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terça-feira, novembro 28, 2017

No quintal

Na mesa, discutia-se a justiça.
A família era de procuradores, advogados famosos, juízes, professores.
O almoço no quintal ao domingo era sempre um debate.
- Voltaram com festa - diz o pai. Mas nos registros, sua perna machucada não constava. Nada receberia.
- Que triste - o estudante de Direito filho responde.
Comiam linguiça aos pedaços.
- A pobreza do herói. Arrasta sua perna para o trabalho.
- Eu acho que, tecnicamente, estavam certos - disse a filha procuradora, ajustando os óculos de aro negro e balançando os cabelos em cachos perfeitos.
- Mas nós somos apenas técnica?, pergunta o filho advogado brilhante.
Um pássaro parece responder com um grito.
- A lei era racista -  a mãe juíza fala. Sua pátria os desprezava. Eles dançavam com mulheres brancas. Os soldados os atacaram com socos. Uma prostituta gritou: - Aqui não é Chicago.
Cheiro da carne no ar.
O pai conta que eles haviam sido trazidos para enterrar os mortos.
No exército francês foram aceitos como soldados.
O fogo inimigo. A condecoração.
- Ele morreu na miséria, diz o pai. Se a realidade é a nossa percepção, a casta não pode nos cegar? - pergunta o pai.
- Que triste - diz o estudante filho.
A empregada serve mais vinho e avisa que o churrasco está pronto.

Afonso Junior Ferreira de Lima



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