Páginas

Ajude a manter esse blog

segunda-feira, dezembro 03, 2007


O artista moderno estará tão impossibilitado de contatos, a não ser com seus amigos espelhos, tão sem ouvir as histórias dramaticas (ou cômico-trágicas) do seu povo, tão repetititivo em falar de si e de seu "vazio" existencial que não compreende (porque, afinal, comprenderia, se aprende com a publicidade e a grande mídia quem é e por que) que todo o esforço do século XX em quebrar o patriarcado e a disciplina acabou em reflexões sobre a masturbação e meus 11 anos?

Bem, algumas linguagens que vi recentemente podem ajudar o debate.

Para melhorar pra quem não viu vou copiar e colar:

"Com 17 cenas desconexas e personagens anônimos, a peça apresenta descrições contraditórias de personagem ausente: Ann. Fio condutor da montagem, ela representa as várias facetas de uma mesma identidade. Assim, é citada como uma terrorista em ação, uma doce filha de pais aflitos, uma artista que transforma suas tentativas de suicido em arte e uma mãe que teve os filhos mortos numa guerra civil. " http://www.dicadeteatro.com.br/attemptsof.htm


(A)tentados, a gente não entende tudo. De alguma forma fala de pessoas muito certinhas, de artistas muito inteligentes, de genete que odeia bichas e negros, etc. Não, não entendemos tudo, mas gostamos. O inglês Martin Crimp, pela Cia de Teatro em Quadrinhos e Beth Lopes, possivelmente critica a sociedade de consumo, o entretenimento como vida, a religião para criar pessoas boas e livres. No final, entretanto, a peça vai crescendo, em especial pelos atores inteligentes, pelo humor (moça vestida de fada, cantor com brega emocionado e um final assombroso, com os atores fora do teatro).
O Grupo Boa Companhia faz com um conto de dois parágrafos- de Kafka (Na Galeria) quase uma hora de peça. A direção de Verônica Fabrini traz a discussão de o que o teatro pode ser afinal: a dissimcronia entre texto e ação, o texto como elemento a ser desconstruído, a performace corporal como foco de interesse, o uso da tecnologia, etc. O resumo do século. Adorei, mas acho que se fossem três contos de Kafka, haveria mais elementos para instigar o espectador. Afinal, ainda queremos saber algo que não sabemos. Também vamos ao teatro para compreender mais o mundo, a nós mesmos, para refletir, mesmo se isso seja a partir de Artaud.


"Caminhos", do dramatugo Rubens Rewald, professor do curso de Audiovisual da ECA/USP, com o Núcleo Experimental do Teatro Popular do SESI-SP e direção de Cristiane Paoli Quito, Mezanino do Centro Cultural Fiesp, basedo na improvisação textual dos próprios atores, não me comoveu. Fiquei feliz em ver um grupo ousando um espaço novo, um tipo de fala novo (o texto é o mesmo, mas na hora se vê quem vai falar a seqüência), mas, sinceramente, eu estava em alguns momentos pensando na vizinha nordestina sentada ao meu lado, que saía com tiradas como "vamos, ninguém vai falar nada? estão esperando que alguém se manifeste..." ou "beijo na boca nem eu dou..." Como será a vida tão concreta dessa mulher... Não sei, todos ficavam com uma cara de "tenho de gostar, é teatro!"


Não era a vida de ninguém e sim de um "todo mundo" abstrato, o velho paulistano que pega metrô, caga (deixemos bem claro, como ele deixou), quer ser amado e trabalha... Não, isso é concreto demais... é preciso dizer que ele pensa sobre o futuro, a falta de água, a Xuxa, sobre o vazio, o budismo, e questiona (em coro) o tempo todo "existo? existe? morte? morre? ser? sim?...
Voltando ao assunto, talvez em Itapitiringa do Sul os questionamentos sejam: como pagar minha faculdade? como criar meus 9 filhos? por que o ônibus é tão lotado... Vivemos dentro de um sossego tão bom -e somos marxistas- o que nos faz de vez em quando termos crises sérias contra o "consumo", e precisamos de um pouco de realidade urgente, cagada, merda, poder, porra, essas coisas tão sutis para lembrar que não, não perdemos a reflexão sobre a realidade...

Bem, o texto traz alguns momentos criativos, engraçados, deliciosos até ( e os atores, bem sinceros), mas não senti realmente um "eu" mas apenas essas jovens vozes (quando soube do processo, muita coisa se exclareceu) falando o que devíamos falar, nós existencialistas, nós esquerdistas, nós revolucionários...

Precisamos agora de uma postura ética que julgue o agora, e now!