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domingo, novembro 05, 2017

A cooperação

Vejo uma foto. Eles regressam de Weimar. De farda, à esquerda, o general encarregado da censura. De chapéu, o escritor mais furiosamente colaboracionista. O editor do jornal pró-nazista, depois fuzilado, está ao seu lado. O diretor do Instituto que financiava escritores na direita. Ao mesmo tempo, mais de um milhão de soldados eram mantidos prisioneiros na Alemanha.
Ele escreveu que o homem trabalhador e o o pequeno negociante foram mais ajudados por Hitler que por Stalin.
O editor não só publicou seus panfletos, como também estava trazendo literatura racista para a França. As editoras de propriedade de judeus foram logo arianizadas. Galerias de arte, apartamentos, obras de arte também foram roubadas.
A nova lista de livros proibidos tinha 142 títulos. Seus manifestos racistas venderam 40 mil exemplares.
"Se não é uma piada, ele está louco", disse um escritor amigo.
Sua amiga, a atriz Arlette, insistia que aceitasse subsídios do Instituto Alemão. Seu amante, oficial da Luftwaffe dizia não compreender sua recusa, se ele era o mais inovador literato do país.
Sua ferocidade era até mesmo criticada pelo nazista responsável pelo Escritório de Literatura.

Ele diz estar sendo ameaçado pela resistência, pede porte de arma ao governo, é atendido.
Havia mandado moedas de ouro para fora do país, mas elas foram confiscadas pelas autoridades.
"Vocês não percebem quem são seus amigos? Os judeus nos devoram, eles querem tudo, e vocês me roubam"? No momento em que crianças judias eram enviadas aos campos.
Na homenagem ao escultor favorito de Hitler no Museu Rodin, tirou fotos com os oficiais nazistas.
- Gostei de sua resposta à questão "os judeus devem ser exterminados"? - disse Arlette -"Não bastam os meus 3 livros"?
- A prova de que o judeu é um mal reconhecido universalmente é que o senhor já os odiava antes da chegada do Reich, disse um oficial.
- Meu pai odiava judeus. Dreyfus é o símbolo de nossa desgraça - disse o escritor.
Num jantar com o alto escalão alemão, faz comentários críticos à Hitler. Sua amiga, a pianista Lucienne, nazista convicta, consegue contornar o mal-estar geral.
Mas os ventos mudam. Os aliados dos nazistas deixam o país.
Sua amiga pianista foi para a Alemanha tocar para os exilados.
Escreve-lhe:
"Desejo partir o quanto antes, antes que Paris seja bombardeada".
Ela o recebe uma semana depois, e partem juntos para a Dinamarca, onde vive por nove anos.
Seus livros estavam no topo da lista de obras proibidas.
Enquanto isso, escritores colaboracionistas foram encarcerados.
Faltava comida e aquecimento. Os artistas não fugiam mais do fascismo, poucos fugiram do macartismo, os negociantes de arte estavam se mudando.
Seu novo livro é publicado em 1951.

Afonso Jr. Lima



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