution was advertising.

Society with a mentality of slave owner, the society that was the last to liberate the enslaved, does exactly the opposite of what mass capitalism thought: higher wages for more consumption. Consumption of luxury for few and police and train packed for many.

And, yes, the ignorant masses sometimes dominate everything. Yes, people can be deceived and even see violence as something justified. Because evil is now in do what everybody does. It is lack of discernment.

Looks like they changed the law in 2016 to arrest a person. That our leaders dream is to sell soy and buy things in Miami. And his children go to school there, as in the nineteenth century.

When Justice seems like a party, we live the paradox of an oligarchic-legislative tyranny, the diversity of information is lost, closing schools is the dominant policy, I have hope.

I also saw the young black women taking up the university. I saw the poor raise their heads and have opinions. So I know. I know that everything has a solution.

I come from a time when the worker was elected.

Afonso Jr Lima



sábado, abril 07, 2018

Manuscrito sobre a Memória

"A vida relativamente curta das tiranias se deve à fraqueza inerente dos sistemas que usam a força sem o apoio do direito." (Aristóteles)

Ele encontrou um Manuscrito:

- Muitos ódios inflamados de jovens que eram crianças quando o operário foi eleito.

Eu nasci quando ainda era ditadura. Não era bom ter opinião.

Eu vi o quanto foi difícil para uma mãe sustentar três filhos e lhes dar educação.

Mas ela lhes deu.

Naquela época era muito difícil passar na faculdade pública. Meu pai disse: "Você era aluno nota A e não entrou na federal".

E haviam instituições internacionais que avisavam do perigo dos gastos com o povo. Nós ouvíamos os políticos dizerem que a educação custava muito. Só 3% dos brasileiros tinham universidade porque a vida era assim.

De repente, todos meus amigos entraram. Isso foi em 2003. De repente, por sorte, o afilhado que nunca poderia pagar uma escola privada faz Administração. 

O sistema do privilégio é perigoso.

Um dos perigos é que o filho mimado se torna autoritário. Nem sempre as melhores alternativas são escolhidas. O mimado ignorante não é desafiado em suas certezas, não admite divergência.

E como nunca é questionado, acha que pode falar qualquer porcaria. Que sua fala é sempre importante. Que pode atacar o divergente nas redes, enquanto é só um bobo raivoso. 

Enquanto os problemas se acumulam e as pessoas excluídas guardam o justo ressentimento. 

Se você vive um sistema de privilégio e opressão, pode, por um tempo, negar a realidade. 

Criar seu filho num condomínio fechado, que evita a violência planejada pela miséria. Hoje, as empresas são até propriedade de acionistas, que não respondem diretamente a nada além do lucro. E o melhor negócio é negócio nenhum, papéis e sugar o imposto do Estado. 

Por um tempo. 

Mas agora eu quero falar do discurso. Do perigo que é a palavra sem curiosidade. Do perigo de sermos envolvidos por argumentos vendidos por poderosos e comprados por preguiçosos. 

Antes, o dogma era o perigo. Até nossos filósofos, preocupados com as verdades eternas, foram severos críticos da verdade que pudesse elevar uma proposição. 

Sobre uma determinada candidata, um comentarista disse que ela "não tinha leitura do mundo". Isso é o mais grave. Enquanto empresas de comunicação compram nosso pensamento, o consumismo criou uma massa de pessoas que pensam por still. 

E a velha elite, que sempre soube mais, sempre estudou mais, tem a lei na ponta da língua e a empregada sem carteira assinada, esses "formadores de opinião" se acostumaram a nunca ouvir. 

Nossa classe privilegiada criou um discurso sofístico, mas que se fortalece e auto-alimenta em argumentos retóricos reiterados. O ódio virou uma onda, e nenhum questionamento é bem-vindo.

Boa parte de nossos economistas, jornalistas e administradores são assim. E, de repente, a casa das leis começa a responder à opinião simplista, a lei começa a responder à onda de raiva, a própria economia se torna uma opinião baseada em arrogância. Agora, vemos o perigo de deixar o medo nos dominar, a herança nos cegar.

Observando a cobertura de grandes veículos e comunicação, percebemos que tudo gira em torno de construir a imagem de um vilão, e tudo que pode contradizer essa imagem é negado. E assim também podem fazer os funcionários públicos responsáveis por acompanhar processos.

