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sábado, junho 10, 2017

A nova casa

Ela abraça seu filho. Ela é fotografada na grama com seu filho. Ela caminha na praia com seu amor.
O pai abraça a criança. O pai veste pulôver e ouvem aquela música japonesa.

Chegados do interior são descarregados em favelas da metrópole.

Ela pensa no seu pai, a cidade toda está demolida como se fosse vítima de uma catástrofe.

Precisariam remover as tábuas largas de ipê, que cobriam o piso da sala, tão envergadas.

Agora uma xícara nova. Agora o leite fresco. Agora a criança sorri.
Um desavisado passa pela cozinha e é pego.

Agora, escreve sobre os mortos, mas todos estão mortos. Imagina um terrorista que descobre que está morto.

Quatro aparelhos, o pai disse. Caixa laqueada de branco, nas salas de estar, de jantar, na varanda e no canto de leitura.

A luz já estava pronta. havia o perigo de uma revolta. Mas o prefeito prometera usar milícias em caso de distúrbios.

O que ela mais temia era o fim da esperança. De repente, ninguém tinha um emprego.

Agora, escreve sobre como os mortos continuam vivendo com seus implantes eletrônicos.  O terrorista acha que não era preciso ter sido salvo. Não seria salvo se a prisão não quisesse mostrar o perigo dos pobres das favelas.

A catástrofe. Lembrava de seu pai cantando com os outros trabalhadores. Ele tinha conquistado coisas.

Agora, o bebê na câmera. Agora, seu marido acordava. Agora, um banho delicioso.
A equipe demitira o desavisado.

Cada etnia e fé tinha seu bairro. A guerra era constante.

Agora, escreve sobre o terrorista que é libertado e descobre que se cair de um abismo será reavivado porque ele é uma peça como qualquer outra. Ele lembra a todos sobre o evento inicial, o dia em que os policiais tiveram de atirar nos sindicalistas e as empresas fugiram.

As flores amarelas na cozinha com toques de azul. O armário mineiro recuperado como cristaleira com ganchos para xícaras. O novo patchwork de Madagascar no pufe da biblioteca. O conjunto de chá Leeang e as lanternas com vitrais deixarão a sala mais aconchegante. Outra ficção.

Ela olha pela janela, um dia cinzento: "São massas de trabalhadores mal pagos e subempregados e sem educação".

Caso de distúrbios, as milícias são chamadas.

Afonso Junior Ferreira de Lima


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