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segunda-feira, fevereiro 25, 2008



Elisabeth já deve ter entrado para a história- pelo menos como um filme que não é continuação de outro, mas "dentro". É mais denso que o outro, mais realista e mostra a rainha mais verdadeiramente ela: mais dominadora, tensa e perigosa. O que dá a uma atriz shakesperiana um texto para ser shakesperiana. E só uma atriz como Cate Blanchett, com mundo interior vasto pode dizer como ela diz. Ela já ganhara um Oscar e mereceria outro se não fosse a Piaf viva em folha.
O filme valeria só pelas imagens: fotografia perfeita, figurino rico sem ser falso, paisagens, luzes, tudo impecável. É um filme para os olhos e eles não conseguem esquecer a cena em que a rainha, esvoaçante, vê a armada incendiando sobre um escarpado. Alguns truques de câmera, segredo de quem conhece.

Mas o enredo peca em algumas coisas. Primeiro, como uma mulher que inclusive mandou matar o amante- sem dúvida devido ao contexto terrível- torna-se uma solteirona virgem - que só quer um beijo do namorado da amiga- e quase meiga? Segundo: será que anda estamos na idade em que só heroínas boas nos comoviam? Terceiro: será que seria possível ser menos nacionalista e deixar pra lá esse papo de "a Inglaterra, terra da Liberdade" versus "Os Espanhóis, senhores da Inquisição?" Não havia tanta razão como desrazão tanto no espaço absoluto de Newton quanto em Henrique VII ou Felipe II- guardadas as proporções, claro. Política e fé sempre foram armas que se ajudaram.
Não seria mais humano um combate entre nações que têm ambas interesses comerciais e políticos?
Por isso, de algum modo, o filme perde um pouco do imenso fascínio que poderia ter. Fica com cara de "versão do vencedor". Logo de quem: houve tempo em que produzir sal era crime. Seria talvez interessante pensar por que motivo o sangue latino do Brasil deixou mais espaço para "adúlteros e anormais" que aqui viveram, enquanto o puritanismo tomou conta da Inglaterra a ponto de preenderem Oscar Wilde. fazer Elisabeth uma mulher sem amantes é apenas parte disso.

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Turma da Mônica – Uma aventura no tempo - no Sesi SP- poderia ser bom e a abertura dá a entender que será ótimo.


"Produção de Diller Trindade, o filme conta uma história com ares de ficção científica em que a Mônica e seus amiguinhos transitam entre passado e futuro em busca dos quatro elementos (Ar, Fogo, Terra e Água) que acidentalmente escapam do laboratório do Franjinha."http://www.achanoticias.com.br/noticia.kmf?noticia=5810389
Muitos enredos é bom; computação gráfica misturada com tradicional também; todos gostam dos personagens. Algumas atualizações legais, como Cebolinha e Cascão dançando rap), piadas e músicas fazem parecer que será -sim -ótimo.

O problema é que já vimos isso tudo antes. (Tá certo a malvada Cabelera Negra quase salva tudo). E, para melhor ou pior, o ritmo das coisas é outro em desenhos pós- Pokemon: o menino fantasma, as super-poderosas, tudo corre num ritmo alucinante. Não é apenas ação: um bom vilão e ruptura ainda são importantes. Pode ser simplesmente que o cérebro das crianças-video-game seja outro. Pode ser que queiramos tudo mais depressa. O problema é que perdemos logo o interesse quando sabemos que um elemento sumiu no mundo e depois de aventuras Mônica vai resgatá-lo. Não dá.

domingo, fevereiro 03, 2008

La ley del deseo. O que tem de interessante em um Almodóvar 1986? Tudo. Os excessos estão previamente depurados, as travestis aparecem em toda sua humanidade, o incesto está confundido numa trama bem feita...
O humor está perfeito, "para ser um policial não basta não ter caráter, é preciso ter também algum senso de humor..."

A trama está menos artificial do que muitos posteriores, ou seja, usa com perícia o lado exagerado do melodrama mas nos ocupa com dores reais. O melhor de Almodóvar é sua sede por sangue, onde o filme norte-americano tudo limpa e media, ele mostra o que quer;
e nos faz pensar que coragem e que renovação foi esse filme há 20 anos... BrokeBack Montain duas décadas antes e mais forte...


Entendo agora porque Antônio Bandeiras se tornou famoso, antes de, como afirmou, virar "latino" e ter de enfrentar Zorros, bandidos e amantes românticos...

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O Signo da Cidade me deixou perplexo. Mesmo que não queiramos, temos sim preconceitos com mulheres bonitas: pensamos que chegaram lá por seu rosto e não por sua competência. Bruna Lombardi já provou muita coisa, que entrevista como ninguém, escreve e atua muito bem, mas nada me fazia esperar o que vi neste filme....
Mas para não sermos levianos, vou falar logo do que não gostei: não precisava Eva Wilma confessar uma vida secreta, o porquê odeia o pai de Bruna, tudo em 5 minutos depois de ter repetido mil vezes "não fale com ele..." Tudo bem, em uma trama super bem bolada, fica discreto...

Também é estranho o filhão malhado que não encaixa nos minutos poucos que tem para chorar, é bom, num contexto de notas 10. Tudo bem, família é família...
A trama é algo surpreendente. Bruna tinha tudo para ser uma dondoca: está há tempo na mídia (com idas e vindas), bela, etc. Mas incorpora os sofrimentos dos humildes, falando da cidade em tons claros e escuros, mas sem deprê: sempre há janelas, amizades, cores que damos às coisas...
É a cara de SP onde a alegria vem da humanidade, dos contatos e criações humanas.
Muitos filmes estrangeiros não chegam aos pés deste. E a Bruna provou que tem mesm carisma, a ponto de querermos saber mais dela, dessa astróloga maluca que aos 50 pode namorar vizinho malhadão...
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Meu nome não é Johny revela um Selton Melo carismático, perfeito na papel. Tirem a última legenda ("è a prova de que alguém pode se recuperar") e um cartaz com cara de comédia Disney (óculos escuros: ele tinha tudo, menos limite) e o filme fica perfeito.
Algum crítico disse que a Espanha estava presa em três estereótipos: drama social, comédia de costumes e não me lembro mais o que. Este filme, assim como Signo da Cidade, mostram que é possível contar outras histórias.

O roteiro é brilhante na sua inteligente comédia. A cara do Rio: "fuck you, fuck tu, fuck a porra do caralho!". O personagem dizendo "aquela loira era um amigo meu que virou travesti" é histórico. Não precisava aquela última "moral de história" depois de ter contado a vida de uma pessoa de modo integral, nos fazendo amar esse Johny maluco e "sem limite" (suaviza um pouco pra ele, claro, parece que não sabia o que era tráfico), deixando claro que nem havia uma maldade suprema nele, que parecia natural agir mal.

Este é o maior ponto de reflexão: sem os parâmetros que faltam em nosso universo filosófico, somos levados com "leveza" aonde não planejamos. O filme não mostra nenhuma tese sobre a imoralidade dos ricos, a família nem nada (que sono...), e também é de uma época em que tráfico, pelo menos na Zona Sul, ainda era muit menos perigoso e malvado... Filme brasileiro sem cara de estrangeiro.