Parte de nossa elite não pode mesmo dirigir a nação porque não respeita os direitos humanos. Assistir a Jovem Pan dá medo. Para os social killers, que fecham escolas, e filhos do privilégio preguiçosos, que não sabem além da TV, o discurso progressista que inclui jovens, mulheres negras, índios, gays, descendentes dos escravizados, ofende. Agora, a verdade vence no fim. Nós fizemos uma Constituição em 1988.

Eu venho de uma época que era bonito ser "neutro", ser imparcial e diplomático. 

Mas o neutro agora é somente para quem não tem moral.

Agora, o jovem e o homem velho furiosos falam como robôs, não posso ouvir, estão histéricos. 

O pobre que pensou ser rico, que colabora com sua opressão, pensando que, quando a violência dominar, ele vai se safar tendo uma arma; o rico que se achou raça superior, o rico incapaz de perceber a causa do que lhe atinge, pensamento fragmentado.

A democracia sufocada pela onda de mentira. E, ainda assim, há resistência. "Eu quero inventar meu próprio pecado", como diz Chico. 

Parece muito com quando os povos começaram a exigir mais do sistema político no começo do século XX. Não havia mais como ignorar os argumentos. A solução foi a propaganda. 

A sociedade com mentalidade escravocrata, a sociedade que foi a última a libertar os escravizados, faz exatamente o oposto do que o capitalismo de massa pensou: salário maior para mais consumo. Consumo de luxo para poucos e polícia e trem lotado para muitos. 

E, sim, as massas ignorantes às vezes dominam tudo. Sim, os povos podem se enganar e ver até a violência como algo justificado. Porque o mal agora é ir com os outros. É a falta de discernimento. 

Parece que mudaram a lei em 2016 pra prender uma pessoa. Que o sonho de nossos líderes é vender soja e compra coisas em Miami. E seus filhos vão estuda lá, como no século XIX. 

Quando a Justiça parece um partido, vivemos o paradoxo de uma tirania oligárquico-legislativa, a diversidade de informação é perdida, fechar escolas é a política dominante, eu tenho esperança.

Eu vi também as jovens negras tomarem a universidade. Eu vi os pobres levantarem a cabeça e terem opinião. Então eu sei. Eu sei que tudo tem solução. 

Eu venho de um tempo em que o operário foi eleito.

Afonso Jr Lima

domingo, abril 01, 2018

AS TRÊS ÖBIS - romance (trecho)


AS TRÊS ÖBIS

PARTE PRIMEIRA

Os ratos brancos tinham usado todo o Mithan mental que lhes restava para erguer uma muralha de pedras altas ao redor de sua cidade. Mas agora, os guardas , o Demônio e as valquírias avançavam.
Os ratos sentiam forte dor de cabeça (usavam uma rede de fios negros sobre o corpo, com uma cabeça raspada de onde saíam três tranças negras), causada pelas ondas de vibração maléfica desses seres. 
Os guardas, que costumavam pintar com sangue seus corpos com desenhos de dragões e usavam uma tira de couro negro na boca, para representar sua obediência ao Alafim, e usavam a cabeça raspada, de onde saíam, na altura da nuca, amplos cabelos vermelhos. Neles, prendiam ossos de dedos de animais, os guardas erguiam agora com sua força mental enormes árvores milenares do solo, incendiavam-nas e as arremessavam contra a muralha.
As valquírias, armadas de chicotes venenosos, esqueletos humanos da cintura para cima, que acabavam no pescoço, e asas de morcego, acabadas por uma cabeça formada por um cérebro vermelho, e vasos sanguíneos, que usavam na cintura cintos de serpentes, iam agora próximas às muralhas, montadas em seus cavalos alados, para levar terror aos seres frágeis que as podiam observar, e colhiam os seres vivos que rastejavam na terra, para os arremessarem do céu.
O demônio branco de três cabeças, abria a terra com o movimento de sua cauda, e estremecia a terra com seus gritos.


(continua...) 

https://afonsojunior.blogspot.com/2019/05/as-tres-obis-romance-trecho.html

Afonso Junior Ferreira de Lima

Porto Alegre, 2005