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sábado, agosto 19, 2006

The New York Times
18:29 14/08
Paul Krugman, do The New York Times


Comentário: Esperando o medoAlguns dias após o 11 de setembro, eu aprendi com membros congressionais que os republicanos no Capitólio já estavam explorando a atrocidade, tentando usar o atentado para impulsionar cortes de impostos para corporações e pessoas ricas. Eu escrevi sobre o assunto no dia seguinte, alertando que “políticos que se enrolam na bandeira americana enquanto tentam cruelmente continuar com seu partidarismo não são patriotas de verdade”. 18:29 14/08Paul Krugman, do The New York Times
A reação dos leitores foi furiosa – não estavam furiosos com os políticos, mas com a minha pessoa, por eu ter sugerido que tal ultraje fosse possível. “Como posso dizer isso ao meu filho?”, reclamou uma correspondência irritada.

Eu espero que ele já saiba o que dizer ao filho atualmente.

Nós agora sabemos que desde o início, o governo Bush e seus aliados no Congresso viram a ameaça terrorista não como um problema a ser solucionado, mas como uma oportunidade política a ser explorada. A história do último enredo terrorista faz com que o cinismo e a irresponsabilidade do governo se tornem mais claros do que nunca.

Irresponsabilidade – O governo sempre usou dinheiro quando realmente é necessário defender os Estados Unidos de ataques terroristas. Agora, nós aprendemos que os especialistas em terrorismo sabiam sobre a ameaça de explosivos líquidos há muitos anos, mas que o governo Bush não fez nada sobre tal ameaça até o momento, e tentou desviar fundos de programas que poderiam ter nos protegido. “Assim como o enredo de terror britânico foi revelado”, informa a Associated Press, “o governo Bush tentou silenciosamente desviar 6 milhões de dólares que supostamente seriam gastos neste ano no desenvolvimento de novas tecnologias para a detecção de explosivos”.

Cinismo – Os republicanos consistentemente retrataram seus oponentes como fracos quanto ao terrorismo, senão estivessem solidários aos terroristas. Lembra-se da propaganda de televisão de 2002, na qual o senador Max Cleland do Estados de Geórgia foi desenhado ao lado de Osama bin Laden e Saddam Hussein? Agora nós temos Dick Cheney sugerindo que os eleitores nas eleições preliminares do partido democrata em Connecticut estivessem concedendo ajuda e conforto para “membros da Al-Qaeda”. Aí vão eles, mais uma vez.

Mais irresponsável, e talvez também mais cínico: a rede de televisão NBC relata que houve uma disputa entre os britânicos e os americanos sobre quando prender pessoas no último episódio terrorista. Dado que os conspiradores alegaram não estarem prontos para partir – eles não haviam comprado passagens aéreas, e alguns sequer tinham passaportes – os oficiais britânicos queriam observar e esperar, com a esperança de juntarem mais provas. Mas de acordo com a NBC, os americanos insistiram nas prisões imediatas.

As suspeitas de que o governo Bush possa ter tido motivos políticos ao querer as prisões realizadas prematuramente são alimentadas por memórias de eventos de dois anos atrás: o departamento de Segurança Interna declarou alerta de terrorismo logo após a Convenção Nacional Democrática, desviando os holofotes de John Kerry – e, de acordo com representantes da inteligência paquistanesa, desviando os holofotes de um espião-duplo dentro da Al-Qaeda.

Porém havendo algo suspeito ou não sobre o último anúncio de terrorismo, há questão sobre se as táticas do governo funcionarão. Caso as pesquisas de opinião sejam um indicador, os republicanos estão à beira de perder o controle de pelo menos uma parte do Congresso. E “em qualquer outra questão que não seja terrorismo ou segurança interna”, afirma a Newsweek sobre sua última pesquisa de opinião, “os democratas vencem”. Será que um esforço de última hora para conseguir destaque sobre a questão do terrorismo mantém à distância um desastre eleitoral?

Muitos analistas políticos pensam que sim. Porém mesmo em relação ao terrorismo, e mesmo após as últimas notícias, as pesquisas dão aos republicanos na melhor das hipóteses uma leve vantagem. E os democratas estão finalmente fazendo o que eles deveriam ter feito há muito tempo: acusando o governo de tirar vantagens partidárias com a ameaça terrorista.

Foi tão significativo que o presidente Bush se sentiu obrigado a se defender contra a acusação no sábado, e que sua defesa padrão – atacar um testa de ferro declarando que “não deveria haver desacordo sobre os perigos que enfrentamos” – soou bastante fraca.

Sobretudo, muitos americanos agora compreendem a extensão do abuso de Bush sobre a confiança que a nação depositou nele após o 11 de setembro. Os americanos não acreditam mais que ele é alguém que os manterá a salvo, como muitos pensavam; a patética reação ao furacão Katrina e o desastre no Iraque nos mostraram isso.

Tudo o que Bush e seu partido podem fazer nesse momento é fazer com que a oposição seja vista como o próprio demônio. E minha suposição é de que a população não acreditará nisso, e que os americanos estão cheios de lideranças que nada oferecem a não ser o medo de si próprias.

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