Quando, certa manhã, Gregor Samsa acordou de sonhos não tranquilos, percebeu que se transformara, durante o sono, em um animal não normal, não sacrificável e não domesticável. Certa manhã, Gregor Samsa acordou depois de uma noite nada reconfortante e percebeu que se transformara em um desforme inseto inútil. Certa manhã, Gregor Samsa, ao acordar de sonhos que pareciam castigos de sofrimento, percebeu que se transformara, como um ser que de ovo vira casulo, em algo pouco admirável e menos desejável. Quando Gregor Samsa quis levantar da cama depois de uma madrugada intolerável, percebeu que era um bicho articulado, sem sangue e infeliz. Quando, certa
manhã, Gregor Samsa despertou depois de ter sonhado com coisas
incomuns, percebeu que jazia em sua cama como um desprezível piolho
nada belo. Quando, certa manhã, Gregor Samsa acordou de uma noite de
desagradáveis visões, percebeu que se transformara em uma
intolerável barata sem carnes. Certa manhã, Gregor Samsa acordou de
maus sonhos e viu que se transformara em um inseto desemparado e
desengonçado. Certa manhã, Gregor Samsa acordou, depois de sonhar
muito e terrivelmente, e percebeu que seu corpo sofrera uma
metamorfose e era agora um animal pouco agradável, nada digno e
semelhante a um artrópode. Quando, certa manhã, Gregor Samsa
acordou, depois de sonhar de modo incomum, percebeu que se tornara um
percevejo sem rosto e sem passado. Gregor Samsa desperta, pela manhã;
ele agora era algo como uma vida não-humana, uma pulga imprópria.
Gregor Samsa abriu os olhos e se desfizeram sonhos perturbadores, mas
ele via apenas não-braços e não-pernas em sua cama. Certa manhã,
Gregor Samsa acordou desgraçadamente de seus sonhos, para perceber
que se transformara em um monstro incompreensível. Quando, certa
manhã, Gregor Samsa, bem cedo, despertou, viu que agora seria um
parasita desconhecido. Certa manhã, Gregor Samsa acordou de seus
sonhos nas trevas e percebeu que se transformara em um um obscuro
inseto asqueroso. Gregor Samsa acorda: olha ao redor e sente-se
estranho, e percebe que respira por uma traqueia, tem antenas e uma
casca.
(Afonso Lima)
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